10/02/22

Gafanhoto ou helicóptero? (11/90)

      “E o parecer dos gafanhotos era semelhante ao de cavalos aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia umas como coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens. E tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus dentes eram como de leões. E tinham couraças como couraças de ferro; e o ruído das suas asas era como o ruído de carros, quando muitos cavalos correm ao combate. E tinham caudas semelhantes às dos escorpiões, e aguilhões nas suas caudas; e o seu poder era para danificar os homens por cinco meses.” 
Apocalipse 9.7-10

      Na passagem inicial João descreve o que viu numa revelação, prestem atenção aos detalhes que ele dá, será que se tivéssemos a mesma visão hoje, usaríamos os mesmos termos para fazer a descrição? Veja os termos que João usou: gafanhotos, cavalos aparelhados para a guerra, coroas semelhantes ao ouro, rostos de homens, cabelos de mulheres, dentes de leões, couraças de ferro, asas com ruído de carros com cavalos em combate, caudas de escorpiões, aguilhões nas caudas, com poder para danificar os homens por cinco meses. João, pela qualidade de vida espiritual que tinha, recebeu uma profecia bem detalhada, o que o limitou foi sua mente de homem do final do primeiro século.
      Não sei quanto a você, mas à minha mente, lendo Apocalipse 9.7-10, vem a imagem de um veículo aéreo moderno de combate, como um poderoso helicóptero paramentado para a guerra. Um helicóptero se parece com um gafanhoto, a parte frontal arredondada assemelha-se ao rosto de um homem, os cabelos longos de mulheres podem ser as hélices superiores, os dentes de leões podem ser os canhões fixados na parte frontal, o ruído das asas descrito como o som de muitos carros parece o som forte, assustador, múltiplo, das hélices, a cauda de escorpião pode ser a parte traseira fina e alongada do veículo, com agulhões, a hélice traseira. Não podemos desconsiderar espantosa similaridade. 
      O que você vê quando ora a Deus? O que você imagina quando fala com Deus, com o Espírito Santo, com Jesus? O que você enxerga quando pensa no mundo espiritual? Se perguntarmos a um velho católico que imagem lhe vem à mente quando ele pensa em Deus, ele poderá dizer que é a tradicional, descrita em textos bíblicos, de um velho ancião, de barbas e cabelos longos, todo branco. Se fizermos a mesma pergunta a um físico nuclear que busca a Deus ele talvez diga que vê a imagem mental de uma luz, forte e muito clara, como uma energia. Qual dos dois estão corretos? Não importa, não se a intenção for estabelecer contato com o Deus verdadeiro e obedecê-lo.
      Vou usar aqui um termo que talvez seja novo para muitos cristãos, pode não ter embasamentos bíblicos diretos, e apesar de haver linhas espiritualistas que usem conceitos semelhantes, o termo é um entendimento pessoal meu. Nosso contato com o mundo espiritual se faz através de nossa mente, nela são criadas imagens nas quais focamos, e se tivermos a intenção correta, através dessas imagens, podemos acessar o Senhor. Muitos só fecham os olhos e não veem nada, só o escuro, e isso já lhes basta para terem comunhão com Deus, mas se tivermos uma vida devocional mais longa e trabalhada, nossa mente poderá visualizar coisas, ainda que só uma luz no final de um túnel. 
      Essas imagens mentais são construídas com memórias, lembranças que guardamos no decorrer de nossas vidas, recordações de muitas coisas, da tradição religiosa em que fomos criados, da arte que consumimos, filmes, quadros, músicas, de experiências que tivemos e nos impressionaram de alguma forma, ligando, mesmo que inconscientemente, imagens a emoções. Assim a imagem que nos vem à mente quando pensamos em Deus é algo muito pessoal, e não arrogue ninguém o desejo de achar que sua imagem é mais legítima que a imagem do outro. Essas imagens não se referem necessariamente a algo real do mundo espiritual, são só portais, eis o termo que disse que usaria. 
      Onde estaremos na eternidade? Não será nos portais, esses são relativos à visualização mental individual de cada ser humano. A imaginação humana, por mais criativa que seja, não pode construir de fato céu e inferno, por outro lado o mundo espiritual é indescritível para o homem no mundo, ainda que o visse não teria referências para descrevê-lo com as informações e ferramentas que possui vivendo num corpo físico. Pode aliar sofrimento infinito a um fogo que queima e faz doer sem consumir, para que o ser siga sofrendo indefinidamente, ou pode imaginar o céu como um palácio de pedras e metais preciosos, com uma sala de banquete onde só se adora a Deus e se descansa. 
      Muitos imaginam isso porque a eternidade será de fato assim? Não, mas talvez porque no mundo muitos encontrem seu “céu” num culto de domingo à noite, quando podem descansar de uma semana de trabalho e cantarem louvores num templo, muitas vezes mais confortável que suas casas, protegidos do “inferno” do mundo exterior. O ponto é mostrar como imaginação mental tem relevância em nossas existências no mundo, ainda que não represente uma realidade espiritual, tem a função de conectar o ser humano com o mundo espiritual. Por outro lado, impregnada pelo Espírito Santo, a mente busca interpretar informações puramente espirituais com os recursos disponíveis nela. 

Esta é a 11ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

09/02/22

Definidos no tempo (10/90)

      “O temor do Senhor aumenta os dias, mas os perversos terão os anos da vida abreviados.” 
Provérbios 10.27

      Quantas vezes Deus mandou você fazer algo e você não fez? Não me refiro a coisas do cotidiano, as orientações diárias que o Espírito Santo nos dá para agirmos certo, para não sucumbirmos aos apetites desenfreados da carne, ao adultério, à pornografia virtual, para não retermos rancor, ódio, inveja, para não sermos gananciosos nos negócios, para não cobiçarmos aquilo que não é nosso, e mesmo que seja, para não usarmos isso do jeito errado, não é a isso que me refiro. Também não me refiro a diretrizes maiores, sobre casamento, vida profissional, mudança de casa, de cidade, sobre ministérios na igreja, para servirmos pelo evangelho e para o evangelho sem esperarmos retorno financeiro, para colocarmos essas obrigações como premissas por as considerarmos mais espirituais que as outras, ao menos na teoria, porque na prática dificilmente não pomos dinheiro antes do resto.
      Muitas vezes Deus nos mandou parar e naquele momento, nas prioridades que eram importantes para nós, na pessoa que éramos naquele momento, nós não obedecemos, não paramos, porque achamos que aquilo não era ordem de Deus. Consideramos como voz de nosso medo, de nossa covardia, que fossem até vozes de espíritos do mal tentando impedir que fôssemos vitoriosos, que conquistássemos algo que o Senhor estava querendo nos dar. Sim, meus queridos, podemos nos enganar redondamente sobre as coisas. Isso pode acontecer mesmo quando buscamos a Deus de todo o coração para saber sua vontade para nossas vidas, mas sem termos a mesma intensidade de intenção para fazermos essa vontade, querendo saber, mas não querendo fazer. Sendo Deus sempre verdadeiro ele não nos engana, se perguntamos, ele responde, ainda que não queiramos acatar sua resposta. 
      Mas essas desobediências só enxergamos com o tempo, quando projetos que achamos que eram adequados e aprovados pelo Senhor não permanecem de pé em nossas vidas, quando entendemos o que de fato é melhor para nós, e não só para um momento. Obviamente isso está intrinsecamente ligado a auto-conhecimento em Deus, quem se conhece sabe o que pode ter, quando e para quê, só com tempo nos conhecemos, Deus simplesmente aguarda. Com o tempo podemos entender que aquela resposta que demorou para vir, não foi por falta de fé nossa, mas foi um não de Deus que não aceitávamos, que a resposta que achamos que tivemos não era de Deus, mas de nossa teimosia. Por isso até obtivemos algo, mas que nunca funcionou direito, nos trouxe inconvenientes, fez mais mal que bem. Sinceramente, você já teve experiência assim? Todos tivemos.
      Por que essa questão é levantada numa reflexão sobre quem seremos na eternidade? Porque somos aquilo que retemos por mais tempo em nossa essência, é isso que nos define e é isso que apresentaremos a Deus no “juízo”. Interessante que na eternidade o tempo não existe, não como experimentamos no mundo, aqui percebemos o tempo pelo envelhecimento de nosso corpo e pelos movimentos e estações da Terra interagindo com o universo material. Na eternidade não teremos os limites da matéria, mas ainda assim, para alguns, poderão haver limites de espaço e tempo, limites relacionados com suas qualidades morais, com as essências espirituais que construíram no corpo físico, no mundo e no tempo material. Quem sofre fica paralisado num lugar, sente o tempo pesar, enquanto fora de si vê o tempo passar e os outros livres para irem e virem, isso é um tipo de inferno. 
      Eis a chave do mistério da eternidade: administrar bem o tempo no mundo, e isso não significa fazer mais coisas em menos tempo, mas fazer a coisa certa, ainda que leve todo o tempo do mundo. A pressa tenta mudar uma vida que muitas vezes não pode ser mudada, só deve ser aceita, mas na aceitação de certas coisas exteriores como imutáveis, somos nós que mudamos e por dentro. Mas nunca generalize, certas coisas podem e devem ser mudadas, com trabalho e fé. Contudo, precisamos avaliar nossas vidas com lucidez, o que fizemos, o que ficou de pé e onde tudo isso nos levou, fora de nós e dentro de nós, não nos esquecendo que só levaremos à eternidade aquilo que retemos dentro de nós. Não adianta negarmos nossa essência, teimarmos em dizer para nós mesmos que somos isso, conquistamos aquilo, quando não é verdade, quem olha para dentro de si sabe sua verdade.
      Por isso o evangelho diz, “por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará, mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.12-13). Só estará em nossa essência como parte de nossa identidade espiritual, aquilo que for retido no mundo, por isso cada instante no plano físico é importante, uma oportunidade de crescimento, tolos os que desejam a morte antes do tempo. Só retemos, só seguramos, transformando velhas essências em novas, perseverando, teimando em fazermos o bem, em sermos melhores, em entendermos, aceitarmos e praticarmos a vontade de Deus para nossas vidas, não as nossas vontades ou as dos homens. Como é nosso homem interior? É vitorioso como nossa aparência externa, ou contém um espírito oprimido, entristecido, desprezado, não pelos outros, nem por Deus, mas por nós mesmos? Atenhamo-nos mais a ele, é ele quem nos define. 
      Na eternidade receberemos conforme nossas obras no mundo, mas não porque elas comprem direitos, mas porque elas nos transformam, assim, não basta fé em alguma crença religiosa, mesmo em Cristo como salvador, é preciso que mostremos obras como frutos de seres arrependidos e mudados. Por isso não nos adianta de nada ganharmos no mundo, mesmo honra de homens. Na eternidade seremos iluminados pela glória de Deus e pela luz de seres superiores, os “anjos”, se houver luz em nós seremos atraídos para o amor do Altíssimo, senão nós mesmos nos afastaremos, de um amor que na verdade já negamos em nossas vidas encarnadas no mundo. Luz atrai luz, trevas se escondem nas trevas, céu vai ao céu, inferno continua no inferno. O que construímos no mundo material dentro de nós é o que definirá quem seremos na eternidade espiritual, sem maiores surpresas, simples assim. 

