14/05/20

Reavaliemos Comunicação com mortos e a Teologia (14/30)

14. Comunicação com os mortos e a Teologia

      Neste texto, a finalização da reflexão sobre comunicação com mortos, no outro texto analisamos passagens bíblicas que falam sobre o assunto, aqui análises teológicas, um pouco diferentes entre si, mas que representam a opinião da grande maioria de protestantes e evangélicos sobre o tema. Lembrando que este texto é uma das partes do estudo “Reavaliemos nossas crenças”, que traz à tona temas importantes e polêmicos sobre a doutrina cristã, se possível leia todo o estudo para ter uma opinião sobre o ponto de vista do “Como o ar que respiro” sobre o assunto. 

      Na defesa da Bíblia ser a palavra de Deus, é muito importante que ela seja coesa, isso é, não se contradiga e se auto-explique, como poderia se defender algo como dito por Deus se contivesse incoerências, interpretações dúbias? Assim teólogos protestantes se esforçam para não acharem na Bíblia textos que se contradigam, nisso podem forçar certas interpretações, em minha opinião. A Bíblia pode ter três camadas de interpretação: o que Deus pode dizer através dela, o que os homens quiseram e querem dizer através dela, e o que nós queremos que ela nos diga, em cada uma dessas camadas acha-se coesão. Coesão é relativa, vê-se coerência onde se quer ver, busca-se integridade naquilo que se quer achar, como sempre a subjetividade humana é quem dá a palavra final, não Deus, coesão não existe por si, é algo buscado, defendido, construído.
      Os teólogos protestantes constróem sua coesão bíblica sobre a tradição judaica e a igreja primitiva, assim, textos como I Samuel 28 (Saul consultando a médium de En-Dor) e Lucas 9 (a transfiguração de Cristo), se apresentam para eles como exceções que exigem deles esforço maior para casarem suas interpretações com o que eles defendem ser a teologia geral da Bíblia sobre comunicação de vivos com mortos. Abrindo parênteses, a Igreja Católica permite oração pelos mortos apoiada na citação de Macabeus I 12.38-45, livro considerado apócrifo pelos protestantes e não presente na Bíblia evangélica, essa doutrina está atrelada à doutrina católica do purgatório, assim católicos oram pelos mortos para que esses passem do purgatório ao céu (leia neste link a respeito), fechando parênteses.

      Uma análise séria sobre I Samuel 28, defendendo sobre muitos aspectos técnicos a doutrina protestante tradicional sobre consulta aos mortos que diz que isso é tanto proibido por Deus quanto impossível, é feita pelo teólogo, mestre e missionário, Russell Shedd, nas Bíblias Vida Nova e Shedd, segue transcrição de parte de sua análise:
      “A crônica de 7-25 fora escrita por uma testemunha ocular, logo por um dos servos de Saul que o acompanhara à necromante. Frequentemente esses servos eram estrangeiros e quase sempre supersticiosos, crentes no erro, razão porque o seu estilo é tão convincente. Esta crônica que é parte da história de Israel pela determinação divina, entrou no cânon sagrado e deve estar lá, como lá estão os discursos dos amigos de Jó, as afirmações do autor de “debaixo do sol”, a fala da mulher de Tecoa etc - palavras e conceitos humanos. (Infelizmente esta crônica é interpretada por muitos sobre o mesmo ponto de vista do servo de Saul).” 
      “Quem respondeu a Saul? Sugerimos a seguinte possível explicação, a Bíblia fala de certos espíritos, sua natureza e seu poder. São os anjos maus. Do mesmo modo fala de anjos que acampam ao nosso redor e nos guardam. São os anjos bons. São dois, os “secretários” (se não mais) que nos acompanham durante a vida toda, um bom e outro mal. Anotam tudo e sabem tudo a nosso respeito. Depois da morte o anjo bom leva o nosso livro-relatório diante de Deus pelo qual seremos julgados. Por sua vez o anjo mau assume a nossa identidade e representa-nos no mundo através dos médiuns, onde revela o nosso relatório com acerto e “autoridade”. É por isso que Paulo fala da luta que temos contra as forças espirituais do mal e é pela mesma razão que Deus proíbe consultas aos “mortos”, porque estes são falsos. Caso fossem espíritos humanos, provavelmente, Deus não proibiria a sua consulta, apenas regulamentaria o assunto para evitar abusos. Deus, porém, proíbe o que é dissimulação e falsidade.” (Bíblia Shedd, 1ª edição, 1998, Edições Vida Nova, parte dos comentários de rodapé das páginas 430 e 431 sobre o texto de I Samuel 28.7-25)

     Para defender seu entendimento bíblico, Shedd dá a sua interpretação do texto, que ao meu ver, em alguns aspectos, é forçada, sacrificando exegese por uma coesão teológica que ele tenta ver. Isso ocorre quando diz que o texto pode ter sido escrito por um servo estrangeiro de Saul, que estava enganado sobre o que de fato tinha testemunhado. Sob esse ponto de vista, alguém registrou uma mentira na Bíblia e isso, mesmo depois de anos de revisões feitas principalmente por líderes judeus, não mereceu de ninguém uma explicação de que é mentira, simplesmente ficou registrado como uma declaração verdadeira, e justamente uma passagem que fala sobre algo de proibição tão clara na Bíblia (Deuteronômio 18.10-13).
      Shedd defende esse argumento dizendo que isso ocorre também em outras passagens na Bíblia, dá como exemplo passagens do livro de Jó com os discursos dos amigos de Jó. Ao meu ver, no livro de Jó é diferente, aliás não existe nenhuma polêmica sobre as passagens de Jó, lá está registrado de maneira clara que os argumentos dos amigos de Jó são equivocados, que o que Jó experimenta é um embate ideológico que tenta suas convicções. As afrontas ideológicas dos amigos de Jó são parte importante na tentação do homem de Deus, que no final do livro reconhece a soberania de Deus, assim como seus amigos são punidos por Deus por terem falado a Jó coisas erradas sobre Deus (Jó 42.7).
      Além disso, Shedd usa argumento não bíblico para defender uma possível simulação maligna do espírito do morto Samuel, que pode ter ludibriado o servo de Saul responsável pelo relato enganoso. O argumento é um conhecimento do esoterismo, sobre o “anjo bom” e o “anjo mau”, que não tem base bíblica direta. Interessante o professor basear-se no princípio que a Bíblia explica a própria Bíblia em um ponto, e usar algo que não está na Bíblia para achar coesão na Bíblia em um outro ponto. Mesmo que eu não tenha qualquer intenção de descreditar Russell Shedd, homem de magnífica importância para a teologia no Brasil e no mundo, não tenho receio de discordar dele sobre o texto de I Samuel 28, a eternidade nos esclarecerá.

