07/05/22

Não nos iludamos com o mundo (5/6)

      “E ouvireis de guerras e de rumores de guerras; olhai, não vos assusteis, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim. Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas estas coisas são o princípio de dores.Mateus 24.6-8

      Depois da segunda guerra mundial, encerrada em 1945, a criação da Onu, da Otan, e de outros tratados mundiais, nos deram uma sensação de vida civilizada, ao menos em grande parte do mundo. A queda do muro de Berlim e a dissolução da URSS, a partir do final dos anos 1980, pareceram ter encerrado a guerra fria. A economia se tornou campo de batalha mais interessante, levando mesmo a China, ainda que comunista, a ser uma nação poderosa economicamente. Mesmo que extremistas muçulmanos estejam à margem dessa vibe civilizatória, internet e outros meios de compartilhamento de informações, tornaram cada ser humano um cidadão do mundo, anulando fronteiras, prevalecendo globalismo sobre nacionalismo. 
      A invasão da Ucrânia pela Rússia, contudo, virou o mundo de cabeça para baixo, as regras civilizatórias que custaram tão caro foram esquecidas, uma nova e muito pior guerra nuclear nos ameaça (escrevo este texto em 6/03/22, 10º dia da guerra). Como cidadãos do presente achamos que já havia se passado muito tempo no planeta em uma situação de relativa paz, mas se olharmos para traz na história veremos que setenta e sete anos, tempo desde o fim da segunda guerra mundial, não é tão grande. O mundo nunca passa muito tempo em paz, sempre uma nova guerra aparece, assim, não nos iludamos achando que vivemos um tempo mais evoluído, quando já conseguimos manter uma humanidade civilizada e sem grandes conflitos. 
      Novas guerras são novas oportunidades para se vender armas, se isso acontecesse há cem anos atrás seria grave, mas hoje um agravante maior é adicionado a guerras como oportunidades para homens gananciosos e desumanos ganharem dinheiro. A grana que os países gastam para comprarem armas faltará para cuidar do planeta, para desenvolvimento de combustíveis não poluentes, para busca de alternativas que não destruam flora e fauna. Hoje o planeta está com tempo contado para entrar numa situação, que se não for irreversível, demorará muito tempo para se reverter de forma natural, cientistas já previnem sobre o aquecimento global. A guerra maior é contra a natureza e para essa os seres humanos estão perdendo. 
      Essa modernidade, que por algum tempo achamos ter sido um degrau de evolução que o homem tinha finalmente alcançado, parece que foi só ilusão, infelizmente o ser humano ainda tem muita crueldade para lançar contra seus semelhantes. Interessante como conflitos terríveis são disparados por poucos homens, que não vão a campos de batalha para matar e morrer, quem mata e morre são jovens e inocentes, que muitas vezes nem sabem porque estão lutando, guerreiam baseados em narrativas mentirosas inventadas pelos líderes. Quem mata jovens ucranianos? Jovens russos. A verdade é que não há inocentes, situações terríveis são permitidas por Deus por motivos justos, líderes são mantidos pelos cidadãos de seus países. 
      Sempre que falo sobre fim do mundo gosto de frisar alguns pontos. As descrições bíblicas não devem ser interpretadas ao pé da letra. Os registros são de homens em contextos históricos antigos, interpretando uma experiência espiritual com mentes, olhos e ouvidos antigos. Muitas profecias podem já ter se cumprido. Certos processos históricos são repetitivos no mundo, independe do tempo, assim temos que nos atentar ao que é diferente hoje que possa tornar nosso conceito de fim de mundo mais legítimo que os conceitos que homens de outros tempos tinham. Hoje temos três diferenciais: grande população da Terra, uma planeta exaurido de recursos naturais, e desenvolvimento cientifico e de comunicação superiores. 
      Por que não podemos nos iludir com o mundo? Porque a variável que pode definir o fim do mundo não está na maldade do coração do homem, mas no planeta, quem clama por justiça, até de forma mais impactante que o ser humano, é a Terra. O mundo, no sentido do lugar onde o mal e a matéria têm algum poder, não mudou, não ainda, mas o planeta, o campo físico que Deus nos oferece para que nos aperfeiçoemos, esse está chegando num ponto crítico. Muitos cristãos, baseados numa interpretação antiga da Bíblia, tentam ver o fim do mundo só como uma grande guerra, não se atentam ao planeta, justamente porque isso não era preocupação do homem antigo que escreveu a Bíblia em que esses cristãos creem. 
      Contudo, tenhamos esperança, se líderes e povos como nações estão querendo o pior, a iniciativa para uma mudança surpreendente pode partir do indivíduo, que num mundo globalizado, tendo a internet como arma, talvez possa ter voz mais alta que líderes loucos com suas ogivas nucleares. Eis outra coisa que profetas e escatológicos não previram e que tem tudo a ver com a verdade espiritual maior: na eternidade não seremos de um povo ou de uma nação, mas espíritos de Deus, e os que creram e trabalharam pela justiça e santidade ainda no mundo serão atraídos para o céu, as regiões espirituais mais elevadas em Cristo. Não nos iludamos com o mundo, mas acreditemos no amor do indivíduo que faz escolhas pela paz. 

