14/10/25

Tantas religiões (2/5)

      “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão.” Gálatas 3.8-9

      Abaixo, uma lista com alguns fundadores, criadores e codificadores de tradições religiosas (links individuais em fonte). Selecionei 40, desses, 18 (*) têm base na tradição judaico-cristã. O entendimento de muitos cristãos dessa lista, ainda que não assumido, é um: “22 dessas religiões não são de Deus, 18, são”. Pareço extremista? Mas essa é a realidade que muitos cristãos devem assumir, baseados em suas doutrinas e nos ensinos de seus líderes nos púlpitos de suas igrejas. “Um número enorme de seres humanos, em todo o mundo e ao longo da história, teve em suas religiões ensinos que não os levou ao céu, passados por espíritos malignos enganadores”, se não é isso, então, o que se diz não é o que se crê em muitas igrejas. 
      Uma verdade que muitos cristãos que se consideram donos da verdade maior não aceitam: Deus permite a cada ser humano, em tempos e lugares diferentes, a espiritualidade que cada um pode administrar para estar mais perto dele. No mundo atual existe um número enorme de pessoas que não é cristão, nasceu em outras religiões e morrerá assim. Haja inferno, se o fim desses seres humanos for a condenação só porque nunca puderam ser batizados e doutrinados no evangelho. Por outro lado, um estudo de muitas religiões revelará pontos em comum entre elas, ritos e objetivos parecidos, se Deus a todos chama, por que só alguns responderiam esse chamado por Cristo, não pelos meios que têm em mãos em suas realidades? 
      Muitos dizem: “conheço gente que era infeliz numa religião, foi para a igreja evangélica e a vida mudou”. Se de fato isso é verdade, primeiro, a pessoa era viável para ser evangélica, vivia perto de gente que lhe falou do evangelho e pôde frequentar uma igreja evangélica, isso não acontece com todo mundo no planeta. Segundo, talvez o lugar de Deus para essa pessoa fosse igreja evangélica, não outra religião. Por outro lado há muita gente feliz em outras religiões assim como infeliz em igreja evangélica, o lugar melhor para cada um vivenciar espiritualidade é Deus quem sabe. Mesmo “felicidade” frequentando igreja e tendo religião é algo variável, muitos só querem a vida social de uma comunidade, a doutrina pouco importa. 
      A verdade é que muitos evangélicos, refugiados em suas bolhas, e ainda que socialmente respeitando outros religiosos, não fazem ideia do que acontece dentro de outros cultos religiosos, no máximo têm uma visão distorcida, preconceituosa e pessimista, aliando o que não se encaixa em suas doutrinas ao capeta. A vida não é tão simples assim, aqui e no além, mas ao mesmo tempo é mais simples que muitos acham que é. Para quem ama há luz, assim espera o melhor mesmo sem entender, vê portas abertas mesmo sem saber, enxerga o sincero do bem mesmo atrás das capas de religiosidades diferentes. O humilde e temente a Deus vislumbra de antemão aquilo que muitos só olharão na eternidade, assim é mais feliz e tem paz com todos.

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      Lista com alguns fundadores, criadores e codificadores de tradições religiosas:

      - Antes do ano 500

  • Hinduísmo/Bramanismo (fonte)
  • Abraão, Judaísmo *
  • Amósis I, adoração monoteísta de Amon-Rá
  • Aquenáton, Atonismo 
  • Moisés, Judaísmo *
  • Zoroastro, Zoroastrismo
  • Lao-Tsé, Taoísmo
  • Confúcio, Confucionismo
  • Pitágoras, Pitagorismo
  • Siddhartha Gautama (o Buda), Budismo
  • Platão, realismo platónico
  • Epicuro, Epicurismo 
  • Zenão de Cítio, estoicismo
  • Jesus Cristo, cristianismo *
  • Gnosticismo (fonte) *
  • Maniqueu, maniqueísmo
  • Catolicismo (fonte) * 

      - Medieval e Moderna 

  • Bodhidharma, zen
  • Maomé, islão
  • Martinho Lutero, protestantismo *
  • Henrique VIII de Inglaterra, anglicanismo *
  • João Calvino, calvinismo *
  • John Knox, presbiterianismo *
  • John Smyth, igreja batista *
  • Avvakum, igreja ortodoxa russa *
  • John Wesley, metodismo *
  • Candomblé (fonte
 
     - Após o ano 1800

  • Masaharu Taniguchi, Seicho-no-ie 
  • Allan Kardec, espiritismo moderno *
  • Meishu-Sama, messianismo oriental
  • Joseph Smith Jr., mormonismo *
  • James White, Igreja Adventista do Sétimo Dia *
  • Mary Baker Eddy, ciência cristã *
  • Helena Blavatsky, teosofia 
  • Charles Taze Russell, Testemunhas de Jeová *
  • Aleister Crowley, thelema
  • William Seymour, pentecostalismo *
  • Gerald Gardner, wicca
  • Zélio Fernandino de Moraes, Umbanda 
  • Anton LaVey, satanismo