      Outra análise muito interessante sobre I Samuel 28, que representa mais a minha opinião, e que abre a porta para um conhecimento mais profundo de Deus através da Bíblia, é feita pelo pastor e teólogo Augustus Nicodemus Lopes (clique no link para ver o estudo completo). Essa análise ainda defende a posição tradicional protestante que diz que consulta a mortos é proibida por Deus na Bíblia, todavia, diz que tanto o aparecimento de Samuel já morto na passagem de I Samuel 28, como o aparecimento de Moisés e Elias já mortos a muito mais tempo em Lucas 9, são exceções feitas pelo próprio Deus. Realmente foi o espírito de Samuel que apareceu a Saul, não foi um engodo do diabo, nem charlatanismo da feiticeira, nas palavras do reverendo Nicodemus, “pois Deus mesmo faz as regras e as suspende de acordo com sua soberana vontade e com seus propósitos”. 
      Isso pode ser difícil de ser aceito por uma grande maioria de cristãos, pois contraria um mandamento de Deus assim como a doutrina protestante tradicional, mas é o único jeito de ser fiel ao texto bíblico, sob o ponto de vista exegético. Em nenhum momento, como ocorre em outras passagens bíblicas, é dito que o diabo aparece enganando Saul, mas que é Samuel quem aparece. Contudo, os que discordam dessa interpretação são os mesmos que defendem interpretações da Bíblia ao pé da letra em tantas outras passagens, assim fazem uma exceção neste caso, mas a interpretação ao pé da letra de I Samuel 28 nos leva a acreditar que Deus faz uma exceção, e ele pode fazer isso, quando permitiu que o espírito verdadeiro do morto Samuel aparecesse ao teimoso Saul, experiência que só aumentou sobre Saul o juízo de Deus.
      Uma das coisas que mais me agradam na Bíblia são justamente os pontos que sob o ponto de vista humano são considerados polêmicos, só sob o ponto de vista humano, não de Deus. Passagens assim mostram a total liberdade que o Espírito Santo teve para orientar os registros bíblicos, sem se preocupar em ser teologicamente sistemático, sem se acomodar às caixas humanas, sem revelar todas as verdades de Deus, mas também sem escondê-las, sem escancarar as limitações humanas, mas também sem escondê-las. Enfim, a Bíblia não é para ser lida como um livro de leis objetivas para então ser obedecido cegamente (sem pensar ou sentir), é preciso usar a inteligência, o bom censo, mas também o discernimento espiritual e o amor de Deus. Eu pessoalmente não acho que Deus fez uma exceção para Saul e para Jesus na transfiguração, só penso que a maioria dos cristãos não está preparada para a verdade de Deus, por isso é melhor que certas coisas, ao menos por enquanto, sejam simplesmente proibidas. 

Esta é a 14ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

13/05/20

Reavaliemos Comunicação com mortos na Bíblia (13/30)

13. Comunicação com os mortos na Bíblia

      O assunto deste texto é polêmico, refletiremos sobre passagens bíblicas que relatam algo que parece destoar da doutrina bíblica protestante tradicional sobre necromancia, consulta aos mortos, comunicação de vivos com falecidos e de mortos com mortos. Na próxima parte, ainda dentro do estudo “Reavaliemos nossas Crenças”, a continuação dessa reflexão, assim, se possível, leia todo o estudo para ter uma opinião sobre o ponto de vista do “Como o ar que respiro” sobre o assunto. 

      - Deuteronômio 18.10-13: uma lei mosaica que condena consulta a espírito adivinhador e aos mortos. A Bíblia é clara quando Moisés orienta a nação de Israel que a prática de consulta aos mortos não deveria ser feita, contudo, se existe proibição é porque a experiência pode ser realizada, isso pode ser interpretado, ainda que não seja aconselhável, senão nem seria proibida. Dessa forma se Moisés legislou enfaticamente uma proibição é porque comunicação com os mortos faz mais mal que bem, conduz mais ao afastamento de Deus que à aproximação com ele, não que seja impossível de ser feita. 

      - I Samuel 28 (todo o capítulo, por favor, leia todos os textos citados nesta reflexão, mas esse em especial leia com calma e mais de uma vez, se possível): a experiência de Saul falando com o espírito do morto Samuel através da feiticeira de En-Dor. Ela é a mais polêmica, talvez a mais polêmica da Bíblia protestante, cita uma experiência de contato com espírito de um morto, Saul com Samuel através da médium, em momento algum a Bíblia diz com clareza que é mentira, sonho, ou algum tipo de engano demoníaco. I Crônicas 10.13-14 diz que Saul teve o fim que teve porque dentre outras coisas buscou a adivinhadora para a consultar, desprezando a orientação que Deus já tinha dado (ou não) por meios legítimos, conforme a religião israelita da época. Contudo, ainda assim, a Bíblia não diz que a experiência não foi real, só diz que não era a maneira aprovada por Deus para orientar Saul.