Esta é a 10ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

08/02/22

Jesus veio no tempo certo (9/90)

      “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos.” 
Gálatas 4.4-5

      O nível de desenvolvimento do mundo na época de Israel do antigo testamento, nos transportes, na comunicação, nas relações internacionais, não permitia um conhecimento global como temos nos tempos atuais, assim, é injusto exigirmos que Israel pudesse compartilhar com mais abrangência a experiência que tinha com Deus. Israel entendia o mundo do seu ponto de vista, como entendiam hindus, chineses, japoneses e outros. Isso faz parte da fase infantil da humanidade, que como crianças pequenas se veem como centro do mundo, como a tradição judaico-cristã viu o planeta Terra como centro do universo até que a ciência provasse o contrário. O erro, contudo, não está no passado, mas no presente, quando depois de sabermos de tantas coisas ainda continuarmos vendo a existência como viam hebreus de milênios atrás. 
      Se Deus tinha o propósito de evangelizar, digamos assim, o mundo antigo através de Israel, como dizem muitos estudiosos, isso deveria ter sido possível dentro das condições do mundo daquela época, mas isso não foi feito. Deus desprezou o resto do planeta e privilegiou os hebreus? Onde está o amor de Deus por toda a humanidade nisso? Parece que sob esse ponto de vista Deus agiu com parcialidade, se não foi isso, e não foi, já que Deus não faz acepção de pessoas, quem está errado é quem interpreta a religião de Israel no antigo testamento como único meio do ser humano conhecer a Deus. Não negamos a importância e a singularidade de tudo que a religião judaica produziu, principalmente sendo berço do Cristo, mas com certeza enquanto cuidava dos hebreus, Deus também cuidava do resto do mundo, com o mesmo amor. 
      Por que Jesus não veio no lugar de Moisés, no momento histórico que esse veio? Se pensarmos de forma prática, sob o ponto de vista limitado e humano, Jesus deveria ter vindo longo após Adão e Eva terem pecado. A humanidade, contudo, não estava preparada para Jesus, nem no tempo de Moisés e muito menos logo após o homem ser expulso do Éden. Além do mais, Moisés teve uma relevância nacional, elevou um clã familiar, que foi o que entrou originalmente no Egito, à condição de nação com território próprio. Jesus, contudo, não veio para um povo, mas para todos os povos. Isso ensina que Deus revela o conhecimento espiritual de maneira gradativa aos homens, à medida que estão preparados. Se foi assim com Moisés e Jesus, por que não seria com o restante do conhecimento? E há, sim! mais a se aprender. 
      Se para uma pessoa da nação de Israel e da época de Moisés fosse revelado os ensinos do Cristo, essa pessoa chamaria os ensinos evangélicos de apócrifos, não aceitaria que Deus ama mesmo seus inimigos e que quer dar a esses o mesmo destino, tanto no mundo quanto no céu, de paz e prosperidade. Você acha que não? Que um israelita saindo do Egito aceitaria pela fé os ensinos do Cristo? Pense bem a respeito. Nessa lógica podemos entender que existem conhecimentos que hoje são considerados heréticos, mesmo diabólicos, em relação ao evangelho básico, e não me refiro aos ensinos morais, mas àqueles sobre o plano espiritual, que na verdade podem não ser. Pode ser só o cristão atual ainda não preparado para aceitá-los, assim, temos que entender um Deus que se revela aos poucos, ou ficaremos presos ao passado. 
      Mas se mesmo no campo social os cristãos ainda têm dificuldades para aceitarem certas novidades, como no casamento e na sexualidade, que é a prática da realidade de suas vidas diárias, que se diria sobre inferno e céu, que muitos aceitam só porque na verdade nunca pensaram seriamente no assunto, e por terem medo de serem “excomungados”, mesmo de igrejas protestantes, caso pensem diferentemente. Contudo, mesmo a religião da velha aliança se corrompeu, no tempo de Jesus homem era liderada por homens, que se importavam com exibir aparência externa superior diante de homens, para dominarem sobre esses, mas que interiormente eram sujos e distantes de Deus (Mateus 23.27). Como resultado tinham vidas hipócritas, que lhes deixaram cegos para verem a luz mais alta de Deus manifestando-se para salvá-los, Jesus. 
      Alguma semelhança entre os líderes religiosos judeus do século I, os líderes católicos que surgiram a partir do século IV, e muitos líderes evangélicos atuais no Brasil? Toda semelhança, mas é assim que o mundo funciona até o momento. Sempre foi assim e sempre será? Eu penso que não, a humanidade chegará num ponto de sua evolução espiritual onde conseguirá reter com mais fidelidade a palavra original de Deus, e ao invés de dilacerá-la, a renovará e multiplicará, sem que essa perca a pureza. Isso não aconteceu até o momento porque a ganância do homem, que tantas injustiças causam na sociedade, corrompem todos os homens, principalmente aqueles que de alguma maneira detêm poderes. Líderes religiosos não escapam disso, são corrompidos e assim mutilam a palavra genuína de Deus de acordo com suas conveniências.
      Cristãos, precisamos ter uma visão mais divina de tudo, do universo, da Terra, do homem, do plano espiritual, e ainda que muitos pensem o contrário, a divindade que tradições religiosas cristãs defendem não é a divindade do verdadeiro Deus, mas de um deus humanizado e limitado, um ídolo feito de dogmas e crenças, construído por homens. A Terra não é o centro do cosmos, não foi criada em seis dias, o homem não surgiu pronto do pó da terra, e Deus não é uma potência espiritual parcial que a uns defende e salva e a outros destrói e condena. Deus é misteriosamente maior, seu processo de trabalho é sem começo e sem fim, ele usa o tempo em dimensões gigantescas, o ser humano existirá ainda por milhares de anos neste mundo, pelo menos. Quem seremos na eternidade? Seres bem melhores que imaginamos ser, cristãos ou não. 

Esta é a 9ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

07/02/22

Deus e deuses para Israel (8/90)

      “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.” 
Deuteronômio 6.4

      Numa reflexão sobre eternidade, inferno e céu, pode ser interessante, para entendermos que o que Bíblia diz e as tradições ensinam sobre as coisas do fim podem não ser uma verdade atemporal, mas algo ligado a entendimentos de homens de outros tempos, vermos que também existem entendimentos limitados a um tempo sobre o início de tudo e o começo da relação de Deus com a humanidade. O senso comum cristão diz que Deus escolheu um homem, Abraão, depois um filho, Isaque, depois um neto, Jacó, depois um descendente desse, Davi, e finalmente um descendente desse descendente, Jesus, para manifestar à humanidade sua vontade. Mas essa escolha na verdade começou em Adão, passando por Sete, Noé e então Sem, para assim chegar a Abraão. Seja como for a Bíblia conta a história de uma nação específica. 
      Você já pensou o que achariam os seres humanos que viviam no extremo oriente, no sul da África, nas Américas, na Austrália, se soubessem da promessa que os judeus dizem que Deus fez a Abraão sobre a nação de Israel em Gênesis 22? Pensariam que Deus escolheu um homem, ou um povo, e desprezou os outros, ou você acha que existiam naquele momento só descendentes da família de Noé no planeta? A arqueologia já encontrou restos humanos em várias partes de mundo e não é possível que todos sejam descendentes de Noé. Mesmo que fossem, não poderiam mudar tanto de aparência (compare um árabe com um japonês, com um africano, com nativo peruano, com um aborígene australiano), e viajarem para tão longe do oriente médio, não em pouco tempo, onde a Bíblia diz que foram criados os primeiros homens. 
      Isso nos faz pensar em muitas coisas, não só sobre o fim, como sobre o início, se de fato toda a humanidade foi originada de um único casal do oriente médio. Não seria Gênesis, como todo o antigo testamento, mitos da história, não da humanidade, mas de um único povo, do qual hoje sobrou uma tribo, a dos judeus? Ou você tem alguma explicação de como os filhos de Noé conseguiram se reproduzir e darem origem a povos de todo o globo terrestre. Mas se pegarmos só Sete, com quem ele teve relações sexuais e formou famílias, com suas irmãs, com a descendência de Caim? A Bíblia, do começo ao fim, não pode ser interpretada ao pé da letra, mesmo Jesus foi um messias profetizado para o povo judeu, teve seu ministério entre judeus, ainda que seus ensinos tenham alcançado, a princípio, pelo menos a civilização ocidental. 
      Outra coisa importante para entendermos é o monoteísmo, na prática não existia nos tempos do antigo testamento. Nós evangélicos nos acostumamos a ler e compreender a Bíblia pelo senso comum que temos hoje, já sob a ótica das tradições teológicas, e não é bem assim. A Bíblia tem registros de momentos históricos diferentes, ela não foi toda escrita de uma vez, o antigo testamento sofreu alterações pelo próprio povo hebreu, vários  homens a escreveram. Isso ainda que alguns tenham escrito vários livros, como Moisés que escreveu o Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia), Salomão que escreveu Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos Cânticos (ou Cantares), Sabedoria (só nas Bíblias católicas), e alguns Salmos, Paulo que escreveu várias cartas, e João que escreveu um evangelho, cartas e o livro de Apocalipse. 
      A teologia tradicional é uma fábrica de argumentos para tentar explicar a Bíblia como os teólogos acham que a Bíblia tem que ser, não como realmente é. Mesmo a nação de Israel tinha dificuldades para aceitar seu Deus como único Deus, cria que seu Deus era o mais poderoso e que era uma nação privilegiada por ter sido escolhida por esse Deus, mas não estava certa que só existia esse Deus. Tanto era assim que volta e meia Israel deixava de adorar esse Deus, que identificava como o “Deus de Abraão, de Isaque, de Jacó”, e adorava outros deuses. Mas Israel não devia achar que estava indo para o lado do diabo por isso, mas só para outro deus, essa concepção maniqueísta que temos hoje, que divide poderes espirituais entre bem e mal, de Deus e do diabo, só ficou clara para a humanidade com o cristianismo católico.  
      Não significa que não havia homens com experiências espirituais profundas, que sabiam da existência de um único Deus acima de tudo, e que muitos desses registraram textos bíblicos importantes, mas faziam isso sob relevâncias de seus contextos, o que queriam promover para suas sociedades. Uma sociedade que se mantinha com guerras, dava valor a um Deus que desse vitória em guerras, um homem que separava o mundo entre seu povo e seus inimigos, não podia entender direitos iguais para toda a humanidade. Um povo materialista via a necessidade de qualidades morais para ter favores de Deus, mas favores no plano físico, não no espiritual. Israel não pensava em eternidade espiritual, e mesmo seres espirituais do mal não eram parte importante de sua prática religiosa, Israel via um reino de Deus no mundo, não na eternidade. 
      Mesmo que outras nações não estivessem em guerra com Israel, portanto fora da condição de inimigas, Israel não se via comissionada a evangelizá-las. Israel não se achava em papel missionário, ainda que homens como Daniel e Jonas tenham testemunhado Deus a outras nações. Pela ótica do antigo testamento parece-nos que só Israel conhecia o Deus verdadeiro no mundo, mais ninguém, você nunca achou isso estranho? O objetivo era obedecer a Deus dentro de uma nação com uma religião exclusiva, não havia o conceito de salvação pessoal, israelitas não viam homens de outros povos como semelhantes, eram gentios que não tinham privilégios em sua religião, apesar de haver regras para bom tratamento de estrangeiros. Por causa disso, será que é justo usar a religião de um povo fechado como referência para todo o mundo? 

