19/03/22

Coluna do templo e Nova Jerusalém (48/90)

      “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.
Apocalipse 3:12

      As simbologias que João usa no texto bíblico inicial são de construção física e delimitação geográfica, coluna no templo e cidade de Jerusalém. A que espiritualmente ele se refere? Haverá mesmo uma cidade e um templo, construídos de pedras e metais preciosos, com dimensões específicas, com paredes, teto, janelas e portas? No livro de Apocalipse João está sempre transportando revelações espirituais, que via, ouvia e sentia em seu espírito ungido com o Espírito de Deus, para referências físicas que ele conhecia como homem de seu tempo. Chama-nos a atenção Jesus dizer que o vencedor será parte de uma construção, coluna no templo de Deus, pondo os vencedores numa posição de íntima comunhão com Deus. 
      Deus constrói o céu com os espíritos dos vencedores? O templo parece ser sustentado por esses seres espirituais, visto Jesus dizer que os que vencessem seriam colunas da construção. Estaremos dentro de um templo ou seremos o próprio templo? Mas não é isso que já ocorre no mundo com os salvos, são templos individuais do Espírito Santo? (I Coríntios 6.19). Num céu em que muitos salvos viverão juntos, onde estará a luz mais alta de Deus, tendo seus corpos espirituais transformados e numa interação plena com Deus, Deus viverá em todos e todos em Deus, por dentro e por fora. Procede João dizer que os vencedores serão colunas num templo, não só habitarão um espaço, mas serão o próprio espaço, e um espaço espiritual. 
      O termo nova Jerusalém deixa muito claro que o uso de um conceito material conhecido é importante para que homens de um tempo entendam e aceitem conceitos espirituais. Ao judeu do século I, Jerusalém é sua cidade mais importante, a capital de seu reino, o orgulho maior do povo israelita, o lugar onde deve estar o templo, centro de sua religião. É mais que uma região geográfica, é a embaixada de Deus na Terra, testemunho para a humanidade que Deus existe, é todo-poderoso, escolheu um povo para ser seu e cuida desse povo. Não existe maneira mais fácil de um judeu entender a importância de um lugar na eternidade que usando o nome de um lugar importante para ele, para um judeu o céu é uma Jerusalém nova.
      Mas que importância tem isso para um japonês, por exemplo? Esse não vê relevância em Jerusalém, muitos menos vê numa nova Jerusalém. Mas a Bíblia não é um livro de judeus escrito para judeus? Sim, mas ainda assim Deus a usa para falar com todos os povos. Escrita por judeus para cristãos judeus ou ainda que gentios, conhecedores da antiga religião dos hebreus. Isso é relevante para entendermos o quanto da religião judaica está contida na Bíblia, assim aceitarmos que muitos símbolos existentes nela existem porque foram interpretados por judeus. Pode-se argumentar: mas são símbolos de uma nação escolhida por Deus desde o início para testemunhar dele ao mundo, é o mundo que tem que se adaptar a isso.
      Sim, mas ainda assim são símbolos e judeus. Sendo símbolos, não podem ser interpretados ao pé da letra, como construções de pedras, tijolos, cimento etc. Mas tudo bem, não sejamos tão extremistas, se um cristão mais simples, sincero em sua fé, espera no céu morar numa cidade luxuosa, condição que nunca teve na Terra, Deus, o pai de amor, aceita isso e respeita. Temos que fazer alguma imagem mental, isso nos dá esperança, nos resolve, ainda que seja só um portal de uma realidade espiritual. Entretanto, precisamos aceitar que num momento onde existem seres libertos de espaço, tempo e matéria, as coisas serão diferentes dos símbolos que mentalizamos no mundo material presos à cultura, religião, inteligência e gostos pessoais.
      João revela-nos que Jesus escreverá o nome de Deus, o nome da cidade de Deus, assim como o novo nome dele, Jesus, sobre os que vencerem. Isso deixa claro a importância da simbologia “nome” no entendimento que João teve da revelação. Entendamos nome, não como uma identificação escrita ou verbal, como uma maneira de chamar alguém, como já dissemos quando refletimos sobre o nome na pedra branca que os vencedores receberão. O nome é mais que uma simples diferenciação de alguém no meio da multidão, que uma identificação, é a própria identidade, a posição e a qualidade moral e espiritual que os seres terão na eternidade, nome que na verdade já existe, mas escondido em nosso homem interior
      Essa qualificação é justa, porque é dada pelo próprio Cristo que nos conhece por dentro, é o nosso homem interior aperfeiçoado no plano físico que será considerado por Jesus. Essa qualificação é exclusiva, pois todos os seres são especiais para Deus, ele não ama ninguém de forma distinta. Contudo, a qualificação poderá ser diferenciada, colocando seres em alturas diferentes, ainda que isso não poderá ser usado por ninguém como vaidade. Paulo cita algo que pode ser base para isso, o conceito do galardão (I Coríntios 3.12-16), muitos serão salvos, mas o galardão poderá variar. Só na eternidade será manifestado o “nome” do nosso espírito, não o que achamos ter baseados em nossas passagens no mundo, mas o eterno. 
      Há uma chave espiritual para um mistério nesta reflexão, como há em muitos conhecimentos profundos da Bíblia escondidos sob a forma de simbologias e parábolas. O nome escondido diz respeito ao nosso espírito, que é eterno, sem começo e sem fim, não limitado à nossa vida encarnada no mundo no presente. Quem somos de fato, homens e mulheres com nomes, documentos, residências, graus educacionais, profissões, estado civil, religião, contas em bancos, tudo isso hoje no mundo? Será que é só isso, uma existência que nos define? Talvez, e estamos dizendo, talvez, se fosse só isso nosso nome na eternidade seria o mesmo que temos hoje, talvez não haveria necessidade de recebermos novos e melhores nomes... 

Esta é a 48ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

18/03/22

Vestes brancas e Livro da vida (47/90)

      “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.
Apocalipse 3:5

      Vestes brancas, João transporta o entendimento de uma posição espiritual, de uma condição moral, que ele com certeza discerniu em sua comunhão com o Espírito Santo, para referências materiais e externas. Penso que dessa vez ele não fez um transporte muito diferente daquele que faríamos hoje, se recebêssemos a mesma revelação. Branco, claro, alvo, tem a ver com santidade, com pureza moral, com elevação espiritual, com proximidade da luz, ele deve ter visto vestidos, a roupa típica de sua época. Talvez hoje, como homens ocidentais, víssemos camisas e calças, mas também de uma brancura singular, impedindo-nos de identificar detalhes, numa luz tão clara que deixariam desconfortáveis os olhos espirituais. 
      A cor branca tem uma característica, se juntarmos todas as cores, nas proporções adequadas, nenhuma se sobressairá, todas se transformarão em branca, isso nos diz algo sobre a luz da espiritualidade mais alta. O branco que vemos em várias passagens bíblicas quando se refere a visões, por exemplo de Ezequiel e Daniel, ao céu, aos anjos e a outros seres, à transfiguração de Jesus mais as aparições de Moisés e Elias, é a transferência para o plano físico de uma virtude espiritual, nossos olhos (espirituais) vêm o branco, mas na realidade o que existe é santidade. Santidade por sua vez não é só abstinência de prazeres físicos, isso é mais bons hábitos alimentares e equilíbrio sexual que outra coisa, alguém pode ter isso e não ser santo. 
      Santidade é ausência ou presença? Se a cor branca é mistura de todas as cores, então, ela é presença, não se é santo por se deixar de fazer as coisas, de se sentir as coisas, de se pensar, de se fazer as coisas, mas se alcança santidade tendo noção de tudo e usando tudo na proporção certa. O branco da santidade não é espaço vazio, mas espaço preenchido com equilíbrio. Não se aprende a ser santo retirando-se para o alto de uma montanha e evitando convívio com a realidade, com as pessoas, com as tentações, mas convivendo-se com tudo isso e não sendo contaminado por excessos. Se não fosse assim, não precisaríamos encarnar no mundo, aprendermos a fazer escolhas que nos aperfeiçoam, agradarmos a Deus e amarmos o próximo. 
      Não podemos ser crianças para sempre, uma criança não é santa, só é inocente, não escolhe não errar, só não aprendeu ainda a errar, assim faz a única coisa que sabe fazer. Quando amadurecer emocional e fisicamente poderá errar por escolha própria e terá responsabilidade por isso, portanto perderá a paz que só será reencontrada no reconhecimento do erro e numa prática de boa vida moral. Isso só se consegue plenamente em comunhão com Deus. Só temos forças para sermos santos respondendo sim à atração que o amor de Deus nos faz para sua santidade, isso nos dá direito às vestes brancas que os vencedores receberão de Jesus na eternidade, isso nos confere alvura espiritual ímpar, o objetivo maior de Deus para todos nós. 
      João também cita o livro da vida, termo que aparece muito no livro de Apocalipse, mas que Paulo usa só uma vez, em Filipenses 4.3. Seria um documento divino onde estão listados os nomes dos que venceram? João também diz que os que vencerem seriam confessados por Jesus diante de Deus e de seus anjos. Jesus tem um papel único na humanidade do nosso planeta, mostrou o caminho de salvação, mas também será o responsável por identificar quem é quem na eternidade, separar ovelhas de bodes (Mateus 25.32), salvos de condenados. O “céu” será uma posição elevada onde Cristo passou a habitar, depois que partiu da Terra no século um, mas Jesus pode ser o próprio “céu”, aguardando ser completado por cada um de nós.
      “O que vencer de maneira nenhuma riscarei seu nome do livro da vida”, se nos lembrássemos disso quando desanimamos, quando por coisas tão pequenas perdemos a paz. Diante de Deus no plano espiritual, o vencedor será identificado por Jesus no livro da vida, nada e nem ninguém pode tirar nosso nome desse livro. Se caminhamos persistentemente em santidade e em amor podemos ter certeza disso, usando essa certeza, não para nos protegermos de irresponsabilidades, mas para nos fortalecermos e sermos fiéis até o fim de nossas jornadas no mundo. “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11.25). Creia, ninguém está definitivamente morto, a vida é eterna, a morte, não é! 

