30/04/22

Onde tua religião te levou? (90/90)

      “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.” 
Efésios 2.4-7

      Onde tua religião te levou? Como evangélico talvez você vá responder, “me levou a um bom lugar”. Mas algo tem que ser dito, talvez tenha te levado a um lugar tão bom quanto outra religião levou outra pessoa, e não use maus religiosos como álibi para demonizar outras religiões, existem maus e bons em todas as religiões. Assim, a pergunta pode ser outra: como evangélico, você acha que tua religião é melhor que as outras? Se acha que é, então, ela deveria ter levado você a um lugar melhor que aquele que as outras levam. Mas se tua religião é a melhor e você não chegou a um lugar melhor, então, o problema não está na tua religião, mas em você, ou no que você pensa ser tua religião. Por outro lado, se você fez tudo que podia para praticar bem tua religião, entendendo-a como te ensinaram, e ainda assim não chegou a um lugar melhor, pode ser porque talvez a tua religião não seja assim tão boa. 
      Seguindo com a intenção de fazer pensar, algo que muitos cristãos não querem, só aceitam o que aprendem nos púlpitos como vontade de Deus e que como tal não pode ser criticado, creio que a coisa mais importante que temos que entender sobre o cristianismo que praticamos é onde chegamos com ele. Esse onde são lugares em várias áreas, moral, emocional, material, e o lugar espiritual mais alto está em equilibrar todos esses lugares dentro de nós. Em primeiro lugar é preciso deixar algo bem claro, a verdade pela ótica de Deus pai sobre o que Jesus é hoje e será eternamente no plano espiritual, e o que ele ensinou, viveu e representa no mundo, sempre será o melhor caminho para todos os seres humanos chegarem à região celestial mais elevada. Pela fé em Jesus temos o caminho mais reto para alcançarmos o Altíssimo, e a Jesus não cabe crítica, não é sobre isso que falamos neste texto. 
      Contudo, o que os homens entenderam e mantiveram sobre o Cristo, construindo o cânone Bíblico e ensinando nas tradições cristãs, isso é outra coisa, isso é religião, as religiões devem sofrer críticas, e é sobre elas que falamos aqui. A pergunta é “onde tua religião (cristã) te levou”, e não “onde Cristo te levou”. Quem buscar a Deus com persistência, fé e humildade, chegará ao lugar onde Deus tem para ele, o melhor lugar aqui e na eternidade. Muitos dizem: “estou feliz onde cheguei com meu cristianismo, estou satisfeito com minha religião, sei que nada é perfeito, mas confio em Deus, não em homens, não acho que minha religião precise ser mudada, é assim por séculos e existe um motivo para isso, Deus acompanhou os homens nesse processo, o que ele tem para nos dizer ele diz pela religião, duvidar disso é ser rebelde, é se desviar do evangelho, é dar ouvidos a Satanás e à carne”. 
      Não são poucos que pensam assim, é na verdade a grande maioria, se não fosse assim templos cristãos não existiriam em tão grande quantidade e não estariam cada vez mais lotados. O cristianismo continua sendo um bom negócio, tenta vender um produto único e resistente ao tempo, Jesus, e mesmo quando líderes, padres e pastores, pecam descaradamente, um argumento faz com que igrejas não fechem, “estamos aqui por Cristo, não pelos homens”. Mas alguns, e esses justamente entre os cristãos de mais qualidade, nem digo sinceros, o termo sinceridade pode justificar tantas coisas e muitas danosas e violentas, mas alguns, após anos de caminhada em igrejas, sabem, lá no fundo de seus corações, que algo está errado, que a coisa não funcionou, que existe mais hipocrisia e superstição que de fato prática de vida segundo o modelo de vida do Cristo homem. Será que esse é teu caso?
      Em décadas trabalhando em igrejas cristãs de todos os tipos, e por trabalhar, não só assistir cultos, sempre tenho acesso a informações que muitas ovelhas não têm, eu testemunhei muita coisa ruim em ministérios protestantes e evangélicos. Principalmente na liderança, tanto de igrejas, quanto de denominações, assim como de ministérios interdenominacionais, escândalos principalmente nas duas áreas de poder da matéria, dinheiro e sexo. Não foram só em servos em que já se sentia algo esquisito em seus ministérios, mesmo quando o escândalo ainda não havia vindo à tona, mas também em ensinadores protestantes relevantes, que ainda hoje me influenciam e continuam ensinando, mesmo depois de terem sido desligados de grandes ministérios. Posso concluir que a maior parte dos líderes tem vida secreta errada? Talvez, ocorre é que muitos conseguem esconder isso melhor. 
      Isso é mais que um bom argumento para entendermos que a religião cristã, como foi definida por católicos e protestantes, não está certa, ainda que homens tentem a todo custo serem fiéis a elas, e esses estão justamente no segundo escalão. Os piores problemas estão no primeiro escalão, líderes que estão errados, sabem disso e seguem manipulando principalmente os do terceiro escalão, mas os do segundo escalão são os que mais sofrem e mais trabalham. Entre hipócritas e ignorantes estão os que levam a sério o que aprendem, até as últimas consequências, por isso se frustram mais e são os mais fáceis de caírem em certas armadilhas. É justo aceitarmos que os homens têm níveis espirituais diferentes, assim Deus não cobra de todos as mesmas coisas, muitos deverão seguir na ignorância, mas outros precisam ter a coragem de acordar, pararem de servir a homens e servirem a Deus.
      Deus tem chamado muitos para uma iluminação espiritual diferenciada, mas por medo ou orgulho, esses só respondem à chamada após o escândalo, depois de caírem por estarem fracos demais para resistirem tentando fazer funcionar uma máquina que já nasceu quebrada. Não é fácil dizer não para um sistema que te condena ao inferno infinito, caso você ao menos duvide dele silenciosamente e secretamente em teu coração. Assim as religiões seguem mantendo adeptos por medo do diabo e não pelo amor de Jesus. É preciso muita confiança em Deus para se buscar mais dele, receber sua verdade e aceitar esse conhecimento, o justo sempre vive pela fé, não por vista. Mas se não chegamos pelo amor, chegamos pela dor, dói quando pecamos e somos envergonhados, escandalizamos quando, lutando por uma religião não funcional e não em Deus, tentamos nos vencer pelas nossas forças. 
      Quem você será na eternidade? Que não tenhamos que morrer e sermos confrontados com a luz do amor de Deus para reconhecermos que fomos teimosos numa militância errada, que fizemos isso por medo do inferno e querendo agradar a homens. Deus “não passa pano”, toda causa tem efeito, um Deus santíssimo e justíssimo nos confrontará com a maior das justiças e a mais pura das santidades. Não nos enganemos achando que basta-nos fé no Cristo para que na eternidade tudo seja esquecido, o céu é muito mais difícil de se “entrar” que muitos evangélicos acham, e o inferno é muito mais abrangente que um fogo central consumidor, ele tem várias camadas. A solução é simples: a verdade. Se formos verdadeiros com nós mesmos saberemos se chegamos com nossa religião ao céu, se não chegamos falemos com Deus e peçamos que ele nos mostre como chegar, não queiramos menos que isso. 