06/05/22

Tenha coragem para sair (4/6)

      “Naquele tempo, a voz dele abalou a terra, mas agora ele promete, dizendo: "Mais uma vez eu farei tremer não só a terra, mas também o céu”. Ora, as palavras "mais uma vez" significam a remoção dessas coisas abaladas, ou seja, das coisas criadas, para que permaneçam as coisas que não podem ser abaladas. Por isso, recebendo nós um Reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e temor.Hebreus 12.26-28

      Numa iminente possibilidade de guerra, onde um inimigo de outro país estivesse vindo invadir seu país, o que você faria? Ficaria, esperando que por algum motivo a guerra terminasse, antes de chegar até você? Ficaria pronto para lutar, matar ou morrer? Ou fugiria de seu país, deixando tudo para trás? Na reflexão anterior, “Tenha coragem para mudar”, refletimos sobre uma situação parecida, mas sobre outro ponto de vista, nesse texto defendi a necessidade de reação, mas para mudar uma situação interna de uma pais, havendo um conflito dentro do próprio país. Nesta reflexão o ponto é um ataque externo, numa hipótese em que não poderíamos mudar uma situação, onde a situação estivesse fora de nosso controle individual.
      Serei honesto, matar é uma situação inadmissível para mim, a não ser na condição extrema onde tivesse que salvar meus próximos da morte. Mas antes disso acontecer eu com certeza fugiria, largaria bens e pátria para não matar alguém. Penso que muitos podem não concordar comigo, muitos, que pelo menos na teoria, se dizem patriotas, podem se escandalizar com meu posicionamento, mas o que me dá paz para pensar assim é uma certeza. Gosto do meu país, ainda que sempre tenha me sentido cidadão do mundo, morei em mais de um estado no Brasil e em quase uma dezena de cidades. Talvez por isso, não seja muito preso a certas coisas e solto para outras. Mas existe um motivo maior, uma convicção espiritual, não terrena.
      Creio que a vocação espiritual mais alta que Deus dá ao ser humano seja para evoluir moralmente, praticar santidade e amor, nisso não cabe qualquer espécie de conflito, que não seja interior, nós contra nossas vaidades e prazeres egoístas. Guerras físicas, posse de armas, tirar a vida de um ser humano, não fazem parte da nova aliança do evangelho em Cristo para o homem hoje. Por isso me posiciono contra, político ou cristão, que defenda posse de armas, e pior, uso delas. Alguém pode argumentar: “você diz isso porque nunca teve sua vida ou as vidas de pessoas que ama correndo risco de morte”. Eu respondo: será que Deus não é grande e amoroso o suficiente para livrar os que nele confiam de riscos terminais? 
      A impressão que às vezes tenho é que existem muitos, aparentemente vivendo na sociedade e mesmo em igrejas, com tranquilidade, sendo bons cidadãos e religiosos fiéis, que por dentro estão a ponto de explodir, querendo só uma desculpa para serem agressivos e vingativos. O politico de direita, que apareceu nos últimos anos no Brasil, dizendo-se defensor de valores conservadores de família cristã, parece que foi a oportunidade para muitos evangélicos e protestantes jogarem para fora rancores e recalques não devidamente resolvidos em Deus. A esses eu temo, pergunto que posição tomariam numa guerra iminente, agiriam sob os ensinos de Jesus, como cidadão do reino espiritual de Deus, ou só como assassinos? 