Esta é a 47ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

17/03/22

Poder sobre as nações (46/90)

      “E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as naçõese com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai.
Apocalipse 2:26-27

      Antes de iniciarmos a reflexão, algo precisa ser dito. Nós, evangélicos e protestantes, nos acostumamos tanto a ler a Bíblia, que na maioria das vezes não prestamos atenção ao que lemos, aceitamos como dogmas, não questionamos porque cremos que é a palavra de Deus, e só. Hoje temos muitas versões de Bíblia disponíveis em livrarias, e interessantes para serem usadas como consultas secundárias são as versões em linguagem de hoje. É bom usarmos com cuidado, e o ideal é consultarmos mais de uma versão, mas o principal é entendermos de fato as palavras que lemos. 
      Das promessas feitas “ao que vencer”, a do texto bíblico inicial, pode ser a mais difícil de ser entendida hoje, justamente por parecer a mais simples, se interpretada ao pé da letra. Para um homem do primeiro século, debaixo da opressão romana, e como judeu, ainda próximo da realidade do israelita do velho testamento, o que mais representaria uma vitória definitiva? Não seria uma posição militar, política e social, superior, não de oprimido, mas de opressor? Não só como um mero administrador, mas como um juiz que faz cumprir penas, “quebrando as nações como vasos de barro”
     Pois é, essa é a visão de mundo de João, o evangelista, escritor do livro das revelações, a visão de justiça, a visão de vitória, a visão de eternidade, a visão de Deus que ele tinha. Será que entendemos realmente o quanto isso se opõe ao Deus de amor ensinado por Jesus? Você acredita que por crer no Cristo terá o direito de castigar aqueles que não creem? Ou você não acredita, não entende o texto do Apocalipse, mas também não se importa muito com isso. Se for esse o caso, você não está levando a sério a Bíblia, que é ensinada a você como sendo palavra infalível de Deus. 
      Agora, se não for, se houver partes que precisam ser reavaliadas, entendendo diferentemente daquilo que a tradição cristã ensina, então devem haver “verdades” que não são bem o que você acha que são, ainda que estejam na Bíblia. Eu não brinco com a Bíblia, ou ela é, ou não é, não varro para baixo do tapete questões que teólogos chamam de polêmicas, só para não assumir que a Bíblia não é coesa. Será que o que queremos pelo evangelho no mundo hoje, é vingança sobre inimigos, oprimirmos opressores, aqueles que odeiam o cristianismo e são injustos com os cristãos? 
      O evangelho ensina-nos perdoarmos inimigos, orarmos por eles e estendermos a mão para restaurá-los. Se é assim aqui, por que seria diferente na eternidade? O Deus que oprime nações inimigas é o “Deus” do antigo testamento, que João ainda tinha na memória, já que ainda vivia num mundo oprimido por um poderoso império. Se você acha que não existe incoerência nisso, fique em tua crença, mas eu penso que há, principalmente se considerarmos o nível moral do homem civilizado atual, que não aceita mais o modus operandi guerras, como meio das nações se manterem.  
      Mas o mistério que João viu, a relevância que temos que entender hoje e que não pode ser esquecida, ainda que João, autor de Apocalipse, tenha feito um registro coerente com o homem de seu tempo, é que o que vencer fará algum tipo de trabalho, uma administração ativa, no plano espiritual, não para oprimir, mas seguindo o evangelho, para orientar e abençoar. Esse é o conceito eterno que Deus quer nos ensinar por trás da história antiga e da mitologia. Assim, os que no mundo foram injustiçados, desempenharão na eternidade papel de liderança sobre os que foram injustos.
      Esse conhecimento não deve alimentar em nós vingança infantil e carnal, mas madura responsabilidade em humildade e temor. Se essa promessa “ao que vencer” é a que pode ser mais mal interpretada se lida ao pé da letra, é a que pode revelar um dos maiores mistérios da eternidade. Lá não será um lugar só para descanso e adoração, o que muitos que não conhecem a renovadora unção do Espírito Santo podem interpretar como algo tedioso e sem graça. O trabalho espiritual é eterno, irmãos e irmãs cristãs, o que mudará é a qualidade desse trabalho, de físico para espiritual. 

Esta é a 46ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

16/03/22

Maná escondido e Pedra branca (45/90)

      “Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.
Apocalipse 2:17b

     O que é o maná escondido? Para entendermos temos que saber a importância que teve o maná material original para a nação de Israel no antigo testamento, quando fugia dos egípcios, no meio do deserto, sem água e sem comida. A resposta é simples: foi uma provisão especial de um Deus que pode fazer aquilo que parece impossível aos olhos humanos. O que vencer provará mais que um prazer, e no plano espiritual prazer tem um conceito diferente, não é egoísta e passageiro como no plano físico, o que vencer será alimentado com um alimento especial. 
      Esse alimento será diferente de tudo que o ser humano provou no mundo, não é material, e é melhor mesmo que a unção do Espírito Santo que provamos encarnados, já que o corpo nunca pode perceber e reter toda a relevância que possui uma experiência de plenitude no Espírito de Deus. No plano espiritual, prazer é vida, é qualidade moral, é proximidade da luz mais alta de Deus, são as virtudes do Senhor. No plano espiritual teremos prazer na paz, na santidade, no amor, tudo isso é eterno e incorruptível, não será parcial, mas pleno, dentro e fora de nós. 
      Justamente por muitos não conseguirem no mundo desvencilharem-se dos apetites do corpo, retendo assim carnalidade em seus homens interiores, e consequentemente construindo infernos dentro de si, é que enfrentarão a continuidade desses infernos na eternidade. Se no mundo podemos fugir de Deus nos prazeres do corpo, na eternidade não haverá corpo para escaparmos. O único prazer será estar no amor de Deus para o qual nos decidimos encarnados no mundo, caso contrário, lá só restará a tortura de desejar algo que não se pode ter. Eis uma definição de inferno.  
      Temos tentado insistentemente definir o inferno neste estudo, porque muitos cristãos preguiçosamente aceitam o inferno como dor infinita causada por agente externo. Crer que é Deus quem põe fogo num lugar e lança lá os que considera culpados, de uma certa forma joga a responsabilidade toda em Deus. Coloca o Senhor como uma potência vingativa e capaz de criar e manter um lugar eterno e terrível, mas não é bem assim. O inferno é interior e construído pelos homens, vivenciado no mundo, ainda que aqui os homens tenham meios de anestesiarem a dor infernal. 
      Sobre pedra branca, a primeira coisa que temos que entender é que lugar, objetos e nomes, que no plano físico se referem a coisas físicas, dentro de dimensões físicas, são apenas simbologias para outras referências no plano espiritual. Lugares, por exemplo, podemos entender como posições morais, saindo da dimensão horizontal e indo para a vertical, assim menos moralidade é região inferior, é trevas, mais moralidade é região superior, é luz. Deus é a luz mais elevada. Todo o plano físico, suas leis e seus valores no tempo, são símbolos do plano espiritual. 
      Nome, por sua vez, não é uma denominação, usada para chamar alguém, mas uma graduação e também moral, que coloca a pessoa numa altura espiritual, espiritualidade tem a ver com posição e identificação. O interessante é o texto dizer que ninguém sabe o nome a não ser quem recebe, isso denota uma condição de ausência de vaidades, de não carência de se impor sobre os outros, mas é uma satisfação que se contenta por saber e saber que Deus sabe, mais nada. Nome espiritual define nossa identidade essencial como espírito eterno, é isso que é a pedra branca. 

Esta é a 45ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

15/03/22

Dano da segunda morte (44/90)