Esta é a 90ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

29/04/22

Só para te fazer pensar mais (89/90)

      “Medita estas coisas; ocupa-te nelas, para que o teu aproveitamento seja manifesto a todos.
  I Timóteo 4.15

      Não tenho dúvida que se um grupo de cristãos ler este estudo, “Quem você será na eternidade?”, verá nele heresia. Infelizmente ainda tem muita gente tentando acreditar num cristianismo antigo, que ainda que não fosse verdade antigamente, era mais digerível para massas com níveis intelectual e moral antigos. Mas tem algo pior, sobre um outro grupo de cristãos, maior até que o primeiro grupo. Esse grupo lerá o estudo e não entenderá muita coisa, e mesmo se entender não dará muita importância para as críticas feitas, para os cristãos desse grupo tanto faz, basta-lhes crer. 
      Será que hoje é diferente de há quinhentos, mil ou mil e quinhentos anos atrás? Não, as pessoas sempre transferiram para outros o direito de pensarem mais profundamente sobre tudo, principalmente sobre assuntos mais complicados, como era a ciência antes da educação ser para todos, e como sempre foi espiritualidade e teologia. Lembremos que a Bíblia e mesmo as missas eram em latim, só entendia os padres, nem entoar louvores os leigos podiam na liturgia católica, era função de corais profissionais, assim, muitos se acostumaram a aceitar e crerem. 
      Ocorre é que nos últimos cem, cem e cinquenta anos, a humanidade evoluiu cientificamente, e isso influenciou o cristianismo. O estudo teológico, a relevância de procura por textos bíblicos mais antigos, mas próximos possíveis aos registros originais, principalmente dos autores do novo testamento, deu a muitos cristãos a falsa ideia que conhecem melhor a palavra de Deus, a mais verdadeira que reflete a vontade de Deus e não de homens. Mas isso é um equívoco, o problema não está em ter em mãos o texto original, mas em como os homens usam esse texto. 
      Mesmo os primeiros líderes cristãos, Pedro, João, Tiago, Paulo, não eram homens perfeitos, tinham uma experiência real e profunda com Deus, mas ainda assim eram homens de seus tempos. Creia, no primeiro século havia divisão de igrejas, conflitos teológicos, interesses humanos para se estabelecer liderança, divergências de pontos de vista sobre o ensino original de Jesus, talvez tanto quanto existem hoje, respeitando o tamanho do mundo e da cristandade da época, e ainda que estivessem próximos dos anos em que viveu o Cristo homem. O ser sempre foi humano. 
      Aprendemos a ser científicos em muitas coisas, dependemos da ciência para viver no mundo moderno, sem ela não levantamos da cama de manhã, veja por exemplo a dependência que temos da energia elétrica, tudo depende dela, sem falar obviamente da internet e dos celulares. Mas ainda assim somos inocentes e românticos, aguardamos salvadores da pátria, cremos piamente em religiões, só porque líderes e sacerdotes usam pompa, liturgia, palavras bonitas dentro de tempos luxuosos e catedrais antigas, para dizerem coisas que se pensássemos melhor não fariam sentido.  
      Meus queridos, o objetivo deste texto é exatamente esse, fazer pensar, levar a parar de aceitar muita coisa só porque foi dita pelo papa, por algum padre ou pastor famoso, por bispo ou “apóstolo”, termo usado erroneamente atualmente, que temos que pôr entre aspas, visto que apóstolo de verdade foi só um dos doze originais de Jesus do primeiro século, e talvez Paulo. As coisas não são assim porque Deus quer, quem disse que Deus quer assim? Só homens. Cada um de nós precisa ter uma experiência realmente pessoal com Deus, e que permaneça em nós dando frutos. 
      Tantas pessoas permanecendo em igrejas, por anos a fio, mas Deus já não está nelas há muito tempo, a paixão acabou, mas a vida social, o consolo ainda tênue da religiosidade que virou vício, as seguram sentadas nos bancos, domingo após domingo. Com isso só cresceram os preconceitos, o materialismo, as doenças emocionais, enquanto casamentos acabaram e recomeçaram, pastores foram excluídos por escândalos, dentro de religiões, mas fora do Espírito Santo. Por quê? Porque se acostumou a aceitar as coisas como são, isso não é de Deus, para ninguém. 
      Se você ler postagens significativas feitas nos dez anos do “Como o ar que respiro” verá mudanças nas ênfases. No início a ênfase era a Bíblia, depois passou a ser o Espírito Santo, numa terceira fase foquei em reavaliar o cristianismo tradicional. Nos últimos tempos, contudo, Deus tem me levado a conhecer a ele e ao mundo espiritual com mais intimidade e verdade, retirando véus. Houve mudança de opinião? Sim, mas cada foco é cumulativo, base para o próximo, não existe contradição, só aprofundamento, isso tem feito um menino amadurecer, isso é o que desejo a você. 