      Se em muitas coisas devemos ter coragem para ficar, lutar e mudar uma situação, em outras coisas devemos ter coragem para sair, para fugir, para não dar murros em pontas de facas, isso para mantermos nossa integridade moral, para não mudarmos o que deve ser eterno em nós. Saber quando entrar e quando sair, quando mudar e quando não mudar, só sabe quem tem uma vida na santidade e na liberdade do Espírito Santo. Legalistas, religiosos, conservadores, ociosos, dependentes de aprovação de homens, religiosões e tradições, terão mais dificuldade para saber quando fazer a melhor escolha, aquela que antes de tudo é o melhor de Deus para suas vidas, e que nunca vai contra valores mais altos e eternos. 
      Certas guerras já nasceram perdidas, simplesmente porque nunca tiveram aprovação de Deus. Guerras físicas e exteriores não é o melhor de Deus, assim precisamos ter coragem e nos afastarmos delas. No texto bíblico inicial "as palavras "mais uma vez" significam a remoção dessas coisas abaladas, ou seja, das coisas criadas, para que permaneçam as coisas que não podem ser abaladas”. Não temamos guerras de homens, fim do mundo, viradas na história, é Deus permitindo-nos ver que o plano físico não é confiável, é passageiro e enganoso. A passagem acima também diz, “recebendo nós um Reino inabalável, retenhamos a graça”, nosso reino é espiritual e inabalável, por esse devemos lutar dentro de nós pela graça de Deus. 
      Mas o texto bíblico inicial revela mistérios sobre o futuro que vão além de prioridades que devem ter os que querem conhecer e obedecer a Deus hoje. Em remoção das coisas abaladas para que permaneçam as coisas que não podem ser abaladas, está contido o propósito maior de Deus para todos os seres e todos os universos, tanto no plano físico quanto no espiritual. O movimento do amor de Deus é para espiritualizar os homens, assim, no final, o puramente espiritual prevalecerá sobre o material. Mas isso não é motivo para desprezarmos o planeta, a natureza a vida animal. Deus usa a matéria para nos aperfeiçoar, assim, deixemos um mundo melhor para filhos, netos e outros, que também terão que andar com Deus nesta Terra. 

05/05/22

Tenha coragem para mudar (3/6)

      “E chegou-se Abraão, dizendo: Destruirás também o justo com o ímpio? Se porventura houver cinqüenta justos na cidade, destruirás também, e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta justos que estão dentro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? Então disse o Senhor: Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles.” “Disse mais: Ora, não se ire o Senhor, que ainda só mais esta vez falo: Se porventura se acharem ali dez? E disse: Não a destruirei por amor dos dez.Gênesis 18.23-26, 32