Esta é a 8ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

06/02/22

O cristianismo e o tempo (7/90)

      “Ora o Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus, e na paciência de Cristo.” 
II Tessalonicenses 3.5

      Quem você será na eternidade? A verdade é que pode ser melhor você nem se importar com isso. Seja teu melhor aqui e agora, é isso que você levará à eternidade, nem mais nem menos, o céu construímos no mundo e dentro de nós, o resto é fantasia, é superstição, manipulação de líderes religiosos para controlarem e explorarem os homens. Seremos melhores se bebermos da fonte original do cristianismo, principalmente as palavras diretas do Cristo nos evangelhos. O ensino da Bíblia feito em muitas igrejas sérias e bem intencionadas atuais, ainda que num número menor que há trinta anos atrás, muitas vezes mais confunde que ajuda, principalmente as últimas gerações, avessas à leitura e aprendizagem mais profunda de qualquer coisa, que querem aprender tudo com tutoriais em vídeos curtos, que mal sabem escrever o português. 
      Quem tem cabeça hoje para entender os protocolos da religião israelita do antigo testamento, os detalhes da construção do templo de Salomão, ou as profecias de Daniel e de João? Se aprendessem sobre a vida de Jesus já entenderiam o principal, já poderiam ter homens interiores melhores preparados para a eternidade. Por outro lado, aproveitando-se desse desinteresse por profundidades, é que as heresias se proliferam, simplificando o cristianismo à fé, aos dízimos, a não beber e não fumar, a legalizar o último casamento. Será que isso basta para termos direito ao céu, a melhor eternidade de Deus para os homens? Para muitos até pode bastar, Deus é amor e usa o que está disponível para alcançar os homens, não nos enganemos sobre isso, mas aproxima-se o momento em que será exigido mais da humanidade. 
      Já passamos tempo demais sendo alimentados com leite, logo, se não tivermos alimento sólido, não conseguiremos viver em Deus e muitos poderão negar de vez o cristianismo. Tudo que o cristianismo católico-protestante podia explorar da humanidade, já foi explorado, o que Deus pôde fazer, mesmo através desse cristianismo mutilado, logo não será mais o suficiente, não para salvar uma humanidade com acesso à ciência, que liberta de superstições e que facilita uma existência na Terra sem que os homens façam uso de crenças infantis no sobrenatural. O misticismo não basta mais, nem o da esquerda e nem o da direita, não é só o Deus ensinado pelo cristianismo que está caindo em descrédito, o diabo também está, e enganam-se os cristãos que acham que o mal está se fortalecendo e preparando um final onde possa prevalecer. 
      A noção de tempo do cristianismo sempre foi equivocada, isso não é privilégio de evangélicos atuais. A maioria dos cristãos, como ocorre com outros religiosos, se apaixona por suas crenças, pelo menos a princípio, nessa paixão quer deixar o mundo e se unir a Jesus no céu o quanto antes. Cristãos primitivos achavam que Jesus voltaria ainda no primeiro século, católicos também poderiam ter essa perspectiva principalmente durante crises mundiais como no período da peste negra que dizimou milhões. No século XX teve muito cristão que achou que o mundo acabaria nas guerras mundiais, há relato de seita que subiu a monte esperando a volta de Cristo. Sempre que um avivamento carismático ocorre, movimento que naturalmente infla os corações de paixão, as pessoas creem que o fim e a volta de Jesus são próximos. 
      Assim, cuidado, dizer “Jesus está voltando e temos que nos preparar”, pode não ser discernimento espiritual de gente mais ungida que as outras, mais santa que as outras, mas pode ser só paixão humana. Estar sempre preparado é o entendimento mais sábio, não esperando ou querendo que o mundo acabe, mas vivendo em vigilância todos os dias, mesmo que o Cristo só volte daqui a um bilhão de anos. Esse é um cristianismo maduro, o que se prepara mesmo sabendo que vai demorar muito, não por medo do inferno ou por sentir um final iminente, mas por amor a Deus que trabalha sempre a longuíssimo prazo, esse foi o ensino original de Jesus. Espiritualidade não gera ansiedade, mas serenidade e paciência, e ansiedade por coisas espirituais também pode ser pecado e conduzir a formidáveis enganos, abramos os olhos. 
      Nossa sensação de tempo, que pode importar mais que o tempo de fato, aquele medido pelo relógio e indicado pela rotação e translação da Terra, está bastante relacionada com nossa paz interior, quem tem paz, tem paciência, e quem tem paciência nem se liga ao tempo. Eternidade é existir desprendido de matéria, espaço e tempo, mas penso que tempo tenha uma relevância especial no plano espiritual, porque mesmo com um corpo transformado, não constituído de matéria física, e com liberdade para ir e vir na velocidade do pensamento, se houver no espírito “inferno”, a sensação de tempo será eterna. Já ao espírito que estiver em paz no amor de Deus, isso é, no céu, nem dará conta que tempo existe, quando estamos felizes não sentimos o tempo passar, se é assim no plano físico, muito mais será no plano espiritual. Glória a Deus! 

Esta é a 7ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
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José Osório de Souza, março de 2021

05/02/22

Verdades sobre o inferno (6/90)

      “Os ímpios serão lançados no inferno, e todas as nações que se esquecem de Deus.” 
Salmos 9.17

      Será que Deus criou um lugar especial, com um fogo que não para de queimar, para que lá sejam lançados aqueles que morrem sem Cristo? Ou será que os que estão longe de Deus, por estarem em pecado, já possuem dentro deles um sofrimento imenso, causado não por fogos externos, mas por culpa, por orgulho, por egoísmo, ódios e invejas, por desejo de saciar vícios que não podem ser satisfeitos, sendo essa condição de danação interna de fato o inferno real? Será que essa condição é eterna ou permanece só até o homem se arrepender? 
      O conceito do inferno que Jesus usou era o que estava disponível no tempo de sua encarnação, não era um conceito exclusivo da religião judaica ou trazido como novidade pelo evangelho, era um conceito das religiões pagãs, grega, romana e outras. Será que Jesus quiz dizer com aquilo que lemos, em várias passagens do novo testamento, que o inferno era uma região localizada no interior da Terra com um fogo perene para a danação, não dos corpos físicos, mas dos espíritos dos que morrem longe de Deus? Ou será que isso nem importa? 
      A verdade é que para aquele momento, no século I, não importava descrever o inferno como é de fato, com conceitos espirituais, morais e emocionais, importava é que as pessoas soubessem que há efeitos para as causas, e para aqueles que persistem em andar longe de Deus há tormento. Um povo com uma cultura que achava legitimidade divina para dizimar inimigos, incluindo mulheres e crianças, não poderia entender inferno de outro jeito, se não com referências de castigo físico, e não com dores mais subjetivas, morais e emocionais. 
      O ser humano só começou a entender e a aceitar seu mundo psíquico no século XIX, pelos estudos de Sigmund Freud que mapeou a psiquê humana. Conceitos tão popularizados hoje em dia, como depressão, síndrome do pânico, ansiedade aguda, não existiam para pessoas comuns de séculos passados, no máximo tinham noção de dores físicas e de opressões espirituais, essas últimas baseadas em superstições bíblicas. Não se sabia nem da existência de vírus e de bactérias e de suas influências no corpo, se acreditava no que se podia ver a olhos nus. 
      Por isso o inferno ensinado tinha que ser físico e visível, usando conceitos conhecidos como do fogo. Mas o espírito não pode ser consumido em sua matéria porque essa é espiritual, espíritos são eternos, não morrem, não perdem substância nem envelhecem. Por outro lado eles têm consciência e moral, e de uma forma muito mais livre que temos encarnados no mundo, se nossa consciência pesa aqui, pesará muito mais lá. Lá não haverá noites de sono, comida e bebida, relações sexuais e outros prazeres para apaziguarem consciências pesadas. 
      Outra verdade é que o que consideramos barbárie hoje em dia era estilo de vida da civilização do século I e de séculos anteriores. Ainda assim muitos púlpitos, centenas de anos depois, tentam achar coerência entre o Deus de amor do evangelho com o Deus vingador do antigo testamento, isso é insano. Essa é uma causa perdida porque é impossível de ser vencida, e não pode ser vencida porque é baseada numa mentira. Muita coisa que dizem que Deus é e faz na verdade é só a leitura de culturas ultrapassadas sobre o que Deus é e faz. 
      Lembremos que Jesus não escreveu nada, o que lemos de suas palavras foi registrado por outros, também doutrinados e acostumados com o senso comum sobre o inferno de seus tempos. Será que se tivéssemos palavras de próprio punho do Cristo elas seriam diferentes das que temos registradas no novo testamento que nos chegou? O erro, contudo, está em interpretarmos a Bíblia ao pé da letra, nos fiando na tradição religiosa e desprezando o ensino do mestre que sempre está conosco e que foi enviado pelo próprio Cristo, o vivo Espírito Santo. 
      O conceito do inferno como local criado especificamente para castigo eterno não bate com o conceito de um Deus de amor, mas se você quiser continuar aceitando isso sem pensar mais a respeito, a escolha é tua. Contudo, para quem conhece de fato o Senhor e quer viver seu amor, isso não importa, quem quer ser um ser humano melhor o faz porque isso é agradável a Deus, não porque entende de teologia ou conhece o mundo espiritual real. Quem teme a Deus não teme o inferno, seja ele exterior e eterno ou interior e temporário. 