Esta é a 89ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

28/04/22

Um “Deus” que nunca existiu? (88/90)

      “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos.
  Isaías 55.8-9

      Muitos têm falado, principalmente nos dias atuais de pandemia, “Deus não pode existir, com tanto sofrimento que há no mundo”, mas a verdade é que o “Deus” que muitos consideram existir e do qual duvidam diante dos sofrimentos, nunca existiu. Esse “Deus” que o cristianismo tradicional de homens prega, em grande parte é falso, ainda que o Deus verdadeiro abençoe todos os cristãos. O Deus verdadeiro não leva em consideração o conhecimento que os homens tenham dele, nem suas arrogâncias em acharem que têm conhecimento que não têm. 
      Protestantes e evangélicos, respondam, vocês são atendidos e consolados porque não acreditam em ídolos e nem em demônios, mas no Deus verdadeiro? Não. Católicos, me digam, vocês são protegidos e ouvidos porque guardam o cristianismo original e oficial do Deus verdadeiro? Não. Protestantes, evangélicos, católicos, espíritas, budistas, islamitas e todos os outros, vocês são ouvidos pelo Deus verdadeiro porque esse Deus ouve a todos e a todos ama, indiferentemente do que creem, mas de acordo com a boa intenção mais profunda de seus corações.  
      Agora, se o Deus verdadeiro fosse o que é definido pelos dogmas católicos e pela doutrina protestante, esse seria um Deus limitado, injusto e incoerente como Deus absoluto e perfeito em todas as virtudes. Teria um amor, que ainda que muitos digam ser irrestrito e eterno, que não harmoniza com a justiça, que também dizem que ele tem. Essa justiça que dizem que ele tem, faz as mesmas exigências de pessoas que vêm ao mundo com capacidades diferentes, tendo oportunidades diferentes, mas que terão a mesma condenação eterna caso não obedeçam às exigências.
      A justiça do cristianismo tradicional é semelhante a uma escola que aplica provas de curso superior, tanto para estudantes do curso superior quanto para estudantes primários, sem considerar o nível dos alunos. Nessa escola injusta, desaprovados de níveis diferentes recebem as mesmas penas. Mas a aprovação nessa escola é dada por fé, não pelo conhecimento adquirido por estudo, assim, ainda que alguém não tenha se esforçado para aprender e nada saiba, é aprovado se crer. Há injustiça para todos, uns são condenados sem saberem e outros mesmo que saibam.
      A justiça cobrada pelo cristianismo tradicional, é tanto injusta quanto irresponsável. O álibi que os homens que a construíram usam para que ela seja assim, é dizerem que ela é a vontade do Deus verdadeiro, colocando em Jesus uma função que ele não tem e nem precisa ter. Jesus salva, mas aqueles que procurarem praticar as obras que ele praticou, não só por crerem nele como um pai rico que paga as dívidas de filhos mimados e ociosos. Transferir a velha aliança judaica para Jesus, mesmo com um formidável upgrade, só mantém uma religião ultrapassada. 
      A culpa de tantos se afastarem do cristianismo, de não apreenderem todas as singulares e maravilhosas relevâncias que somente o evangelho de Jesus tem, por isso sendo o meio mais seguro para que todos os seres humanos sejam salvos de seus infernos pessoais, neste mundo e no próximo, a responsabilidade por isso é de uma tradição humana. Essa tradição, receba o nome de Igreja Católica, de protestantismo ou de qualquer outra seita, se sustenta a custo de vender sua alma aos governantes, para ter poder material controlando adeptos pelo medo e pela ignorância. 
      Em nome de um falso cristianismo, que ainda assim abençoa os homens por pregar o verdadeiro Cristo, ao menos em algumas coisas, a ciência foi reprimida, direitos sociais foram desprezados, a humanidade foi amarrada a superstições e à medida que evoluiu intelectualmente não achou uma fé inteligente e aberta que respeitasse-a. Se o cristianismo ainda insiste em quantidade neste mundo, é por conta de seitas que o usam para fins materialistas, para prosperidade neste plano, não para aperfeiçoarem seres espirituais que serão avaliados por Deus no outro mundo. 
      Se entendêssemos quão alto é Deus, quão espiritual é, sem qualquer vínculo com matéria, com egoísmo, vaidades e ganância do homem, se víssemos quão longo e maravilhoso é o caminho que conduz ao Altíssimo, seríamos melhores pois o Deus verdadeiro é melhor que o “Deus” ensinado por tantas religiões. Deus te ama, se quiser seguir teu caminho como criança espiritual, ainda que seja estranho adulto portar-se como criança, Deus cuidará de você, mas ele anseia que você assuma o adulto que pode ser e conheça a verdade maior, você escolhe. 

Esta é a 88ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

27/04/22

Deus é uma experiência pessoal (87/90)