      Povo oprimido não é só efeito de governante opressor, opressor é efeito de povo que se deixa oprimir. Obviamente não podemos generalizar, existem líderes que contam uma grande mentira e muitos acreditam, por outro lado o ser humano tem a tendência de autorizar outros a pensarem por ele. Esse desleixo pode conduzir nações a injustiças internas terríveis, assim como a vergonhas internacionais. Eu tomo cuidado quando grande parte da imprensa mundial, que muitos chamam de “mídia Otan”, por colocar sempre alguns como mocinhos e outros como vilões, vitimiza um povo jogando toda a culpa em seus líderes. Muitos se fortalecem na fraqueza dos outros, muitos são fracos porque não reagem e se permitem ser oprimidos. 
      Em igrejas há pastores porque vendem produtos que ovelhas compram, se não houvesse comprador, não haveria vendedor. Por outro lado, igrejas que permanecem por anos com líderes em condição de pecado encoberto e não solucionado, é porque houve conivência dos liderados, e algumas coisas são erradas muito mais por não serem assumidas, que por serem de fato erradas. Se houver alguns justos, que temam mais a Deus que aos homens, que sejam sábios, mas que tenham coragem de se colocarem contra uma maioria, o Espírito Santo lhes mostrará que algo grave está oculto, precisa vir à luz e solucionado. Ninguém é enganado e por muito tempo por culpa e capacidade do enganador, mas porque se permitiu ser enganado. 
      Mas tenhamos muito cuidado, ainda que saibamos de coisa má oculta e não concordemos com ela, se nada fizermos para resolvermos a questão em Deus e por Deus, assim em humildade e por amor, poderemos ser punidos junto do líder em pecado e de todos que não quiseram saber da verdade e que aprovaram o líder errado. Temos visto acontecer isso em igrejas, e não pensem que muitas igrejas fecham as portas depois que Deus exerce juízo. Não, muitas continuam abertas, e podem até ganharem mais membros, crescerem financeiramente, contudo, dificilmente ovelhas dessas igrejas receberão um alimento espiritual puro, e eu disse dificilmente, porque mesmo ao rebelde Deus não fecha porta de luz para auxiliar. 
      Isso tragicamente tem ocorrido em muitas nações, crises migratórias levando refugiados a saírem de seus países, entregarem seus lares a opressores, e dependerem da ajuda de estrangeiros. Não podemos deixar de amar e ajudar a todos que sofrem, mas muitos sofrem porque o opressor foi tomando conta aos poucos de seus direitos, o mal sempre age devagar, e não tiveram coragem de reagir e mudarem a própria sorte. O juízo de Deus busca provocar dois movimentos, prender o mal e despertar o bem adormecido. Muitos em tantos lugares do mundo são seres humanos do bem, trabalhadores honestos, buscando praticar virtudes morais, mas estão ensimesmados, voam, mas dentro de gaiolas, enquanto têm todo o céu para isso.
      O que hoje, eu e você, estamos aceitando, nos conformando, por medo das consequências, do que os outros vão dizer, de perdermos pessoas, que apesar de erradas, nos dão o apoio que achamos que não podemos ter de outra maneira? É no namoro, no casamento, na família, nas amizades, no emprego, na igreja, em nosso país? O certo é que quando a hora do juízo chega, chega porque Deus já nos avaliou e entendeu que tivemos chances de mudarmos, de sermos felizes nele, e não mudamos. Ao que anda certo não vem juízo, mas honra, juízo só vem para o errado. “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia, a noite vem, quando ninguém pode trabalhar” (João 9.4). Despertemos, ainda é dia! 
      Uma verdade difícil, para mim, para você, para muitos, de aceitar, é que ninguém é inocente, se há sofrimento, há motivos para isso, a eterna lei de causa e efeito. Pela teologia do cristianismo tradicional isso fica ainda mais difícil de aceitar, vendo a existência neste mundo como só uma passagem vindo depois disso um juízo extremo e irreversível, por isso muitos protestantes e evangélicos só aceitam e creem. Mas outras religiões, que entendem a existência como encadeamentos de vidas encarnadas e de vidas puramente espirituais, conduzindo o ser humano à evolução por provas e privações, entendem melhor o sofrimento de tantos que parecem, numa única vida no mundo, serem só vítimas inocentes da injustiça dos outros…
      Mas sejamos sábios, entendermos que muitos sofrem porque precisam pagar dívidas, não tira de nós a responsabilidade de ajudá-los. Todos somos iguais, nós também sofremos por algum motivo, contudo, ajudarmos os que sofrem em amor, não como obrigação ou por pena, paga as dívidas que nós temos. Se a pirâmide na humanidade fosse, não para poucos que se acham em cima explorarem muitos que estão embaixo, mas para todos ajudarem todos, se faria justiça. Haveria sofrimento, mas menor, já que o saldo da dívida de cada um seria menor, abatido pela ajuda que cada um entrega aos outros em seus sofrimentos. O sofrimento de todos é de todos, assim como a cura para ele, somos todos irmãos indo para a luz de Deus. 