José Osório de Souza, 15/02/2023

13/10/25

Final dos tempos (1/5)

      “E naquele tempo se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta a favor dos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas naquele tempo livrar-se-á o teu povo, todo aquele que for achado escrito no livro. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça, como as estrelas sempre e eternamente. E tu, Daniel, encerra estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e o conhecimento se multiplicará.Daniel 12.1-4 

      “E naquele tempo”, em que tempo será esse tempo? Daniel fala de um tempo de angústia como nunca houve. “Livrar-se-á o escrito no livro”, que livro é esse? Haverá uma ressurreição, será no corpo físico e neste mundo ou no espírito e no outro plano? “Os que ensinam a justiça resplandecerão”, mas a Daniel convinha esperar, muita coisa ainda aconteceria no mundo, “o conhecimento se multiplicaria”. Já não evoluiu a ciência, a internet, a sociedade? Acho covarde pôr dúvidas nas crenças de muitos e ficar em cima do muro, assim posiciono-me diante de homens e de Deus: muitos entendem a Bíblia errado, assim recebem ajuda limitada para vencerem o mal e se prepararem para o “final dos tempos”, seja isso o que for. 
      É importante entendermos que o cristianismo espera os últimos tempos desde o início de sua história, Paulo já exortava tessalonicenses a respeito em suas cartas, e mesmo em Atos, a vida comunitária dos primeiros convertidos, mostrava a crença que não valia a pena investir na existência secular. Na verdade sempre que a igreja experimenta alguma espécie de “avivamento” acha que o mundo vai acabar, quem já não teve experiência assim? É o encantamento e a ilusão que a paixão traz, e essa existe mesmo se provamos experiência com base espiritual, contudo, como toda paixão, passa. Então, não nos enganemos nos achando mais merecedores de viver o final dos tempos que achavam outros cristãos em outros tempos.
      “O livro da vida onde estão listados os nomes dos salvos”, bem, esse é um entendimento antigo de um homem antigo, no tempo que poucos sabiam ler e menos ainda escreviam, assim ter o nome registrado num papiro, couro, pedra ou outro material, era um privilégio. Talvez, se muitas profecias fossem recebidas hoje diríamos que os nomes estariam escritos numa mensagem de celular divino. Enfim, o que importa não é a interpretação ao pé da letra, mas o princípio. Eu penso que há algo mais nesse livro, mas a nós não compete entender ou explicar muitas coisas, só fazer o nosso melhor para que de algum jeito tenhamos direito à melhor eternidade com Deus. Isso não se faz na última hora, mas perseverantemente durante uma vida. 
      Quem sabe ou acha que sabe gosta de falar, eu acho que sei por isso escrevo aqui, se sei de fato, a eternidade dirá. Mas me chama a atenção as frases “os que ensinam a justiça resplandecerão” e “o conhecimento se multiplicará”, ambas se relacionam à informação. De fato vivemos um tempo especial para a informação. Internet, redes sociais e celulares comunicam todos com todos em todo o tempo, mas até que ponto o que se compartilha é útil para conduzir à vida eterna? Quem ensina a justiça é iluminado, mas não a justiça de homens ou de religiões, a do Espírito de Deus. Hoje, contudo, ficou mais difícil, no meio de tanta news e fake news, saber o que é justiça, assim, quando muitos falam, mais sábio é calar-se. 

José Osório de Souza, 15/02/2023

12/10/25

Espiritual X Mental

      “Na multidão dos meus pensamentos dentro de mim, as tuas consolações recrearam a minha alma.Salmos 94.19