      “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.”
 Jeremias 31.33-34

      Em quase cinco décadas vivendo com evangélicos, vi gente diferente convivendo em igrejas diferentes por motivos diferentes. O motivo espiritual inicial, que podia até ter sido uma paixão pura pelo evangelho, e que como toda paixão, mesmo pelo evangelho, passou, deu lugar a um propósito social. Alguns permaneciam em igrejas porque suas famílias estavam lá, outros porque queriam que suas famílias estivessem lá, outros porque os irmãos das igrejas eram as únicas famílias que tinham. Eles concordavam com tudo que igrejas e pastores diziam e eram? Não, mas isso nem importava mais, uma experiência individual tinha dado lugar a uma vivência coletiva que lhes dava a aprovação que careciam. 
      Deus é uma experiência pessoal. Se todos os seres humanos se dessem ao direito de serem livres para buscarem, acharem, crerem e praticarem aquilo que de fato vem diretamente da boca do Deus vivo para eles, eles conseguiriam ser coerentes consigo mesmos, não viveriam hipocrisias e poderiam experimentar de fato verdades espirituais. Isso quer dizer que não haveria igrejas? Haveria, mas não como reguladoras, como limitadoras, como ditadoras, como julgadoras, mas só como espaços para que crentes com uma parte significativa de crenças em comum se reunissem, sempre respeitando o indivíduo e dando oportunidade para que ele compartilhasse o que estivesse sinceramente querendo viver e praticando. 
      Esse tipo de comunidade necessitaria de líderes? Sim, mas humildes, muito mais que muitos que se acham líderes hoje são, ainda que muitos outros líderes, mesmo em sistemas equivocados, sejam humildes. Mas num sistema mais espiritual, líderes seriam mais monitores que donos de empresas, mais gerentes de ordem social, necessária a todo convívio civilizado. Vejo Jesus homem ensinando seus discípulos assim, ainda que fosse espiritualmente superior, ainda que tivesse muita intimidade com Deus, ainda que conhecesse a verdade maior sobre tudo de forma diferenciada, não dava ordens, nada impunha, não julgava ninguém, por isso Judas Iscariotes e outros ficaram com ele até o fim, ainda que mal intencionados.
      Numa comunidade que respeitasse indivíduos que se respeitam como religiosos com direitos a terem experiências pessoais, a verdade seria mostrada pelas prática de vida, pelo amor que age, pela justiça que trata todos com igualdade, pela santidade sincera e interior. Esse testemunho levaria as pessoas a Deus, não qualquer tipo de coação por medo, por preconceitos, por regras. Quanto aos que estivessem no meio dessas pessoas e tivessem outros interesses, que não fosse conhecer de fato a Deus, naturalmente cairiam fora, sem que ninguém os mandasse embora. A mentira não resiste à verdade, nem as trevas à luz, e se ficassem seria porque verdadeiramente Deus teria um interesse nisso, como teve com Iscariotes e outros. 
      Estamos falando uma utopia? Talvez, mas do jeito que as lutas sociais se levantam, que as farsas das religiões estão sendo reveladas, que a hipocrisia está cansando e deixando de fazer adeptos, que o mundo está vendo o preço caro que pagou pelo fato do cristianismo de homens não ter cumprido sua missão, pode não ser utopia. O tempo urge, o universo clama por juízo, a injustiça não ficará impune para sempre, os poderosos, seja pelos motivos que foram que os levaram a serem poderosos, estão com dias contados. Papa, padres, pastores e outros, que talvez até tenham recebido esses cargos por motivos legítimos, mas que não os merecem mais por terem pensado mais em si mesmos que nos pobres, não amedrontam mais. 
      É para padronizar o homem e manipulá-lo, tentando recria-lo à imagem de outros homens, o que acaba glorificando aquilo que chamam ou que se coloca como “diabo”, e não dando ao homem o direito de ser único e diferente, como ele o é no espírito, como Deus, o criador e pai de todos os espíritos, o fez, é que religiões foram criadas e se mantêm. Isso não é culpa só de maus líderes, de donos de igrejas, se um produto é vendido é porque tem quem o compre. Homens escolhem submeterem-se a homens porque lhes é mais cômodo, deixam o Deus Espírito e se rebaixam a ídolos, feitos por homens, à imagem de homens, os próprios homens e suas ideologias, com isso, repito, só o “diabo” e tudo que ele representa lucra. 
      Na padronização não há liberdade e paz, só prisão e agonia, mas na prisão há uma sensação de proteção, de pertencimento, de proximidade de semelhantes, de comunidade, a linguagem é a mesma, as vestes são as mesmas, as identidades são as mesmas, por isso tantas igrejas, tantas religiões, tantas cadeias. Não é fácil ser livre, não é para qualquer um, o horizonte infinito, ilimitado, dá medo, o mistério amedronta, mas por isso o justo deve viver por fé, para crer mesmo que não veja. Mas que fé é preciso para se viver numa prisão? Nenhuma, tudo já está revelado, delimitado, tudo é conhecido, e o que não é conhecido simplesmente é proibido, as paredes estão bem construídas, solidamente enquadradas. 
      Deus é uma experiência pessoal. Por mais que as pessoas tentem se convencer dentro de igrejas que o melhor para elas é serem iguais às outras, por mais que elas achem em homens referências, no fundo elas sabem, só serão felizes quando forem elas mesmas. Só Deus pode atrair as pessoas para serem seus melhores! Meus queridos e minhas queridas, se as pessoas amassem a Deus mais que qualquer outra coisa ou ser, isso as conduziria à verdadeira espiritualidade, à verdadeira religião, ao céu. Para responder com uma única frase à pergunta, “quem você será na eternidade?”: ame a Deus. Faça isso de todo o teu coração, com todo o teu entendimento, se o amor for verdadeiro te conduzirá a Deus, te transformará e isso bastará.
      Todas as religiões, todas elas, enquanto instituições humanas, organizações oficiais no mundo, não devem ser levadas tão a sério, respeitadas, sim, utilizadas (e não usadas) para aprendermos coisas importantes sobre Deus, sim, mas nunca sendo posicionadas acima de Deus ou como vozes diretas do Altíssimo. Jesus é uma manifestação plena, única e muito especial de Deus, acima de qualquer outro personagem de qualquer religião, ele é a porta para o Altíssimo, e o Espírito Santo que enviou, sua presença viva em nós. Nessa iluminação podemos enxergar Deus em vivências espirituais de várias religiões, contudo, não temamos os homens, o diabo, ou o pecado, tenhamos uma experiência pessoal com Deus.  
      O texto bíblico inicial de Jeremias revela algo muito importante sobre os últimos dias, não do mundo, mas de uma era, uma era em que imperou religião de homens. “Porei a minha lei no seu interior… não ensinará mais cada um a seu próximo… todos me conhecerão, desde o menor até ao maior”, essas palavras são de uma clareza profética singular, elas não falam de outra coisa senão da presença do Espírito Santo no interior dos homens. Com essa iluminação a prioridade para se conhecer a Deus não está em acatar púlpitos e mesmo palavras registradas em livros sacros, mas em ouvir a voz viva de Deus que fala diretamente a todos, sem distinção, numa comunhão onde não existem maiores nem menores, isso é o céu. 