04/05/22

Bem e mal não têm lados (2/6)

      “O que cedo busca o bem, busca favor, mas o que procura o mal, esse lhe sobrevirá.” Provérbios 11.27

      Alguns dizem que são céticos com alguns meios de comunicação, mas eles não são realmente céticos, só não acreditam naquilo que vai contra o que eles querem acreditar. Cético de verdade não tem lado, questiona tudo para poder achar a verdade, que como a mentira, muitas vezes pode estar presente tanto num lado quanto no outro. Reflitamos de novo num tema relevante atualmente, conflitos entre extremos ideológicos, todos se achando céticos com a mentira e mais lúcidos que os outros para discernirem a verdade. Inicio com uma provocação: por mais que não admitam, há mais semelhanças entres os que se põem nos extremos, que entre ambos e os que estão no equilíbrio do centro. 
      Não me refiro às ideias defendidas nas três posições, nesse ponto de vista o centro terá tanto ideias da direita, quanto da esquerda. Me refiro à maneira como os que se colocam nos extremos defendem as ideias, ainda que tendo ideias opostas o fazem com a mesma obsessão, amor exagerado ao que creem e ódio exarcerbado com o que não creem. O extremismo mais danoso não está nas ideologias, mas nos corações dos homens, quem é extremista o será, indiferente do lado em que se posicionar. Quem é equilibrado, e isso é algo que se aprende ser quando se tem a coragem de mudar de opinião após checar teoria com prática, o será sempre. O equilibrado está mais perto de Deus e de sua verdade. 
      A Rússia é um bom exemplo disso. De União Soviética comunista, passou para um país democrático capitalista, contudo, segue com um governo centralizado e igual há muitos anos, e ainda com intenção imperialista. Chega a ser engraçado como essa verdade salta em nossas caras e nós não a reconhecemos. Mudou a política, a economia, mudou o lado, mas continuou sendo extremista, na verdade os povos, as nações, as tribos, grupos sociais têm características intrínsecas, que apesar de mudarem nos “corpos”, não mudam nos espíritos. De fato o ser humano tem muita dificuldade para ser equilibrado, isso exige constante trabalho de avaliação, que pode requisitar correções de percurso. 
      O extremista se vê do lado do bem e o que está no extremo oposto no lado do mal, o mesmo ocorre com o outro extremista, diviniza-se e demoniza o outro. Se isso ocorresse só no plano humano, menos ruim seria, pior é quando colocam Deus e o diabo na história, se Deus está comigo o outro extremista só poderá estar com o diabo. Cristãos têm caído nessa armadilha, não sabem que o mal não tem lado, ele quer prejudicar todo mundo, e quem nega o mal que existe em si dá ao mal a melhor arma para agir, a mentira. Enquanto extremistas se combatem, o mal assiste de camarote, nem precisa agir, o combate é ponto para ele, para ele não interessa porque ou quem briga, basta brigarem. 
      O extremista dá pontos ao diabo quando se acha com Deus ao seu lado, assim o mal nem é culpado pelo conflito, o próprio extremista afirma que Deus apoia sua causa. O problema não é crermos que Deus está conosco, mas dizermos que ele apoia extremismo e fazer-se guerras em seu nome. Deus não está na guerra, ainda que em nossos momentos mais difíceis de oração clamemos a Deus que lute por nós, e ele faz isso, mas sua luta não é para destruir, nem o mal. Deus não destrói o mal porque o mal existe como escolha do ser humano. Sim, haverá um momento na história cósmica quando o mal será vencido, mas por enquanto trevas e seu poderes são afastados automaticamente daqueles que estão na luz. 
      O mal não tem lado, mas o bem também não tem. O diabo e tudo que ele possa representar neste plano ou no outro, dentro ou fora da mente humana, não tem preferidos, ainda que tenha simpatizantes. Deus também não tem privilegiados, ainda que esteja perto do humilde, santo e crente. Se as pessoas querem lutar por essa ou aquela ideologia, por esse ou aquele sistema político ou econômico, sejam pessoas cristãs ou não, que lutem, mas tenham o cuidado de não colocarem nem Deus e nem o diabo em seus tolos conflitos. Juízo haverá, de um jeito ou de outro, mas será bem severo com quem errou se dizendo apoiado por Deus, esse não faz mal só a si, mas dá falso testemunho do Altíssimo. 