      Temos acesso ao mundo espiritual pela mente, podemos entender a voz do Senhor focando nossos pensamentos. Contudo, enquanto o espiritual não está limitado pela matéria, não se cansa, tem acesso a um Deus perfeito e que ama em todo tempo, o mental é humano, entedia-se, desespera-se, exalta-se, encanta-se, ilude-se. Viver é administrar espiritual e mental com humildade, isso tem propósito de Deus para nos aperfeiçoar moralmente. Muitas vezes, ainda que queiramos de todo o coração acertar certas coisas, receber de Deus uma palavra especial, nossa mente está sobrecarregada, ansiosa, deprimida, assim o próprio Espírito Santo nos diz, “espera, você ainda não está pronto”. Nos conhecer e nos respeitar é preciso. 
      A palavra de Deus sempre nos dá o melhor que podemos receber no momento, pode não ser o máximo de Deus, mas é o máximo nosso. Cabe-nos acatar e não desistir, ainda que com humildade e sem desespero, se hoje não estamos preparados, uma hora estaremos, tenhamos paciência, não com Deus, com nós mesmos. A comunicação espiritual encontra nas mentes humanas restrições intelectuais, emocionais, morais, religiosas, Deus não fala a um adolescente como fala a um adulto com doutorado, nem a um cristão como fala a um muçulmano. Na verdade a palavra de Deus é uma só, mas entendemos diferente conforme nossa mente, por isso lemos o mesmo texto bíblico tantas vezes e sempre achamos ensino renovado.
      É importante não confundirmos as coisas, limitarmos Deus à mente humana, acharmos que porque sabemos tudo que podemos, sabemos tudo que há. Também é importante não limitarmos Deus às emoções, não é porque nos sentimos mal que Deus está “bravo” conosco, também não é porque estamos alegres que Deus se agrada conosco. Enganoso é o coração, a Bíblia se refere aos sentimentos em Jeremias 17.9, emoções são influenciadas pelos pensamentos e esses podem ser confusos, fantasiosos, doentios. Por isso fé é tão importante numa experiência com Deus, ela independe do que se sabe ou se sente, ainda que se verifique isso e se poste com equilíbrio e maturidade. Deus nos fala pela mente, mas a mente não cria Deus. 
      Um dos argumentos dos ateus é esse, Deus e o mundo espiritual são construções humanas, não existem a não ser nas mentes dos homens. De fato as religiões institucionalizadas são construções humanas, mas o Espírito de Deus não é, ainda que cada ser humano entenda o mundo espiritual à sua maneira. Se há vaidade e arrogância, mesmo entendimentos parciais do verdadeiro Deus conduzem a criação de fechados muros, dividem a humanidade, em última instância levam até a guerras. Mas se há amor e humildade, mesmo a limitação da mente humana, leva à construção de portas e pontes, que adicionam à experiência pessoal de um a experiência singular do outro. Jesus entregou-nos isso, a possibilidade do céu aqui, pelo menos dentro de nós. 

11/10/25

Já olhou o mundo espiritual hoje?

      “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos, conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.I Coríntios 12.1-7

      Você já deu uma olhada no plano espiritual hoje? A um cristão tradicional seria melhor perguntar, você já orou hoje? Como já disse aqui antes, orar pode ser bem mais que pedir coisas a Deus e agradecer por coisas recebidas. Contudo, e por achar que oração é só isso, muitos desistem de orar, simplesmente não acham mais graça, mais prazer, mais retorno espiritual em dizer as mesmas coisas sempre do mesmo jeito. Pode haver um lado positivo nessa insatisfação, Deus estar pedindo algo mais profundo na oração. Mas como também já disse aqui, não confunda oração feita de qualquer jeito, ou simples preguiça de orar, com ter ido até onde podia com experiências básicas de oração que estão pedindo experiências avançadas
      Antes éreis guiados aos ídolos mudos, interessante o modo como Paulo começa suas orientações sobre dons espirituais. Infelizmente muitos cristãos hoje, principalmente católicos, mas também muitos protestantes e mesmo pentecostais, continuam, tendo experiência com um Deus mudo. A igreja católica tirou a legitimidade de dons quando começou a existir como tal, não necessariamente quando Constantino conectou estado (império romano) e religião (cristianismo + paganismo). A reforma protestante não mudou isso, e muitos pentecostais hoje também não dão tanta liberdade para exercício de dons. O motivo é prático, fica difícil dar liberdade a qualquer um que se levanta falando em nome de Deus, é algo um tanto subjetivo (e perigoso para os que querem controlar as igrejas). 
      Se o ser humano tem a tendência de assentar-se em extremos, também tem a de trocar liberdade de escolha por obediência cega a leis. Ainda que Jesus tenha entregue a nova aliança de amor, que é de liberdade e do Espírito de Deus, que pretendeu trocar isso pela velha aliança da lei de Moisés, pouco tempo após a ressurreição do Cristo os homens já trocaram a nova aliança por uma nova religião de leis. O antigo testamento de Moisés foi expandido num cânone bíblico protestante de sessenta e seis livros relevando a genuína nova aliança de Jesus. Hoje a bibliolatria manda nas igrejas protestantes, se considera tudo que está escrito no cânone bíblico palavra direta de Deus e registros históricos do chamado povo de Deus. 
      Troca-se algo que pode dar trabalho monitorar, checar, mas que pode conduzir os seres humanos à maturidade espiritual, àquilo que Jesus inaugurou, por leis que nivelam por baixo, que prendem à infantilidade. Enfim, foi isso que a humanidade pôde administrar pela igreja católica por +/- 1.700 anos e por igrejas protestantes por +/- 400 anos. Todavia, o tempo de ordens secretas e ocultistas, esotéricas e espiritualistas, como meios únicos para investigar mundo espiritual, meios demonizados pelo cristianismo da tradição judaico-cristã, acabou. É tempo de buscarmos iluminação em plena luz, sem medo de líderes religiosos, sem preguiça, tendo Jesus como porta e o Espírito Santo como professor. Já olhou o mundo espiritual hoje? 
      Olhar o mundo espiritual é descansar o coração das ansiedades, a mente de expectativas, focar em ver e ouvir o que Deus quer mostrar e falar. Muitas vezes o Espírito só dirá, “fica em paz, tua oração foi ouvida, Deus te abençoa, siga na vigilância por santidade, humildade e amor”. Mas quem persiste com limpeza de alma, pureza de intenções, em fé e discrição, prova do Espírito. Isso não é algo que pode-se definir em fórmula, é experiência que cada um deve esforçar-se por achar a sua, pacientemente checando busca com frutos de vida eterna à luz da verdade. Sim, podemos nos enganar no início, confundir criações mentais com revelações espirituais, mas com trabalho duro eleva-se até o topo do monte e vislumbra-se maravilhas. 

