“Porque pela graça que me foi dada, digo a
cada um dentre vós que não pense de si mesmo mais do que convém; mas que pense
de si com equilíbrio, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e todos os
membros não têm a mesma função, assim também nós, embora muitos, somos um só
corpo em Cristo e, individualmente, membros uns dos outros.
De modo que temos diferentes dons segundo a graça que nos foi
dada: se é profecia, que seja de acordo com o padrão da fé; se é serviço, que
seja usado no serviço; se é ensino, que seja exercido no ensino; ou quem
encoraja, use o dom para isso; o que contribui, faça-o com generosidade; quem
lidera, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.” (Romanos 12.3-8)
É
preciso mais cuidado com aquilo que se fala nos púlpitos, principalmente nos púlpitos
pentecostais, onde a paixão humana muitas vezes toma a frente da razoabilidade
e principalmente da unção do Espírito Santo. (Bem, eu creio que a verdadeira
unção equilibra tudo: emoção e razão.) Quanta bobagem se fala por falta de
conhecimento, quanta informação histórica e sociológica imprecisa é gritada
como se fosse verdade absoluta, quanta superficialidade de filosofia e
psicologia é declarada para apoiar teologia barata, e principalmente, quanto
descaso com a língua portuguesa é feito.
Sim,
e também existe muito desconhecimento bíblico, ausência de interpretação
coerente com o contexto histórico e social, e mesmo de discernimento entre o que é
metafórico e o que é real. Já vou pedindo desculpas por esta reflexão, mas ela é
um desabafo de quem tem um espinho na carne, semelhante à experiência descrita
pelo apóstolo Paulo, no meu caso, o espinho é pouca paciência com falso
intelectualismo, ou sendo mais direto, com gente sem noção que se posta como
sendo sem ser e nem querer realmente ser.
Talvez
a pergunta mais correta a fazer seja: para que serve o intelectualismo? Na
verdade, para a salvação das vidas, para a comunhão perfeita com Deus, para a
cura de males espirituais e mesmo psicológicos e físicos, não serve. A oração
feita com fé a Deus através de Cristo é eficaz para resolver muitos problemas
da alma, do corpo e do espírito. Mesmo a medicina é um compreender de causas e
efeitos, mau funcionamento do organismo humano é curado com medicamentos e
tratamentos objetivos, nada de subjetivo existe nisso.
Mas
nossa razão não pode ser desprezada, afinal de contas Deus fez o homem corpo,
alma e espírito, existem prioridades nessa tricotomia, mas a alma que administra
a razão e a emoção, que faz a ligação entre o espírito e o corpo, tem um valor
importante nas relações interpessoais. É aprendendo e ensinando que se vive em
uma sociedade que caminha para o desenvolvimento e a auto-sustentabilidade. Se
fôssemos somente espírito passaríamos toda a nossa existência humana numa
contemplação espiritual, adorando a Deus, sem precisar trabalhar, procriar, dormir
ou se alimentar, isso só ocorrerá na eternidade.
Contudo,
o calcanhar de Aquiles da intelectualidade é a vaidade, enquanto a verdadeira
espiritualidade conduz à humildade e ao equilíbrio, a intelectualidade conduz à
prepotência e ao egoísmo. Veja que isso não precisa necessariamente estar
ligado à maldade, pode-se ser prepotente e egoísta e ser caridoso e indulgente ao
mesmo tempo, a arrogância pode estar guardada a sete chaves dentro do coração, escondida
de todos, muitos religiosos e espiritualistas existem assim.
Todavia,
pior que a vaidade dos que são intelectuais legítimos é a vaidade daqueles que
acham bonito ser intelectual, veem relevância nisso, mas não desejam pagar o
preço para adquirirem essa intelectualidade. É nesse ponto que volto ao povo de
Deus, às igrejas cristãs, aos púlpitos. Na arrogância de se acharem melhor
porque são filhos de Deus, porque têm a “unção”, muitos pregadores menosprezam
a filosofia e a ciência. Falam de tudo sem conhecimento, sem propriedade, por
pura vaidade, para parecerem intelectuais, ou mesmo melhores até que eles. Nessa
disposição é que se fala tanta bobagem na frente das congregações.
Mas ainda pior que tudo é que muitos que estão sentados ouvindo, frutos que são não só de uma
igreja perneta e desfocada como também de uma sociedade que não dá valor aos
estudos e nem à cultura e à arte, acabam achando que esses pregadores são
intelectuais de verdade. Eis aí outra função, que não é a primeira, mas que é
relegada pela igreja, a educação social, esse é o caminho mais correto e eficaz
para bons empregos e consequente prosperidade material. A infeliz verdade,
contudo, é que o povo não quer estudar, não quer ler, eles têm como exemplo
muitos pastores que também pensam assim, então fica mais fácil pregar fé em
milagres financeiros: esse é o dia a dia da igreja cristã atual brasileira, esperar
que as coisas caiam do céu, pedem oração para irem bem numa prova, mas não
abrem o livro para estudar.
Não,
Jesus não precisa de faculdade e bons livros para salvar ninguém, muito menos
de uma pregação falada num português corretíssimo, mas que isso não seja
desculpa para a ociosidade. Primeiro temos que ser salvos, transformados
espiritualmente, mas depois temos um longo e esplêndido caminho a percorrer nos
tornando seres humanos melhores para fazer uma diferença plena e eficiente na
sociedade como um todo.
Que
os pregadores comecem dando o exemplo, deixando o pseudo-intelectualismo, a
vaidade de invejar filósofos e humanistas, tentando imitá-los, mas de forma
incompetente e enganosa. Para isso que estudem mais, que leiam mais, que
escrevam mais, mas principalmente, que tenham a humildade de não se apropriarem
de conhecimentos que eles realmente não têm. Se não houver vontade de aprender,
que se limitem à Bíblia, bem, ela na verdade é auto-suficiente, mas que façam
isso também com verdade.
“E, se o que alguém constrói sobre esse
alicerce é ouro, prata, pedra preciosa, madeira, feno ou palha, a obra de cada
um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada pelo
fogo, e o fogo testará a obra de cada um. Se a obra que alguém construiu
permanecer, este receberá recompensa. Se a obra de alguém se queimar, este sofrerá
prejuízo, mas será salvo, como alguém que passa pelo fogo.” (I Coríntios
3.12-15)
(Essa reflexão não é uma crítica à falta de intelectualidade já que conhecimento intelectual não é pré-requisito para que Deus abençoe ou use uma pessoa, também não releva o estudo e a formação acadêmica posto que Deus nos deu inteligência para que seja usada e desenvolvida, mas é uma palavra contra os falsos intelectuais que se postam como sendo algo que não são para manipular o povo de Deus e agradar suas próprias vaidades.)