03/05/22

Na guerra, a verdade morre primeiro (1/6)

      “Certamente que a salvação está perto daqueles que o temem, para que a glória habite na nossa terra. A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram. A verdade brotará da terra, e a justiça olhará desde os céus. Também o Senhor dará o que é bom, e a nossa terra dará o seu fruto. A justiça irá adiante dele, e nos porá no caminho das suas pisadas.Salmos 85.9-13

      Uma rede de televisão de linha evangélica, exibiu filmagem de tanque russo sendo atingindo por coquetéis molotov, conforme a rede, lançados por ucranianos. Outra rede de televisão, a poderosa do Brasil, exibiu outra filmagem, essa de caça russo sendo atingido, conforme essa rede, por míssel ucraniano. Ambas as filmagens não se referiam de fato à narração dos telejornais, assim, ambas eram fake news. Em alguns casos uma rede de televisão até faz retratação, mas enquanto a primeira exibição é feita de forma espetacular, a retração é feita rapidamente e fica perdida, o que fica gravado na cabeça das pessoas é a fake news. Confira no texto deste vídeo links de alguns vídeos exibidos como fake news e algumas retratações. 
      Na guerra, a primeira coisa que morre é a verdade. Numa guerra híbrida, termo mais atual que significa guerra física mesclada com guerra virtual, que usa a internet para disseminar informações, manipular verdades é ainda mais efetivo. Ninguém se assume como vilão, todos querem ser heróis, ninguém gosta dos bandidos, assim, procura-se convencer a opinião pública que se luta pelo lado certo através de uma guerra de versões. Isso não é novo, governos democráticos capitalistas, para terem apoio do povo para fazerem guerras que dão lucro a empresários, fizeram isso no século XX nas guerras mundiais. Extensas campanhas publicitárias, justificando a entrada de países na guerra, foram feitas para vender uma agenda bélica. 
      Um exemplo mais recente é a invasão do Iraque pelos E.U.A em 2003, a justificativa que o governo americano deu ao povo e ao mundo, para se vingar do ataque às Torres Gêmeas do complexo empresarial do World Trade Center na cidade de Nova Iorque, foi um suposto programa de desenvolvimento de armas de destruição maciça pelo Iraque e uma alegada colaboração de Saddam Hussein com a Al-Qaeda, facção terrorista responsável pelo ataque às Torres. Essas justificativas nunca foram comprovadas. Ingênuos os que acham que o lado em que se põem é o certo, e o outro lado é o errado, é certo que sempre há um lado mais certo que outro, mas diferenciar vítima de opressor não é algo tão fácil na geopolítica mundial. 
      Cristãos podem ter uma ideia utópica do que seja a verdade, quando transferem conceitos bíblicos e evangélicos sobre Deus e moral para o mundo dos homens. Levando também em conta o maniqueísmo com que gostam de interpretar a existência, bem contra o mal, Deus contra o diabo, projetam isso em tantas áreas da sociedade. Por isso cristãos podem ser mais fáceis de serem manipulados, principalmente quando não se dão ao trabalho de orarem mais a Deus e buscarem sua orientação, antes, limitam-se a compreender tudo de forma rasa e legalista. Quem outorga o direito pessoal de pensar e escolher aos outros é vítima mais fácil de controladores de mentes, que podem inventar mil justificativas só para terem poder no mundo. 
      A trágica ironia é que quanto mais o homem confia em si mesmo e na ciência, querendo viver pelo que tem comprovação no mundo material e não por fé, mais ele pode ser presa da mentira. Não, o problema não está na ciência, como não está em Deus, mas no coração do homem, se esse não tiver Deus estará em trevas morais, ainda que debaixo de potentes holofotes da ciência. O orgulhoso tropeça nas próprias pernas, nem precisa ser empurrado, ainda que obtenha conhecimento e riquezas não alcançará a verdade que Deus graciosamente dá ao humilde. Os tempos são estranhos, o mundo tenebroso, não por falta de informação, mas por falta de temor a Deus, urge que nos humilhemos na presença do Senhor clamando pela verdade. 

02/05/22

Cristo e anticristo, simples axioma

      “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno. E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Filhinhos, guardai-vos dos ídolos. Amém.I João 5.19-21

      Para se definir um anticristo deve se definir um cristo, agora, se um cristo se porta como anticristo, o anticristo se torna o cristo. Veja que usei a palavra cristo iniciada com letra minúscula, termo que na verdade não é um nome próprio, mas um adjetivo, assim referir-se a Jesus não como Cristo, mas como “o” Cristo, é mais adequado gramaticalmente. Nome próprio mais adequado para Jesus é Jesus de Nazaré, ou filho de José, o termo Cristo só foi popularizado como seu nome depois que ele morreu. Cristo é uma tradução para o português do termo grego Χριστός (Khristós) que significa ungido, que por sua vez é tradução do termo hebraico מָשִׁיחַ (Māšîaḥ) que transliterado para português significa messias. 
      No axioma inicial não me referi a Jesus, o Cristo verdadeiro, mas a messias de forma mais genérica. Se quem na opinião de muitos deveria salvar não salva, a salvação pode vir de quem não salva na opinião desses mesmos. Quem estabelece as referências, os homens ou Deus? Existe um cristo dos homens, da Igreja Católica, do protestantismo, das igrejas evangélicas, mas existe o Cristo de Deus. Ainda que o cristo dos homens possa estar baseado num Jesus histórico verdadeiro, ele não é o Cristo de Deus, não em sua verdade mais profunda. É isso ainda que Deus em sua graça use o cristo dos homens para conduzir os homens ao seu Cristo. Mas a pergunta nesta reflexão é: quem entendemos como anticristo? 
      No meio evangélico já disseram que o anticristo seria um papa católico, mas muitos católicos podem dizer que anticristos são os pastores evangélicos que exploram as ovelhas, e comercializam milagres por fé e dízimos, em templos que são mais empresas e casas de shows que igrejas. Atualmente alguns têm dito que o anticristo é a China, manipulando o mercado com a criação e propagação do vírus da Covid 19, mas pelos últimos acontecimentos a Rússia também é forte candidata a anticristo. A verdade é que em momentos diferentes da história os cristãos elegeram pessoas, coisas, poderes e valores diferentes deste mundo como anticristos. Será que o anticristo é sempre o outro, o meu antagonista, não eu? 
      Se não sabemos quem é o verdadeiro Cristo, não temos informações suficientes para definir um anticristo condizente, já que o nome de um estabelece o outro como sua antítese. Ainda assim a humanidade, por séculos se submetendo ao cristo dos homens, teima em achar que pode identificar o anticristo. Hoje muitos evangélicos insistem que sabem como será o fim do mundo, afirmam com alguma certeza quem representa o anticristo no mundo. Mas será que as palavras desses são confiáveis? Deus salva, cura e atende todos os homens, e os que o buscam por Jesus terão um caminho mais reto para atingir a região celestial mais elevada, independente se esses conhecem ou não o Cristo Jesus verdadeiro. 
      Podemos saber menos, por limites ou por escolha, mas nesse caso devemos ser mais humildes, não mais presunçosos. Quando vemos o errado como certo, veremos o certo como errado, quem diz que algo é o anticristo, não sendo, pode estar crendo num cristo que também não o é. “Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos” (Lucas 6.44), amo esse ensino, aparece várias vezes na Bíblia, é princípio para distinguirmos o certo do errado. Se uma religião que passou séculos dizendo-nos o que é o Cristo, nunca conseguiu dar frutos bons que permanecessem, até que ponto essa religião é de Cristo, ainda que use o nome de Cristo? 
      Muitas religiões cristãs funcionam mais como negação do verdadeiro evangelho que como afirmação desse, principalmente quando não praticam amor, são preconceituosas e se acham donas da verdade. Muitos cristãos usam hoje o termo anticristo de forma equivocada, sobre isso fizemos um estudo sobre o contexto histórico e teológico da primeira carta de João, na qual aparece o termo anticristo, se puder confira na reflexão “Quem é o anticristo?”. Mentira repetida exaustivas vezes torna-se verdade nas cabeças dos que têm medo de homens, principalmente de religiosos, que deixam que outros pensem por eles e nada questionam. Até que ponto realmente sabemos quem é de Cristo e quem nega o verdadeiro Cristo?  
      Respeitemos todas as religiões, Deus pode usar todas elas, mas Jesus é exclusivo, é a verdade mais alta de Deus. Contudo, católicos e evangélicos, não basta usarmos de alguma forma o nome de Jesus para estarmos na verdade mais profunda de Deus. Deus atende a crianças e adultos espirituais, mas só os adultos conhecem a verdade, esses não são presunçosos, nem usam sua experiência para diminuir alguém, antes procuram dar os frutos de amor dessa verdade com humildade. Esses estão mais habilitados para saberem quem é o Cristo e quem ou o que pode fazer o papel de sua antítese. Que é o anticristo? Todos nós podemos sê-lo, quando nos exaltamos, quando arrogamos ter certezas que os que têm guardam para si. 

01/05/22

Como o ar que respiro

     “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo.“ Salmos 42.1-2a
 
      Não fazemos força para respirar, nem pensamos nisso, só inspiramos e expiramos, um gás invisível e inodoro que nem sabemos bem o que é, mas que basta alguns minutos sem ele para morrermos. Nossa vida espiritual deveria ser semelhante, simples e constante, não porque vemos ou sentimos, mas porque precisamos, com o ar que respiro. Esse é o conceito por trás do título desta página, falar de uma vida com Deus não como obrigação, não por medo, não como religião, nem por qualquer outro tipo de conveniência política ou afetiva, mas como parte do que fazemos para sermos o nosso melhor, e o nosso melhor é estarmos vivos, não só fisicamente no mundo, mas espiritualmente, nos dois planos. 
      Parece óbvio, mas não é, existem muitos “zumbis” interagindo com o plano físico, trabalhando, estudando, amando, mas que não respiram, por isso estão mortos, ainda que seus corpos sobrevivam materialmente. De vez em quando vão a igrejas ou outras reuniões, recebem jatos de ar nos rostos, até acham prazeroso, mas respiram por aparelhos, são incapazes de fazê-lo por si mesmos, seus pulmões espirituais estão paralisados. Como conseguem existir no mundo? No plano físico o corpo material ajuda os seres humanos a funcionarem, ainda que espiritualmente possam estar mortos, mas o corpo físico é só uma oportunidade para que o espiritual nasça, uma oportunidade curta a ser aproveitada. 
      A primeira morte, a do corpo físico, livra-nos das distrações, mas também tira de nós as possibilidades de fugas, os prazeres que no mundo nos ajudam a esquecer da morte do espírito, essa morte confronta-nos com a existência espiritual em sua pureza. Se o espírito estiver vivo seguiremos rumo ao Altíssimo, naquilo que cristãos chamam de “céu”, contudo, se nosso espírito estiver morto, porque não aproveitamos a oportunidade que tivemos no mundo para vivificá-lo, provaremos em toda a extensão a segunda morte (Apocalipse 2.11). Estaremos separados de Deus vivendo o chamado  “inferno”, na eternidade não existem aparelhos, religiões ou qualquer tipo de escapismo para falsificar vida espiritual. 
      O versículo bíblico inicial, tema da página “Como o ar que respiro”, refere-se a isso, respiração, só tem vida quem respira. Ele define o que é vida eterna, ela não é religião, ciência, mesmo moralidade, é conhecimento de Deus, conhece-se aprendendo, gradativamente, à medida que se respira. Morre quem limita conhecimento de Deus a entendimento do cânone bíblico de sessenta e seis livros, ou mais, no caso do catolicismo, onde se acrescentam dogmas, sacramentos, liturgias etc. Deus é bem mais que isso, Bíblia é o início, não o fim, o Esprito Santo é o início, o meio e o fim, ele é vivo. Quem respira Deus acha no Espírito o caminho para chegar a Jesus, a porta, então conhecer profundamente o Altíssimo.