sábado, maio 09, 2020

Reavaliemos Casamento e Bíblia (9/30)

9. Casamento e Bíblia

      Esta reflexão faz parte do estudo “Reavaliemos nossas crenças”, isso significa que existe a necessidade de nós cristãos pensarmos mais é diferentemente sobre temas que tradicionalmente possamos estar tendo entendimentos não tão corretos, ainda assim, não tenho me recusado a compartilhar os textos bíblicos que muitos usam como bases para estabelecerem suas doutrinas tradicionais. Dessa forma, dividirei o tema casamento em duas reflexões, na primeira, que segue, listarei as principais passagens bíblicas sobre o tema, na próxima refletiremos sobre a realidade do casamento hoje.

      “Então o Senhor Deus fez cair um sono pesado sobre Adão, e este adormeceu; e tomou uma das suas costelas, e cerrou a carne em seu lugar; E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão. E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada. Portanto deixará o homem o seu pai e a sua mãe, e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne.Gênesis 2.21-24

      A orientação inicial de Deus: um casamento, um esposo, uma esposa, um homem, uma mulher. Essa orientação é dada pelo registro de Moisés em Gênesis, que se baseou em tradição oral e na tradição religiosa de seu povo. Sejamos francos, essa orientação é a melhor? Claro que é, feliz o homem que acha uma esposa e fica com ela até à morte de um deles, feliz a mulher que acha um esposo e permanece com ele até o fim da vida de um deles. Precisamos de mais que isso para sermos felizes e realizados afetiva e sexualmente? Não! Isso basta, e é uma relação que pode ser sempre boa, motivadora, satisfatória, maravilhosa, eu creio nisso! 

      “...E eram doze os filhos de Jacó. Os filhos de Lia: Rúben, o primogênito de Jacó, depois Simeão e Levi, e Judá, e Issacar e Zebulom; Os filhos de Raquel: José e Benjamim; E os filhos de Bila, serva de Raquel: Dã e Naftali; E os filhos de Zilpa, serva de Lia: Gade e Aser...” Gênesis 35.22b-26a

      “E tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera de Hebrom; e nasceram a Davi mais filhos e filhas.II Samuel 5.13

      “E o rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da filha de Faraó: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e hetéias, Das nações de que o Senhor tinha falado aos filhos de Israel: Não chegareis a elas, e elas não chegarão a vós; de outra maneira perverterão o vosso coração para seguirdes os seus deuses. A estas se uniu Salomão com amor. E tinha setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração.” I Reis 11.1-3

      A realidade de patriarcas e reis de Israel: poligamia, simples assim, por vários motivos. Em primeiro lugar nas sociedades dos tempos do antigo testamento, onde a força de mão de obra tanto de trabalho quanto militar era humana, não se tinha máquinas ou carros motorizados, assim a presença masculina, fisicamente mais forte, e obviamente ainda dentro de uma sociedade patriarcal, machista, “machocêntrica”, era de suma importância. Dos homens dependia a existência e continuidade de uma família, de uma tribo, de um reino, de uma nação, por isso, se uma esposa não podia gerar descendentes, ou se não gerava filhos homens, o esposo podia, legalmente, unir-se à servas para conseguir esse intento, às vezes com mais de uma, como é o exemplo de Jacó. 
      Mas existiam os exageros, como de Salomão, que não era um homem comum, era um rei, rei de Israel, responsável não só por feitos maravilhosos em sua nação como também são atribuídos a ele a autoria de textos bíblicos de muita sabedoria, como Provérbios, Eclesiastes e Cantares (estudiosos argumentam que ele de fato não escreveu esses livros, não em suas totalidades pelo menos). A impressão que temos é que o homem dos tempos do antigo testamento não tinha os limites que tem hoje o homem da cultura ocidental, cristianizada, que ainda que se separe e torne a se casar não chega nem de longe à experiência de Salomão e de outros. Mas era preciso ser rico como Salomão para poder sustentar um número tão grande de esposas, que trouxe ao rei também um grande número de problemas, como a Bíblia nos relata.

      “Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele, porém, respondendo, disse-lhes: Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, E disse: Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. Disseram-lhe eles: Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la? Disse-lhes ele: Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim. Eu vos digo, porém, que qualquer que repudiar sua mulher, não sendo por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e o que casar com a repudiada também comete adultério.” Mateus 19.3-9