      “O que vencer não receberá o dano da segunda morte.
Apocalipse 2:11b

      Esse ensino é mais fácil de entender pela tradição cristã, apoiado pelos evangelhos e pelas epístolas (João 3.18 e Romanos 6.23). O texto não diz “não receberá a segunda morte”, mas “não receberá o dano da segunda morte”. A segunda morte vale para os que não creem em Cristo como salvador, ainda que estejam vivos neste mundo. Os que possuem capacidade intelectual e moral para escolherem pecar ou não, que não são inocentes, como crianças e portadores de certas deficiências mentais, e que não estão ligados a Deus pelo Espírito, provam a segunda morte, diz o cristianismo (Efésios 2.5). 
      No mundo, contudo, ninguém prova plenamente o dano da segunda morte, porque até que a primeira morte, a do corpo, ocorra, há oportunidade para se livrar da segunda morte e do seu mais terrível e duradouro dano. O que vence não sofre o dano da segunda morte, assim podemos entender que o dano é a condenação a uma danação duradoura, que só ocorrerá na eternidade, depois da primeira morte. Morte espiritual nos separa de Deus, nela não existe em nós o Espírito Santo, que nos dá vida eterna, nos permite conexão ativa com Deus e recebimento de consequentes direitos morais. 
      Mas será que não provamos o dano dessa segunda morte aqui? Nós cristãos, principalmente quando experimentamos conversão em Cristo muito cedo, nos acostumamos tanto a andar com Deus, mesmo a trancos e barrancos (principalmente no início, quando somos jovens e fazendo más escolhas), que acabamos nos esquecendo de como é andar longe do Senhor. Mesmo que pequemos, corremos para Deus, nos humilhamos e ficamos em paz. Mas como deve ser negar a Deus o tempo todo, tentar se convencer que Deus não existe e que cristianismo é coisa de gente doida ou ignorante? 
      Volto a dizer, para não cometermos o engano de achar que alguém não anda com Deus, só porque não é um cristão no padrão das igrejas evangélicas. Não erremos, a coisa não funciona assim, não no amor de Deus. Mas existem pessoas, sim, que ainda que sejam boas cidadãs, seres humanos que contribuem positivamente no planeta, fogem de Deus como o diabo foge da cruz. Para essas a vida é um inferno e ainda no mundo, antes de provarem a segunda morte. Podemos concluir que inferno é estar longe de Deus, da luz mais alta, do amor que a todos atrai, e quanto sofrimento há nele. 
      Muitos se acostumam a viver na segunda morte, constróem universos nela, se habituam às trevas. Nas trevas não se vê nada, mas pode-se imaginar muitas coisas, mecanismo usado por espíritos enganadores confortáveis com o ambiente sem luz, para enganar os que se sintonizam em suas baixas regiões espirituais. Essa disposição é perigosa, pode conduzir a transtornos psiquiátricos, que mesmo controlados com algum esforço, persistem dentro das pessoas, pessoas cansadas emocionalmente, por viverem vidas duplas, que tentam achar felicidade material ainda que mortas espiritualmente. 
      Podemos não saber se alguém ainda está na segunda morte, mas não é difícil ver se alguém sofre algum dano dela. As pessoas podem enganar por um tempo, parecerem controladas, mas um dia explodem, vindo à tona uma realidade de perturbação. Tenhamos cuidado, não deixemos que se instale o inferno em nós, sejamos humildes ainda que tenhamos dificuldades para crermos no Deus das religiões, ainda que tenhamos tido exemplos ruins do cristianismo dos homens. Nos aproximemos de Deus como estamos, Deus sempre responde ao que o busca e o livra da segunda morte e de seu dano. 

Esta é a 44ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
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José Osório de Souza, março de 2021

14/03/22

Árvore da vida (43/90)

      Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus.
Apocalipse 2:7b

      Em Gênesis o homem caiu porque comeu o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o fruto da outra árvore, a árvore da vida, ele não comeu (Gênesis 2.9, 3.22). Essa promessa de Apocalipse diz que o que vencer poderá, enfim, comer do fruto dessa segunda árvore, entendemos por Gênesis que se o homem original tivesse comido desse fruto, viveria para sempre, e como já tinha caído moralmente, seria eterno e mal. Isso seria terrível, uma capacidade a mais para o homem seguir distante de Deus, já que por mais que pecasse, agora com conhecimento moral maior, não morreria. 
      A morte tem um peso muito importante na avaliação que o ser humano faz de sua jornada na Terra, envelhecer e perder aos poucos liberdade, forças e prazer no plano físico, o conduzem a entender que a existência não é só material, que deve haver algo além, melhor, que dá sentido à sua existência. O homem morreria fisicamente, a primeira morte, se não tivesse pecado? Podemos entender que não (Êxodo 32.33, Romanos 6.23), as mortes, física e espiritual, são consequências da queda do homem no pecado, senão a árvore da vida não teria utilidade para um homem que tivesse caído. 
      Em Jesus, a segunda morte, a espiritual, pode ser anulada, mas a física continua válida, contudo, na eternidade, os que estiverem libertos em Cristo da segunda morte terão direito ao fruto da árvore da vida. Qual exatamente o significado disso? Que efeito faz o fruto dessa árvore num espírito já liberto do corpo? Se o homem já estiver no plano espiritual, e salvo em Cristo, já terá vida eterna, e mesmo que esteja condenado ao inferno, terá morte duradoura, de nenhuma maneira há necessidade de algo que o livre da primeira morte, ele não está mais encapado com matéria que perece.
      Essa interpretação da árvore da vida é a dada pelo cristianismo tradicional, mas o que mais podemos entender, que vai além do que estamos acostumados a saber pela doutrina que os homens dogmatizaram? Há uma vida além da vida eterna? Só os que vencerem terão direito ao fruto da árvore da vida, assim os condenados, ainda que com existência espiritual eterna, e precisa ser assim quando se admite uma pena duradoura, não comerão desse fruto. Seria esse fruto o que transformaria os salvos, lhes daria um corpo adequado para serem cidadãos da melhor eternidade, o céu? 
      O certo é que uma árvore plantada originalmente no oriente médio, milhares de anos atrás, pela cronologia bíblica original, não deve ser a mesma que existe no meio do paraíso espiritual. Isso nos leva a concluir que os fatos contados no início do livro de Gênesis não são reais, mas metafóricos, ainda que possam ser baseados em história real, contada e mantida pela tradição oral, até chegar em Moisés, escritor de Gênesis, já como mito. A tempo, a humanidade ter alguns milênios de idade não bate com informações científicas que datam um homo sapiens bem mais antigo. 
      Como sempre, não devemos nos prender à interpretação ao pé da letra da Bíblia, importa que tentemos aprender com o princípio, uma “árvore” que está presente tanto no início da humanidade no plano físico, como no final dos tempos no plano espiritual, a relevância que a árvore da vida tem. Podemos entender que um direito que foi perdido com o pecado pode ser reconquistado por Jesus, a vida eterna. Mas porque essa árvore estava no jardim do Éden? Deus disse que era proibido comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas nada disse sobre a árvore da vida (Gênesis 2.17). 
      Se era um risco ter a árvore da vida no Éden, tanto que querubins foram enviados para guardá-la após a queda (Gênesis 3.24), esse risco deveria ter uma finalidade, que não era provar o homem como a outra árvore. Nos parece que ela representa uma fonte de potência espiritual, que dá e mantém a vida. A simbologia da árvore da vida tem papel crucial no sistema da Cabala (e nem tente entender o que é com a leitura rápida de um texto), o ocultismo judaico e base para outros ocultismos. Aos que estudam isso, a árvore da vida é representação de tudo no universo, nos planos físico e espiritual. 

Esta é a 43ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

13/03/22

Sete anjos e Sete igrejas (42/90)

      “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer; o mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas.” 
Apocalipse 1.19-20

      Esta e as próximas sete partes da reflexão “Quem você será na eternidade?”, não constituem um estudo detalhado das sete cartas aos anjos das igrejas, registradas no livro de Apocalipse, nos ateremos com mais cuidado às promessas “ao que vencer”, que encerram cada carta. Esta primeira parte é uma introdução, mas veremos que em cada promessa há mistérios profundos, que ensinam muito sobre a razão da existência para aqueles que buscam a Deus e abrem olhos e ouvidos espirituais para o Espírito Santo, que desejam e podem saber mais que aquilo que a tradição cristã de homens ensina. 
      A visão começa com a voz do Filho do Homem apresentando os símbolos das cartas. Há entendimentos diferentes sobre o que são anjos e igrejas. Uns dizem que os anjos são anjos mesmo, seres espirituais sob autoridade de Deus que guardam indivíduos, famílias, igrejas, regiões e nações. Outros dizem que os anjos são pastores de igrejas locais, os nomes das cidades citadas são contemporâneos a João. Como igrejas também há opiniões divergentes, podem ser igrejas locais da época de João, mas podem ser eras, dividindo a história da humanidade da época de João até o final dos tempos. 
      Um conceito que o cristão protestante não dá muito valor e o de anjo da guarda, aprendem a falar diretamente com Deus através de Jesus, creem que o Espírito Santo os unge para vencerem o pecado e o diabo e para entenderem e ensinarem a palavra, mas mais nada. Em anjos, até creem que Deus pode usá-los, mas como homens muitos cristãos creem que não podem ordenar que anjos façam isso ou aquilo. Talvez, com medo das práticas mágicas e ocultistas, o catolicismo tenha dogmatizado cristãos para não crerem em anjos, mas até católicos pedem a anjos por proteção. 
      O texto sobre os sete anjos do livro de Apocalipse pode indicar que Deus usa seres espirituais de luz para exercer sua vontade, para proteger, ensinar e consolar o homem. O arcanjo Miguel é citado no livro de Daniel várias vezes (Daniel 10.13,21, 12.1), em uma delas dá-nos a entender que seria o ser espiritual protetor da nação de Israel. O anjo Gabriel também aparece a Daniel (Daniel 8.16, 9.21). Daniel e João o evangelista podem estar entre os homens com mais experiências com o mundo espiritual registradas na Bíblia. Qual seria a verdade por trás dos sete anjos e das sete igrejas? 
      Penso que é tudo isso que citamos, ao mesmo tempo e mais algumas coisas. A Bíblia sempre fala pelo menos de três maneiras diferentes, em textos com profecias. Em primeiro lugar fala sobre o futuro imediato do profeta, afinal de contas Deus responde ao que o busca, se o profeta quer uma palavra sobre sua realidade, como no exemplo de Daniel, Deus falará a ele sobre isso. Deus é sempre direto e fiel, amoroso e paciente, quem complica as coisas, não cumpre o que promete, diz uma coisa, enquanto faz e sente outra, somos nós, homens. A espiritualidade mais alta é simples e objetiva. 
      Contudo, uma resposta de Deus sobre algo próximo e direto pode conter revelações mais profundas e futurísticas. Deve haver busca no Espírito Santo para entendermos além do óbvio, que não está aberto a todos. É assim porque são informações proibidas? Não necessariamente, é proibido para quem não está preparado para saber, e não está porque não paga os preços para ir além do superficial. Mas para quem sabe perguntar nenhuma resposta é negada, guardando depois o que se recebeu com temor a Deus, não revelando para qualquer um, por pura vaidade, o que nem o Senhor revela.
      A última maneira que uma revelação de Deus fala é a mais simples e atemporal, nem é profética, no sentido de revelar algo que vai acontecer, seja para a realidade do profeta que a registrou, seja para uma realidade distante. Isso ocorre por causa do motivo principal da Bíblia existir, confortar o ser humano, de qualquer tempo, com qualquer nível moral ou intelectual, seja da cultura que for, sem que haja necessidade de estudo teológico mais técnico. Qualquer um que ler um texto bíblico, se houver nele sincera intenção de ouvir a voz do Deus verdadeiro, ouvirá e sairá fortalecido. 
      O termo “ao que vencer” aparece sete vezes no livro Apocalipse nos textos com as promessas aos anjos das sete igrejas. Ele implica em algo importante, que a melhor eternidade não será para todos, mas só para os que vencerem. Quem são os vencedores? Os que crerem em Cristo como salvador ou os que persistirem em andar no mundo seguindo o exemplo de Jesus homem? A teologia protestante tradicional diz que o céu será para os que crerem em Cristo, mas pensemos nas promessas “ao que vencer” não só como maravilhosos direitos, há também sérios deveres nelas. 
      João usou de metáforas em seu texto, que ele conhecia da mitologia bíblica já antiga, mesmo para seu tempo. Mas será que hoje temos que estar limitados pelo mesmo nível de entendimento dele? Deus não sofre mutações, o homem, sim, hoje talvez possamos entender o livro de Apocalipse de um jeito que nem o próprio apóstolo do amor entendeu, ainda que tenha registrado com fidelidade e temor a Deus profecias que recebeu na mente de homem do final do século I. O certo é que “ao que vencer” será dado na eternidade, bem mais que um lugar para descansar e adorar a Deus. 