Esta é a 6ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

04/02/22

Infernos interiores (5/90)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis. Porque assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.” 
II Pedro 1.10-11

      Inferno e céu têm a ver com duas coisas: humildade do homem e amor de Deus. Deus sempre ama, mas o homem nem sempre é humilde. Trevas é ausência de humildade, inferno são as trevas de muitos seres arrogantes reunidos, não é um lugar, mas a reunião de consciências sem luz, que se negam caminhar para o amor de Deus. Não meus queridos, não nos basta viver um evangelho racional, cheio de argumentos, que nos dá abrigo em dogmas e teologias, que nos oferece explicações confortáveis. É preciso um comprometimento moral, que arranca do fundo dos nossos corações uma oração de quebrantamento, que persiste pelos anos, que não desiste mesmo que os homens nos desapontem, mesmo que as religiões sejam hipócritas, mesmo que as tentações da carne e do orgulho sejam avassaladoras. Céu se constrói. 
      A possibilidade de ver um inferno não eterno não nos faz mais frouxos com Deus, ao contrário, leva-nos a assumir mais ainda responsabilidades que são só nossas, de mais ninguém, essa é a ótica de adultos espirituais, não de crianças que só fazem o certo se o castigo for enorme. O mais adulto é fazer o certo ainda que não haja castigo, é deixar de fazer o errado ainda que não exista recompensa. O bem já é uma recompensa em si mesmo para os que veem a existência além do plano físico, mas uma eternidade espiritual. O tempo de sermos crianças que precisam de leis para nos mostrarem o que devemos fazer passou. Se o cristianismo no mundo tivesse entendido de fato o que o Cristo ensinou, o Espírito Santo já teria ensinado sobre isso, mas não entendeu, fechou os ouvidos para o mestre e seguiu infantil. 
      Duas lições importantes tiramos do texto inicial, a primeira é que o que nos protege de tropeços não é fazermos isso ou aquilo, muitas vezes só para termos aprovação de homens e mesmo de igrejas. O que nos protege é obedecermos a vocação e a eleição que Deus nos deu. Se tua vocação for ser um bom evangélico, seja-o, conheço crentes, de denominações variadas, que são seres humanos de qualidade por serem fiéis às doutrinas de suas igrejas, são assíduos nos cultos e abençoam muitos. Eles até podem crer numa eternidade “tradicional”, mas tenho certeza que são humildes e os humildes não serão surpreendidos na eternidade, não para pior, e muito provavelmente para melhor. Contudo, se você sente em Deus uma inclinação para ir além, e repito, se isso for vontade de Deus para você, você só será feliz se obedecer essa chamada. 
      A segunda lição que o texto inicial nos ensina está em “assim vos será amplamente concedida a entrada no reino eterno”, outra versão diz, “assim vocês estarão ricamente providos quando entrarem no Reino eterno” (NVI). Tenho a impressão, interpretando esse texto, que a melhor eternidade não será um céu único para todos, contudo, não é o espaço espiritual que poderá ser diferente, mas será o homem interior dos seres humanos que poderá variar, assim céu e inferno poderão ser, não lugares, mas posições espirituais interiores e individuais. A intenção deste texto não é achar na Bíblia apologia para teorias, não tenho interesse em forçar uma interpretação para provar algo. O propósito aqui é obedecer a voz do vivo Espírito Santo, nosso mestre maior, no qual não reside engano. Do que falo tenho certeza e autorização de Deus para dizer.
      Você com certeza já esteve num local que lhe parecia desconfortável, ainda que estivesse realizando-se lá uma festa, o ambiente parecia ruim porque você não estava bem, era seu interior que estava mal, não o lugar. Imagine um grupo de pessoas parecidas reunidas num mesmo lugar, angustiadas, desesperadas, remoídas em remorsos, sentindo-se sujas com vícios não resolvidos, pesadas com crimes e todo tipo de violência, pecados não perdoados e não esquecidos. Poderíamos chamar esse lugar de inferno, ainda que fosse um lindo jardim, com um vento calmo e fresco soprando, à beira de um lago de águas limpas. Sim, meus queridos, o inferno está dentro de nós, e o levamos para onde quer que formos. Deus não criaria um lugar assim, simplesmente porque não precisa criar, às pessoas bastam suas autoinflingidas penas.
      Não temamos o inferno, mas as coisas ruins não resolvidas acumuladas dentro de nós, não temamos o diabo, mas nos aproximemos do amor de Deus e nos sintamos satisfeitos. Ainda que se expulse os demônios, se a casa não for enchida com o Espírito de Deus o mal volta pior (Lucas 11.24-26), assim o perigo não está no mal, mas na ausência do bem, que deixa espaço livre para o mal. O inferno será eterno? Se você não tem fê para crer que não será, tudo bem, o cristianismo, ainda que limitado, conduz o mundo à Deus com essa doutrina há quase dois mil anos, Deus sabe o que faz. Contudo, creia num Deus de amor, não num Deus vingador, creia num Deus inclusivo, não num Deus que faz acepção de pessoas, creia num Deus maior que os dogmas, que ainda tem muito a revelar, assuma-se criança que pouco sabe e saberá mais. 

Esta é a 5ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

03/02/22

Crianças ou adultos? (4/90)

      “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.” 
I Coríntios 13.11

      Você não diz a uma criança que ela deve olhar para os dois lados da rua antes de atravessar, você diz, não atravesse sem dar a mão para o pai, senão você será atropelada. Uma criança ainda não tem inteligência desenvolvida o suficiente para verificar a situação e fazer a melhor escolha, para ela, o medo de algo inflexível ocorrer, é o melhor ensino para livrá-la do pior. É verdade que se ela atravessar sem dar a mão para o pai ela será atropelada? Não de todo, há a possibilidade dela atravessar e, ainda que não olhe, nenhum carro esteja vindo e ela não sofra nada. Ela também pode ser uma criança com inteligência acima da média, que entenda que precisa olhar os dois lados, esperar ou não, e então atravessar, mas aí, ainda que tivesse consciência do que estivesse fazendo e de não sofrer nada com sua ação, ela poderia se vista pelos outros como uma criança desobediente.
      Essa metáfora não indica que a Bíblia minta, mas que é adequada aos homens dos tempos em que ela foi escrita, mesmo nela há ensinos antagônicos, sobre o amor, por exemplo, o antigo testamento nega amor aos inimigos, no evangelho é orientado a todos (Mateus 5.44). Se nós, como indivíduos, crescemos, melhoramos, adquirimos inteligência intelectual, porque isso não ocorreria com a humanidade? Não é óbvio, por tudo que temos visto da ciência, principalmente no século XX, que o homem tem se desenvolvido? E sobre os costumes sociais, sobre o casamento, sobre o papel de homem e de mulher, sobre os preconceitos com raça e sexualidade, não temos visto uma evolução desde o século XIX? Foi justamente para tentar negar, frear e controlar o desenvolvimento científico e social da humanidade, que a Igreja Católica tanto mal fez, tantos queimou nas fogueiras, torturou, enclausurou.
      Meus queridos, os ideais morais e espirituais nunca mudam, equivocam-se os que acham que textos como esse e outros, tanto do “Como o ar que respiro” como de outros autores, estão tentando defender o pecado e o diabo e desviar-se da Bíblia, do cristianismo, de Deus. Por este espaço eu defendo em alto, mas não mal educado som, que creio num Deus santíssimo, todo-poderoso, que enviou Jesus para que sejamos salvos à medida que praticamos seu amor, e crer em Jesus com salvador é só o primeiro passo para uma jornada em direção ao Deus altíssimo, onde está a luz mais clara de virtudes. Amo a Bíblia, é o texto religioso que por mais tempo tem iluminado a humanidade, com sabedorias eternas, na qual estão contidos mesmo mistérios que o homem atual, na média, não pode entender, nem viver. Contudo, existe amor divino num inferno eterno? Pense profundamente nisso, por favor.
      Quem você será na eternidade? Talvez exista a possibilidade de acordarmos na eternidade mentalmente da mesma maneira como saímos do mundo, apesar de com outra forma de corpo, composto de uma substância não material, seja lá qual for ela, semelhante àquela que Jesus tinha depois de ressuscitado, mas com o mesmo conteúdo moral que tínhamos antes da morte do corpo físico, com consciência, identidade e mesmo com limites. A Bíblia diz que depois da morte vem o juízo (Hebreus 9.27-28), não estamos negando isso, a questão é quanto dura a pena promulgada pelo juízo e a relação dessa com o amor divino. Talvez para muitos pode durar uma eternidade, mas talvez todos provaremos algum inferno, ainda que só por algumas horas. O que vai fazer com que isso varie? O aperfeiçoamento moral que fizemos com o nosso homem interior no mundo físico.
      Quem vigiou mais, buscou mais a Deus, se humilhou mais, praticou mais o evangelho verdadeiro, lutou mais contra suas capas e máscaras, não teve medo mesmo de parecer fraco e louco diante de homens, para agradar a Deus e deixá-lo aparecer e não o seu ego, esse poderá ir direto ao céu. Nosso melhor homem interior aparece fácil quando passamos a vida lutando para deixá-lo se manifestar, isso não mudará na eternidade. Contudo, os que viveram, ainda que no coração crendo em Deus, mas mantendo aparência de fortes, para não terem orgulho próprio riscado, para não mostrarem fraqueza, para pousarem-se sempre de vitoriosos e donos da verdade, esses terão certa dificuldade para serem humildes no pós-morte (Filipenses 2.9-11), quando todos teremos que nos curvar diante do Cristo, a manifestação mais plena de Deus no mundo, esses poderão provar “infernos”. 
      Não esperem aqui textos bíblicos que provem um ponto de vista, os que guiam suas vidas com Deus só naquilo que está explicitamente no cânone bíblico nem levem em conta esta reflexão. A crianças convém andarem de mãos dadas com seus pais, não tentarem fazer escolhas próprias, mas só seguirem as escolhas que outros fazem por elas. Isso está errado? De forma alguma, importa sermos coerentes com o que queremos acreditar e agradarmos a Deus nisso. Contudo, se a dúvida daquilo que você creu até hoje te encaminhar para uma vida mais santa, humilde e amorosa com o próximo, se novos questionamentos te fizerem um ser humano melhor, então, ouse. Mas faça isso conversando com Deus, buscando na paz e nos bons frutos autorização para aprender, e saiba, aos que estão preparados muito há para aprender, se o inferno pode não ser infinito, o céu é. 