      - Lucas 9.28-36, Mateus 17.1-9 e Marcos 9.2-9onde Jesus transfigura-se e os espíritos de Moisés e Elias aparecem a ele, a Pedro, a Tiago e a João. Nessas passagens duas pessoas mortas apareceram a uma pessoa viva, isso é, os espíritos de Moisés e Elias apareceram a Jesus, esse acontecimento foi uma exceção ou um dos registros únicos na Bíblia de um evento real? O consenso da teologia tradicional protestante é que foi um evento único que antecedeu a ressurreição de Jesus, legitimando essa, revelando, antecipadamente, o poder diferencial que Cristo teve de vencer a morte. O aparecimento especialmente de Moisés e Elias, representantes dos pilares da religião de Israel, Moisés a lei e Elias os profetas, revela o valor superior da nova aliança de Cristo com relação a velha aliança. Interessante que justamente esses dois personagens tiveram mortes, digamos assim, não normais e envolvidas em mistérios (Enoque é um terceiro exemplo bíblico disso, Gênesis 5.24), ambos tiveram experiências diferentes com seus corpos físicos. A Bíblia até cita que Moisés foi enterrado, mas não se sabe exatamente onde (Deuteronômio 34.5-6), além do que houve uma disputa entre o diabo e o arcanjo Miguel por seu corpo (Judas 1.9), por quê? A Bíblia não diz. Já Elias foi levado ao céu, ao que nos parece, ainda em vida por uma carruagem de fogo celeste (II Reis 2.11).

      - Lucas 16.19-31: a parábola do rico e do mendigo Lázaro, onde é dito que existe um abismo entre inferno e céu. Interessante que a pergunta do rico morto no inferno diz respeito a uma possibilidade de quem está no céu (no seio de Abraão) se comunicar com que está no inferno, na “parábola” Abraão responde, “está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá passar para cá“. Assim o que fica claro neste texto é que não é possível ou permitido uma comunicação entre quem está no inferno com quem está no céu, e vice-versa. Mas o rico faz um segundo pedido a Abraão, que ele pudesse alertar seus irmãos em vida para que agissem melhor para não virem ao inferno, contudo, a resposta de Abraão é, “se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”, a palavra não diz exatamente que não seria possível a comunicação, só diz que seria inútil. Um detalhe sobre essa passagem é que estudiosos têm a opinião que apesar de relatar uma história fictícia ela se baseia em realidade espiritual, não em metáforas, assim não se configura uma parábola tradicional, isso dá ainda mais argumentos para uma explicação teológica sobre a vida além morte e comunicação entre mortos e entre mortos e vivos.

Esta é a 13ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

12/05/20

Reavaliemos Catolicismo e Protestantismo (12/30)

12. Catolicismo e Protestantismo

      Um conhecimento com embasamento mais científico, algo que ajudaria muito os crentes entenderem melhor o que creem, contudo, o que vemos em muitos púlpitos são pregadores demonizando ciência e filosofia, não entendendo (ou se fazendo de não entendedores propositalmente para não criarem ovelhas lúcidas) que elas são só ferramentas, não fim em si mesmas, e ferramentas da parte intelectual do homem, tão criação de Deus como o corpo e o espírito. Saber um pouco mais de história, por exemplo, pode nos fazer enxergar verdades claras sobre os processos evolutivos de muitas coisas, como das religiões e de seus textos sagrados. Existem livros de história universal, esses usados no ensino público, que em quatrocentas páginas nos dão uma ideia bem legal sobre história ocidental, império romano, idade média, etc, são informações importantes para entendermos o que é a Igreja Católica e a Reforma Protestante, com o tempo que levaríamos para ler um romance qualquer somos abastecidos com um conhecimento bem relevante para nossa fé.
      Muitos hoje, desconhecendo a história, não enxergam que durante a maior parte da trajetória do cristianismo no mundo ocidental, era a Igreja Católica quem imperava, assim ela era a representante oficial do cristianismo na Terra (eu disse do cristianismo, não de Cristo). Contudo, é preciso antes de tudo entendermos, que apesar dos católicos exigirem para si a continuidade legítima do cristianismo iniciado por Cristo e a igreja cristã fundada por Paulo, Pedro e outros apóstolos do século I, isso não confere. “Em 313, o imperador Constantino fez publicar o Édito de Milão, que instituía a tolerância religiosa no império, beneficiando principalmente os cristãos. Com isso, recebeu apoio em sua luta para se tornar o único imperador e extinguir a tetrarquia. Em 361, assumiu o trono Juliano, que tentou reerguer o paganismo, dando-lhe consistência ético-filosófica e reabrindo os templos. Três anos depois o imperador morreu e, com ele, as tentativas de retomar a antiga religião romana.” (Fonte Wikipedia). 
      A Igreja Católica que foi oficializada pelo imperador Constantino era extremamente distinta na doutrina, na hierarquia, nos objetivos, mas principalmente nos frutos, amargos e terríveis, que o Catolicismo colheu e colheria no decorrer de sua história, daquela fundada pelo Espírito Santo em Jerusalém na Festa de Pentecostes. Assim, se hoje evangélicos veem no catolicismo tantos erros, o que pensava Deus sobre o que era ensinado sobre ele, no mínimo entre o século IV e o século XVI, início oficial da Igreja Católica e época da reforma protestante? Se entendermos isso poderemos chegar a duas conclusões diferentes: ou a Igreja Católica está certa e os protestantes estão errados, e Deus está no catolicismo, ou Deus age indiferentemente do que é ensinado e ele não está nem aí com o que igrejas cristãs acreditam como sendo suas doutrinas oficiais e exclusivas para levarem os homens à verdade, sejam elas quais forem. 
      O que fica difícil de aceitar, e incrivelmente é o que os protestantes e evangélicos mais acreditam, é uma terceira conclusão, que a verdade sobre Deus só foi revelada ao mundo (ou a revelação foi restabelecida após mais de mil anos de catolicismo exclusivo) quando se fez a Reforma Protestante. É difícil crer que só a partir do século XVI (31 de outubro de 1517), quando Martinho Lutero publicou suas noventa e cinco teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, é que de fato tivemos uma Bíblia e sua interpretação realmente “corretas”. Dizer isso é dizer que por mais de mil anos as pessoas estiveram sem a luz da Bíblia, condenadas às trevas do verdadeiro conhecimento de Deus e presas à idolatrias e heresias. Está achando isso exagero? Em primeiro lugar é preciso saber se você está entendendo de fato o que está sendo dito aqui, você está? Senão, leia novamente, por favor. 
      A verdade é que Deus salva pelo Espírito Santo, não pela palavra escrita, Deus nunca teve a intenção de estabelecer na Terra uma embaixada oficial. Por outro lado, esse cânone bíblico que protestantes e evangélicos tanto idolatram, só foi largamente acessível há pouco tempo, na época anterior à reforma era escrito em latim e de estudo restrito a clérigos, a liderança lia, entendia e ensinava, o povo só ouvia e aceitava, sem questionar. Mas mesmo após a reforma, cópia da Bíblia na língua natal do país não era algo fácil de se ter, e as pessoas, muitas delas, nem sabiam ler. Seja como for, essa Bíblia que todos têm na mão hoje em dia com tanta facilidade, em tantas versões, encadernações e comentadas por tantos, é muito mistificada e é por isso que muitos não reavaliam suas crenças, acham que são a real palavra de Deus e ir contra elas seria ir contra o próprio Deus.
      Isso nos leva ao entendimento que usar a Bíblia, que protestantes e evangélicos têm nas mãos hoje em dia como palavra direta e plena de Deus, não é o mais sensato, ainda que ela contenha a palavra de Deus, ainda que seja singular entre todos os textos religiosos do mundo de todos os tempos, ainda que o centro dela seja Jesus, o caminho, a verdade e a vida, ainda que seus textos tenham sido escritos por homens inspirados pelo Espírito Santo. Mas se tivesse a relevância legalista e absoluta que muitos lhe dão, ela teria sido entregue aos homens no início e sempre estaria com eles, iluminando seus caminhos e mostrando o rumo ao altíssimo. Contudo, é por idolatrar a Bíblia que muitos se desviam de Deus, calam o Espírito Santo, negam o amor de Jesus, deixam de dar no mundo um testemunho verdadeiro, eficiente e poderoso, e são preconceituosos e intolerantes. 