Esta é a 87ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

26/04/22

Quem será Deus na eternidade? (86/90)

      “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” 
João 4.24

      Vou iniciar com uma provocação: outro nome para esta reflexão seria “Mãe de amor”. Mas acalmem-se, evangélicos e protestantes, este texto não é uma apologia sobre colocar um ser, mesmo a mãe física de Jesus, em um nível espiritual semelhante (ou superior) ao de Deus. Por outro lado ele também não é uma crítica aos católicos e outros que aliam poderes especiais a Maria e “santos”, aliás, para entendermos melhor o que esses pensam sobre isso seria necessário um estudo profundo, que talvez escandalizasse muitos evangélicos e protestantes. Vamos refletir sobre a tradição que vê Deus, principalmente no cristianismo, como um ser masculino. Será que é assim, ou será que é necessário que seja assim? 
      O patriarcalismo predominou no mundo por séculos, em alguns países ainda predomina, no Brasil ainda existem fortes influências dele. Isso é parte do machismo que coloca o homem superior à mulher, que o vê como alguém com mais direitos e capacidades para dirigir sociedade e família. Nos tempos bíblicos isso até tinha certa legitimidade, naquele momento histórico a mão de obra humana era a força motriz da sociedade, tanto para produzir bens de subsistência, quanto para manter força militar, esse, um elemento importante na economia, nações cresciam em grande parte guerreando. Assim, o homem, fisicamente mais dotado, fazia o trabalho físico e externo, enquanto a mulher ficava em casa, cuidando do lar e criando filhos. 
      Uma cultura que dava esse valor ao homem não podia deixar de interpretar seu Deus como uma potência, ainda que espiritual, masculina, e mais que um homem, velho, para demonstrar não só força e autoridade como também sabedoria. Isso não significa que não havia religiões que relacionavam o divino com deusas, elas estavam presentes nas mitologias greco-romana, na egípcia, nas do oriente médio, nas africanas, nas europeias etc, e em algumas eram não só coadjuvantes, mas protagonistas. Em algumas vertentes da bruxaria, como a Wicca, as mulheres têm importância não só como sacerdotisas, mas sua deidade principal é feminina, sem falar em tantas entidades do afroespiritismo que são femininas.
      Foi justamente para manter essa tradição, que tanto agrada a pagãos, que o catolicismo, em sua origem mais política que religiosa, empoderou Maria para substituir na cabeça de muitos a deusa-mãe. O evangelho de Jesus ensinou um Deus espiritual, que o é pelas qualidades morais, que conduz o homem, não para vencer guerras físicas, mas interiores, que vencem a violência, a injustiça e o adultério, com amor, justiça e santidade. Um Deus espiritual não precisa ser “macho”, no sentido mais bruto do termo, ao contrário, é pacífico, ainda que poderoso. Na eternidade, onde e quando julgará os povos, Deus não prevalecerá pela força, mas por sua luz espiritual mais clara e alta, que vence pela virtude moral. 
      Na eternidade os vencidos o serão não por terem sido submetidos fisicamente, mas por serem rebeldes, se afastarem da luz de Deus, não se deixarem ser atraídos pelo amor do Altíssimo. Deus não afasta, são os seres humanos que fogem dele, Deus não obriga, são os homens que não o querem. O verdadeiro Deus espiritual não é homem, nem velho, ainda que a imagem mais humana que possamos ter dele seja a de Jesus homem, maduro, mas não velho, masculino no corpo, mas abrindo mão disso, vivendo só e satisfeito, sem praticar vida sexual, tratando todos com igualdade ainda que respeitando as diferenças. Mesmo hoje, quase dois mil anos depois, não entendemos todos os mistérios que Deus revelou no Cristo encarnado.
      Se analisarmos os conceitos feminino e masculino, tentando entender suas diferenças afetivas, e não capacidades intelectuais e morais de homem e mulher, que são as mesmas, e também não levando em conta características físicas originais, mas essência interior que nasce com o indivíduo e não é escolha dele, veremos que Deus tem os dois sexos em si, é homem e é mulher e ao mesmo tempo, assim é pai e é mãe. Contudo, podemos até dizer que à medida que a humanidade evolui, Deus se torna mais mãe que pai, diz-se que o pai cria para o mundo e a mãe cria para si. Pelo evangelho vemos um Deus recebendo de volta filhos que estavam perdidos e retornaram ao lar, se o masculino deixa partir é o feminino que espera em casa.
      Na vida dos seres humanos em família é preciso que um cuidado feminino, que pode ser exercido tanto pela mãe quanto pelo pai, ocorra na infância e na adolescência. Já o cuidado masculino, que também pode ser exercido por pai ou por mãe, prepara o jovem para ser independente no mundo, ter vida profissional, constituir família. Sei que esse assunto é polêmico, muitos cristãos ainda teimam em defender, ainda que só na teoria, a binariedade sexual da tradição judaico-cristã, enquanto o mundo abre demais para liberdade e não faz separação entre sexualidade verdadeira, seja ela qual for, e mera promiscuidade. Isso pode deixar crianças e adolescentes perdidos. São os extremos sempre fazendo estragos, mais prendendo que soltando.
      Não é fácil, mas é importante separarmos os conceitos masculino e feminino de sexo, a parte interior da exterior do ser humano, entender a essência afetiva e mesmo espiritual que existem nesses conceitos, sem entendermos isso sempre confundiremos as coisas. Espíritos não possuem sexo. Mas se na família primeiro vem a criação feminina e depois a masculina, com Deus e a humanidade parece acontecer o contrário, o homem antigo vivia mais para o mundo, o moderno passou a viver mais para si mesmo, isso requer uma presença mais feminina de Deus. No mundo atual, onde a ciência oferece meios para substituir mão de obra humana por máquinas, o ser humano pode ficar mais dentro de casa, mesmo que seja para trabalhar.
      Isso não é para todos, ainda existe muita injustiça social e desnível econômico, mas é uma tendência e realidade para os que podem se preparar melhor para a vida profissional. Além do diferencial na produção de meios de subsistência, que livrou o ser humano do trabalho braçal mais duro e deu a homem e mulher as mesmas possibilidades, outra tendência é o fato da civilização entender que pode crescer sem fazer guerras, assim o inimigo não é mais o outro ser humano, o inimigo do ser humano é ele próprio. Isso também não está acontecendo para a maioria rapidamente, o mundo ainda alimenta e cria conflitos o tempo todo, mas é a tendência. Penso que tudo isso conspira para que o ser humano interaja com a parte feminina de Deus. 
      Povos orientais têm uma experiência maior com o lado feminino do divino e há mais tempo, à medida que aliam alta espiritualidade com uma vida solitária de retiro para evolução pessoal, para negação dos prazeres do corpo, para uma viagem para dentro do indivíduo, abrindo mão da competitividade que a vida social incentiva. Um Deus mais masculino está ligado justamente à competitividade, principalmente em se tratando de ganhar uma competição material com elementos físicos num mundo material. Contudo, o evangelho ensina justamente o oposto, a perder para ganhar, a morrer para viver, a dar a outra face diante da injustiça, a valorizar o espírito, mais que o corpo físico, isso é uma visão espiritual feminina. 
      Muitos cristãos não vão aceitar isso, principalmente pentecostais, mas o cristianismo precisa se espiritualizar mais, deixar os rudimentos da tradição cristã, libertar-se do materialismo e dos antropomorfismos que veem o plano espiritual com formatos do plano físico, para de fato conhecer o mundo espiritual. Isso é possível, ainda no mundo, com oração que dá liberdade ao Espírito Santo. Quem será Deus na eternidade? Com quem seremos confrontados quando nosso corpo físico parar de funcionar e nosso espírito estiver livre? Será com um velho de barbas e cabelos longos e brancos num trono, será com a entidade que nossa religião nos ensinou ser o divino eterno, ou será com um ser espiritual puro de luz? 