Esta é a 4ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

02/02/22

O amor de Deus e o inferno (3/90)

      “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, mem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” 
Romanos 8.38-39

      Quem você será na eternidade? Vou fazer uma conjectura, que pode não bater com a doutrina cristã tradicional, assim peço que a princípio você a considere assim, como uma possibilidade, uma pergunta para você tentar responder. Será que imediatamente após morrerem no corpo, aqueles que têm a convicção que são novos nascidos por Cristo, se acharão como novos seres, com corpos diferentes, sem os limites de matéria, tempo e espaço, será que serão seu melhor homem interior? Será que já estarão livres de culpas, de medos, de dúvidas, de ansiedades, de dores, e gozarão imediatamente de uma disposição “emocional” de paz? A doutrina cristã tradicional, pelo menos a protestante e a evangélica, não a católica que levanta a possibilidade do purgatório, ensina que sim. Se for isso, bom e fácil para todos os que vão para o céu.
      Por outro lado, e não podemos nunca nos esquecer dos dois lados e do caráter implacável da doutrina das penas eternas, essa “transformação” imediata e definitiva é terrível para os que são condenados ao inferno, não haverá jamais oportunidade para arrependimento ou comunhão com o amor de Deus. Assim, o amor dito eterno e geral de Deus, na eternidade só existirá para o salvos, não para os condenados. Você já se perguntou como um Deus perfeito e imutável pode existir num determinado momento cósmico “partido”, com suas virtudes divididas? Como pode ele seguir existindo sabendo que seres que criou e que um dia amou, estão num sofrimento irremediável? E se considerarmos a doutrina da predestinação isso fica ainda mais sério, Deus sabia de antemão que estava criando uns para o céu e outros para o inferno.
      Isso deixa ainda mais estranho o conceito do amor divino, se no céu estarão os que ele ama, no inferno estarão os que ele odeia, conclusão lógica, não existe outra maneira de existir um lugar ou uma posição espiritual como o inferno, que não é criação do diabo já que esse nada cria, sem que admitamos que é consequência de uma disposição divina oposta ao amor. Então, outra pergunta se levanta: Deus pode odiar, ter um sentimento assim tão humano? Bem, se interpretarmos a Bíblia ao pé da letra, de forma atemporal e como palavra direta de Deus, não como registro de interpretações humanas conectadas à cultura e à moral de tempos passados, creremos que Deus não só odeia (Deuteronômio 12.31), como se arrepende (Gênesis 6.7) e se vinga, tanto de seu povo quanto dos inimigos de seu povo (Levíticos 26.25 e Números 31.3). 
      Pode-se argumentar, Deus odeia o pecado, não o pecador, mas isso seria mais um argumento para inferno eterno não existir, pois que diferença há entre a consciência do homem no mundo e na eternidade? Na eternidade não pode haver arrependimento? Depois de uns mil anos de inferno penso que os seres humanos teriam muita chance de se arrependerem, contudo, a doutrina cristã ensina que ainda nessa possibilidade não haverá perdão com direito à melhor eternidade do Senhor, à luz mais alta no amor de Deus (Lucas 12.58-59 abre uma possibilidade da pena ser longa, mas não infinita). Minha intenção aqui não é concluir por você, mas te fazer pensar no que você diz crer, não basta aceitarmos doutrina cristã como dogma, é preciso, como sempre dizemos aqui, reavaliarmos baseados no Espírito Santo e na sensatez. 
      Talvez só exista um jeito de entendermos a verdade maior de Deus, aceitando que a Bíblia é construção de homens, principalmente de religiosos judeus e católicos, e depois entendendo que o termo sem fim, aplicado às penas, não é adequado. Será que inferno não terá fim ou só existirá enquanto o homem não se arrepender? Mas aí levantamos a possibilidade de haver arrependimento na eternidade, isso a Bíblia não ensina, mas se existir, por que a Bíblia não ensinou? Há uma resposta: homens de Deus, não negamos isso, falaram a homens de seus tempos de acordo com entendimentos de Deus de seus tempos, e usando recursos de convencimento para conduzirem a Deus os homens de seus tempos. Homens são homens em qualquer tempo, limitados, nem Jesus homem disse tudo, e como homem respeitou os homens de seu tempo.

Esta é a 3ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

01/02/22

Nosso homem interior (2/90)

     “Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus.” 
Efésios 3.14-19

      Quem você será na eternidade? Saber quem seremos não é tão difícil assim, talvez não seja o ideal de ser humano que aprendemos que temos que ser pelos púlpitos e pregadores, e que nunca conseguimos ser, mas poderá ser o melhor ser humano que conseguimos ser, ainda que interrompidos por momentos quando não somos. Quem já teve pelo menos um encontro real com Deus, e nisso somos confrontados com nossa natureza mais fraca, nisso imploramos por perdão, nisso alcançamos uma humildade real, nisso adoramos a Deus como ser espiritual mais alto, santo e poderoso, e nisso ganhamos uma misericórdia e um amor fáceis pelos outros, quem já experimentou isso viu o caminho melhor e mais rápido para o Senhor. Essa experiência nos marca e depois dela sabemos o melhor que podemos e temos que lutar para sermos. 
      Cristãos chamam essa experiência de conversão ou novo nascimento, o que ocorre nela é o que ensina Paulo no texto inicial, somos corroborados com poder pelo Espírito de Deus em nosso homem interior, Cristo passa a habitar pela fé em nossos corações e assim, arraigados e fundados em amor, podemos perfeitamente compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. Aproximar-se de Deus é colocar-se em seu amor, ser inundado por ele, é importante entendermos isso pois muitos querem se aproximar de Deus para possuírem poder para serem e terem, terem mais até que serem, e terem no mundo. Só o amor de Deus permite-nos ser nosso melhor moral, isso definirá nossa eternidade, o gérmen desse melhor está no que Paulo chama de homem interior, promessa de céu em todos nós. 
      Como você vê as pessoas? Como inimigas, opositoras, objetos de inveja, devedoras a você de atenção, de honra, de amor? Nossa vida no mundo é luta e dor, se não fosse assim não precisaríamos estar aqui, é isso que nos aprimora, e se precisamos ser aprimorados é porque não estamos prontos para a melhor eternidade com Deus. A eternidade, assim como o mundo material, tudo em fim, pertence a Deus, nesse universo ele atrai as pessoas para o seu amor, estejam elas onde e quando estiverem. Qual é a pior eternidade? É aquela em que as pessoas estão mais distantes do amor de Deus, não porque ele se afaste delas, mas porque as pessoas se afastam dele. No mundo ocorre o mesmo, Deus só entrega bênçãos do seu amor àqueles que querem, que escolhem estar próximos a ele. Os outros sofrem sozinhos por opção. 
      Quem tem uma experiência no amor de Deus vê as pessoas pelo olhar do amor de Deus, ainda que erre, que se enfraqueça, bastará uma oração para ser iluminado e enxerguar a si e aos outros pelos olhos de Deus. Na eternidade poderemos ser assim em todo o tempo, por isso Paulo enfatiza tanto a importância do amor (I Coríntios 13.13). Queridos, amor é mais que um sentimento, que aqui no mundo nos acostumamos a aliar com relação afetiva e sexo, é muito mais que isso. Deus ama o tempo todo, se ele deixasse de fazer isso por um segundo que fosse, o universo estaria em trevas terríveis e absolutas, haveria caos total. É o amor de Deus que mantém vivos, tanto seres humanos encarnados, como todos os espíritos e outros seres no plano espiritual. O amor de Deus é que move o universo para sua posição mais alta de luz e virtudes morais. 
      É difícil aceitar alguém que se diz cristão e membro de igreja e que não consegue amar as pessoas com o coração de Deus. Mesmo com as limitações afetivas que todos temos, na luta diária por sobrevivência, aceitar que um cristão não ache ao menos um instante do dia para ter um momento sincero e profundo de oração quando possa abençoar os outros em amor. Se temos o Santo Espírito em nós podemos receber e oferecer o amor de Deus, podemos dar liberdade ao nosso ser espiritual para ver o ser espiritual, que Paulo chama no texto acima de homem interior, dos outros. Sim, porque assim como nós temos dentro de nós, muitas vezes encapado por camadas e camadas de proteção que a dura realidade nos impôs, alguém puro, sincero, benigno, humilde, os outros também têm. Amar é poder ver o homem interior dos outros e sorrir. 
      Você consegue enxergar o homem interior dos outros, ou só enxerga capas e maquiagens? Quem não se conhece não pode conhecer os outros, só nos conhecemos quando conhecemos o Senhor, conhecer a Deus é experimentar o seu amor, esse nos transforma de dentro para fora. Como eu e você, muitos que aparentam “casca grossa”, certa estupidez, ou distanciamento, mesmo frieza, ou por outro lado emoções descontroladas, choram demais, riem demais, têm dentro deles um ser espiritual diferente desejoso de se manifestar. Viver neste mundo é uma oportunidade para que esse homem interior se manifeste. Alguns conseguem isso em menos tempo, muitos têm que ser humilhados para darem liberdade a esse ser, mas infelizmente, outros vivem e vivem e nunca deixam seu ser espiritual, sua verdade mais profunda, livre. 