      A orientação de Jesus: segue a orientação original e inicial de Moisés em Gênesis, que nos ensina sobre o plano ideal de Deus para a vida de homem e mulher no casamento. Lembro que mesmo na época de Jesus existia uma cultura machista, onde o homem tinha mais direitos que a mulher, onde o pai tinha direitos sobre as filhas, durante muito tempo (até há poucas décadas atrás) foi o pai quem escolhia marido para a filha, que só conheceria, em muitos aspectos, o esposo, após o casamento, mesmo depois dele os casais não tinham a cumplicidade que podemos ter hoje em dia, onde se busca divisão igualitária de direitos e deveres. 
      Pessoalmente creio que a orientação de Jesus era muito mais para expor a inabilidade do homem em obedecer a qualquer espécie de idealização divina (baseada na lei mosaica), que de fato exigir isso ou aquilo do ser humano. Essa revelação levaria as pessoas a entenderem todas as camadas do pecado, não só aquela que se exteriorizava com um divórcio, mas principalmente aquela que cometia adultério só no olhar e no pensamento. Para que isso? Para que as pessoas entendessem a urgência e a eficiência do perdão que só a obra redentora de Cristo pode dar. Lembrando que não temos qualquer texto escrito diretamente por Jesus, temos apenas registros de Marcos, Mateus, Lucas e João, homens com costumes sociais e religiosos baseados na sociedade e religião judaica e com muita influência da cultura greco-romana. 
      Abrindo parênteses, o termo “machista” não significava necessariamente algo ruim, assim como não era “escravatura”, não há dois mil anos ou mais atrás, as pessoas podiam ter estilos de vida porque eram o costume da sociedade de suas épocas, e ainda assim se adaptarem ao costume de maneira justa. Ao meu ver, o problema nunca foi o sistema ou o costume, mas o coração do ser humano, homens maus serão maus seja em que sistema for, assim como homens bons serão bons sejam quais forem os costumes em que vivam. Obviamente, com a evolução social que o ser humano alcançou, nos tornamos mais exigentes e não podemos retroceder, assim qualquer espécie de machismo ou de escravatura hoje é inconcebível, fecho parênteses.

      “E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher. Há diferença entre a mulher casada e a virgem. A solteira cuida das coisas do Senhor para ser santa, tanto no corpo como no espírito; porém, a casada cuida das coisas do mundo, em como há de agradar ao marido. E digo isto para proveito vosso; não para vos enlaçar, mas para o que é decente e conveniente, para vos unirdes ao Senhor sem distração alguma. Mas, se alguém julga que trata indignamente a sua virgem, se tiver passado a flor da idade, e se for necessário, que faça o tal o que quiser; não peca; casem-se. Todavia o que está firme em seu coração, não tendo necessidade, mas com poder sobre a sua própria vontade, se resolveu no seu coração guardar a sua virgem, faz bem. De sorte que, o que a dá em casamento faz bem; mas o que não a dá em casamento faz melhor.I Coríntios 7.32-38

      A orientação de Paulo: era extremada, talvez mais até que a de Cristo, principalmente em relação às mulheres como nos relata a Bíblia. Veja que o texto acima se trata do que um pai cristão deve fazer com sua filha solteira, se ele deve “dá-la” em casamento ou não. Só o fato do pai ter autoridade sobre a filha, não levando em conta a vontade da filha, já mostra como era o costume da sociedade da época de Paulo, costume que não mudava pelo fato da pessoa ser cristã. Sim, no texto, a orientação é para um pai cristão que quer conduzir sua filha no caminho de Deus, ainda que com prepotência, mas o outro ponto é que Paulo deixa claro que em sua opinião a mulher permanecer solteira para servir a Deus é melhor. Retrógrado esse ensino? Mas é o que a Bíblia ensina, os que querem segui-la ao pé da letra não deveriam excluir o que lhes convém, mas fazer isso com toda a Bíblia, aí pelo menos haveria coerência.
      Contudo, se obedecermos o que manda Paulo ao pé da letra, tanto para homens como para mulheres (já que um casamento precisa de duas pessoas para acontecer), não haverá mais casamentos, nem filhos, mas só celibatários dedicados exclusivamente a servir o evangelho, em tempo integral, ou você discorda? Ele não diz que é pecado se casar, mas que só serve a Deus com mais qualidade o que fica solteiro e não se envolve com as coisas de casado. A continuação de Mateus 19, todavia, cita uma orientação mais equilibrada de Jesus sobre o assunto, e não se refere exclusivamente à mulher. Cristo diz que permanecer solteiro para servir a Deus é bom, mas não é para todos, e podemos entender que para os que não é não faz com que esses sejam colocados num nível menor de espiritualidade, só diferente. Um conselho para entender melhor a vontade de Deus pela Bíblia, prefira sempre os ensinos diretos de Jesus.

      “Disseram-lhe seus discípulos: Se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar. Ele, porém, lhes disse: Nem todos podem receber esta palavra, mas só aqueles a quem foi concedido. Porque há eunucos que assim nasceram do ventre da mãe; e há eunucos que foram castrados pelos homens; e há eunucos que se castraram a si mesmos, por causa do reino dos céus. Quem pode receber isto, receba-o.Mateus 19.10-12
     
Esta é a 9ª de 30 partes do estudo
“Reavaliemos nossas crenças”,
se possível leia todo o estudo
para ter o entendimento correto
do “Como o ar que respiro“
sobre o assunto, obrigado.

José Osório de Souza, 13/04/2020

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