Esta é a 86ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

25/04/22

Justiça é eterna, misericórdia, não (85/90)

      “Quando, pois, o Senhor teu Deus os lançar fora de diante de ti, não fales no teu coração, dizendo: Por causa da minha justiça é que o Senhor me trouxe a esta terra para a possuir; porque pela impiedade destas nações é que o Senhor as lança fora de diante de ti. Não é por causa da tua justiça, nem pela retidão do teu coração que entras a possuir a sua terra, mas pela impiedade destas nações o Senhor teu Deus as lança fora, de diante de ti, e para confirmar a palavra que o Senhor jurou a teus pais, Abraão, Isaque e Jacó. Sabe, pois, que não é por causa da tua justiça que o Senhor teu Deus te dá esta boa terra para possuí-la, pois tu és povo obstinado.” 
Deuteronômio 9.4-6

      Antropomorfismo é atribuir a deuses, a Deus ou a seres sobrenaturais, comportamentos e pensamentos humanos, mas além de características morais, atribuir também formas físicas. É com essa interpretação que escritores bíblicos, por exemplo, usaram termos como mãos de Deus, olhos de Deus, ouvidos de Deus, mas também, ira de Deus, arrependimento de Deus, vingança de Deus. Deus, contudo, é espírito, espírito não tem mãos, olhos ou ouvidos, não físicos, e não funcionando com as limitações que funcionam os membros do corpo físico do homem. Os olhos de Deus, por exemplo, veem tudo, em todos os lados e dimensões e ao mesmo tempo. A mesma coisa com características morais, Deus não se ira, não se arrepende ou se vinga.
      Essa ótica antropomórfica interpreta amor, misericórdia e justiça de Deus, de maneira no mínimo limitada, usando como referência o próprio homem, e ainda que suas virtudes, não as de Deus. Na verdade não podemos usar plenamente Deus como referência porque não o entendemos em sua totalidade, por isso a importância de Jesus. A encarnação do Cristo foi uma maneira de Deus nos ensinar sobre ele de um jeito que pudéssemos entender enquanto encarnados no mundo. Quer conhecer a Deus? Conheça Jesus, mas indo além do registrado na Bíblia, deixando que o Espírito Santo guie nesse entendimento, esclarecendo conceitos que escritores bíblicos registraram com os limites das óticas temporais de suas culturas.
      Justiça é instrumento de equilíbrio, recompensa o que é certo, pune o que é errado, dá para quem merece e tira de quem não merece, ela é universal, eterna e indiscriminada. A misericórdia é uma das faces do amor, beneficia, protege, perdoa, mesmo o que não está agindo de maneira totalmente correta. Por que Deus a usa? Porque ele nos conhece no tempo, sabe de nossa intenção, mas também de nossas ações, não só do passado como também do futuro. A misericórdia, sob o ponto de vista de Deus, também é justiça, só que exercida no tempo que sob o nosso ponto de vista não é o mais adequado. Assim Deus dá tanto para quem fez por merecer, quanto para quem fará por merecer, ainda que não faça por merecer no presente. 
      Misericórdia, entretanto, tem fim, Deus não pode nos enganar desequilibrando a balança da justiça, isso nos desviaria de persistirmos no único caminho que leva a ele, o caminho reto. Pode-se argumentar, “a Bíblia diz que as misericórdias de Deus não têm fim”. E não têm, ao justificado que anda em justiça, mas se cair e permanecer caído a justiça do universo, estabelecida por Deus, o cobrará. Nestes tempos de pandemia, atenção cristãos que não têm se cuidado, por se acharem protegidos pela fé e por negarem doença e vacinas, podem ter sido livrados até agora, pela misericórdia do Senhor, mas essa acaba. Temo que muitos ainda sofrerão com a Covid 19, daqui a um tempo, por não terem sido justos com eles mesmos.
      O texto bíblico inicial ensina sobre justiça, revela a condição que Deus usa para dar algo a alguém, ter que tirar de outro a mesma coisa e no mesmo tempo, para equilibrar as coisas. Nós, seres limitados, só vemos a nossa necessidade, mas Deus administra o mundo e seus sistemas, os bens e as terras do planeta, as hierarquias e posições sociais dos homens, tudo ao mesmo tempo. Por isso a passagem diz que Deus não estava dando terras a Israel porque a nação merecia, mas porque as outras nações não mereciam continuar possuindo essas terras, é claro o equilíbrio com o qual Deus zela o universo. Israel, ainda que pelo mínimo, obviamente também se colocou numa posição de obediência a Deus, que a fez digna da dádiva. 
      Deus não reage, mesmo com os que o rejeitam, que blasfemam seu nome e que o odeiam, com qualquer espécie de sentimento negativo, seja de rancor ou de agressividade, querendo dar algum troco, esse tipo de disposição vingativa não existe no Altíssimo. Ainda que Deus controle tudo, se existe inferno, sofrimento, derrota, perda de bens, de privilégios, de direitos, não existe como ação de contra-ataque de Deus, mas como efeito de escolha errada dos homens dentro deles, quando se colocam como inimigos da justiça e se afastam de Deus. O céu é perto do melhor de Deus, o inferno é longe, a bênção é próxima ao melhor de Deus, a maldição é distante, depende da escolha humana que coloca o homem perto ou longe de Deus.
      A expressão “o melhor de Deus” foi usada, porque o inferno não é um lugar onde Deus não está, Deus está em todos os lugares e tudo administra. Mas quem se afasta de Deus se coloca fora do melhor do Altíssimo, não tem direito às suas bênçãos, não porque está num lugar ruim, mas porque afasta sua consciência, seu espírito de Deus e por isso tem dentro de si um tormento. O plano espiritual é difícil de ser entendido com percepções do corpo físico, mas no Espírito Santo temos alguma iluminação para entendê-lo, ainda que no mundo e presos aos nossos corpos carnais. Assim, depende de cada um de nós buscarmos a Deus, nos libertando de tradições homens, quem buscar, achará, quem bater, lhe será aberta a porta. 
      Os escritores bíblicos, vivendo em civilizações bárbaras, que usavam guerras violentas como meio de existência, que buscavam o mundo espiritual para terem vitórias nessas guerras, obviamente viam Deus como o “Senhor dos Exércitos”, que destruía seus inimigos para beneficiá-los. Eles não tinham evolução moral e intelectual para entenderem a justiça divina do universo, e nem precisavam ter para que Deus os amasse e os ouvisse, mas hoje é diferente. Temos consciências evoluídas o suficiente para entendermos melhor como as coisas funcionam no plano espiritual, para interpretarmos a Bíblia com a ajuda do Esprito Santo, e para sabermos com mais precisão como Deus exerce misericórdia e sua eterna justiça.

Esta é a 85ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

24/04/22

Deus é justo! (84/90)

      “Regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas jóias. Porque, como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor para todas as nações.
Isaías 61.10-11