Esta é a 2ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

31/01/22

Eternidade dentro de nós (1/90)

      Quem seremos na eternidade? Que qualidade moral teremos? Seremos perfeitos? Ou estaremos em lugares extremos, céu e inferno? Que graus deles nós mereceremos? Por quanto tempo? Serão únicos e definitivos para todos? São lugares externos ou disposições internas? Haverá possibilidade de arrependimento na eternidade? As penas são eternas ou só enquanto forem escolhidas para serem assim? Penas eternas e amor divino são mutuamente exclusivos? Um livro original em noventa partes sobre a eternidade, o inferno e o céu, reavaliando a doutrina das penas eternas da tradição cristã e confrontando-a com o amor de Deus. Segue a primeira parte. 

      “Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.” 
Mateus 13.43-44

      Quem você será na eternidade? Veja que a pergunta não foi, “onde você passará a eternidade”, uma pergunta bem comum em folhetos de evangelismo, mas quem você será. Isso foca, não num lugar externo, mas numa condição interior, só isso já faz uma reavaliação na doutrina sobre penas eternas da tradição cristã. A resposta a essa pergunta está fundamentada em dois mistérios, que precisam ser entendidos para que ela não seja baseada só sobre os entendimentos tradicionais da doutrina cristã. O primeiro responde “quem você será”. Seremos seres diferentes dos que somos hoje, assim, num piscar de olhos? Paulo diz em I Coríntios 15.51, “eis aqui vos digo um mistério: na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados”, com certeza uma mudança haverá, mas onde, na forma ou no conteúdo? 
      O senso comum cristão entende que teremos a mesma forma externa em corpos físicos transformados, reconstruídos como foi o corpo de Jesus após a ressurreição. Jesus tinha capacidades que não tinha antes da morte, ele podia aparecer em locais (Lucas 24.36-37), podia parecer “diferente” de modo a nem ser reconhecido pelos que o conheciam antes da morte (Lucas 24.15-16), mas ele também podia ter a mesma aparência física de quando vivo, incluindo ter as marcas que lhe causou a crucificação, e podia até ingerir alimentos materiais (Lucas 24.38-43). O catolicismo construiu doutrinas sobre isso, o protestantismo mudou certas coisas, pero no mucho, religiões espiritualistas veem o corpo de Jesus eterno não como o material original transformado, mas como o espírito liberto e iluminado por sua qualidade moral. 
      Com relação à substância da qual será composto o nosso corpo na eternidade, existe uma interpretação um pouco diferente da cristã tradicional que penso casar mais com as leis naturais. Não será o corpo material que será transformado, já que esse depois da morte é decomposto, como é toda matéria orgânica, cujos átomos se misturam com a terra e outros elementos e participam do círculo eterno de vida e morte de toda a natureza, assim não poderão se juntar e compor de novo um corpo físico para ser transformado e adquirir novas capacidades espirituais eternas. O espírito do homem poderá se reunir por Jesus ao Espírito Santo e poderá ser um ser espiritual de luz (I João 3.2 e Romanos 8.16-18), a diferença das formas dos homens na eternidade será consequência da qualidade moral da essência espiritual que já os habita no mundo. 
      Por que a Bíblia diz que o corpo material de Jesus desapareceu? Não sabemos, aliás, como não fica claro muitos acontecimentos registrados na Bíblia, que por causa disso muitas superstições e misticismos foram construídos e usados principalmente pelo catolicismo. Contudo, o ponto desta reflexão não é sobre a constituição do nosso corpo na eternidade, digamos apenas que será um corpo não preso aos limites de matéria, do espaço e do tempo, será imperecível e livre para existir, ir e vir. O ponto aqui é a nossa qualidade moral na eternidade, sobre isso algo nos é ensinado quando a Bíblia diz que no céu não haverá sofrimento e no inferno esse sofrimento será eterno (Apocalipse 20.15, 21.3-4). O sofrimento não será efeito do nosso corpo queimar, mas da nossa consciência sofrer por pecados não assumidos, nem perdoados. 
      Lembra-se da segunda parte do título desta reflexão, “na eternidade”? Nela está o segundo mistério, mas “onde” está intrinsecamente ligado a “quem”, o primeiro mistério. A eternidade que reconheceremos fora de nós variará de acordo com quem somos dentro de nós, não é o lugar que muda, mas nossos olhos. No plano espiritual, os de espiritualidade superior serão mais belos, na eternidade beleza da forma estará diretamente ligada à qualidade do conteúdo. A aparência de nosso corpo espiritual estará relacionada à qualidade de nossa espiritualidade, à presença de virtudes morais, isso é o que nos fará estarmos numa melhor eternidade, iluminados e não entrevados, perto do amor de Deus, ou como dizem os cristãos, salvos no céu. Não entendeu? Vou explicar, mas já vou adiantando que irei além do senso comum cristão.
      Meus queridos, prestem atenção ao que é dito, analisem com seriedade e cuidado, não leiam só como dogma que conhecem e que tem que ser aceito por ser o que é ensinado em igrejas, sem crítica. A doutrina cristã tradicional divide a humanidade pós-morte em dois grupos (Mateus 25.31-33), um com seres superiores com direito à felicidade eterna, que poderão descansar e adorar a Deus, e outro de inferiores condenados a uma pena de sofrimento sem fim. Nessa doutrina os salvos, ainda que não tenham feito muita coisa, só crido, a exemplo do “bom” ladrão da cruz (Lucas 23.39-43), após a morte serão imediatamente transformados em seres com o mais alto grau de perfeição e de forma definitiva, repetindo, mesmo que no mundo tenham feito muitas coisas erradas, e ainda que tivessem se convertido em seus últimos instantes de vida. 
      Essa visão, que é a base do cristianismo, entrega a Jesus todo o trabalho para que o homem seja aperfeiçoado, e tira do homem uma necessidade mais extrema de esforço para querer e ser alguém melhor. Por outro lado, mesmo aqueles que foram bons cidadãos, bons maridos, bons pais, bons filhos, bons profissionais, que tenham até feito caridade real, ajudado pessoas e causas, mas não tenham crido em Cristo do jeito que o cristianismo protestante e evangélico ensina, poderão ser eternamente condenados a um sofrimento indescritível. Meus queridos, isso é muito, muito sério, muitos crentes podem até dizer, “mas eu não creio assim, penso que Deus salvará mesmo não evangélicos com uma vida correta”, tudo bem, eu acredito, mas saibam que a doutrina que o cristianismo prega não diz isso, ela é extrema, céu ou inferno! 

Esta é a 1ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

30/01/22

O amor anula preconceitos

      “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras.Lucas 11.42
      “Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real: Amarás a teu próximo como a ti mesmo, bem fazeis. Mas, se fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, e sois redarguidos pela lei como transgressores.Tiago 2.8-9

      Leis, educação e ciência não mudam as pessoas, só o amor divino muda. Criar uma lei que exija que se respeite sexualidades não binárias, não muda o sentimento de muitos que acham que sexualidades não binárias são erradas, principalmente se esses se baseiam em princípios religiosos. Por mais absurdo que pareça, ainda no século XXI, há religiões que consideram pecado digno de punição a homosexualidade, e algumas punições não só na eternidade e imposta por um juízo divino, mas físicas, já e neste mundo. 
      Assistimos aterrorizados o Talibã voltar ao poder no Afeganistão, o motivo principal que a humanidade civilizada tem para isso é saber a forma como esse grupo político, militar e religioso, trata mulheres e pessoas do grupo LBGTQIA+. Esse grupo baseia-se em interpretações religiosas erradas do Alcorão (livro sagrado muçulmano de Maomé) para agir com tão cruel extremismo. Uma lei de países civilizados vai fazer com que eles mudem de ideia? Não, eles se consideram debaixo de ordem divina para agirem assim. 
      Muitos evangélicos não chegam a esse ponto, mas podem pensar de forma semelhante, e ainda que não queiram justiça violenta neste mundo, baseados no que entendem da Bíblia, creem que haverá punição extrema para pessoas que não se classificam como sexualidade heterossexual. Usam a célebre afirmativa, “Deus criou homem e mulher, e mais nada”, numa de muitas interpretações ao pé da letra de textos fora do contexto bíblico principal, que não dão prioridade à nova aliança do evangelho, mas ao velho testamento. 
      Mas o Gênesis, parte de um cânone que conta a história específica do atual povo judeu, também não diz que Deus criou, não de forma direta, e manteve relação como pai com povos africanos, do extremo oriente ou das Américas, por exemplo. Assim, será que Deus só ama os judeus? E trazendo isso para o contexto atual, só ama cristãos héteros? O Talibã é uma faceta preconceituosa da humanidade, e a culpa não é da religião, quem cria religiões são os homens, não Deus. Deus só entregou seu filho e ama todos igualmente. 
      Reavaliar preconceitos implica em reavaliar legitimidade de costumes e doutrinas que muitos dizem serem avalizados por Deus, assim para muitos a questão não é tratar as pessoas de maneira diferente, mas ter que desobedecer a Deus para isso. “Deus”, o mais forte dos álibis em mentes humanas fracas que preferem se esconder atrás de tradições religiosas, que conhecerem o Deus verdadeiro. Preferem dar frutos ruins que plantarem árvores diferentes, só porque certas árvores são plantadas tradicionalmente há séculos. 
      O preconceito tem aliada poderosa justamente em quem se diz inimiga maior de preconceitos, grande parte da mídia. Por não crer no Deus do evangelho, e isso porque se baseia no falso cristianismo praticado por muitos no mundo, deixa de compartilhar o único que pode anular os preconceitos. Desconectado espiritualmente do verdadeiro Deus, não pode haver amor que liberte de preconceitos. Ciência, leis e educação não conseguirão mudar o lugar onde os preconceitos existem, o coração do ser humano. 
      Os realmente espirituais, que de fato estão iluminados pela luz mais alta e pura do Altíssimo, aqueles que verdadeiramente amam no amor de Jesus, sem limites, sem vaidades, sem imposições, e sem a menor possibilidade de violência, conclamo-vos! Orem pelo mundo neste momento tão sério, mas também se levantem como indivíduos, não como grupos políticos e religiosos, que só são esconderijos para covardes e malucos, e pratiquem o amor. A luz pode parecer menor, mas um facho basta para iluminar muitas trevas. 