Esta é a 12ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

11/05/20

Reavaliemos “A Bíblia é a palavra de Deus” (11/30)

11. “A Bíblia é a palavra de Deus”

            Continuando nossa série de reflexões sobre reavaliar crenças, uma reavaliação sobre a Bíblia, tema que já refletimos bastante no estudo “Bíblia do jeito certo”. Este tema será apresentado em duas partes do estudo “Reavaliemos nossas crenças”, nesta e na próxima reflexão, que desta vez será focado em responder uma questão, de importância fundamental à teologia cristã protestante: a Bíblia é a palavra de Deus ou ela contém a palavra de Deus? 

      É importante que protestantes e evangélicos (e católicos, e ortodoxos, para se falar com mais abrangência de cristãos) estejam cientes que muitas coisas que eles creem como verdades indiscutíveis, como dogmas, como doutrinas básicas e delimitadoras de experiências e ideias do que eles vivem como cristãos, foram estabelecidas por séculos de tradições orais passadas de geração para geração, de escritos em línguas e materiais distintos, e depois por concílios e consensos teológicos estabelecidos por homens. Como a religião, textos sagrados são construções humanas, Deus nunca desceu do céu para definir princípios, selecionar esse ou aquele texto como inspirado, elencar essa ou aquela doutrina como verdade. 
      Aqueles que inocentemente acreditam que antes de qualquer dessas reuniões de lideranças eclesiásticas, uma busca a Deus, verdadeira e santa, foi feita, para que se conhecesse a real vontade do Senhor para os homens, se enganam. Muitas doutrinas foram estabelecidas por pura conveniência humana, para manter o controle político (e mesmo econômico e militar) nas mãos de alguns, para dominar sobre a maioria, para se estabelecer como povo e nação, ainda que abrindo mão de pureza de intenções. Enfim, tanto a nação de Israel, como a Igreja Católica e os Reformadores Protestantes, escolheram o que era de seus interesses, e isso é ensinado até hoje. O processo histórico é construído com falsas verdades? Sempre.
      Mas e a soberania do altíssimo sobre tudo, como fica? Não acompanhou e direcionou tudo conforme sua vontade para que homens fossem abençoados e conhecessem a Deus? Com certeza isso é argumento também de homens, mas a resposta é sim e não. O livre arbítrio sempre tem prioridade, tanto para os que selecionam o que deve ser crido, como para os que escolhem no que querem crer. Contudo, ainda assim, creio num Deus amoroso, que conhece os limites humanos, que protege os homens deles mesmos, mas que muitas vezes tem que agir como pai de crianças, não de adultos, dizendo não para algumas coisas, não porque sejam erradas em si mesmas, mas porque crianças não estão preparadas para administra-las. 
      Vou me posicionar, eu penso que a Bíblia contém a palavra de Deus, não penso que ela é. A verdadeira palavra de Deus com certeza foi falada ao coração de Moisés, de Samuel, de Davi, de Salomão, de Daniel, de Isaías, de Marcos, de Lucas, de Pedro, de Paulo, de João evangelista e de tantos outros que registraram os textos bíblicos, Deus sempre fala com todos, principalmente com os que o buscam. Mas eles registraram isso com fidelidade? Não, não podiam porque eram limitados como indivíduos em suas espiritualidades, e como homens de seus tempos em suas intelectualidades, mas também nem precisavam, Deus nunca exigiu isso deles e não exige de ninguém. 
      O que precisamos entender é que achar a palavra de Deus na Bíblia é exercício de homens íntegros, inteligentes e espirituais, que querem de fato conhecer a Deus, não obedecer cegamente e ao pé da letra um livro de regras morais. É preciso se dar ao trabalho, de estudar e orar, não só de decorar e repetir, isso permite que homens e mulheres cresçam em suas plenitudes como seres, no corpo, na alma e no espírito. Isso difere robôs de humanos, manada de animais irracionais de ovelhas espirituais do verdadeiro pastor. Isso nos permite ler os mitos (assunto que refletiremos mais a frente neste estudo) e entender as verdades, escondidas dos ociosos e hipócritas, mas reveladas aos simples. 

Esta é a 11ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

10/05/20

Reavaliemos Casamento hoje (10/30)

10. Casamento hoje

      O tema casamento, nessa série de reflexões “Reavaliemos nossas crenças”, dá qual essa reflexão faz parte, foi dividido em duas partes, a primeira foi compartilhada na reflexão anterior, onde listamos os textos bíblicos principais sobre o tema. Nessa reflexão, a segunda e última parte, refletiremos sobre casamento e o cristão hoje (já pensamos sobre o tema aqui no blog em postagens como “Casar e seguir casado hoje”).