      Deus é perfeitamente justo em todo o tempo! Isso é uma afirmação, mas que para que sejamos justos deverá ser seguida por outra: não existe justiça no mundo! Ambas as afirmações são verdadeiras? Sim, dependendo do ponto de vista, e temos dois pontos de vista, o ponto de vista de Deus e o do homem. O ponto de vista de Deus é alto, nele o Senhor vê tudo e nada lhe escapa, essa é a referência espacial, a outra é temporal, Deus usa o tempo sem se limitar a ele. O ponto de vista do homem é limitado ainda que o homem não admita que seja. Limitado no espaço, já que na maioria das vezes o homem não vê nem o que está à sua frente, enxerga só seu próprio umbigo. Mas também é limitado no tempo, já que ele colhe o que acontece agora, mas não relaciona isso como efeito de causa que plantou no passado, assim como não aceita que o que planta hoje pode dar frutos no futuro. 
      Mas o que tem a ver ponto de vista com justiça? Pensemos num exemplo, a luta contra o racismo que enfim tem ganhado a força que sempre deveria ter tido. Multidões têm protestado e uma vida não é só mais uma vida, mas “uma vida importa”, forçando a justiça dos homens a dar para negros e brancos os mesmos direitos. Ainda que essa bandeira seja mais que legítima, muitos acusam alguns que a levantam de serem vitimistas, isso não é verdade. Se a luta parece exagerada é porque é efeito de uma causa igualmente exagerada, a crueldade de uma escravidão de séculos que gerou o preconceito. Sim, é a justiça de Deus sendo executada, e a justiça sempre busca isso, o equilíbrio, dar para um o mesmo que dá para outro sem privar ninguém de nada. Mas, então, por que demorou tanto para acontecer? Se Deus é justo, por que a justiça não foi feita antes? Por causa do livre arbítrio. 
      O direito ao livre arbítrio que Deus dá ao homem é o que entrega ao ser humano tanto a oportunidade para ser justo quanto para ser injusto, por ele a injustiça foi feita e só por ele a justiça será restabelecida no mundo. Demora? Não pelo ponto de vista de um Deus que trabalha no tempo ainda que não se limite a ele. Eu e você só temos consciência do presente em que vivemos, mas Deus vê tudo e nada que se planta fica sem colheita, em tempo nenhum. Não pense o homem que o que faz o faz só porque escolheu fazer, tudo faz parte de um plano, e esse plano nada tem a ver com teorias de conspiração. O diabo não faz nada, só é uma possibilidade de escolha ruim na cabeça dos homens, são os homens que realizam, contudo, um ser maior, mais alto, eterno e perfeito, em todas as virtudes, tem o controle de tudo sempre, Deus. Deus nunca deixa de fazer justiça, ainda que os homens achem que deixa. 
      A visão mais lúcida que podemos ter da realidade atual é nada mais, nada menos, que a continuidade da justiça divina agindo, e sempre será assim, se o fruto é amargo é porque a semente plantada foi ruim. A humanidade não pode reclamar de nada, o que tomou com violência com violência será retomado, o agressor será agredido. Entretanto, tome cuidado o que foi agredido, aposse-se de seus justos direitos com equilíbrio, não use mágoa como álibi para vingança, toda vingança, mesmo a aparentemente legítima e contra um opressor, é semente ruim e gerará fruto amargo. A humanidade de fato evoluirá quando parar de plantar errado, quando deixar de ser cruel e egoísta tanto quanto vingativa e rancorosa, quando quebrar o loop, então, a justiça de Deus se cumprirá, o homem achará paz, então, nos novos céus e na nova Terra, haverá harmonia, equilíbrio e vida eterna para todos os seres. 
      Enquanto isso não acontece a Terra muda de era para era, quem estuda um pouco de história universal entende isso, e as mudanças nunca acontecem rapidamente, ainda que à medida que os séculos passem as eras sejam menores. É um movimento semelhante ao de um pêndulo pendendo para lados opostos cada vez mais depressa e mais próximo ao centro, até que atinja o descanso. O século XX foi especialmente rápido, a civilização evoluiu técnica e moralmente em cem anos o que não evoluiu nos quinhentos anos passados. Eu penso que no momento atual estamos no limiar de um novo tempo, mas como em toda passagem existe um caos, um momento de distúrbio onde parece que não há referências. Se é assim conosco como indivíduos, por que não seria com a humanidade como um todo? Quem não se sentiu, quando passava da infância para a adolescência, perdido, estranho, confuso, deslocado? 