      Não devo dar o peixe, mas tentar ensinar a pescar, cada um com a vara que trabalhou para construir e no pedaço de rio que lhe é permitido…

10/10/25

Estamos ou somos? (5/5)

      “Porventura não esquadrinhará Deus isso? Pois ele sabe os segredos do coração. Sim, por amor de ti, somos mortos todo o dia; somos reputados como ovelhas para o matadouro. Desperta, por que dormes, Senhor? Acorda, não nos rejeites para sempre. Por que escondes a tua face, e te esqueces da nossa miséria e da nossa opressão? Pois a nossa alma está abatida até ao pó; o nosso ventre se apega à terra. Levanta-te em nosso auxílio, e resgata-nos por amor das tuas misericórdias.Salmos 44.21-26

      Não é escolha o que muitos são, é característica, parte da essência do ser humano que o acompanhará até o fim neste mundo, e essência de espírito, não de corpo. Não é configuração, usando um termo da informática, onde software pode receber update, até upgrade, mas especificação técnica, fixa, inalterável, de hardware. O que leva muitos conservadores a desacreditarem disso, é acharem que por fé tudo é possível, e que isso, mudar a realidade pela fé, é prova de espiritualidade maior, assim mais digna do céu. Não entendem que espiritualidade maior exige, não mudar certas coisas, mas aceitar e conviver com coisas imutáveis, isso pede humildade. Aceitar do jeito certo é mais difícil que mudar a qualquer custo, e muitos querem cristianismo para mudar, não para aceitar.
      Por exemplo, muitos que nasceram com características físicas masculinas, querem ser tratados como mulheres não por terem escolhido isso, por estarem mulheres, por sentirem-se assim num momento e por poderem sentir-se de outro jeito em outro momento. Não é isso. Muitos nasceram com características físicas masculinas, mas possuem almas com necessidades afetivas, e com efeito, físicas, femininas. Isso não vai mudar! Quando sentiram e assumiram isso ganharam paz e certezas que não tinham, quando ainda lutavam para aceitar o que sempre foram. Isso não significa que existam homens, com características físicas masculinas e com uma alma masculina, que não provem relações homossexuais, mas isso é outra coisa. 
      Faço uma diferenciação aqui que pode ir contra o que a esquerda pensa, tanto quanto com o que pensa a direita. Esse é um exemplo de como a verdade é mais difícil de achar porque requer avaliação de todos os pontos, não ser extremista, mas achar equilíbrio, e principalmente, o melhor de Deus. Para a esquerda a liberdade deve ser total, ainda que a pessoa não seja homossexual, pode ter relação física homossexual se achar que isso lhe dá prazer. Já para a direita a pessoa não pode ter relação homossexual nunca, ainda que seja homoafetiva de alma e sempre, não só por uma escolha física de prazer. Na verdade a diferenciação que faço é definir homoafetivo como identidade da alma, mais que do corpo, corpo só recebe o efeito da alma. 
      Achando-se mais crentes, porque têm mais fé, muitos cristãos estão mais arrogantes e cruéis com quem tem características que não mudarão nem com fé que move montanha. Isso nos leva a concluir que muitos cristãos não entendem a melhor vontade de Deus para suas vidas, o propósito de suas existências aqui, assim como o exemplo que houve na vida do Cristo homem. Sempre cito aqui o termo “melhor vontade de Deus”, porque nada acontece sem ser vontade de Deus, incluindo coisas ruins, mas principalmente coisas não tão boas acontecem porque Deus permite na insistência de crentes sinceros mas imaturos. Já estamos no tempo da história da humanidade de provarmos, não só a vontade de Deus, mas sua melhor vontade.
      Estou ou sou? Antes as pessoas demoravam mais tempo para assumirem que o que sentiam ser não era vontade momentânea, não era pecado, mas suas íntimas essências clamando pelo direito de realizarem-se. Parece que as últimas gerações têm realizado essa assunção com mais facilidade e em menos tempo, é isso que tem escandalizado muito cristão conservador. Experiência ocorre dentro da casa do que durante anos levou filhos a igrejas, doutrinando-os na tradição judaico-cristã, que constata na adolescência dos filhos que Deus não criou só homem e mulher. Triste para tantos, trágico para outros, mas falta de humildade e amor para muitos, que não acham no conservadorismo jeito certo de interagir com a verdade porque nesse conservadorismo não há a verdade perene e irrevogável.  