      O ser humano tornou-se mais complexo à medida que adquiriu liberdade, talvez esse seja o pior efeito colateral do homem ter “comido” do “fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal”, efeito que não apareceu assim de um dia para o outro na história da humanidade, mas que levou milhares, talvez milhões de anos, desenvolvendo e mudando o ser humano. É só a partir do final do século XIX de nossa era, que tradições sociais começaram a ser quebradas, como libertação de escravos, direitos de mulheres iguais aos dos homens, fim do patriarcalismo e condenação radical de todo tipo de machismo. Atualmente, em pleno século XXI, as coisas ainda estão acontecendo na área da sexualidade e de relações conjugais, e ao contrário do que muitos cristãos acham, essas mudanças não são coisas do diabo. É nesse ponto que precisamos reavaliar o conceito que achamos que Deus tem do casamento.
      Entenda certo o posicionamento do “Como o ar que respiro”, cremos com toda a convicção que a orientação dada em Gênesis é a melhor vontade de Deus para o homem sobre casamento, mas muitos se esquecem de um detalhe, essa orientação foi dada ao homem antes de sua queda. Se era viável naquele tempo, depois não foi mais, por muitos motivos, tanto que na história de Israel, que segue em Gênesis e nos outros livros do antigo testamento, não vemos, mesmo em homens importantes e com grandes experiências com Deus, a ordem dada a Adão e Eva sendo cumprida. Depois da saída do jardim do Éden o homem foi conquistando uma liberdade fora do plano original de Deus, em pecado, errando e acertando, lutando contra os próprios irmãos, matando-os, muitas vezes, mas também se encantando com a presença de Deus, adorando-o, e novamente se perdendo com os falsos deuses. 
      Nisso tudo o casamento foi uma relação conturbada, egoísta e possessiva, muitas vezes, querendo só prazer carnal, mas outras vezes um homem e uma mulher se encontraram e tudo pareceu belo, como se estivessem novamente no Éden, como se sua aliança fosse santa e para sempre (perdoem-me o romantismo). Hoje igualdade é o ponto, entre todos os seres humanos, seja qual for a raça, o poder aquisitivo, a formação intelectual, a sexualidade. Isso é quebrar a família? Não, isso é pensar uma família formada por indivíduos com liberdade e com papéis iguais de escolha. Isso não é bíblico? Depende de como você vê a Bíblia, se a interpretação for ao pé da letra, sem se importar com contexto histórico, cultural ou com metáforas e mitos, você pode achar que o que muitos pensam e fazem do casamento atualmente vai contra a Bíblia. 
      Isso, contudo, é ser simplista, é fechar os olhos para a realidade, para uma sociedade cheia de injustiças e violências que cria seres humanos doentes e imaturos, inviáveis para a aliança conjugal ideal orientada por Moisés, reclamada por Jesus e exortada por Paulo. Mas se entendermos a essência do que a Bíblia ensina, se vermos o Espírito Santo por trás de escritores bíblicos pecadores e limitados como eu e você, talvez possamos entender de fato o que Deus quer e pode nos ensinar sobre casamento e tantas outras coisas, não para o homem do passado, mas para aquele que vai morar no céu eternamente com Deus, aquele que entenderá de fato a vontade e as prioridades de Deus. Qual é a prioridade de Deus, o que Deus quer de fato que o homem aprenda como o mais importante durante sua vã existência neste mundo? Bem, essa lição não se aprende fácil, rápido, porque a maioria de nós não acerta com facilidade e na primeira vez, batemos muito a cabeça para entender o que importa.
      Infelizmente, nessa aprendizagem, muitos de nós, casam, descasam e tornam a se casar, mesmo que não seja um casamento oficializado, mesmo que seja só ter relação sexual ou dividir um colchão, essa é a verdade. Nesse ponto seria interessante entendermos o que é a união que Deus uniu e que o homem não deve separar, qual relação, nesse mundo de liberdade e libertinagem, é de fato casamento. Todas? Nenhuma? Uma? Muitos dizem que uma cerimônia religiosa, seja católica ou evangélica, sacramenta um casamento, ganha uma legitimidade divina, que se for quebrado, por adultério, é pecado. Outros dizem que o que vale é o cartório, que papel passado legitima um casamento, para outros, contudo, casamento é ter uma vida íntima em comum. Mas será que Deus de fato está sempre numa cerimônia religiosa, na legalização de uma aliança ou mesmo em sexo compartilhado? Não sei se está, tem muito casamento feito na igreja, no cartório ou na cama que Deus não aprovou, nem uniu. 
      Contudo, a principal responsabilidade numa aliança conjugal, com ou sem cerimônia, com ou sem papel, são os filhos, se as pessoas pensassem de fato em bebês, crianças e adolescentes crescendo sem uma base familiar adequada, com certeza respeitariam mais o casamento, teriam mais cuidado com relações sexuais, se respeitariam mais como seres humanos. Filhos é o que de fato realiza um casamento, levam duas pessoas a viverem em toda a sua plenitude uma união íntima, pessoas que ganham com isso uma oportunidade diferenciada para amadurecerem bem. Só quem assume maternidade e paternidade, sendo ou não mães e pais biológicos, passa de fato à idade adulta, caso contrário, poderão até ser pessoas de bem, boas cidadãs, mas no coração sempre serão filhos e jovens, buscando amparo, despreparadas para amparar. Não quero generalizar, Deus sabe de cada caso, de quem acaba nunca se casando ou ainda que se casando, nunca criando filhos, mas quero deixar claro que ser mãe e ser pai, por inteiro, é algo especial na vida de alguém.
      A vida não é fácil, nem simples, não julguemos, a ninguém, só Deus sabe do coração de cada um. Muitos querendo acertar, erram, e outros erram e tornam a errar só por satisfação egoísta, é preciso separar adúlteros de pessoas com dificuldades, separar pecadores voluntários de pessoas que foram mal construídas afetivamente, com desprezo, com violência, frutos de sexo sem amor, de amor sem responsabilidade, de qualquer coisa que seja, mas que nunca foi casamento. Gente assim terá dificuldades para ser indivíduo, quanto mais para ser casada. Mas Jesus nos mostra a luz mais alta para onde devemos caminhar e conquistarmos cura e vitória, eu sei, eu provei isso, e não fácil depressa. Me custou muita dor, mas eu cheguei no plano de Deus para a minha vida matrimonial, pelo poder do perdão e da restauração que há somente no nome de Jesus. Não posso encerrar esta reflexão sem compartilhar o texto a seguir, ele não precisa de muita explicação, só leia.