      Quem tem certeza não muda, dúvidas são necessárias, elas nos tiram do comodismo, ainda que seja para que no final entendamos que tínhamos desde o início o melhor dentro de nós adormecido, e que precisamos ser provados para que esse melhor viesse à tona e se firmasse. Grandes dívidas estão sendo cobradas da humanidade, a cobrança é para que o homem acorde de séculos de injustiças, de explorar e inferiorizar seres humanos pelo nível financeiro, pela cor da pele, pela sexualidade, pela religião. A justiça procura pela igualdade de direitos para que cada um seja diferente à sua maneira, eis o desafio. Mas se as virtudes mais altas que há na luz do Altíssimo, para a qual todos somos atraídos pelo amor de Deus, se elas são iguais, onde está a diferença? Eis o mistério que nós seres humanos temos muita dificuldade para entender, e todos os seres são singulares e exclusivos. 
      A diferença não está em nossos corpos, em nossas sexualidades, nas famílias em que fomos criados, nas condições financeiras que adquirimos, nas capacidades intelectuais e emocionais que temos, em nossas aparências externas, nem nos círculos sociais em que vivemos ou nos bens que temos. A diferença está em nosso interior, ela é espiritual e iluminada por virtudes morais que praticamos. O mundo até o momento não consegue ver o potencial que cada ser humano tem por ser diferente, ele tem acordado para isso, isso é certo, mas ainda se equivoca em muitas coisas porque valoriza demais a matéria. Se conseguíssemos ver o ser espiritual que habita o interior de cada ser, se conseguíssemos ver a luz espiritual, sua beleza, entenderíamos de fato quem cada homem e cada mulher é, e consequentemente, a vocação de cada um, sua razão de existir eternamente, seu lugar especial no universo. 
      O que segue agora é uma espécie de diálogo, com perguntas e respostas, entre alguém, cristão ou não, mas informado pela tradição cristã, com alguém que entende um Deus justo além dessa tradição. “E quanto a tantos que sofrem hoje, deverão continuar assim, sofrendo? E outros, como esses, sofrerão por anos até que a justiça se faça valer?” Sim. “E onde está o Deus justo?” Onde sempre está, no alto, respeitando o livre arbítrio. “Ele não faz nada por tantos que são injustiçados?” Faz, através de homens, Deus é espírito, não desce à Terra, mas age pelos homens. “Então Deus não é justo!”. Deus é justo, quem não é justo é o falso deus em que muitos cristãos dizem crer, se esse deus existisse não haveria injustiçados, a não ser quem escolhesse isso, mas como existem injustiçados que não escolhem isso, não é Deus quem está errado, mas está errado o que muitos creem que seja Deus. 
      Muitos cristãos, se avaliassem com sensatez o que dizem, não creriam no que dizem, mas mantendo uma espécie de insanidade conveniente, dizem que creem para agradarem a homens e por terem medo do “diabo” e do “inferno”, não por conseguirem praticar o que dizem. Eles não põem em prática porque é impossível de ser posto, é só superstição, que mantém templos lotados e gazofilácios cheios, será que isso será suficiente para encher o “céu”? Deus é justo, o homem não é e paga caro por isso, assim como pagam caro outros sem merecerem. Mas todos serão saciados pela justiça, se não aqui na eternidade, os exploradores serão julgados, os explorados serão consolados, nenhuma lágrima será esquecida assim como nenhum mal, ainda que feito na calada da noite, será olvidado. Deus é Senhor dos Exércitos que luta pela justiça e a faz prevalecer, seu justo reino é para sempre!

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos
Mateus 5.6

Esta é a 84ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021