Esta é a 42ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

12/03/22

Não negue o convite para a festa (41/90)

      “Porém, ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos. E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei, e portanto não posso ir. 
      E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos. E disse o servo: Senhor, feito está como mandaste; e ainda há lugar. E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha. Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.” 
Lucas 14.16-24

      Talvez a parábola do texto inicial, como vários outros textos do novo testamento, principalmente certas cartas de Paulo, se refira só à Israel e os gentios. Tendo os judeus, no papel de suas lideranças religiosas do primeiro século, negado a nova aliança de Cristo, essa foi oferecida a outros povos. Mas a lição serve para todos, faz alguns alertas sérios e mesmo trágicos, com relação ao melhor que podemos desfrutar no mundo, mas principalmente na eternidade. Quando lemos o texto podemos ficar espantados com a atitude dos convidados inicias, podemos dizer que nós no lugar deles não agiríamos da mesma maneira. Normalmente os primeiros convidados a uma festa são parentes e amigos mais próximos, e foram esses que negaram o convite.
      Interpretemos assim a parábola, o dono da festa é Deus, Jesus é o servo que sai fazendo os convites. Os mais próximos são os que se dizem religiosos, principalmente cristãos, que se identificam como conhecedores do evangelho, das doutrinas cristãs, assíduos em cultos e missas, conectados oficialmente a denominações católicas, protestantes e evangélicas. São justamente muitos desses, e aqui não posso generalizar que foram todos, que deram mil desculpas para não poderem ir à festa. O dono da festa deve ter se entristecido, como, justamente aqueles que ele considerava mais próximos a ele, lhe faziam essa desfeita? Negavam convite para algo especial, no qual eram convidados privilegiados, com prioridade sobre outros? 
      Interessante que as desculpas não eram porque coisas ruins tinham lhes acontecido, essas até poderiam ser entendidas, alguém não poder ir a uma festa porque tinha falecido alguém próximo, porque tinha perdido bens, porque estava enfermo, contudo, as desculpas foram porque coisas boas tinham acontecido a eles e eles precisavam administra-las. Saber disso deve ter entristecido ainda mais o dono da festa, mas não tinha jeito, a festa seria dada, alguém precisaria usufruir dela, dessa forma o convite foi aberto. No lugar de convidados, aparentemente mais preparados para uma festa, foram chamados estranhos e marginalizados, pobres e aleijados, mancos e cegos, que talvez, por não poderem trabalhar, fossem pedintes sem teto.
      A abertura do convite é uma simbologia para a abrangência do amor de Deus, que não considera privilegiados religiosos, cristãos oficiais, mas todos são chamados para usufruírem da intimidade do Senhor, mesmo que aparentemente não sejam os mais adequados. Deus não ama pela aparência a alguns, Deus ama todos pelo coração, não faz diferença entre quem conhece a doutrina cristã e quem não sabe nada de cristianismo. Mas o amor de Deus é ainda mais maravilhoso, mesmo os que dizem não por falta de consciência, de entendimento, diferente dos primeiros convidados que disseram não com consciência, Deus acha um jeito de convencer para que festejem com ele, no mundo e na eternidade. Deus não deseja inferno a ninguém. 
      Muitos, que tantos evangélicos marginalizam, condenam ao inferno, tratam com preconceitos, podem experimentar na eternidade uma condição de paz e luz melhor que a de muitos cristãos, a parábola é bem clara sobre isso, quem tem olhos para ver que veja. Poderão experimentar um “céu”, não os que se acham preparados para isso por serem religiosos, nem os que intimamente se acham mais merecedores por sofrerem mais injustiças no mundo, mas os que são convencidos sinceramente pelo amor de Deus, sem qualquer segunda intenção. Esses são aqueles que estão pelos caminhos e valados, meio escondidos no mundo e de igrejas, que podem nem aparentar espiritualidade ou mesmo qualquer anelo por ela, surpresas haverá. 
      O relógio anda, Deus tem eventos a serem cumpridos no tempo, isso faz parte de um plano muito maior, que a maioria não tem noção de como funciona, nada pode impedir isso. Mas tenhamos cuidado, a exortação final é trágica, nenhum daqueles homens que foram inicialmente convidados provou a ceia. Sabe o porquê? Porque esses não negaram só um convite, negaram vários convites. Se convidados desprezam a festa de alguém querido e muito poderoso porque consideram suas alegrias mais importantes, é porque não querem estar com esse alguém, com ou sem festa. Poderiam ir, nem por gosto, mas ao menos por temor, isso pelo menos mostraria que respeitam o dono da festa, mas temor é algo que muitos perderam há muito tempo. 

Esta é a 41ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

11/03/22

Que morte merecemos? (40/90)

      “Aqueles que confiam na sua fazenda, e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele.” 
Salmos 49.6-7

      A morte do corpo é inexorável, todos vão prová-la, indiferente de qualquer coisa, status social, nível financeiro, intelectual, raça, idade e mesmo religião, ela não pode ser trocada por bens materiais, não podemos comprar a vida para nos livrarmos da responsabilidade de vivê-la corretamente. A morte pode acontecer de diversas maneiras a seres humanos diferentes, pode vir cedo demais, ou antes do tempo melhor, pode ser no tempo certo, pode ser sofrida e demorada, pode ser abrupta e fulminante, pode ser tranquila também. Pode ser por um acidente, por uma violência, por um descaso, mas pode ser somente a parada do funcionamento do corpo, que mesmo que tenha sido bem tratado, respeitado, teve sua “data de validade” vencida. Ela é a única certeza que todos podem ter em suas jornadas neste mundo, ainda que seja só a passagem do plano físico para o espiritual. O plano espiritual será aquilo que construirmos dele no plano físico, efeito espiritual de uma causa no plano material. Só entende a vida quem entende a morte, e vice-versa. 

      “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.” 
Salmos 23.6

      Que morte merecemos? A morte que precisamos ter. O entendimento inicial é que nossa passagem do plano físico para o espiritual, nossa morte no corpo, seja de acordo com o bem que plantamos na vida, seguindo o ensino do Salmo 23. Quem temeu a Deus, obedeceu ao Senhor, trabalhou pelas prioridades corretas, não foi ganancioso ou vaidoso, buscando nos bens materiais uma honra maior para aparentar para os homens, mas se aproximou mais de Deus, e ainda mais à medida que os anos passaram, esse merecerá uma morte tranquila, rápida, com o mínimo de sofrimento. Quem equilibra corpo, alma e espírito não permite que se instale em si doenças mais terríveis, sejam físicas ou emocionais, mas mesmo que tenha vivido algum tempo de maneira errada, se humilhou-se a tempo de todo o coração diante do Senhor, também achará no Espírito Santo cura e vitória que o preparem para uma boa morte. O justo vive bem, principalmente no fim, porque plantou para isso, sua luz ainda que pequena no início, será grande no final, consequentemente viverá muito e terá uma passagem serena. 

      “O Senhor me castigou muito, mas não me entregou à morte.” 
Salmos 118.18

      Contudo, podemos ter um entendimento mais profundo sobre a morte, baseados no seguinte questionamento: quem conhece o plano real de Deus para cada ser humano? Ou então, o que precisamos passar neste mundo, até nosso último suspiro, para chegarmos ao melhor de Deus para nossas vidas, o melhor que levaremos à eternidade? Essa pergunta não é tão fácil assim de ser respondida, uma coisa eu creio que seja certa, todos nós passamos por este mundo, num instante de tempo comparado a toda eternidade, para que tenhamos a oportunidade de abrirmos mão de nós mesmos e darmos prioridade para o outro e para Deus, viver bem de fato nada mais é que morrermos para nós mesmos. A vida é um confronto com morte para que tenhamos direito à vida, vivemos para morrer, quem não vive preparando-se para morte, morre, porque morre a segunda morte que é espiritual ainda vivo fisicamente. A morte do ego, todavia, é algo pessoal, específico para cada um de nós, e alguns podem precisar de uma morte demorada e doída para que possam abrir mão do ego e terem direito à vida eterna em Deus. 