José Osório de Souza, 9/03/2023

09/10/25

Evangelho progressista? (4/5)

      “O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.I Coríntios 13.4-7 

Desculpe-me, se repetir o texto acima torna-se óbvio, até superficial, mas não é, aliás, é o mais importante a sabermos no tema desta reflexão.

      Entende-se como progressista quem pensa o trajeto da humanidade como evolutivo, de mudanças para melhorias em muitas áreas. Já o termo conservador pensa a humanidade como já recebedora de referências corretas e terminais em muitas áreas, assim, bases não precisam ser modificadas. Progressismo de Deus nos torna mais espirituais, não menos, já conservadorismo de homens limita nossa espiritualidade. Parece ser o oposto do que muitos cristãos pensam, mas os que buscam a Deus de todo o coração entendem e aceitam isso. Por outro lado, quem usa progressismo de homens, se perderá mais que o que usa conservadorismo sobre Deus, e não de Deus, assim pode ser mais adequado ser conservador certo que progressista errado.  
      Eu penso que o caminho melhor disponível hoje ao ser humano é o progressista, usando a tradição judaico-cristã como base, como início, não fim. Deus é progressista, não é conservador, ainda que durante muito tempo o mundo o tenha conhecido por meios conservadores. Mas isso é limite dos homens, não de Deus. Uma característica do progressismo: seriedade e respeito com diferenças. Infelizmente muitos conservadores se mostram muitas vezes usando escárnio e chacota com um assunto tão sério como a causa lbgtqia+, só por crerem que a tradição judaico-cristã considera indiscriminadamente todos dessa legenda em situação de pecado, nas mãos do diabo, condenados ao inferno. Por uma lei, amor é desprezado.
      Isso não significa que tudo que está na agenda da esquerda seja o melhor de Deus, assim como não é tudo que está na agenda da direita que não é. Contudo, e infelizmente, para mim que tenho, não só como base a visão teológica da tradição judaico-cristã, tanto que vai achar aqui no “Como o ar que respiro” centenas e centenas de reflexões sobre a Bíblia, mas que também achei nessa base a luz que conduziu-me em libertação, cura e vitória até aqui, hoje a esquerda representa mais o evangelho original de Jesus que a direita. Infelizmente, porque não há nenhuma alegria em mim ao constatar que o cristianismo do mundo chegou ao século XXI como conservadorismo religioso. O Cristo verdadeiro merece mais respeito.
      Talvez o pior pecado do conservadorismo não seja o que ele crê, mas como tenta praticar o que crê, se ainda que crendo em extremismos colocasse isso em prática com amor, com paciência, com respeito, haveria mais tempo a todos. Tempo para os conservadores para constatarem que suas teorias não podem ser praticadas, tempo para os que são tratados por eles, para entenderem que propostas são de Deus e quais são, ainda que de religiosos cristãos, de homens. Mas será que há vida na mentira, há verdade nas trevas, pode-se ter amor, paciência e respeito quando se defende uma agenda que não representa, pelo menos não mais, o melhor de Deus para a humanidade? Creio que não, Deus não fortalece quem não trabalha nele.
      Cristãos, quando vamos aceitar que o que matou Jesus foi o conservadorismo da religião dos judeus, da qual até o Cristo fazia parte? O evangelho era progressista e continua sendo, Lei de Moisés e protocolos no Templo de Jerusalém se tornaram só conservadorismo, como se tornaram o catolicismo e o protestantismo hoje. “Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente” (Hebreus 13.8). Jesus fica antigo, não velho, o que é novo é vivo e nunca envelhece. Já o que o homem tenta controlar e usar fica velho e morre, porque é guardado na matéria, não no espírito conectado a Deus pelo Espírito Santo. Não se pode conservar o Espírito de Deus em tradições e dogmas, só no coração do ser humano aberto a progredir até o Altíssimo. 

José Osório de Souza, 9/03/2023

08/10/25

Que cristianismo te representa?(3/5)

      “Senhor, tu me sondaste, e me conheces. Tu sabes o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Não havendo ainda palavra alguma na minha língua, eis que logo, ó Senhor, tudo conheces. Tu me cercaste por detrás e por diante, e puseste sobre mim a tua mão. Tal ciência é para mim maravilhosíssima; tão alta que não a posso atingir. Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?Salmos 139.1-7