      “E os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; E, pondo-a no meio, disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes? Isto diziam eles, tentando-o, para que tivessem de que o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, escrevia com o dedo na terra. E, como insistissem, perguntando-lhe, endireitou-se, e disse-lhes: Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra. Quando ouviram isto, redargüidos da consciência, saíram um a um, a começar pelos mais velhos até aos últimos; ficou só Jesus e a mulher que estava no meio. E, endireitando-se Jesus, e não vendo ninguém mais do que a mulher, disse-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela disse: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e não peques mais. Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida.João 8.3-12

Esta é a 10ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro“
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

09/05/20

Reavaliemos Casamento e Bíblia (9/30)

9. Casamento e Bíblia

      Esta reflexão faz parte do estudo “Reavaliemos nossas crenças”, isso significa que existe a necessidade de nós cristãos pensarmos mais é diferentemente sobre temas que tradicionalmente possamos estar tendo entendimentos não tão corretos, ainda assim, não tenho me recusado a compartilhar os textos bíblicos que muitos usam como bases para estabelecerem suas doutrinas tradicionais. Dessa forma, dividirei o tema casamento em duas reflexões, na primeira, que segue, listarei as principais passagens bíblicas sobre o tema, na próxima refletiremos sobre a realidade do casamento hoje.

      “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.Gênesis 2.21-24

      A orientação inicial de Deus: um casamento, um esposo, uma esposa, um homem, uma mulher. Essa orientação é dada pelo registro de Moisés em Gênesis, que se baseou em tradição oral e na tradição religiosa de seu povo. Sejamos francos, essa orientação é a melhor? Claro que é, feliz o homem que acha uma esposa e fica com ela até à morte de um deles, feliz a mulher que acha um esposo e permanece com ele até o fim da vida de um deles. Precisamos de mais que isso para sermos felizes e realizados afetiva e sexualmente? Não! Isso basta, e é uma relação que pode ser sempre boa, motivadora, satisfatória, maravilhosa, eu creio nisso! 

      “...E eram doze os filhos de Jacó. Os filhos de Lia: Rúben, o primogênito de Jacó, depois Simeão e Levi, e Judá, e Issacar e Zebulom; Os filhos de Raquel: José e Benjamim; E os filhos de Bila, serva de Raquel: Dã e Naftali; E os filhos de Zilpa, serva de Lia: Gade e Aser...” Gênesis 35.22b-26a

      “E tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera de Hebrom; e nasceram a Davi mais filhos e filhas.II Samuel 5.13

      “E o rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da filha de Faraó: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, Das nações de que o Senhor tinha falado aos filhos de Israel: Não chegareis a elas, e elas não chegarão a vós; de outra maneira perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se uniu Salomão com amor. E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração.” I Reis 11.1-3

      A realidade de patriarcas e reis de Israel: poligamia, simples assim, por vários motivos. Em primeiro lugar nas sociedades dos tempos do antigo testamento, onde a força de mão de obra tanto de trabalho quanto militar era humana, não se tinha máquinas ou carros motorizados, assim a presença masculina, fisicamente mais forte, e obviamente ainda dentro de uma sociedade patriarcal, machista, “machocêntrica”, era de suma importância. Dos homens dependia a existência e continuidade de uma família, de uma tribo, de um reino, de uma nação, por isso, se uma esposa não podia gerar descendentes, ou se não gerava filhos homens, o esposo podia, legalmente, unir-se à servas para conseguir esse intento, às vezes com mais de uma, como é o exemplo de Jacó. 
      Mas existiam os exageros, como de Salomão, que não era um homem comum, era um rei, rei de Israel, responsável não só por feitos maravilhosos em sua nação como também são atribuídos a ele a autoria de textos bíblicos de muita sabedoria, como Provérbios, Eclesiastes e Cantares (estudiosos argumentam que ele de fato não escreveu esses livros, não em suas totalidades pelo menos). A impressão que temos é que o homem dos tempos do antigo testamento não tinha os limites que tem hoje o homem da cultura ocidental, cristianizada, que ainda que se separe e torne a se casar não chega nem de longe à experiência de Salomão e de outros. Mas era preciso ser rico como Salomão para poder sustentar um número tão grande de esposas, que trouxe ao rei também um grande número de problemas, como a Bíblia nos relata.

      “Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.” Mateus 19.3-9

      A orientação de Jesus: segue a orientação original e inicial de Moisés em Gênesis, que nos ensina sobre o plano ideal de Deus para a vida de homem e mulher no casamento. Lembro que mesmo na época de Jesus existia uma cultura machista, onde o homem tinha mais direitos que a mulher, onde o pai tinha direitos sobre as filhas, durante muito tempo (até há poucas décadas atrás) foi o pai quem escolhia marido para a filha, que só conheceria, em muitos aspectos, o esposo, após o casamento, mesmo depois dele os casais não tinham a cumplicidade que podemos ter hoje em dia, onde se busca divisão igualitária de direitos e deveres. 
      Pessoalmente creio que a orientação de Jesus era muito mais para expor a inabilidade do homem em obedecer a qualquer espécie de idealização divina (baseada na lei mosaica), que de fato exigir isso ou aquilo do ser humano. Essa revelação levaria as pessoas a entenderem todas as camadas do pecado, não só aquela que se exteriorizava com um divórcio, mas principalmente aquela que cometia adultério só no olhar e no pensamento. Para que isso? Para que as pessoas entendessem a urgência e a eficiência do perdão que só a obra redentora de Cristo pode dar. Lembrando que não temos qualquer texto escrito diretamente por Jesus, temos apenas registros de Marcos, Mateus, Lucas e João, homens com costumes sociais e religiosos baseados na sociedade e religião judaica e com muita influência da cultura greco-romana. 
      Abrindo parênteses, o termo “machista” não significava necessariamente algo ruim, assim como não era “escravatura”, não há dois mil anos ou mais atrás, as pessoas podiam ter estilos de vida porque eram o costume da sociedade de suas épocas, e ainda assim se adaptarem ao costume de maneira justa. Ao meu ver, o problema nunca foi o sistema ou o costume, mas o coração do ser humano, homens maus serão maus seja em que sistema for, assim como homens bons serão bons sejam quais forem os costumes em que vivam. Obviamente, com a evolução social que o ser humano alcançou, nos tornamos mais exigentes e não podemos retroceder, assim qualquer espécie de machismo ou de escravatura hoje é inconcebível, fecho parênteses.

