quarta-feira, abril 27, 2022

Deus é uma experiência pessoal (87/90)

      “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados.”
 Jeremias 31.33-34

      Em quase cinco décadas vivendo com evangélicos, vi gente diferente convivendo em igrejas diferentes por motivos diferentes. O motivo espiritual inicial, que podia até ter sido uma paixão pura pelo evangelho, e que como toda paixão, mesmo pelo evangelho, passou, deu lugar a um propósito social. Alguns permaneciam em igrejas porque suas famílias estavam lá, outros porque queriam que suas famílias estivessem lá, outros porque os irmãos das igrejas eram as únicas famílias que tinham. Eles concordavam com tudo que igrejas e pastores diziam e eram? Não, mas isso nem importava mais, uma experiência individual tinha dado lugar a uma vivência coletiva que lhes dava a aprovação que careciam. 
      Deus é uma experiência pessoal. Se todos os seres humanos se dessem ao direito de serem livres para buscarem, acharem, crerem e praticarem aquilo que de fato vem diretamente da boca do Deus vivo para eles, eles conseguiriam ser coerentes consigo mesmos, não viveriam hipocrisias e poderiam experimentar de fato verdades espirituais. Isso quer dizer que não haveria igrejas? Haveria, mas não como reguladoras, como limitadoras, como ditadoras, como julgadoras, mas só como espaços para que crentes com uma parte significativa de crenças em comum se reunissem, sempre respeitando o indivíduo e dando oportunidade para que ele compartilhasse o que estivesse sinceramente querendo viver e praticando. 
      Esse tipo de comunidade necessitaria de líderes? Sim, mas humildes, muito mais que muitos que se acham líderes hoje são, ainda que muitos outros líderes, mesmo em sistemas equivocados, sejam humildes. Mas num sistema mais espiritual, líderes seriam mais monitores que donos de empresas, mais gerentes de ordem social, necessária a todo convívio civilizado. Vejo Jesus homem ensinando seus discípulos assim, ainda que fosse espiritualmente superior, ainda que tivesse muita intimidade com Deus, ainda que conhecesse a verdade maior sobre tudo de forma diferenciada, não dava ordens, nada impunha, não julgava ninguém, por isso Judas Iscariotes e outros ficaram com ele até o fim, ainda que mal intencionados.
      Numa comunidade que respeitasse indivíduos que se respeitam como religiosos com direitos a terem experiências pessoais, a verdade seria mostrada pelas prática de vida, pelo amor que age, pela justiça que trata todos com igualdade, pela santidade sincera e interior. Esse testemunho levaria as pessoas a Deus, não qualquer tipo de coação por medo, por preconceitos, por regras. Quanto aos que estivessem no meio dessas pessoas e tivessem outros interesses, que não fosse conhecer de fato a Deus, naturalmente cairiam fora, sem que ninguém os mandasse embora. A mentira não resiste à verdade, nem as trevas à luz, e se ficassem seria porque verdadeiramente Deus teria um interesse nisso, como teve com Iscariotes e outros. 
      Estamos falando uma utopia? Talvez, mas do jeito que as lutas sociais se levantam, que as farsas das religiões estão sendo reveladas, que a hipocrisia está cansando e deixando de fazer adeptos, que o mundo está vendo o preço caro que pagou pelo fato do cristianismo de homens não ter cumprido sua missão, pode não ser utopia. O tempo urge, o universo clama por juízo, a injustiça não ficará impune para sempre, os poderosos, seja pelos motivos que foram que os levaram a serem poderosos, estão com dias contados. Papa, padres, pastores e outros, que talvez até tenham recebido esses cargos por motivos legítimos, mas que não os merecem mais por terem pensado mais em si mesmos que nos pobres, não amedrontam mais. 
      É para padronizar o homem e manipulá-lo, tentando recria-lo à imagem de outros homens, o que acaba glorificando aquilo que chamam ou que se coloca como “diabo”, e não dando ao homem o direito de ser único e diferente, como ele o é no espírito, como Deus, o criador e pai de todos os espíritos, o fez, é que religiões foram criadas e se mantêm. Isso não é culpa só de maus líderes, de donos de igrejas, se um produto é vendido é porque tem quem o compre. Homens escolhem submeterem-se a homens porque lhes é mais cômodo, deixam o Deus Espírito e se rebaixam a ídolos, feitos por homens, à imagem de homens, os próprios homens e suas ideologias, com isso, repito, só o “diabo” e tudo que ele representa lucra. 
      Na padronização não há liberdade e paz, só prisão e agonia, mas na prisão há uma sensação de proteção, de pertencimento, de proximidade de semelhantes, de comunidade, a linguagem é a mesma, as vestes são as mesmas, as identidades são as mesmas, por isso tantas igrejas, tantas religiões, tantas cadeias. Não é fácil ser livre, não é para qualquer um, o horizonte infinito, ilimitado, dá medo, o mistério amedronta, mas por isso o justo deve viver por fé, para crer mesmo que não veja. Mas que fé é preciso para se viver numa prisão? Nenhuma, tudo já está revelado, delimitado, tudo é conhecido, e o que não é conhecido simplesmente é proibido, as paredes estão bem construídas, solidamente enquadradas. 
      Deus é uma experiência pessoal. Por mais que as pessoas tentem se convencer dentro de igrejas que o melhor para elas é serem iguais às outras, por mais que elas achem em homens referências, no fundo elas sabem, só serão felizes quando forem elas mesmas. Só Deus pode atrair as pessoas para serem seus melhores! Meus queridos e minhas queridas, se as pessoas amassem a Deus mais que qualquer outra coisa ou ser, isso as conduziria à verdadeira espiritualidade, à verdadeira religião, ao céu. Para responder com uma única frase à pergunta, “quem você será na eternidade?”: ame a Deus. Faça isso de todo o teu coração, com todo o teu entendimento, se o amor for verdadeiro te conduzirá a Deus, te transformará e isso bastará.
      Todas as religiões, todas elas, enquanto instituições humanas, organizações oficiais no mundo, não devem ser levadas tão a sério, respeitadas, sim, utilizadas (e não usadas) para aprendermos coisas importantes sobre Deus, sim, mas nunca sendo posicionadas acima de Deus ou como vozes diretas do Altíssimo. Jesus é uma manifestação plena, única e muito especial de Deus, acima de qualquer outro personagem de qualquer religião, ele é a porta para o Altíssimo, e o Espírito Santo que enviou, sua presença viva em nós. Nessa iluminação podemos enxergar Deus em vivências espirituais de várias religiões, contudo, não temamos os homens, o diabo, ou o pecado, tenhamos uma experiência pessoal com Deus.  
      O texto bíblico inicial de Jeremias revela algo muito importante sobre os últimos dias, não do mundo, mas de uma era, uma era em que imperou religião de homens. “Porei a minha lei no seu interior… não ensinará mais cada um a seu próximo… todos me conhecerão, desde o menor até ao maior”, essas palavras são de uma clareza profética singular, elas não falam de outra coisa senão da presença do Espírito Santo no interior dos homens. Com essa iluminação a prioridade para se conhecer a Deus não está em acatar púlpitos e mesmo palavras registradas em livros sacros, mas em ouvir a voz viva de Deus que fala diretamente a todos, sem distinção, numa comunhão onde não existem maiores nem menores, isso é o céu. 

Esta é a 87ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

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