quinta-feira, dezembro 05, 2013

Pseudo-intelectualismo nos púlpitos

Porque pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo mais do que convém; mas que pense de si com equilíbrio, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.
Pois assim como em um corpo temos muitos membros, e todos os membros não têm a mesma função, assim também nós, embora muitos, somos um só corpo em Cristo e, individualmente, membros uns dos outros.
De modo que temos diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se é profecia, que seja de acordo com o padrão da fé; se é serviço, que seja usado no serviço; se é ensino, que seja exercido no ensino; ou quem encoraja, use o dom para isso; o que contribui, faça-o com generosidade; quem lidera, com zelo; o que usa de misericórdia, com alegria.” (Romanos 12.3-8)

É preciso mais cuidado com aquilo que se fala nos púlpitos, principalmente nos púlpitos pentecostais, onde a paixão humana muitas vezes toma a frente da razoabilidade e principalmente da unção do Espírito Santo. (Bem, eu creio que a verdadeira unção equilibra tudo: emoção e razão.) Quanta bobagem se fala por falta de conhecimento, quanta informação histórica e sociológica imprecisa é gritada como se fosse verdade absoluta, quanta superficialidade de filosofia e psicologia é declarada para apoiar teologia barata, e principalmente, quanto descaso com a língua portuguesa é feito.
Sim, e também existe muito desconhecimento bíblico, ausência de interpretação coerente com o contexto histórico e social, e mesmo de discernimento entre o que é metafórico e o que é real. Já vou pedindo desculpas por esta reflexão, mas ela é um desabafo de quem tem um espinho na carne, semelhante à experiência descrita pelo apóstolo Paulo, no meu caso, o espinho é pouca paciência com falso intelectualismo, ou sendo mais direto, com gente sem noção que se posta como sendo sem ser e nem querer realmente ser.
Talvez a pergunta mais correta a fazer seja: para que serve o intelectualismo? Na verdade, para a salvação das vidas, para a comunhão perfeita com Deus, para a cura de males espirituais e mesmo psicológicos e físicos, não serve. A oração feita com fé a Deus através de Cristo é eficaz para resolver muitos problemas da alma, do corpo e do espírito. Mesmo a medicina é um compreender de causas e efeitos, mau funcionamento do organismo humano é curado com medicamentos e tratamentos objetivos, nada de subjetivo existe nisso.
Mas nossa razão não pode ser desprezada, afinal de contas Deus fez o homem corpo, alma e espírito, existem prioridades nessa tricotomia, mas a alma que administra a razão e a emoção, que faz a ligação entre o espírito e o corpo, tem um valor importante nas relações interpessoais. É aprendendo e ensinando que se vive em uma sociedade que caminha para o desenvolvimento e a auto-sustentabilidade. Se fôssemos somente espírito passaríamos toda a nossa existência humana numa contemplação espiritual, adorando a Deus, sem precisar trabalhar, procriar, dormir ou se alimentar, isso só ocorrerá na eternidade.
Contudo, o calcanhar de Aquiles da intelectualidade é a vaidade, enquanto a verdadeira espiritualidade conduz à humildade e ao equilíbrio, a intelectualidade conduz à prepotência e ao egoísmo. Veja que isso não precisa necessariamente estar ligado à maldade, pode-se ser prepotente e egoísta e ser caridoso e indulgente ao mesmo tempo, a arrogância pode estar guardada a sete chaves dentro do coração, escondida de todos, muitos religiosos e espiritualistas existem assim.
Todavia, pior que a vaidade dos que são intelectuais legítimos é a vaidade daqueles que acham bonito ser intelectual, veem relevância nisso, mas não desejam pagar o preço para adquirirem essa intelectualidade. É nesse ponto que volto ao povo de Deus, às igrejas cristãs, aos púlpitos. Na arrogância de se acharem melhor porque são filhos de Deus, porque têm a “unção”, muitos pregadores menosprezam a filosofia e a ciência. Falam de tudo sem conhecimento, sem propriedade, por pura vaidade, para parecerem intelectuais, ou mesmo melhores até que eles. Nessa disposição é que se fala tanta bobagem na frente das congregações.
Mas ainda pior que tudo é que muitos que estão sentados ouvindo, frutos que são não só de uma igreja perneta e desfocada como também de uma sociedade que não dá valor aos estudos e nem à cultura e à arte, acabam achando que esses pregadores são intelectuais de verdade. Eis aí outra função, que não é a primeira, mas que é relegada pela igreja, a educação social, esse é o caminho mais correto e eficaz para bons empregos e consequente prosperidade material. A infeliz verdade, contudo, é que o povo não quer estudar, não quer ler, eles têm como exemplo muitos pastores que também pensam assim, então fica mais fácil pregar fé em milagres financeiros: esse é o dia a dia da igreja cristã atual brasileira, esperar que as coisas caiam do céu, pedem oração para irem bem numa prova, mas não abrem o livro para estudar.
Não, Jesus não precisa de faculdade e bons livros para salvar ninguém, muito menos de uma pregação falada num português corretíssimo, mas que isso não seja desculpa para a ociosidade. Primeiro temos que ser salvos, transformados espiritualmente, mas depois temos um longo e esplêndido caminho a percorrer nos tornando seres humanos melhores para fazer uma diferença plena e eficiente na sociedade como um todo.
Que os pregadores comecem dando o exemplo, deixando o pseudo-intelectualismo, a vaidade de invejar filósofos e humanistas, tentando imitá-los, mas de forma incompetente e enganosa. Para isso que estudem mais, que leiam mais, que escrevam mais, mas principalmente, que tenham a humildade de não se apropriarem de conhecimentos que eles realmente não têm. Se não houver vontade de aprender, que se limitem à Bíblia, bem, ela na verdade é auto-suficiente, mas que façam isso também com verdade.

E, se o que alguém constrói sobre esse alicerce é ouro, prata, pedra preciosa, madeira, feno ou palha, a obra de cada um se manifestará; pois aquele dia a demonstrará, porque será revelada pelo fogo, e o fogo testará a obra de cada um. Se a obra que alguém construiu permanecer, este receberá recompensa. Se a obra de alguém se queimar, este sofrerá prejuízo, mas será salvo, como alguém que passa pelo fogo.” (I Coríntios 3.12-15)

          (Essa reflexão não é uma crítica à falta de intelectualidade já que conhecimento intelectual não é pré-requisito para que Deus abençoe ou use uma pessoa, também não releva o estudo e a formação acadêmica posto que Deus nos deu inteligência para que seja usada e desenvolvida, mas é uma palavra contra os falsos intelectuais que se postam como sendo algo que não são para manipular o povo de Deus e agradar suas próprias vaidades.)

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