      “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos.
 Salmos 116.15

      Aqueles que verdadeiramente obedecem e adoram a Deus são especiais para Deus, porque estão em Cristo, fazem parte dele, conheceram sua luz, para ela olharam e nela fizeram refúgio, contra o mal, as trevas e a morte, dessa forma para a luz irão quando seus espíritos forem desprendidos dos corpos. A morte só é violenta para os violentos, só é enganosa para os enganadores, só será uma surpresa ruim para os que amaram a mentira e não foram humildes o suficiente para se revelarem em verdade. Livrar-se de uma morte ruim não é fácil, pode custar um vida longa e difícil, nossos corações orgulhosos e egoístas, muitas vezes viciados nos apetites da carne e nas vaidades, podem precisar de muita vergonha, perdas e humilhações para se renderem a Deus. Tenhamos a lucidez de entendermos o que Deus tem para nós e obedeçamos isso enquanto há tempo, para que mereçamos uma morte em Cristo que alegre o Pai, e Deus contempla o final da vida física de um filho obediente, que foi útil para abençoar outros seres, que achou a luz, nela ficou e nela será espiritualmente consumado por seu amor. 

      “E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei.” 
Lucas 12.4-5

      Inferno se constrói aqui e se leva para lá, quando não se humilha diante de Deus e não se conhece a Jesus como salvador. O pior tipo de inferno, se é que há tipo de inferno, é aquele construído na alma de um suicida. O suicida não quer exterminar o corpo, ele tenta calar o espírito que sofre dentro dele, ainda que o espírito não possa ser morto em sua substância, só em sua moralidade, e ele pode fazer isso ainda em vida física à medida que foge da luz, da verdade, de Deus, e nega a si mesmo cura e paz. O arrogante e vaidoso, que quer viver de aparência para mostrar aos outros o que não é e nem precisa ser, mortifica seu espírito, e se não conseguir manter a farsa matará o corpo para tentar acabar com sentimentos e pensamentos de dor, isso só apressará um inferno terrível. O que se mata não amaldiçoa somente a si, mas à sua família, que ficará e terá que conviver emocionalmente com uma perda estúpida, que aconteceu antes do tempo melhor, e com consequências materiais que terá que administrar, como dívidas e alianças profissionais quebradas. Se o suicida pensasse um pouco em quem terá que continuar vivendo, se tivesse ao menos algum amor pelos outros mais que por si, não cometeria tal insensatez. 

      “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” 
Filipenses 1.21 

      Longe de nós nos compararmos a Paulo, pelo menos, longe de mim, para podermos afirmar com total propriedade o texto acima. Mas Deus, em sua graça, permite aos seres humanos, indiferentemente de suas vocações, trabalhos seculares e ministérios eclesiásticos, viverem em Cristo e serem felizes. Para que isso aconteça precisamos ser obedientes até o fim, nos libertarmos de ilusões, sejam elas quais forem, as materiais e também as religiosas, e existe muita ilusão em igrejas cristãs. Mas quem de fato viver em Deus, confiando nele e pagando todos os preços para agradá-lo, entenderá que tanto faz morrer ou viver, dos dois jeitos estamos na luz do Altíssimo, protegidos por ele, cuidados pelo seu amor, honrados pelo Senhor e criador de todas as coisas. Quem vive para abençoar o próximo servindo a Deus, será servido pelos anjos do Senhor na eternidade, mas quem descobre que servir ao próximo é sua maior vocação, tem no mundo alegria semelhante a que terá no céu, e eis um dos grandes mistérios da existência, entender que o espiritual importa mais que o material. 

Esta é a 40ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

10/03/22

Que legado deixaremos? (39/90)

      “Melhor é a boa fama do que o melhor ungüento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.” 
Eclesiastes 7.1

      Que legado deixaremos quando partirmos deste mundo? Depende de para quem deixaremos. Alguns deixam reputações honradas para o mundo, para colegas de trabalho, mesmo para irmãos da igreja. Por esses alguns serão lembrados nos velórios como bons amigos de bares, colegas honestos de trabalho, mesmo bons cristãos em templos, e isso tudo pode ser verdade. Muitos funcionam bem publicamente, são atenciosos, educados, mesmo afetuosos, esses talvez tivessem que se limitar a esses círculos, durante o dia e só socialmente, como profissionais, não se envolvendo com famílias, cônjuges e filhos. 
      Contudo, muitos se casam, constituem famílias, e voltam à noite para seus lares. Como esses serão lembrados por maridos, esposas, filhos e outros familiares próximos? Muitas vezes os amigos do mundo são os inimigos da família, no lar não têm paciência com cônjuges, nunca têm tempo para os filhos, não conseguem praticar amor justamente com quem mais importa. Sim, quem mais importa em nossas vidas são nossas esposas, nossos maridos e nossos filhos, esses existem por escolha nossa e são o que fazemos deles, são nossa maior responsabilidade e consequentemente representam nosso legado mais importante.
      Alguns podem dizer que não se importam com o que os outros pensam, de fato isso está certo, a opinião de quem nunca se importou em nos conhecer melhor, em entender nossas lutas e escolhas, não importa, não se de fato estamos procurando no tempo presente viver com temor a Deus. Quem segue a Jesus tem o passado perdoado, e mesmo se não for entendido pelos de fora pode ser alguém do bem, que convive com família em humildade e amor. Mudança legítima quem vê é a família, “mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel.” (I Timóteo 5.8).
      Depois do que Deus pensa de nós e do que nós pensamos de nós, e isso é muito importante, nos perdoarmos e nos gostarmos, importa o que cônjuges e filhos pensam de nós. É claro que o ideal seria podermos dar bom testemunho a todos, e depois de partirmos deixarmos legados de boas lembranças nos corações do maior número de pessoas possível, sejam nos lugares que forem. Nunca nos esqueçamos que Deus tudo vê e considera, não estamos protegidos do olhar do Senhor só por estarmos longe do templo da igreja, “seja a vossa eqüidade notória a todos os homens, perto está o Senhor” (Filipenses 4.5).
      Mas a vida é um processo e ninguém precisa começar de cima, a realidade é que muitos de nós começam embaixo, e infelizmente muitos nos julgam só pelo nosso começo. O justo, contudo, não deve ser julgado pelo seu início, mas pelo seu fim, e o realmente justificado por Cristo sempre terá no final de sua vida, ao menos nesse momento, um tempo de vitória plena, creio assim e experimento isso em minha vida. “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Provérbios 4.18), tenho certeza que deixarei um bom legado no coração de minha esposa e de minhas filhas. 
      Quer deixar um bom legado? Não precisa deixar bens materiais, mas não deixe dívidas, não precisa mudar o passado, isso não pode ser feito, mas viva um presente de qualidade que permaneça depois de você partir. Você não precisa nem anular certos erros, mas deixe um pedido de perdão, deixe a humildade de quem reconhece os limites, o egoísmo, a vaidade e a arrogância que cada um de nós carrega dentro de si. Entregue sua vida nas mãos de Deus e peça que ele resolva o que você não pode resolver, Deus tem seus caminhos e pode manifestar um legado para você que você nem imagina ter ou merecer.

Esta é a 39ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

09/03/22

Expiação ou missão? (38/90)