      Muitos, só por dizermos que o cristianismo não nos representa, são levados a concluir que discordamos do cristianismo tradicional porque tivemos, temos ou queremos seguir tendo, vidas em pecado. Extremistas sempre chamam opositores de extremistas (do outro lado), achando-se do lado do bem, de Deus, põem os que discordam deles como do lado do mal, do diabo. Em primeiro lugar todos nós, que vivemos e não nos acovardamos, erramos, quem não admite isso, ou mente ou não viveu. Em segundo lugar a base do evangelho é perdão por Cristo, assim a ninguém podemos julgar, muito menos porque não sabemos se alguém que errou no passado já se consertou com Deus e segue hoje numa vida agradável ao Senhor. 
      Esses dois motivos já são suficientes aos humildes, que se conhecem e de fato conhecem a Deus, para serem misericordiosos e pacientes com todos. (Refleti sobre o tema “O cristianismo que me representa” nos link1 e link2). Contudo, se dizemos que o cristianismo de muitos não nos representa porque é intolerante, por exemplo, com afro-espíritas e lbgtqia+, a resposta é uma, “vocês estão usando um amor errado de Deus como desculpa para aceitar gente em pecado”. Ainda que muitos estivessem em pecado, e muitos afro-espíritas e lbgtqia+ estão em pecado tanto quanto cristãos, não necessariamente pelo fato de serem afro-espíritas e lbgtqia+, como cristãos deveriam agir diferente, abrindo portas, não fechando. 
      Mas quem tem certeza, que se acha um privilegiado sabedor da verdade de Deus, não se dá ao trabalho de ouvir, só quer falar, não muda de opinião e segue medindo todos com sua imprecisa e suja régua. Para esses, pôr em dúvida suas crenças não é exercício, não só de razoabilidade, mas também de vida com Deus, é pecado, que pode entregar-lhes ao outro lado, ao diabo e a um futuro inferno. Assim extremistas não só pensam de um jeito, mas negam-se a refletir sobre o que os que pensam, pelo menos em algumas coisas, diferente deles, não aceitando que em outras coisas os diferentes podem estar mais certos que eles. Quem só aprende consigo, não ensina os outros, subtrai, ao invés de somar, não ama, só faz alianças convenientes.
      Extremista não quer conhecer a verdade do diferente porque possui uma verdade pessoal frágil, aceitar o diferente pode abalar aquilo sobre o qual se construiu muitas vezes uma vida, uma reputação, uma identidade. Quem é homoafetivo, por exemplo, e projetou no cristianismo tradicional a aprovação equivocada que recebeu de pais, seguirá só, sem coragem para fazer aliança afetiva com outro homoafetivo, ou pior, se casará com um heterossexual para agradar a igreja, enganará a todos e será infeliz. Isso é triste? Mas é mais fácil para muitos que buscar a Deus e entender que o fato de terem a sexualidade que têm, não desagrada a Deus, não leva ao inferno, ainda que desagrade uma igreja. Assim muitos seguem hipócritas. 
      Não acredito que um cristianismo errado, ainda que com apoio de denominações protestantes seculares, pastores carismáticos, teólogos famosos, papa, Vaticano, tem vitória sobre pecado. Muitos podem parecer cristãos, mas não são, principalmente se não forem mais cristãos novos, ainda encantados com os primeiros passos da fé. Não pode haver prática de teoria baseada em mentira, e o cristianismo do mundo baseia-se em muita mentira construída pelo catolicismo. Quem exige demais de si, exige demais dos outros, e falta com amor com todos. Santidade é caminho, não destino, é processo, não conclusão, aperfeiçoa-se à medida que vivida. Para viver é preciso progredir, quem conserva-se parado, morre.

José Osório de Souza, 9/03/2023

07/10/25

Conheça mais a Deus (2/5)

      “E eu vos digo a vós: Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á; porque qualquer que pede recebe; e quem busca acha; e a quem bate abrir-se-lhe-á. E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?” Lucas 11.9-13