29/01/22

Amemos sempre!

      “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.I Coríntios 13.4-7

      Invejamos quando precisamos amar, temos ciúmes quando precisamos amar, usamos egoisticamente quando precisamos amar, odiamos e fantasiamos vinganças quando precisamos amar. Precisamos amar sempre, senão invejaremos, teremos ciúmes, usaremos, odiaremos e nos vingaremos. Amor não deve ser somente opção, reação, cura, mas ação, iniciativa, tratamento preventivo e vacina. Muitos se sentem fracos e até caem porque deixam para amar em última instância, aí pode ser tarde, e no mínimo será mais difícil. 
      Podemos dizer, “eu tenho muita dificuldade para amar certas pessoas, por mais que eu saiba que invejar é errado, que devo me alegrar com as vitórias e qualidades do outro, eu alimento invejas de alguns, e ainda que não verbalize isso nem para mim mesmo, transformo dentro de mim a inveja em ódio, em vingança, no desejo de que alguém de alguma maneira se dê mal e perca a pose”. Essa fala te representa? Se não representa, agradeça aos céus, você ama, não inveja, quer o bem das pessoas e é feliz com o que é e tem.
      Sou honesto, a fala me representa, e mesmo que eu saiba que certas coisas são erradas, que não queira senti-las, eu as sinto. A solução é uma atitude constante de humildade e amor, só assim achamos misericórdia, paciência e verdade para amar, o amor nos protege, utiliza nossas energias de forma positiva e construtiva. Nisso há, não só um convívio em paz com todos, mas paz interior em nós, que nos livra de medos e ansiedades, que nos permite estar em comunhão íntima com o Deus de luz, que ama sempre. 
      Não escolha amar, quando e a quem, nem tente se manter numa posição de indiferença, de distância, principalmente com algumas pessoas, ainda que tentando evitar sentimentos e reações negativas e destrutivas, mas não tomando a iniciativa do bem e da luz. Quem fica em cima do muro sempre cai para o lado errado, é preciso estar do lado certo e sempre, lutar pelo amor todos os dias, e aqueles que temos mais dificuldades para amar são justamente os que mais precisam de nosso amor, de nossas “boas energias”. 
      A dificuldade que temos com certas coisas é Deus nos chamando para fazer algo, e quando temos muito desconforto emocional com alguns é o Senhor nos chamando para amar esses de maneira diferenciada. Só acordamos para certas verdades na tormenta, visto que a calmaria leva à acomodação, assim tem que doer para tomarmos certas atitudes. Na falta do amor elevam-se disposições opostas, que parecem nos comer por dentro, mas é Deus nos alertando que algumas pessoas necessitam de uma atenção especial nossa. 
      A experiência descrita nesta reflexão pode acontecer principalmente com alguns parentes, que só vemos em certas ocasiões festivas, e nessas o desconforto pode ser tanto que temos vontade até de não ir a festas, ainda que sacrificando a convivência com muitas outras pessoas que amamos com facilidade e que temos prazer em estar perto. Não se lembre de alguém só no natal, ore ao menos ocasionalmente por ele, desejando coisas boas para todas as áreas de sua vida. Ame, a inveja não te vencerá e você será mais forte. 
      Amor genuíno se manifesta, cresce e se mantém com obras, não só com consciência e intenção, se desejar ter uma disposição real de amor só dentro de você, não conseguirá, não será amor forte suficiente para agir. Não estou dizendo que temos que chegar atropelando as pessoas, invadindo suas privacidades, aliás, podemos ter dificuldades para amar alguns justamente porque esses se mantêm distantes, em atitude que pode soar para os inseguros e carentes como arrogância e desprezo, ainda que seja só o jeito deles. 
      Essa prática de amor se fortalece em oração feita com todo o coração e com convicção mental. Se possível verbalize a bênção sobre o outro, e entenda que essa ênfase não é para Deus ouvir (e muito menos para os homens ouvirem), mas para você ouvir, ser curado e aprender que amar é modo de agir de espirituais. Como efeito você estabelecerá uma conexão íntima e forte com o mundo espiritual e permitirá que o Altíssimo libere sobre alguém luz e paz, em seus mistérios Deus usa homens para exercer amor. 

28/01/22

Fora do amor não há salvação

      “Amados, amemo-nos uns aos outros; porque o amor é de Deus; e qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor.I João 4.7-8

      Se você quiser praticar o amor, do fundo do teu coração, com obras, mais que só com palavras e intenções, você achará a Deus, ainda que inicie esse caminho fora de qualquer religião. Contudo, se quiser praticar uma religião, mesmo uma cristã ou evangélica, ainda que sendo assíduo em cultos e conhecedor de doutrina e de Bíblia, mas não se dispor a pagar os preços para amar de verdade, não conhecerá a Deus, não de forma profunda e madura, e mesmo se for só superficialmente, esse “amor” não resistirá ao tempo. 
      O caminho do amor sempre leva a Jesus, não é um caminho fácil, ainda que possa ser mais direto que o da religião. Amor implica em humildade e paciência para ser servo, dar sem pedir algo em troca. Os que o buscam se colocarão naturalmente na luz mais alta de Deus, ainda que a princípio sejam descrentes, materialistas, céticos, porque quem ama se coloca espiritualmente na posição melhor. Nesse princípio é preciso entender amor como algo essencialmente espiritual, tendo como início e fim Deus pela porta Jesus. 
      Religião como construção humana põe o homem em posições mundanas, com referências humanas, aprende de homens para mostrar a homens. O “amor” da religião começa e acaba no mundo, não sai do plano físico, é no máximo posicionamento político e educação social, dá para receber algo em troca, mesmo que seja só status de bom religioso. Isso não significa que não haja homens exercendo o verdadeiro amor em religiões, onde a palavra de Deus é dita, por mais corrompido que seja o lugar, Deus é ensinado.
      Deus sempre atende quem o busca, seja onde for que estiver, assim atende também os que estão fora de igrejas. O ponto desta reflexão não é criticar religião, mas enfatizar o poder do amor, na verdade o amor é a verdadeira religião e fora dele não há salvação, Jesus homem era amor, e como Deus é a porta que conduz ao Deus de amor. Quem descobre o verdadeiro amor acha a Deus é quem acha Deus consegue viver dentro de religiões com a intenção certa, com os olhos abertos, com espírito de servo, com o puro amor de Cristo. 
      “Qualquer que ama é nascido de Deus e conhece a Deus”, o texto diz qualquer, não o cristão que ama, ou o religioso que ama. Muitos querem posar marketing do fruto sem serem árvores adequadas, não se ama só porque se é evangélico de carteirinha, porque se coloca socialmente como membro de igreja, e consequentemente não se é nascido de Deus ou se conhece a Deus só por isso, mas por amar. Assim, há muitos nascidos de Deus e amigos íntimos de Jesus fora de igrejas cristãs, simplesmente porque amam. 
      Muitos evangélicos dizem que essa ênfase no amor, que leva não cristãos a dizerem que cristãos negam a Cristo quando limitam o amor, é álibi para negar pecado, juízo, condenação e inferno, que esse amor impede as pessoas de serem santas e irem para o céu. Quanto equívoco há nesses evangélicos. O verdadeiro amor não afasta, aproxima, quem quer viver errado não vem para o amor de Deus, porque nesse há luz que revela o pecado. Deus é amor, e de um jeito que muitos evangélicos se surpreenderão na eternidade. 

27/01/22

Não odeie nem o odiável

      “O ódio excita contendas, mas o amor cobre todos os pecados.Provérbios 10.12

      Quem é pior, quem se torna odiável ou quem odeia o odiável? Muitos dirão que o que faz o mal tem motivos legítimos para ser odiado, não há nada de errado em odiar quem faz males. Com os que cometem crueldades, com os que fazem os seres humanos sofrerem, seja do jeito que for, devemos nos incomodar, mas cuidado, se lançamos ódio demais sobre esses devemos também nos preocupar com nós mesmos. Algo de errado acontece com quem se revolta demais com os outros, com os que tornam essa revolta algo pessoal, ainda que seja contra alguém totalmente desconhecido. 
      Muitas vezes o ódio faz mais mal a quem odeia que a quem é odiado, já que quem é odiado pode não ser merecedor dele ou nem ter noção dele, mas quem odeia retém ódio e sabe disso. Não sei você, mas eu às vezes me pego distribuindo revoltas para tudo quanto é lado, podem até ser contra pessoas que merecem repúdio. Mas até que ponto é rejeição do mal, e é ódio reprimido e mal resolvido em mim que desabafo lançando contra os outros? Às vezes parece que andamos caçando gente para ser odiada só para termos motivos para odiar, ou pior, para nos sentirmos melhores que alguém. 
      A polarização política no Brasil tem servido para isso, para que as pessoas direcionem ódio reprimido, não odeiam mais o estuprador ou o serial killer, isso já não basta, odeiam alguém com um posicionamento político diferente. Sim, muitos políticos, de ambos os lados, merecem nosso repúdio, mas acreditar em qualquer fake news só por nos dar motivo para odiar mostra problemas em nós, antes que nos outros. A verdade é que ninguém merece ódio, pena, sim, intercessão, sim, distância educada, em muitos casos, não ser votado em eleições no caso de políticos, com certeza, mas não ódio.
      Se ninguém merece ódio de ninguém tão pouco de cristãos, infelizmente num evangelho desviado que já considerava legítimo odiar o diabo e seus demônios, assim como pedir a Deus vingança sobre os inimigos, aliando os que não são de religião evangélica, como espíritas e outros, ao mal e portanto indignos de respeito, muitos cristãos têm se posicionado em um dos polos políticos no Brasil e servido a narrativas de ódio. Num mundo que fala tanto em direitos e respeito a diferenças, antagonicamente o ódio também está em moda, equilíbrio só é exigido do outro, não de si mesmo. 
      Sendo bem explícito, você não tem que adorar o Lula ou o Bolsonaro, mas com certeza não deve perder tempo odiando-os, divulgando postagens na internet para destruí-los, isso não é cristão, nem espiritual. Espirituais envolvem-se minimamente com este mundo e sua política, ainda que sejam responsáveis, trabalhadores e produtivos, eles não tentam mudar o que não pode e nem precisa ser mudado. Energia gasta odiando falta para amar, amar a todos? Sim, de algum jeito, mas especialmente alguns, os quais são nossa missão amar, já com relação ao ódio, ninguém tem como missão odiar. 

