“E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.” Tiago 1.22-25
Teoria e prática, hipocrisia e vida, falso moralismo e verdadeira espiritualidade, coisas que precisamos avaliar no cristianismo que experimentamos. Parece fácil, são termos que se opõem, mas é incrível como confundimos essas coisas na religião. Por algum motivo, onde deveria haver mais clareza, há o oposto, confusão. A raiz da confusão é uma coisa, vaidade, damos mais importância àquilo que aparentamos e para homens, que para aquilo que somos e que Deus conhece. Vamos a culto atrás de culto celebrando Deus e suas virtudes, declarando Jesus como salvador, mas conhecemos nossa verdade quando saímos dos templos para o mundo, trevas podem revelar mais sobre nós que o que chamamos ser luz.
Até que ponto o que chamamos de luz é luz? Nem é que exista uma encenação proposital, mas dentro dos templos sentimos um encantamento pela utopia, de fato lá nós cremos que somos diferentes, que as paredes da construção represam um pedaço do céu. Pelo menos para muitos, lá não há vícios, adultério, pecado, tudo é louvor e sagração, estamos santos só pelo fato de estarmos lá. Infelizmente, mesmo a utopia não encanta a todos, existem alguns buscando satisfazer apetites físicos e vaidades mesmo dentro de igrejas, nem todos têm nos templos intenções virtuosas. Então saímos para o mundo, temos que trabalhar, estudar, construir profissões, sobreviver fisicamente, assim teoria encantada é confrontada com o mal.
Quem somos de verdade, o que experimentamos nos cultos, nos retiros, nos jejuns, nos ensaios do coral, nas e.b.d.s? Ou o estudante e profissional das faculdades e empresas? Muitos de nós têm muita dificuldade para saber, e quando sabem têm dificuldades para assumir. Isso pode criar um doloroso dilema, o conhecimento de verdades pessoais que podemos não querer admitir, nem aos outros, mas para nós mesmos. Sendo “santos” e amorosos somos tidos como espirituais pelos “irmãos”, conhecendo a Bíblia podemos ser aplaudidos nos púlpitos, quando damos palavras agradáveis aos pares. Se não somos ricos ou estudados (ou bonitos), podemos achar na igreja valores na identidade que nos faz sentir especiais.
Muitos vão para igrejas para sentirem-se valorizados, como motivo inicial isso é válido, tudo é válido para iniciarmos jornadas com Deus. O que na sociedade era alcoólatra, pela igreja liberta-se do vício, o que era adúltero no mundo, na igreja tem a chance de acertar o casamento, o que era pária, tem aprovação de um grupo e até auxílio para arrumar serviço, num grupo que, pelo menos na teoria, prega que todo pecado é perdoado em Cristo, que passado é esquecido e uma nova existência pode-se iniciar do zero. Também nisso nada há de errado, se não for só teoria. Mas por que com o tempo podemos ver que muita coisa é só teoria, que a vida torna-se hipócrita, que nos tornamos só falsos moralistas, não de fato espirituais no Altíssimo?
Diferentemente do que digo muitas vezes, desta vez farei uma apologia às igrejas e religiões cristãs: a culpa não é delas, mas nossa. Igrejas nos levam até onde podem e elas podem o que Deus lhes permite poder. Mesmo com pastores não gananciosos e sinceros do bem, seres humanos, homens e mulheres, que buscam vidas profundas com Deus, igrejas não são construídas no mundo para nos entregar tudo que Deus tem para nós. Quem tem que saber quando parar com igreja e seguir mais com Deus somos nós, e com parar com igreja não me refiro a parar de frequentar igreja. Erramos quando achamos que a voz final de Deus só podemos ouvir em igrejas, de pastores, teólogos, mesmo da interpretação tradicional da Bíblia.
José Osório de Souza, 8/03/2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário