sexta-feira, maio 06, 2022

Tenha coragem para sair (4/6)

      “Naquele tempo, a voz dele abalou a terra, mas agora ele promete, dizendo: "Mais uma vez eu farei tremer não só a terra, mas também o céu”. Ora, as palavras "mais uma vez" significam a remoção dessas coisas abaladas, ou seja, das coisas criadas, para que permaneçam as coisas que não podem ser abaladas. Por isso, recebendo nós um Reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e temor.Hebreus 12.26-28

      Numa iminente possibilidade de guerra, onde um inimigo de outro país estivesse vindo invadir seu país, o que você faria? Ficaria, esperando que por algum motivo a guerra terminasse, antes de chegar até você? Ficaria pronto para lutar, matar ou morrer? Ou fugiria de seu país, deixando tudo para trás? Na reflexão anterior, “Tenha coragem para mudar”, refletimos sobre uma situação parecida, mas sobre outro ponto de vista, nesse texto defendi a necessidade de reação, mas para mudar uma situação interna de uma pais, havendo um conflito dentro do próprio país. Nesta reflexão o ponto é um ataque externo, numa hipótese em que não poderíamos mudar uma situação, onde a situação estivesse fora de nosso controle individual.
      Serei honesto, matar é uma situação inadmissível para mim, a não ser na condição extrema onde tivesse que salvar meus próximos da morte. Mas antes disso acontecer eu com certeza fugiria, largaria bens e pátria para não matar alguém. Penso que muitos podem não concordar comigo, muitos, que pelo menos na teoria, se dizem patriotas, podem se escandalizar com meu posicionamento, mas o que me dá paz para pensar assim é uma certeza. Gosto do meu país, ainda que sempre tenha me sentido cidadão do mundo, morei em mais de um estado no Brasil e em quase uma dezena de cidades. Talvez por isso, não seja muito preso a certas coisas e solto para outras. Mas existe um motivo maior, uma convicção espiritual, não terrena.
      Creio que a vocação espiritual mais alta que Deus dá ao ser humano seja para evoluir moralmente, praticar santidade e amor, nisso não cabe qualquer espécie de conflito, que não seja interior, nós contra nossas vaidades e prazeres egoístas. Guerras físicas, posse de armas, tirar a vida de um ser humano, não fazem parte da nova aliança do evangelho em Cristo para o homem hoje. Por isso me posiciono contra, político ou cristão, que defenda posse de armas, e pior, uso delas. Alguém pode argumentar: “você diz isso porque nunca teve sua vida ou as vidas de pessoas que ama correndo risco de morte”. Eu respondo: será que Deus não é grande e amoroso o suficiente para livrar os que nele confiam de riscos terminais? 
      A impressão que às vezes tenho é que existem muitos, aparentemente vivendo na sociedade e mesmo em igrejas, com tranquilidade, sendo bons cidadãos e religiosos fiéis, que por dentro estão a ponto de explodir, querendo só uma desculpa para serem agressivos e vingativos. O politico de direita, que apareceu nos últimos anos no Brasil, dizendo-se defensor de valores conservadores de família cristã, parece que foi a oportunidade para muitos evangélicos e protestantes jogarem para fora rancores e recalques não devidamente resolvidos em Deus. A esses eu temo, pergunto que posição tomariam numa guerra iminente, agiriam sob os ensinos de Jesus, como cidadão do reino espiritual de Deus, ou só como assassinos? 
      Se em muitas coisas devemos ter coragem para ficar, lutar e mudar uma situação, em outras coisas devemos ter coragem para sair, para fugir, para não dar murros em pontas de facas, isso para mantermos nossa integridade moral, para não mudarmos o que deve ser eterno em nós. Saber quando entrar e quando sair, quando mudar e quando não mudar, só sabe quem tem uma vida na santidade e na liberdade do Espírito Santo. Legalistas, religiosos, conservadores, ociosos, dependentes de aprovação de homens, religiosões e tradições, terão mais dificuldade para saber quando fazer a melhor escolha, aquela que antes de tudo é o melhor de Deus para suas vidas, e que nunca vai contra valores mais altos e eternos. 
      Certas guerras já nasceram perdidas, simplesmente porque nunca tiveram aprovação de Deus. Guerras físicas e exteriores não é o melhor de Deus, assim precisamos ter coragem e nos afastarmos delas. No texto bíblico inicial "as palavras "mais uma vez" significam a remoção dessas coisas abaladas, ou seja, das coisas criadas, para que permaneçam as coisas que não podem ser abaladas”. Não temamos guerras de homens, fim do mundo, viradas na história, é Deus permitindo-nos ver que o plano físico não é confiável, é passageiro e enganoso. A passagem acima também diz, “recebendo nós um Reino inabalável, retenhamos a graça”, nosso reino é espiritual e inabalável, por esse devemos lutar dentro de nós pela graça de Deus. 
      Mas o texto bíblico inicial revela mistérios sobre o futuro que vão além de prioridades que devem ter os que querem conhecer e obedecer a Deus hoje. Em remoção das coisas abaladas para que permaneçam as coisas que não podem ser abaladas, está contido o propósito maior de Deus para todos os seres e todos os universos, tanto no plano físico quanto no espiritual. O movimento do amor de Deus é para espiritualizar os homens, assim, no final, o puramente espiritual prevalecerá sobre o material. Mas isso não é motivo para desprezarmos o planeta, a natureza a vida animal. Deus usa a matéria para nos aperfeiçoar, assim, deixemos um mundo melhor para filhos, netos e outros, que também terão que andar com Deus nesta Terra. 

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