      Conhecer mais a Deus não é ter mais vitória sobre o mundo, não, não é o mundo que nos aprisiona, não o mundo fora dos templos. Conhecer mais a Deus é vencer a vaidade, que mantemos por causa de insegurança, que sentimos porque damos mais valor à glória de homens que à glória de Deus. Mas entenda, não é a glória de homens no mundo, essa vaidade vencemos no início de nossas jornadas, mas é a glória de homens dentro de igrejas. Que católico tem coragem de desagradar o papa ou mesmo seu sacerdote local, para conhecer mais a Deus e viver um conhecimento mais profundo? Que crente tem coragem de discordar do que ouviu anos a fio de seu pastor, da liderança de igreja, para ter experiência mais profunda com Deus?
      É preciso discordar de igreja para concordar com Deus? Sim, mas repito, não é necessariamente preciso parar de frequentar igreja por causa disso. Contudo, quem conhece mais de Deus sentirá necessidade de guardar muita coisa para si, assim, se for coerente, não usará púlpito para convencer gente que não está preparada para saber o que o preparado recebeu de Deus. Quem sabe de fato mais não dividirá igreja por isso, e muitos dividem, não por serem mais espirituais, “renovados”, mas só mais vaidosos e inseguros. Caso não tenhamos a coragem, de seguir sem a aprovação de quem não nos considerará mais espirituais e fiéis, seremos só teóricos, hipócritas e falsos moralistas, que não conseguem praticar o que Deus nos pede. 
      Por quê? Porque quem nos fortalece para obedecer a Deus é Deus, não igreja ou irmãos. Não significa que há muitos que passando a vida dentro de igreja, e mesmo conscientes dos defeitos da igreja, não serão bons cristãos e não mostrarão nas obras que vivem o que creem. Mas o ponto é que isso não é para todos. É para você? Tem certeza? Para saber é fácil, veja se tua fé tem dado frutos bons e permanentes, mas cuidado, se não tem dado, verifique com honestidade se tem feito tua parte. Não adianta buscar o avançado quando não se conseguiu praticar nem o básico. Quem está preparado para saber mais chegou numa excelência de vida, mas sente que deve saber e viver mais, e se não fizer isso será só teórico, hipócrita e falso moralista. 
      Por favor, não me entenda errado, não quero “desviar” ninguém, mas o “Como o ar que respiro” não tem a proposta de compartilhar uma palavra direcionada só ao cristão tradicional protestante, evangélico ou pentecostal. Na verdade a palavra aqui é de desafio e para alguns, e não veja nessa delimitação qualquer espécie de arrogância, não me acho melhor que ninguém, nem chamo pessoas que se acham melhores ou para acharem-se. Ocorre que aos 63 anos (este texto foi escrito em 2023) e com 47 anos de convivência com algumas igrejas, nas quais trabalhei com música, oração e palavra, aprendi algumas coisas de Deus. É isso que tento passar aqui, às vezes de forma mais clara, em meio a reflexões diárias de incentivo a caminhar perseverantemente com Deus. 
      Ore mais. Só conhecemos mais a Deus nos relacionando diretamente mais com ele, e o risco que muitos crentes, principalmente os ativos em igrejas, correm, é substituir diálogo direto com Deus por atividades dentro de templos. Você só vai conseguir praticar o que crê, então, crer mais, saber mais e viver mais, se orar mais. Quando andamos conectados ao Senhor o tempo todo sabemos quando devemos falar com Deus e quando temos que nos calar e ouvir sua voz, e creia, Deus fala mistérios e mostra maravilhas para aqueles que buscam sua intimidade. Mas não esqueça a exortação desta reflexão, não precisamos ser só teóricos, hipócritas e falsos moralistas, não se obedecermos a chamada de Deus para nós e o buscarmos mais. 

José Osório de Souza, 8/03/2023

06/10/25

Teoria e prática: confronte (1/5)

      “E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.Tiago 1.22-25

      Teoria e prática, hipocrisia e vida, falso moralismo e verdadeira espiritualidade, coisas que precisamos avaliar no cristianismo que experimentamos. Parece fácil, são termos que se opõem, mas é incrível como confundimos essas coisas na religião. Por algum motivo, onde deveria haver mais clareza, há o oposto, confusão. A raiz da confusão é uma coisa, vaidade, damos mais importância àquilo que aparentamos e para homens, que para aquilo que somos e que Deus conhece. Vamos a culto atrás de culto celebrando Deus e suas virtudes, declarando Jesus como salvador, mas conhecemos nossa verdade quando saímos dos templos para o mundo, trevas podem revelar mais sobre nós que o que chamamos ser luz. 
      Até que ponto o que chamamos de luz é luz? Nem é que exista uma encenação proposital, mas dentro dos templos sentimos um encantamento pela utopia, de fato lá nós cremos que somos diferentes, que as paredes da construção represam um pedaço do céu. Pelo menos para muitos, lá não há vícios, adultério, pecado, tudo é louvor e sagração, estamos santos só pelo fato de estarmos lá. Infelizmente, mesmo a utopia não encanta a todos, existem alguns buscando satisfazer apetites físicos e vaidades mesmo dentro de igrejas, nem todos têm nos templos intenções virtuosas. Então saímos para o mundo, temos que trabalhar, estudar, construir profissões, sobreviver fisicamente, assim teoria encantada é confrontada com o mal. 
      Quem somos de verdade, o que experimentamos nos cultos, nos retiros, nos jejuns, nos ensaios do coral, nas e.b.d.s? Ou o estudante e profissional das faculdades e empresas? Muitos de nós têm muita dificuldade para saber, e quando sabem têm dificuldades para assumir. Isso pode criar um doloroso dilema, o conhecimento de verdades pessoais que podemos não querer admitir, nem aos outros, mas para nós mesmos. Sendo “santos” e amorosos somos tidos como espirituais pelos “irmãos”, conhecendo a Bíblia podemos ser aplaudidos nos púlpitos, quando damos palavras agradáveis aos pares. Se não somos ricos ou estudados (ou bonitos), podemos achar na igreja valores na identidade que nos faz sentir especiais. 
      Muitos vão para igrejas para sentirem-se valorizados, como motivo inicial isso é válido, tudo é válido para iniciarmos jornadas com Deus. O que na sociedade era alcoólatra, pela igreja liberta-se do vício, o que era adúltero no mundo, na igreja tem a chance de acertar o casamento, o que era pária, tem aprovação de um grupo e até auxílio para arrumar serviço, num grupo que, pelo menos na teoria, prega que todo pecado é perdoado em Cristo, que passado é esquecido e uma nova existência pode-se iniciar do zero. Também nisso nada há de errado, se não for só teoria. Mas por que com o tempo podemos ver que muita coisa é só teoria, que a vida torna-se hipócrita, que nos tornamos só falsos moralistas, não de fato espirituais no Altíssimo? 
      Diferentemente do que digo muitas vezes, desta vez farei uma apologia às igrejas e religiões cristãs: a culpa não é delas, mas nossa. Igrejas nos levam até onde podem e elas podem o que Deus lhes permite poder. Mesmo com pastores não gananciosos e sinceros do bem, seres humanos, homens e mulheres, que buscam vidas profundas com Deus, igrejas não são construídas no mundo para nos entregar tudo que Deus tem para nós. Quem tem que saber quando parar com igreja e seguir mais com Deus somos nós, e com parar com igreja não me refiro a parar de frequentar igreja. Erramos quando achamos que a voz final de Deus só podemos ouvir em igrejas, de pastores, teólogos, mesmo da interpretação tradicional da Bíblia. 