      “E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher. Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido. E digo isto para proveito vosso; não para vos enlaçar, mas para o que é decente e conveniente, para vos unirdes ao Senhor sem distração alguma. Mas, se alguém julga que trata indignamente a sua virgem, se tiver passado a flor da idade, e se for necessário, que faça o tal o que quiser; não peca; casem-se. Todavia o que está firme em seu coração, não tendo necessidade, mas com poder sobre a sua própria vontade, se resolveu no seu coração guardar a sua virgem, faz bem. De sorte que, o que a dá em casamento faz bem; mas o que não a dá em casamento faz melhor.I Coríntios 7.32-38

      A orientação de Paulo: era extremada, talvez mais até que a de Cristo, principalmente em relação às mulheres como nos relata a Bíblia. Veja que o texto acima se trata do que um pai cristão deve fazer com sua filha solteira, se ele deve “dá-la” em casamento ou não. Só o fato do pai ter autoridade sobre a filha, não levando em conta a vontade da filha, já mostra como era o costume da sociedade da época de Paulo, costume que não mudava pelo fato da pessoa ser cristã. Sim, no texto, a orientação é para um pai cristão que quer conduzir sua filha no caminho de Deus, ainda que com prepotência, mas o outro ponto é que Paulo deixa claro que em sua opinião a mulher permanecer solteira para servir a Deus é melhor. Retrógrado esse ensino? Mas é o que a Bíblia ensina, os que querem segui-la ao pé da letra não deveriam excluir o que lhes convém, mas fazer isso com toda a Bíblia, aí pelo menos haveria coerência.
      Contudo, se obedecermos o que manda Paulo ao pé da letra, tanto para homens como para mulheres (já que um casamento precisa de duas pessoas para acontecer), não haverá mais casamentos, nem filhos, mas só celibatários dedicados exclusivamente a servir o evangelho, em tempo integral, ou você discorda? Ele não diz que é pecado se casar, mas que só serve a Deus com mais qualidade o que fica solteiro e não se envolve com as coisas de casado. A continuação de Mateus 19, todavia, cita uma orientação mais equilibrada de Jesus sobre o assunto, e não se refere exclusivamente à mulher. Cristo diz que permanecer solteiro para servir a Deus é bom, mas não é para todos, e podemos entender que para os que não é não faz com que esses sejam colocados num nível menor de espiritualidade, só diferente. Um conselho para entender melhor a vontade de Deus pela Bíblia, prefira sempre os ensinos diretos de Jesus.

      “Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.Mateus 19.10-12
     
Esta é a 9ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro“
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

08/05/20

Reavaliemos Homoafetividade (8/30)

8. Homoafetividade

      O que a Bíblia diz sobre as cidades de Sodoma e Gomorra, e sobre os sodomitas, nome dos habitantes de Sodoma, mas termo que acabou sendo muito usado como sinônimo de quem tem práticas homossexuais? Segue um resumo dos textos bíblicos referentes a isso:

      “Habitou Abrão na terra de Canaã e Ló habitou nas cidades da campina, e armou as suas tendas até Sodoma. Ora, eram maus os homens de Sodoma, e grandes pecadores contra o Senhor.” 
Gênesis 13.12-13
      “Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito, descerei agora, e verei se com efeito têm praticado segundo o seu clamor, que é vindo até mim; e se não, sabê-lo-ei.” 
Gênesis 18.20-21
      “E vieram os dois anjos a Sodoma à tarde, e estava Ló assentado à porta de Sodoma; e vendo-os Ló, levantou-se ao seu encontro e inclinou-se com o rosto à terra;
      E porfiou com eles muito, e vieram com ele, e entraram em sua casa; e fez-lhes banquete, e cozeu bolos sem levedura, e comeram. E antes que se deitassem, cercaram a casa, os homens daquela cidade, os homens de Sodoma, desde o moço até ao velho; todo o povo de todos os bairros. E chamaram a Ló, e disseram-lhe: Onde estão os homens que a ti vieram nesta noite? Traze-os fora a nós, para que os conheçamos. Então saiu Ló a eles à porta, e fechou a porta atrás de si, E disse: Meus irmãos, rogo-vos que não façais mal; Eis aqui, duas filhas tenho, que ainda não conheceram homens; fora vo-las trarei, e fareis delas como bom for aos vossos olhos; somente nada façais a estes homens, porque por isso vieram à sombra do meu telhado.
      Aqueles homens porém estenderam as suas mãos e fizeram entrar a Ló consigo na casa, e fecharam a porta; E feriram de cegueira os homens que estavam à porta da casa, desde o menor até ao maior, de maneira que se cansaram para achar a porta. Então disseram aqueles homens a Ló: Tens alguém mais aqui? Teu genro, e teus filhos, e tuas filhas, e todos quantos tens nesta cidade, tira-os fora deste lugar; Porque nós vamos destruir este lugar, porque o seu clamor tem aumentado diante da face do Senhor, e o Senhor nos enviou a destruí-lo.” 
Gênesis 19.1, 3-8, 10-13

      “Não erreis: nem os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus.
I Coríntios 6.10

