“E foram a um lugar chamado Getsêmani, e disse aos seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu oro. E tomou consigo a Pedro, e a Tiago, e a João, e começou a ter pavor, e a angustiar-se. E disse-lhes: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui, e vigiai. E, tendo ido um pouco mais adiante, prostrou-se em terra; e orou para que, se fosse possível, passasse dele aquela hora. E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres.” Marcos 14.32-36
Fiz uma reflexão há um tempo atrás (“Problemas insolúveis”) e percebi que ela teve um número de acessos menor que as do mesmo período. Pode ter sido por outros motivos, mas entendo que as pessoas não gostam de palavras que dizem que certos problemas não têm solução. Aproveitando-se dessa infantilidade de muitos cristãos, é que pastores mal intencionados pregam indiscriminadamente sobre fé e milagres, principalmente crer para se receber bens materiais, não que fé não seja útil e que "milagres" não ocorram. Não aceitar que certos problemas são insolúveis, como o filho Ismael que Abraão teve com a escrava Agar (Gênesis 16), que teremos que administra-los até o fim sem ter solução definitiva, é acima de tudo não entender a vida do Cristo homem. Jesus sabia do seu fim, até orou para ser livrado, mas não foi. Sob o ponto de vista bíblico e judeu Ismael foi problema, não quero ser xenófobo aqui.
No momento que escrevo este texto, provo um tempo muito especial em minha vida, estabilidades emocional e material como nunca tive. Eu e minha esposa estamos empregados, honrados em nossas profissões, minhas filhas bem encaminhadas, morando na casa dos nossos sonhos, simples, pequena, mas até mais que o que precisamos. Contudo, tenho uma luta pessoal, meu espinho na carne, como diz Paulo em II Coríntios 12.7-9, desse problema Deus já deixou claro que não serei livrado, que terei que enfrenta-lo até o fim, ainda que ele me faça sofrer e me humilhe sempre que me confronto com as pessoas. Essa é minha parte de inferno que tenho que viver para ser aprovado por Deus e construir o céu em mim neste mundo.
Quando vamos entender que o que mais nos prepara para a melhor eternidade com Deus não é usufruir os sins, mas administrar os nãos? Quando vamos compreender que só alcançamos vida eterna vendo morrer orgulho e egoísmo? Quando vamos assumir que não crescemos sem dor, sem humilhação? Quando vamos aceitar que trabalhos pesados e que muitas vezes achamos injustos, são oportunidades para sermos seres melhores? Não confunda as coisas, isso não significa aceitar abusos e violências gratuitas, chamar de espiritualidade uma atitude masoquista e de falta de auto-estima, não é isso. Mas viver certo é sentir certo o sofrimento, para que valores morais, assim, espirituais, tenham relevância sobre materiais e aparentes.
José Osório de Souza, 25/02/2023
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