      “Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis.” 
II Pedro 1.10

      Algumas religiões explicam a passagem do ser humano pelo mundo em duas experiências, expiação e missão. Nós cristãos protestantes, na prática de nossa doutrina, entendemos essa passagem sob dois resultados, salvação e perdição. Reflitamos um pouco sobre esses quatros termos. Algumas pessoas parecem ter nascido para sofrer, e se não é de fato assim, algumas pensam que é assim pelo menos com elas, contudo, quem faz uma avaliação lúcida do mundo entende que existe muito sofrimento e muitos parecem sofrer sem merecerem. Muitos experimentam pobreza, falta de infraestrutura básica para uma vida digna, limites de oportunidades para estudar e trabalhar, que os prenderão a existências limitadas. Cristãos evangélicos precisariam olhar além de seus próprios umbigos e aceitarem, que muitos sofrem sem terem noção de que podem buscar a Deus do jeito que eles buscam, sofrem e não têm condições físicas nem intelectuais para fazerem decisões morais e espirituais de mais qualidade. 
      Muitos cristãos estão escondidos dentro de templos, cegos sobre o que de fato ocorre na vida de gente de países distantes, e mesmo das periferias de suas cidades. Se a coisa realmente funcionasse como eles acham que funciona, não haveria tanta injustiça no planeta sendo provada por pessoas sem condições de lutarem por justiça. Que justiça há num conceito do “divino justo” que permite que alguns nasçam com e em certas condições, e em níveis de privilégios, enquanto outros não? De fato, parece, e eu repito, parece que muitos nasceram nesse mundo só para sofrerem e com isso expiarem pecados. Mas não podemos negar que outros sofrem por escolha, até receberam condições de terem alguma dignidade na vida neste mundo, mas ainda assim fazem escolhas erradas, sejam materiais, morais ou espirituais, que terão como efeitos o sofrimento. Muitos são orgulhosos e colocam a culpa de seus problemas nos outros, no mundo e mesmo em Deus, não assumindo responsabilidades por seus erros e consequentes dores. 
      Mas sob outra ótica, alguns podem ser salvos e outros não. Alguns aceitam a salvação que o cristianismo oferece e outros a negam, simples assim? Sim, se analisarmos a passagem neste mundo sob esse ponto de vista muitos se convertem em igrejas cristãs, sejam católicas, protestantes, evangélicas ou outras, e se tornam filhos de Deus, e outros não, assim, de acordo, e repito, com a doutrina cristã, alguns irão para o céu e outros para o inferno. Os que se “convertem”, além de irem para o melhor de Deus no plano espiritual, terão neste mundo uma proteção maior do Senhor no plano material, assim poderão vivenciar aqui menos sofrimento físico. Para esse ponto de vista eu faço uma pergunta: o que realmente mostra que alguém é filho de Deus ou não? São compromissos com religiões, com homens, mesmo com o cristianismo, ou são frutos de justiça e amor, fatos que comprovam a teoria? Bem, existe muita gente que não tem ligação oficial com o cristianismo, mas dá melhores frutos que cristãos. 
      Contudo, nos olharmos não como expiando erros e defeitos, mas como missionários de passagem por uma terra distante de nosso verdadeiro lar, talvez seja o ponto de vista mais espiritual de todos. Esse olhar não procura culpados nem se faz de indiferente, mas busca fazer a diferença, cada indivíduo do seu jeito para ser melhor no mundo. Quem cumpre uma missão também expia pecados? Sim, é um jeito de anular o mal que se fez e que outros fizeram, principalmente com ações e não só com orações. Acima de tudo, o missionário se põe como um ser maduro que tanto trabalhará materialmente como acionará o divino e o mundo espiritual. Com missionário não me refiro àqueles que trabalham com evangelismo em igrejas cristãs, trazendo adeptos para suas religiões, pelo menos não me refiro necessariamente a esses. Me refiro a todos aqueles que desempenham trabalhos honestos no mundo, religioso mas em grande parte secular, não só para sobrevivência e prosperidade pessoal, mas também para beneficiar os outros. 
      Missionário é todo ser humano que venceu as barreiras do egoísmo e da vaidade e foi além de suas próprias necessidades, isso sempre agradará a Deus e contribuirá para que a humanidade evolua. Se a visão de quem vê sua vida como um missionário abranger todos os planos, material, moral e espiritual, seja para si mesmo, para os outros como para Deus, sua missão terá mais eficiência pois contemplará o ser humano e tudo o mais de maneira mais completa, não só no plano físico como também no espiritual. Quem pode estar no mundo como missionário? Todos os seres humanos, mas o cristão, pelo que ele conhece do evangelho, deveria ser aquele com mais condições para isso, pelo menos na teoria, infelizmente, na prática não acontece assim. Evangélicos estão nos templos cantando um Cristo salvador, cheio de amor e que pode abençoar toda a humanidade, mais que qualquer outra religião, mas ainda assim estão, muitos deles, ocupados só com prosperidade material e pessoal. Para que você está no mundo? 

Esta é a 38ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

08/03/22

Até que ponto seremos provados? (37/90)

      “Bem-aventurado o homem que suporta a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.” 
Tiago 1.12

      Até que ponto de nossas forças seremos provados nesta vida? Até que tempo seremos provados? Qual será a extensão máxima de nossas provações? Sabemos em algum momento que já fomos provados o suficiente, para que possamos então descansar e só usufruirmos? Ou a existência no mundo constitui provas até nosso último instante de vida no corpo físico? Temos que entender que viver é ser provado, esse é o objetivo da vida, e provados para que sejamos seres humanos melhores no espírito. O ponto, então, não é como encerrarmos provas, escaparmos delas, mas como administrá-las e sermos felizes, fazendo os outros felizes também, saindo do egoísmo para o altruísmo. 
      Alguns são provados para terem e manterem um trabalho simples, mas suficiente para sobreviverem de maneira honesta e independente. Esses não nasceram com muitos privilégios, mas terão que dizer não à tentação exercida pela marginalidade, que oferece lucros financeiros fáceis, sem exigir qualificações profissionais ou morais, obrigando o ser humano a ser desonesto, mas sujeitando-o a penas e cárceres caso seja descoberto e condenado. Como tem crescido essa tentação, sendo prova para uma grande maioria da população desempregada ou mal empregada, desprezada por governos, pessoas que não têm o luxo de se preocuparem com os outros, só com elas mesmas. 
      Outros, por um motivo ou outro, já possuem alguma estabilidade financeira e ganham mais que o mínimo, suficiente para terem filhos e pagarem formações acadêmicas melhores para esses, assim como para usufruírem lazeres e outros prazeres com mais assiduidade e qualidade. Esses são provados, não pela sobrevivência básica no mundo, mas para fazerem escolhas intelectuais, morais e espirituais mais profundas. Não que o outro grupo não tenha também esse tipo de prova, mas esse segundo grupo pode abrir mão de certas obrigações porque pode, digamos assim, pagar por isso, dessa forma pode cuidar não só de si mesmo, mas também de outros mais necessitados. 
      Em maior ou menor proporção todos somos provados dessas duas maneiras, para sermos indivíduos melhores e para ajudarmos os outros a serem. Sair de um grupo para o outro depende de disponibilidade material, sim, mas muito mais de virtude moral, já que quem tem amor pode ajudar o próximo mesmo tendo pouco. Por que temos que temer a Deus em todo o tempo? Porque neste mundo, enquanto no corpo físico, as provas não terminam, só quem teme a Deus o tempo todo está devidamente preparado para tudo. O “universo” pode nos surpreender com provas que não acharíamos que passaríamos, ou pelo menos não mais, fazendo-nos de ajudadores, os ajudados. 
      Quem teme a Deus respeita os homens, todos eles, não diz em seu coração, “quero distância desse pois não preciso dele”. Não sabemos se Deus nos colocará numa prova onde seja justamente uma pessoa que desprezamos a única que poderá nos ajudar. Deus é justo, não pedirá de nós algo que não podemos suportar ou que pode nos humilhar excessivamente, pelo menos isso não é regra, ainda que nos prove para nos ensinar sobre humildade e nos conduzir à santidade, usando qualquer um para isso. Nossas vidas podem sofrer viradas extremas até nosso último instante aqui, como se diz, “o mundo dá voltas” e “ninguém sabe o dia de amanhã”, por isso tenhamos sabedoria. 
     Isso não é um Deus prepotente e exigente tendo prazer em nos ver sofrer, isso é a porta para a melhor eternidade sendo mantida aberta, o máximo possível, para entrarmos. Quanto mais nos aperfeiçoarmos, seguindo o exemplo de vida e morte do Cristo homem, e dando liberdade para o mestre Espírito Santo, mais essa porta nos será aberta. Não, meus queridos irmãos evangélicos, não é uma decisão de fé no momento do batismo cercados de crentes, que nos garante o céu, não se enganem com isso, mas é trabalho persistente. Não viemos ao mundo para conquistarmos direito a férias, se haverá descanso será na eternidade, e mesmo esse não será como muitos acham. 

Esta é a 37ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

07/03/22

Que pessoas vos convêm ser? (36/90)

      “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão.
      Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.” 
II Pedro 3.9-13