      Não, eu não vou fazer um estudo técnico, teológico, exegético, hermenêutico etc, para tentar arrancar desses textos uma interpretação que defenda o ponto de vista do “Como o ar que respiro”, isso seria repetir o modus operandi de muitos teólogos, sim, estudiosos sérios e aclamados, muitos que eu pessoalmente admiro e com os quais aprendi e aprendo muito. Não tento achar coesão na Bíblia, principalmente em relação ao que sua palavra escrita diz em relação a o que o Espírito Santo nos ensina, porque acho que a Bíblia pode não ser coesa, refletiremos mais sobre isso nas próximas reflexões “A Bíblia é a palavra de Deus” e “História e cristianismo”. A Bíblia, e mesmo isso em poucas passagens, ensina algo diferente daquilo que outras passagens dizem, mas principalmente, sua interpretação ao pé da letra leva a obediência de algo diferente daquilo que o Espírito Santo nos orienta hoje.
      Em que texto bíblico encontramos então, apoio para a apologia que será feita aqui? Diretamente em nenhum. Mas você também não achará na Bíblia nenhum texto que recrimine a escravidão, principalmente a de africanos que foi feita no Brasil e em outros países. Ao contrário, a Bíblia diz que o escravo deve ser um bom escravo, obedecer seu senhor, que isso é agradável a Deus (I Timóteo 6.1-2). Mas eu pergunto, na consciência do ser humano civilizado do século XXI, escravidão é justificável, sobre qualquer ponto de vista? Não, não é, foi uma violência feita contra africanos, que trouxe à sociedade tantos preconceitos e injustiças colhidos até hoje. Se escravidão, tão comum e legítima no antigo e no novo testamento (ainda que um tipo de escravidão diferente da feita com africanos), hoje é repensada, por que não seria a visão tradicional cristã que ainda impera em muitas igrejas sobre homoafetividade?
      O que nos cabe hoje, é analizar com mais cuidado o que é de fato um homoafetivo, ou alguém que tem algum tipo de relação afetiva ou física com alguém do mesmo sexo, depois comparar isso com o que achamos que Moisés e Paulo pensavam ser um sodomita (achamos, porque saber mesmo só na eternidade). Será que é justo, correto, denominarmos como sodomita, e assim lançarmos a esse todos as reprovações que a Bíblia cita, todas as pessoas que têm uma relação homossexual? Todos os gays e lésbicas (e outros, e outras...), são “sodomitas”, condenados ao mais terrível e atormentado inferno, para sempre? Se entendermos certo, veremos que a essência do que Moisés, Paulo e outros escritores bíblicos condenam como sodomitas está correta, eu creio que eles era homens em comunhão com Deus, com intenções tementes a Deus, e defensores de uma vida digna para os homens, livres do pecado.
      Pecado sexual é quebra de aliança, traição no casamento é adultério e paga-se um preço caro por isso. Usar sexo só como prazer com vários parceiros, é prostituição, recebendo-se ou não dinheiro em troca. Tem muita homem que tem relação física sexual com outro homem só por prazer, ou algo que foi prazer num tempo e se tornou vício, homens assim são héteros, se apaixonam por mulheres, até podem ser casados com mulheres, mas acham nessa relação física homossexual um prazer, o mesmo que se acha em bebidas ou drogas. Isso é pecado, isso não é, necessariamente, atitude de homoafetivos verdadeiros,  isso pode ser curado e não é cura gay, mas libertação de disposições promíscuas e obsessivas que podem acontecer tanto com homens quanto com mulheres, e que não ocorre só com sexo, mas também com outros apetites físicos. 
      Verdadeiros homoafetivos nascem assim e nada pode mudá-los, não é escolha, contudo, como tem pastor que nunca se deu ao trabalho de ajudar   aqueles que condena sem conhecer. Alguns dizem, “Deus só criou homem e mulher”, mas se fosse verdade só existiriam homens e mulheres héteros e sadios. E quanto aos doentes mentais, os paraplégicos, e tantos outros transtornados física e psicologicamente, Deus não os criou? Não estou dizendo que homossexualidade seja doença, mas gente diferente existe, precisa se adaptar à sociedade e ser respeitada. O plano inicial de Deus para o homem, como pensam muitos (não eu), pode até ter tido um padrão, mas a humanidade real não é assim. Enquanto cristãos condenam os que não se encaixam em seus preconceitos, o evangelho deixa de acolher pessoas que não são pecadoras, mas só diferentes. 
      Não pense que esse é o pensamento do mundo, para o mundo até o promíscuo que quer se relacionar sexualmente e ocasionalmente com ambos os sexos só por prazer, não deve ser recriminado, para o mundo isso é direito de cada um, “cada um usa seu corpo como quer”, mas não é isso que estou dizendo aqui. Existem referências morais, sim, necessidade de limpeza espiritual, sim, e o único jeito de se vivenciar isso é através de Jesus. Mas não peça a um homossexual verdadeiro que mude sua essência, o homossexual o é na alma, antes de em relações físicas-afetivas, ele não pode mudar tanto quanto não pode um heterossexual genuíno. Os cristãos evangélicos atuais precisam aprender a separar os verdadeiros homoafetivos, que querem casar, ter família e serem fiéis, dos falsos, esses sim, os falsos, são os sodomitas que a Bíblia cita e recrimina em Gênesis. 
      As passagens bíblicas iniciais nos levam a três tipos de posicionamentos, o primeiro é: as praticamos, de verdade, não só de palavra, pagando todo o tipo de preço que implique nisso, principalmente o preço de amor, tentando “curar” todos os homoafetivos pelo evangelho, e obviamente constando frutos dessa prática. Nesse posicionamento acreditamos num Deus que de fato age conforme entendemos nas passagens acima. Um segundo posicionamento é, não concordamos com as passagens e crendo que elas são agradáveis a Deus, não concordamos também com Deus. Esse é o pior posicionamento? Não sei se é pior que o primeiro, porque nele pelo menos há honestidade e um respeito com os homoafetivos. O terceiro posicionamento é o do “Como o ar que respiro”, cremos e confiamos em Deus, mas reavaliamos a Bíblia, pelo menos em algumas passagens.

Esta é a 8ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro”
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020