26/01/22

Por amor a verdade espera

      “Não repreendas asperamente os anciãos, mas admoesta-os como a pais; aos moços como a irmãos; as mulheres idosas, como a mães, às moças, como a irmãs, em toda a pureza.I Timóteo 5.1-2

      Até a verdade dita na hora errada ou do jeito errado pode ser falta de amor. O amor nem sempre fala, mesmo a verdade, cala, esperando o momento melhor para ser verdadeiro. Deus sabe de toda a verdade, sobre todos, mas não fica jogando-a nos rostos das pessoas o tempo todo. Por isso o silêncio de Deus não é falta ou distância, não é o vazio ou a morte, mas também é expressão de seu amor, manifesta-se para que sejamos protegidos de nós mesmos, de nossas próprias verdades, que podem doer se ditas em tempo inadequado. Deus não mente, não pode fazer isso nem para que nos sintamos melhor, assim ele só se cala. 
      A verdade é a realidade, ela nem precisaria ser dita, ela é o que somos, contudo, nem sempre o que fazemos e falamos reflete o que somos de fato, por isso soamos falsos muitas vezes, por isso o que fazemos e falamos dão em nada, ou pelo menos em nada de bom. Estarmos na presença de Deus é estarmos sob a luz moral mais clara, essa luz naturalmente revela a verdade, quem busca a Deus de todo o coração percebe suas mentiras, entende-as e sente-se desejoso de deixá-las. Eis outra característica do amor de Deus, ele não só mostra nossos erros, mas também nos chama e dá-nos forças para deixá-los, com muita paciência.
      Paciência não explica, cala e espera, mas sorri, com a alma. Deus está muitas vezes olhando-nos assim, calado, mas sorrindo, e como é maravilhoso esse sorriso, é luz que entende e abraça, silenciosamente. Muitas vezes o que as pessoas mais precisam é só do nosso sorriso quieto, que lhes dá a chance de pensarem, de se avaliarem, de aceitarem seus erros e desejarem se acertar, sem que alguém precise jogar em suas caras seus erros, sem que alguém precise humilhá-las. Por amor até a verdade espera, porque na maioria das vezes não precisamos que nos digam que estamos errados, sabemos quando estamos errados.
      Espíritos malignos e muitos homens gostam de nos acusar, não precisamos de mais gente nos acusando, só precisamos de um pouco de silêncio para respirarmos fundo e assumirmos nossas verdades. Assim não tenhamos pressa para dizer verdades sobre os outros para os outros, sobre nós, sim, sejamos diligentes para assumirmos nossas verdades e nos desculparmos por nossas mentiras. Mas mesmo isso façamos sob orientação de Deus, e Deus sabe se abrirmos nossos corações e escancararmos nossas verdades será conveniente, às vezes é melhor nos acertarmos com Deus, entregarmos os outros em suas mãos e só.

25/01/22

Descansa, ouça e obedeça

      “Há muito que o Senhor me apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno te amei, por isso com benignidade te atraí.Jeremias 31.3

      Bem intencionados, muitos me ensinavam, quando comecei no evangelho, que devia ter vida de oração e de leitura bíblica disciplinada, deveria falar com o Senhor e estudar a Bíblia todos os dias, assim como ser assíduo nos cultos da igreja. Lembro-me de adquirir aqueles livretos de meditações diárias que vinham com uma devocional por dia do ano, aprendi muito da Bíblia assim. Como eu disse, sei que a intenção era a melhor, e para novatos na fé estipular metas e horários pode ser útil para que esses se acostumem com uma vida com Deus. 
      Contudo, tenho entendido que Deus nos chama para sua presença mais íntima quando é preciso, assim, ouvir a chamada de Deus para orar e depois ouvir o que ele tem a dizer, é mais importante até que orar de forma metódica e repetitiva. Mas calma, não entenda errado, isso não significa que não temos que tomar a iniciativa, que basta-nos esperar a iniciativa de Deus. Na verdade, para quem atingiu certa maturidade é assim mesmo que funciona, mas só tem direito a isso quem vigia o tempo todo e está sempre disponível para obedecer. 
      O sábio é buscarmos a presença mais próxima do Senhor pelo menos uma vez no dia, deixando com Deus querer ou não nos dar um encontro diferenciado, muitas vezes bastará, de forma objetiva, um agradecimento e a entrega de nossas vidas e daqueles mais próximos a nós nas mãos de Deus. Acredite, falar pouco, mas com fé e com sentimento, pode dar mais resultado que ficar querendo saber o que Deus não quer dizer, além do mais Deus nos conhece e sabe quando estamos preparados para experiências mais profundas. 
      Eu procuro estar sempre atento a Deus e quando sinto ele me chamando para orar tento responder o mais depressa possível. Se não estiver em casa, procuro um lugar reservado e ouço o que o Senhor quer me falar, seja me orientando a interceder por algo, seja ouvindo uma resposta ou uma revelação, seja adorando seu nome pelo simples fato dele ser Deus. Faço isso mesmo estando em frente à TV no meio de um filme, desligo tudo e obedeço, às vezes Deus não chama duas vezes, se perdemos uma oportunidade não teremos outra.
      Sabemos que Deus nos chama para orar quando sentimos sua presença de maneira diferenciada, é como um “puxão que nos atrai para cima” e que lança sobre nós uma clareza espiritual, achamos forças mesmo estando antes desfalecidos, e para os que permitiram manifestação de dons espirituais a boca pode se encher de “línguas estranhas”. (Aproveitando a oportunidade, “convertidos” recebem dons no momento que se convertem e são selados com o Espírito Santo, mas os dons só se manifestam se a mente for liberada).
      Deus é luz e poder e nos chama assim, iluminando-nos e ungindo-nos, dessa forma quando oramos porque Deus nos chamou para isso temos vontade e forças para orar, isso é espiritual e suplanta mesmo limites físicos. Isaías 40.30-31 expressa com exatidão como nos sentimos quando fazemos algo obedecendo uma palavra de Deus: “os jovens se cansarão e se fatigarão e os moços certamente cairão, mas os que esperam no Senhor renovarão as forças, subirão com asas como águias, correrão e não se cansarão, caminharão e não se fatigarão.

24/01/22

A verdade merece consolo

      “Senhor, quem habitará no teu tabernáculo? Quem morará no teu santo monte? Aquele que anda sinceramente, e pratica a justiça, e fala a verdade no seu coração. Aquele que não difama com a sua língua, nem faz mal ao seu próximo, nem aceita nenhum opróbrio contra o seu próximoSalmos 15.1-3

      O único consolo que nos cura e permanece é o consolo de Deus, esse, contudo, só provamos depois que conhecemos e aceitamos toda a verdade sobre nossas vidas, sobres o Senhor, sobre aqueles que convivem conosco, e sobre aqueles que por algum motivo dependemos. Não provaremos o consolo de Deus se nos refugiarmos na mentira, na inveja, no rancor, nas coisas ruins que nos levam a pôr a culpa de nossos problemas nos outros, e a promovermos os defeitos dos outros para escondermos os nossos. Contudo, vivermos a verdade do jeito certo pode não ser algo fácil e nem agradável, requer de nós a humildade, da qual podermos passar muito tempo de nossas vidas tentando fugir. 
      O metal só é purificado quando exposto à alta temperatura, quando as impurezas podem ser separadas dele, só depois ele poderá receber água que o fará voltar à sua temperatura normal, se ele receber água antes só limpará sua superfície externa, não purificará seu interior. Assim somos nós, a verdade pode elevar nossa temperatura, fazer com que nos sintamos desestruturados, desconstruídos, quase desfalecidos, ela não nos deixa confortáveis, mas é a única maneira de sermos purificados. Só depois disso, Deus, o pai de amor, pode derramar seu Espírito sobre nós, a água limpa e fresca, que nos equilibra emocionalmente com paz e nos consola totalmente, agora moral e espiritualmente purificados. 
      Podemos buscar o consolo sem termos assumido toda a verdade, e quando é assim sentimos que oramos a Deus e ele parece não nos responder, Deus sempre responde, mas nem sempre do jeito que queremos, que achamos melhor. O Espírito de Deus não convive com a mentira, e se estamos nos baseando em alguma mentira a “temperatura” aumentará até que ela seja extraída. Por outro lado “não matemos o mensageiro”, Deus pode usar pessoas pelas quais talvez não tenhamos muita simpatia para nos confrontar com alguma verdade, assim não nos revoltemos contra elas, não as difamemos nem desejemos mal a elas, tentando destruí-las já que não podemos destruir a verdade que elas entregam.
      Aceite a alta temperatura humildemente, como mão de Deus tornando-te melhor, ainda que doa, e a verdade sempre dói, mas depois disso, tenha certeza, uma vez aprovado Deus te consolará de maneira singular. Achará a paz, o direito de habitar no tabernáculo de Deus, o santo monte, um lugar espiritual altíssimo onde Deus abriga os verdadeiros. Três virtudes habitam com o Altíssimo, de onde a luz mais forte emana: o amor, a santidade e a verdade, elas se completam, uma não pode existir sem a outra. Somos santos sendo verdadeiros, amamos sendo santos, somos verdadeiros sendo santos e amorosos, do perfeito vínculo dessas três virtudes brotam paz e justiça, o consolo de Deus.