      A vida urge e nos conclama em todo o tempo a compreendê-la. Aqui no mundo ela não é eterna e segue para a desintegração, quem tiver olhos e ouvidos espirituais abertos compreenderá a existência neste plano e poderá retirar dela algo bom e eterno. Sofremos esperando, os que não querem sofrer negam a necessidade da espera fazendo uso de subterfúgios, que potencializam as ilusões da vida material dando uma falsa impressão de eternidade na carne, eternidade que só é viável no espírito. Mas quem tem o Espírito Santo tem a eternidade em si, para a vida, não para a morte, e ainda que veja o corpo morrer pode conhecer e usufruir o Deus eterno de luz e paz. Basta-lhe lutar contra as baixas tendências da carne e deixar subir a vocação mais alta do espírito, que habita essencialmente todos os seres humanos.
      Para Deus o tempo não funciona como funciona para nós, seres encarnados, ele sabe do futuro porque tudo já fez no passado, existindo num eterno presente. Os que sincronizam suas vidas com ele não sofrem com prazos de entrega, nem se surpreendem com recebimentos, se para nós parece demorar é só o Senhor aguardando que nós, na carne, estejamos melhor preparados para receber. Justos e ímpios, salvos ou perdidos? Deus ama a todos igualmente, todos provarão o seu amor em algum tempo, não duvidem disso. São os próprios homens, não Deus, que podem impedir os homens de receberem as bênçãos e serem satisfeitos com a felicidade. Quem ainda não recebeu um bem é porque ainda não se preparou para isso, colocando-se na posição onde todas as bênçãos, espirituais e físicas, podem ser usufruídas. 
      Haverá juízo, um julgamento final? Haverá um momento onde todos os seres humanos serão avaliados por um juiz, mais elevado e puro, para que recebam uma sentença? Sim, não da maneira como muitos, incluindo cristãos e evangélicos, acham que será, mas com certeza confrontará causas e efeitos de todos os seres. Tudo será recompensado, também não do jeito que muitos acham que será, não necessariamente conforme o que foi feito, mas conforme a intenção de quem fez. É assim para que haja justiça e crescimento para o alto, onde habita o pai das luzes, de todo o bem, de todos os espíritos criados e colocados no mundo para serem provados. Esse mundo, apesar de ser tão importante para tantos, será totalmente transformado pelo “fogo”, fogo que também não será o que muitos acham que será. 
      Roupas caras, produtos de embelezamento e estética, comidas sofisticadas, bebidas raras, joias, ouro, pedras preciosas, carros luxuosos, tecnologias de última geração, dinheiro, cartões de credito, lugares seculares e históricos, belezas naturais e construídas pela humanidade em milênios, quadros, instrumentos musicais, toda a arte avaliada em milhões, tudo isso passará. Mas se tudo o que vemos, se tudo o que muitos chamam de a única realidade, se tudo o que tantos pagam preços de sangue para possuir, para que possam se sobrepor sobre pares e gozar de prazeres físicos, se tudo isso acabará, o que de fato levaremos para aquilo que não tem fim? Chegamos ao questionamento que Pedro nos faz em sua carta: que pessoas nos convêm ser, quais os valores que verdadeiramente nos salvarão do “fogo do inferno”? 
      Em santo trato e piedade, aguardando e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que habita a justiça, eis as melhores condições para vivermos um estado de vigilância que nos dê direitos a uma boa sentença no juízo. Santo trato e piedade, é mais que aparência de santidade, que simplesmente obedecer certas regras que muitas vezes só protegem o exterior, é mais que educação e discurso de amor. É vida prática como fruto de um homem interior limpo, é amor que age e serve os semelhantes com misericórdia e caridade. Quem está em Deus sente a urgência da existência e não se faz de morto, não perde tempo, mas toma, a tempo, a iniciativa para fazer o bem, vencendo o orgulho e a vaidade, dando a outra face e de fato andando em humildade, discreta e do coração, como é a verdadeira humildade. 
      A pressa de ver justiça sendo feita neste mundo e principalmente nas próprias vidas, é o que leva muitos a se afastarem de Deus e a se colocarem debaixo de homens e de seres espirituais rebeldes, que se achando maiores que Deus enganam a muitos dizendo que são defensores de seus direitos. Apressemo-nos, sim, mas para conhecermos e obedecermos a Deus, nem a justiça, o amor e a paz estão acima de Deus, quem busca tudo isso e despreza Deus, no final só achará desgosto e tormento. Não se enganem, fins não justificam meios. Sim, podemos e devemos buscar direitos iguais e qualidade de vida para todos hoje, mas cientes que a justiça maior só vem de Deus que só a manifestará plenamente no futuro, nos novos céus e na nova terra. Que pessoas nos convêm sermos, nós que aguardamos o cumprimento da promessa de Deus?

Esta é a 36ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

06/03/22

Pastor, quem você será na eternidade? (35/90)

      “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado, tendo já feito boa confissão diante de muitas testemunhas. Mando-te diante de Deus, que todas as coisas vivifica, e de Cristo Jesus, que diante de Pôncio Pilatos deu o testemunho de boa confissão, que guardes este mandamento sem mácula e repreensão, até à aparição de nosso Senhor Jesus Cristo; a qual a seu tempo mostrará o bem-aventurado, e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém.” 
II Timóteo 6.12-16

      Para entendermos melhor a jornada de Jesus e de outros mestres do primeiro século, é importante conhecermos como funcionava a educação nesse tempo. Parte importante do ensino era itinerante, os alunos andavam com o professor de cidade em cidade, era um costume da época, o professor e seus alunos não eram andarilhos desempregados por causa disso. Alunos podiam ser sustentados pela família, mas os que não podiam dependiam da ajuda dos moradores das cidades com alimentação e moradia, vemos um exemplo disso em Lucas 10.1-16 quando Jesus envia os setenta (veja mais neste link). 
      Jesus era rabino, mestre, era professor, essa era sua profissão, ele escolheu alunos, os discípulos (Mateus 4.18-22). Jesus tinha experiência e conhecimento, obtidos antes do início de seu ministério, para desempenhar sua atividade. Jesus não era só alguém tentando divulgar uma nova religião ou a reforma de uma antiga. Hoje temos esse costume no ensino? Não, hoje o ensino é feito em lugares fixos, há leis que certificam escolas e faculdades como oficiais, entretanto, mistificando a vida de Jesus, muitos pastores tentam romantizar um costume antigo para dar legitimidade a seu despreparo. 
      Hoje, um pastor deveria ser um profissional legalizado, e nessa afirmação usei o termo “profissional” na melhor das interpretações. Profissional no sentido de ser alguém, após ser chamado espiritualmente, preparado intelectualmente em faculdades e seminários teológicos sérios, depois ser devidamente consagrado numa igreja por um grupo de pastores idôneos, para então começar a trabalhar. Infelizmente o termo profissional é interpretado do jeito errado, como empresário vendendo um produto para obter lucro, ainda que não se tenha preparo e muito menos chamada espiritual para tal.
      Não é fácil o trabalho de um pastor que milita a boa milícia da fé, ocupar-se em servir o outro, em tempo integral, atender os pedidos dos que sofrem, ter sempre uma palavra de esperança para dar, estar sempre de pé. Se para viver é preciso resiliência, muito mais para ser pastor, e não só para a própria sobrevivência, mas para ajudar outros a seguirem vivendo em Deus. Existem pastores verdadeiros hoje em dia? Sim, muitos, Deus os conhece e deles cuida, ainda que sejam menos “famosos” entre os homens. Quem deles precisou nunca deles se esquece, louva a Deus por eles, servos leais de Jesus. 
      Pastor, quem você será na eternidade? Seu homem interior estará coerente com o que você pregou? Que você seja um ser humano feliz por estar fazendo o que lhe é pedido por Deus. Se não sentir-se melhor pelo que se faz é consciência que deve haver em todo aquele que decide pelas vidas de muitos em áreas materiais deste mundo, também é consciência que será cobrada de pastor. Esse tem a missão de servir, não de ser servido, de entender que foi chamado por causa de ovelhas que precisavam do alimento que Deus lhe deu para dar a elas, e não para ser sustentado materialmente por elas. 
      Nem sermos líderes religiosos, por si só, nos faz melhores e com mais direitos na eternidade, o pastor não terá entrada no céu na frente de outros só por ser pastor, ninguém se engane. Se estamos fazendo o que Deus quer de nós, temos capacidade do Senhor dada a nós no tempo para fazer isso, por isso, ainda que fazendo com muito amor, não fazemos mais que nossa obrigação. Mas se alguém acha estar fazendo mais que deve, por isso os homens e Deus estão em dívida com ele, e que isso lhe deverá ser pago, se não aqui no céu, entenda melhor sua chamada e como desempenhá-la ou mude de área. 
      Como outras vezes já foi dito aqui, haverá muitas surpresas no exato instante após o corpo físico parar de funcionar e o espírito estiver livre para a eternidade, muitas surpresas serão para melhor, mesmo que se veja que as coisas não são bem como se pensava ser. O humilde sempre acha paz e luz. Contudo, haverá surpresas tristes e outras até piores. Os que experimentarem as tristes passarão por um tempo de aceitação, não do que o céu é, mas do que eles de fato são construído em seus homens interiores no mundo, por anos de escolhas equivocadas sobre o caminho da piedade e do temor a Deus. 
      Haverá, entretanto, os que experimentarão terríveis surpresas, esses se revoltarão por não receberem o que achavam que tinham direito, esses se escandalizarão com a verdadeira eternidade confrontada com as superstições e fantasias que a religião de homens construiu em suas mentes, ainda que o Espírito Santo lhes mostrasse a verdade. Esses terão um inferno para alojar invejas, ódios, vícios, culpas e revoltas contra tudo, principalmente contra Deus, que não sejamos um desses, antes andemos sempre no amor de Deus. Deus sempre nos conduz à verdade, o humilde sempre a encontra e a tempo. 
      “Rei dos reis e Senhor dos senhores, aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível, a quem nenhum dos homens viu nem pode ver”, lindíssima essa descrição que o texto bíblico inicial faz sobre o Cristo espiritual que nos será revelado na eternidade, me chamam a atenção os termos imortal e luz inacessível, que mistério profundo há nisso. Entendemos de fato o que isso significa? Muitos cristãos não entendem, ainda que creiam que terão vida eterna no céu. Imortalidade não é só nunca morrer, mas ser eternamente atraído pelo amor de Deus à sua mais alta luz e dizer sim. 

