“E ainda que digam: Vive o Senhor, de certo falsamente juram. Ah Senhor, porventura não atentam os teus olhos para a verdade? Feriste-os, e não lhes doeu; consumiste-os, e não quiseram receber a correção; endureceram as suas faces mais do que uma rocha; não quiseram voltar. Eu, porém, disse: Deveras estes são pobres; são loucos, pois não sabem o caminho do Senhor, nem o juízo do seu Deus.” Jeremias 5.1-3
Costumo fazer aqui uma diferenciação entre o malandro e o louco. O malandro usa a fé ingênua dos outros para explorá-los e tirar vantagem pessoal, ele mesmo não crê, mas dissimula crer para enganar os crédulos. Já o louco crê em algo errado e quer convencer os outros sobre sua crença, ele também pode tirar vantagem com isso, mas em sua mente acredita estar fazendo a coisa certa. A linha de separação entre loucura e malandragem é tênue, muitos começam de um jeito e terminam do outro. O modus operandi do malandro é manipulação, pode até usar a verdade, e ainda que beneficie quem nela crê com boa sinceridade, não o livrará de avaliação negativa da justiça, principalmente quando usando o nome de Deus.
Vejo um líder político de direita dos últimos tempos como alguém que começou sua trajetória política como malandro, mas que se tornou um louco manipulador, influenciado e convencido, através de sua vaidade e egocentrismo, por outros, tanto malandros como loucos. Quando se usa o nome de Deus e religião para fins de poder na sociedade, para obtenção de riqueza e influência, há os dois, que se influenciam numa simbiose maligna. Os loucos carecem de plateia, os malandros precisam de mercado, um quer adoração, outro, dinheiro, um quer poder, outro, meios para adquirir prazer material. Seja como for, usar o nome de Deus e não ser ferramenta verdadeira usada por Deus, leva os seres a trevas e mentiras.
Podemos, então, tentar entender o sentido que textos bíblicos dão ao termo louco, não tem a ver com algum tipo de deficiência mental ou intelectual. O louco que a Bíblia cita é aquele que perde a referência de luz e verdade, e que não tem mais noção que perdeu, assim troca os valores, chama o certo de errado e o errado de certo. Usando o nome de Deus para justificar suas escolhas egoístas e vaidosas, o louco sempre se acha do lado de Deus, os outros, do lado do diabo, assim, por se achar aprovado por Deus, se acha no direito de cometer violências, pois não se vê como agressor criminoso, mas como soldado do exército divino. Para isso o louco usa mesmo textos bíblicos, em contexto errado, e encena unção do Espírito Santo.
Encenar a unção do Espírito, eis algo que me revolta, mas é algo que não é tão simples de se entender. Se Deus se compartilhasse só com os de nível espiritual mais elevado seu compartilhamento seria bem restrito, mesmo hoje no século XXI. Há manifestações do amor de Deus que nós não entendemos, e se entendêssemos não concordaríamos, mas pense em Deus como pai. Se nós humanos como pais, não temos filhos preferidos, ainda que tenhamos um filho problemático damos a ele a mesma atenção e o mesmo cuidado que damos a outro filho, que nos dá orgulho de chamar de filho, muito mais Deus. Mas há limite, Deus não pode enganar ninguém, nem por amor, assim como não há limite para as insanidades humanas.
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