José Osório de Souza, 8/03/2023

05/10/25

Aprendamos a descansar

      “Confia no Senhor e faze o bem; habitarás na terra, e verdadeiramente serás alimentado. Deleita-te também no Senhor, e te concederá os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele o fará. E ele fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia. Descansa no Senhor, e espera neleSalmos 37.3-7a

      Qual a maior dificuldade que temos para viver bem? Depende do que consideramos viver bem. Todos precisam trabalhar, assim como todos têm que obedecer certas regras sociais para serem civilizados. Contudo, ter muita atividade pode ser para muitos viver bem, não porque precisam de mais dinheiro, mas porque precisam se sentir úteis. Assim, viver bem pode estar ligado a sentir-se útil. Basicamente isso está correto, se nossa utilidade for equilibrada, levando em conta áreas física, emocional e moral do ser humano, assim como se formos úteis para nós sem prejudicar os outros. Contudo, percebo em mim, o que também existe em muitos, certa obsessão por estar em constante atividade, resumindo, não sabemos descansar. 
      Repito: nos dias de hoje muitos precisam trabalhar e muito para terem o mínimo, sintoma das atuais injustiças do mundo. Mas descansar é preciso, não só para recuperar forças físicas, como para manter o emocional sadio. Não é só nosso organismo físico que pede descanso. Nosso espírito, que ouve a voz de Deus ainda que não ouçamos, ainda que nem acreditemos que Deus exista, também nos orienta o descanso. O motivo principal é um: na eternidade não teremos trabalho físico para fazer, não haverá corpos para serem mantidos, assim estar em sintonia com a luz do Altíssimo é o que nos fará úteis. Viver no mundo e na carne é agregar ao espírito valores morais, assim espirituais, esse é nosso propósito principal aqui. 
      Por não conseguirem estar em paz sem estarem fazendo algo, e sem serem vistos por outros enquanto fazem algo, assim querendo receber glória de homens, é que muitos, ainda que tenham conquistando alguns bens e confortos materiais, sofrem de certas maneiras na velhice. Próximos à morte, pernas e braços, olhos, boca e ouvidos, param, mas pior, a mente pode parar, dessa forma coração bate, pulmões respiram, cérebro recebe oxigênio, outros órgãos funcionam, mas a pessoa fica presa a uma cama. Quem não aprendeu a descansar, não administrará bem o momento que nada mais pode fazer, senão esperar, e mais, ficará mais tempo neste mundo para aprender, ainda que em condição debilitada, tirando o descanso dos outros. 
      No momento em que escrevo (2023), aos sessenta e três anos, desempenho a função que melhor conheço e mais gosto de fazer, sou pianista profissional, toco num piano de meia-cauda, repertório de boa música, em ambiente excelente, com remuneração justa, levei a vida para poder fazer aquilo no qual sou mais útil. É trabalho cansativo, todo trabalho é, se não fosse não seria trabalho, sentado direto tocando. Mas o cansaço é mais mental, tocar o estilo jazz song exige criar em tempo real sobre melodia e harmonia performances de músicas sofisticadas, como jazz standard e bossa nova. Quando encerro a semana estou exausto, mas é aí que começa minha prova espiritual atual mais relevante, descansar a cabeça para me restabelecer. 
      Uns podem achar que descansar é fácil, outros sabem que não é. Em primeiro lugar é preciso aceitar limites, que já se está fazendo o que se pode e que deve sentir-se em paz por isso, não cobrado a fazer mais. Muitos querendo fazer o dobro que podem acabam não fazendo nem a metade. O que fazemos quando nada estamos fazendo? Enchemos a cara de cerveja, vinho, uísque, cachaça? Consumimos pornografia? Comemos até passarmos mal? Nos entediamos e nos entupimos de remédios para dormir muito? A resposta é uma: alimente intelecto e espírito. Leia bons livros, veja bons filmes, caminhe e exercite o corpo, mas antes de tudo, ore, aprenda a descansar em Deus, acesse a aprovação de Deus e segure-a firme pela fé. 

Assista vídeos meus ao piano no link
José Osório de Souza, 1/03/2023