Esta é a 35ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

05/03/22

Carisma, política e pecado (34/90)

      “Porque nada trouxemos para este mundo, e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores. Mas tu, ó homem de Deus, foge destas coisas, e segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a paciência, a mansidão.” 
I Timóteo 6.7-11

      As cartas de Paulo a Timóteo constituem um verdadeiro manual do pastor, não só sobre os deveres desse, mas também sobre seus direitos. Um pastor tem direitos? Tem, mas bem menos que muitos pastores querem ter nos dias atuais. A palavra chave do texto bíblico inicial é piedade, piedade é devoção, amor pelas coisas religiosas, mas mais que religiosidade pessoal, é compaixão pelo sofrimento alheio, misericórdia pelos outros. Em piedade está também incluído o termo servo, que é ocupar-se em servir o outro, não a si mesmo, é se dar, não receber, desaparecer, não ser visto. 
      Se a pergunta “quem você será na eternidade?” é relevante para todos os seres humanos, para os pastores em especial tem uma importância ainda maior. Quem será você, pastor, na eternidade? Quem será você diácono, presbítero, missionário, reverendo, padre, bispo, papa, monge? Vocês que pregam que na eternidade não valerão títulos do mundo, status de profissionais em empresas, adquiridos com estudo, trabalho e mesmo valor da conta no banco, não se enganem, títulos em instituições religiosas, em ministérios, em igrejas, também pouco ou nada poderão representar. 
      Quando os homens entenderam o poder do cristianismo, que esse contém o Cristo e o Cristo pode transformar as vidas dos homens, em primeiro lugar muitos homens receberam essa transformação, entretanto, alguns outros, depois, perceberam que esse poder poderia ser usado para beneficia-los no mundo. Assim nasceu a igreja católica no quarto século e depois tantas igrejas evangélicas como empresas e negócios lucrativos, daí outra coisa ocorreu, proeminência religiosa potencializa influência política, assim homens manipulam homens não só em templos, mas na sociedade. 
      A relação entre papas e imperadores é histórica no catolicismo, no protestantismo isso se repete, pastores, missionários, pregadores, diáconos usam a popularidade que possuem em congregações para construírem eleitorado e conquistarem cargos políticos em suas cidades, estados e mesmo no âmbito federal. Ainda que eu acredite que cristão não deva ter cargos políticos de forma alguma, posso até fazer uma excessão, mas desde que o cristão abra mão de cargos e títulos na igreja, não usando isso para ter votos de cristãos, mas sendo representante político de todos, mesmo de não cristãos. 
      Mas quem resiste à tentação? Quem percebe que nasceu com uma persona marcante, com jeito carismático que encanta as pessoas, principalmente por seu modo de falar, e toda sedução implica em boa lábia e energia sexual, que necessariamente não requerem boa aparência, esse não resiste à tentação de expandir a influência que tem em púlpitos, em igrejas, para toda a sociedade. Carisma independe de dons espirituais, mesmo de formação intelectual, e hoje, com a internet, popularidade se constrói ainda com mais facilidade. Eu pergunto se carisma pessoal é bênção ou maldição. 
      Fica fácil para quem não precisou investir trabalho e dinheiro no desenvolvimento de uma competência, conseguir as coisas com algo que recebeu de graça, não precisar nem de vida espiritual para impressionar as pessoas, basta-lhe encenar um personagem. Carisma pessoal mais cristianismo podem acabar em política, mesmo que seja só para administrar interesses numa igreja. Políticos, contudo, poderão cair nas armadilhas dos valores mais cobiçados no mundo, dinheiro e sexo. Estou generalizando, sendo injusto? Nem todo líder de igreja é político e nem todo político é ganancioso e lascivo? 
      Mas para quem começa errado é mais fácil acabar errado, o erro inicial é confiar em si mesmo para ter aquilo que não era para se ter, pelo menos não do jeito que se teve, assim o carismático deve ter mais cuidados, não menos. A pergunta que deve ser respondida é: o que nos torna carismático, o Espírito Santo ou o nosso ego? Grandes egos devem ser ainda mais moldados por Deus e pelo tempo. Se não tocarmos as vidas das pessoas com justiça, piedade, fé, amor, paciência e mansidão, como orienta Paulo a Timóteo, seremos nós que faremos algo e para a nossa glória, não Deus e para Deus. 
      Aparta-te deles, foge dessas coisas, eis as orientações de Paulo a Timóteo sobre como devemos nos comportar com homens e mulheres que usam o cristianismo para benefícios próprios. Será que nós, como ovelhas ou como líderes do segundo escalão, fazemos isso? Ou somos seduzidos por pastores carnais e nos colocamos debaixo deles para sermos promovidos com eles, aprovados por eles, ainda que digamos para nós mesmos que queremos só servir a Deus em boas igrejas? É tentador ao carismático seu carisma, mas também aos outros, seduzidos sentem-se amados e todos querem ser amados. 
      Seremos avaliados na eternidade pelo nosso interior e não pelo nosso exterior, seja pela nossa aparência, pelo número de pessoas que se encantam com nossa simpatia, por títulos ou fama em igrejas, e mesmo por sermos líderes ou “donos” de ministérios evangélicos reconhecidos. Infelizmente como tem pastor, principalmente de um tempo para cá quando ser evangélico e pastor virou moda, não querendo fazer a vontade de Deus, mas ser um novo Macedo ou um novo Hernandes, e aqui não vai necessariamente crítica a esses. Poucos querem ser como Paulo, e menos ainda como Jesus. 

Esta é a 34ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

04/03/22

E alguns, quem serão na eternidade? (33/90)

      “Nenhum homem há que tenha domínio sobre o espírito, para o reter; nem tampouco tem ele poder sobre o dia da morte; como também não há licença nesta peleja; nem tampouco a impiedade livrará aos ímpios.” 
Eclesiastes 8.8

      No dia 25/11/2020, faleceu o jogador de futebol Diego Armando Maradona, com certeza um dos melhores do mundo em seu esporte, e na opinião de muitos argentinos, o melhor, mais até que Pelé (s.q.n.). Pessoas e coisas se destacam das outras em nível mundial e perdurando no tempo não por terem uma coisa diferenciada, mas muitas, um grupo de características contribuíram para que Maradona fosse especial. Primeiro ele tinha uma habilidade singular com a bola, talento e arte que produziam muito em pouco espaço de campo e em pouco tempo, isso não só ganhava jogos, mas nos encantava, vê-lo jogar era (e é, assistindo vídeos) muito prazeroso. Maradona era mais que um excepcional atleta, era genial! 
      Mas Maradona não era só um jogador ímpar de futebol, ele tinha opiniões políticas e não tinha medo de expô-las. Assumidamente de esquerda dizia que Fidel Castro era seu segundo pai, defendia os pobres e até chegou a se posicionar publicamente contra as riquezas da Igreja Católica. Esse misto de deus e bad boy criou um carisma que levantou adoradores na Argentina, passando pela Itália onde jogou e por todo o planeta. Existe até uma “igreja” que celebra Maradona como um ser espiritual especial, a Igreja Maradoniana. Seu enterro teve pompas de rei e movimentou a Argentina como poucas vezes, o falecimento de Dieguito aos sessenta anos, vítima de parada cardiorrespiratória enquanto dormia, foi prematuro. 
      Contudo, se na vida pública ele é considerado um deus, na vida privada foi terrivelmente humano, e isso ele não escondeu de ninguém. A verdade na vida das pessoas, e por incrível que pareça mesmo a ruim, sempre traz mais admiração que aversão, porque sentimos empatia por sabermos que outros têm as mesmas lutas que nós. Vemos, mesmo no gênio, alguém semelhante a nós, se até ele teve problemas, por que nós não podemos ter? Contudo, é bom refletirmos sobre algumas coisas da passagem desse ser humano único na Terra para aprendermos e quiçá, melhorarmos. O que faz alguém, com tantos privilégios, com tantas glórias, que nasceu com ferramentas tão boas para ter prosperidade no mundo, ser presa de vícios? 
      A vida é feita de trocas, deixamos algo que nos faz mal quando temos algo bom, de pelo menos igual tamanho, para trocarmos, não basta tirarmos o mal, temos que ocupar o espaço com algo bom, algo que valha à pena termos e mantermos. Contudo, o que é bom para nós depende de nosso caráter, de princípios de certo e errado que temos e guardamos no fundo do nosso ser, esses princípios ganham relevância quando entendemos o que realmente importa na vida, o que nos traz a paz que permanece. Muitos deixam uma vida de devassidão e de prazeres egoístas quando acham um amor verdadeiro e com ele constroem uma família, outros trocam vícios por profissão, começando pelos estudos até alcançarem um cargo alto e honrado. 
      Tantos que realmente se convertem ao evangelho de Jesus deixam vidas erradas e frívolas para conhecerem, adorarem e servirem a Deus, e essa é a vocação melhor de todo ser humano, a mais eficiente para livrar de ilusões e vícios. Se não paramos de pecar porque não achamos que o pecado nos faz mal, se tivermos alguma índole paramos de pecar porque isso machuca pessoas que amamos, assim o que vence o pecado é o amor. Pecar e seguir pecando, fazendo disso um vício, é atitude de seres imaturos e egocêntricos, que só se importam com o próprio prazer, e quem não morre para si para viver pelos outros, acaba vivendo só para si e morrendo para todo mundo. Viver para sempre do jeito melhor só em Deus. 
      Felizmente existem bons exemplos de gente, mesmo entre artistas e esportistas famosos, que venceram drogas e alcoolismo, mas infelizmente, por mais que a luz de gênios tenha brilhado neste mundo e que até nos acostumemos a dizer que esses continuarão brilhando no céu, a coisa não funciona bem assim. Não, não estou condenando ninguém ao “inferno” pelo simples fato de alguém não ter demonstrado em vida qualquer relação com o evangelho, a coisa também não funciona assim. Ligação íntima com Deus só Deus e quem a tem sabem, não nos enganemos. A vida é uma prova, aptidões, família, intelectualidade, posições, fama e bens, são só ferramentas, não definem as pessoas, mas são usadas para provar as pessoas. 
      Ser famoso no mundo, em tantas áreas distintas, revela-nos uma coisa, algumas pessoas receberam de Deus uma oportunidade especial. Não, o diabo não é pai de nada, não dá nada, mas pode enganar aqueles que de um jeito ou de outro teriam relevância no planeta, dizendo que eles são o que são por causa dele. Mas isso é uma mentira, com as grandes facilidades, que dons e aptidões entregam, vêm grandes responsabilidades, e a responsabilidade maior é contribuir de forma positiva nas vidas das pessoas, isso será cobrado de todos na eternidade, não tenham dúvidas. Quanto a nós, reles mortais, não invejemos a fama, sejamos úteis em amor o mais humildemente possível, o Deus que dá, sabe, e recompensará com justiça. 

Esta é a 33ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021