08/10/21

Servos não militam por si (8/31)

      “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz.” 
Filipenses 2.3-8

      Políticos não são donos de cidades, estados ou países, políticos são escolhidos pelo povo para servirem o povo, são nossos empregados, portanto, servos de todos, não senhores. Um empresário pode ser patrão, construiu em negócio que é seu, para seu benefício, ainda que tenha empregados e deva, como cidadão e como ser moral, respeitar os direitos desses empregados, entretanto, políticos não são donos de empresas e não têm direito de usar o que administram em benefícios próprios. O exército brasileiro, não é do presidente, de um governo, nem do de direita e muito menos do de esquerda, mas do Brasil, do povo brasileiro, assim como todas as instituições estatais, sejam nas áreas que forem. Por isso, acima de tudo, a consciência que deve haver na mente de políticos é a de um humilde servo com um emprego temporário.  
      Como tal ganha, e deve ganhar, um salário decente para ter tempo para poder desempenhar sua função, enquanto sustenta uma vida digna para si e para sua família, mas sua satisfação maior deve ser a alegria de ter a honra de poder representar por um cargo político, não seus interesses, mas os interesses de membros de uma nação, e tendo esses votado ou não no político. Isso nada tem a ver com religião ou com vida espiritual, mas com vida social civilizada, contudo, se políticos devem ter a consciência de que são servos, muito mais líderes religiosos cristãos, de todas as denominações e seitas, católicos, protestantes ou outros, se é que querem levar o nome de cristãos. Essa missão deve ser desempenhada por e em amor, não para dar sentido a uma vida pessoal não resolvida, se alguém quer servir como religioso deve se ajudar antes de ajudar os outros.
      Servo, o texto inicial define essa função com precisão, mas não são só líderes religiosos que devem servir ao próximo, todos nós, de alguma maneira, somos vocacionados para servir. Numa reflexão que pensa em tantos que parecem militar só para terem lugar de fala para se sentirem importantes e parte de algo maior que eles, para darem sentido a vidas muitas vezes não resolvidas e terem cargos políticos, entender o servo bíblico pode confrontar muitos com um conceito mais alto, e quiçá, fazê-los repensar o porquê de suas militâncias. Uma virtude que um servo chamado por Deus precisa ter é humildade, que não se acha dono de algo, mas só administrador temporário do que lhe é emprestado. Nossa existência no mundo é isso, com nada viemos e com nada sairemos, a não ser com as virtudes que conseguirmos fixar em nossos espíritos. 
      Mas mesmo desprendimento material, se for só isso, pode conduzir a uma missão equivocada, muitos são humildes, não querem ser donos de nada, mas vivem uma espiritualidade só para eles mesmos, militam só por si. O texto inicial diz mais sobre o exemplo maior de servo que a humanidade na Terra conheceu, Jesus, um servo serve, simples assim, mas não a si mesmo, aos outros, e faz isso até as últimas consequências se for necessário. Jesus serviu a mim e a você até à morte. Mas calma, não somos chamados para sermos cristos, não temos quilate moral para isso, Deus conhece nossos limites e sabe o que pedir de nós, de maneira que possamos servir com alegria e da melhor maneira que pudermos. Mas cada um de nós, se procurar em Deus dentro de si mesmo, saberá exatamente o que precisa fazer para ser útil para abençoar alguém. 
      Temos que ter algum cuidado, sempre que o conceito sacrifício se apresenta, temos a tendência de interpretar esse termo de jeitos errados. Podemos nos sacrificar, ou por medo de não conseguirmos dizer não a quem só quer nos explorar, ou para termos de alguns algum afeto, mesmo que a preço de sangue. Podemos exigir sacrifícios dos outros por colocarmos nos outros a culpa por problemas que são nossos, mas mesmo que nossos problemas tenham sido legitimamente causados por terceiros, podemos nos achar no direito, como vítimas, de exigir que alguns se sacrifiquem por nós. Quem se sacrifica desnecessariamente não é feliz, tentará ajudar os outros, mas não se ajudará. Quem exige sacrifícios dos outros também não é feliz, sempre achará que os outros lhe devem alguma coisa, assim não amará, não se sentirá amado e não conseguirá servir a Deus. 
      “Porque eu quero a misericórdia, e não o sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que os holocaustos” (Oseias 6.6), muitas vezes nos sacrificamos simplesmente porque isso parece mais fácil fazermos que sermos misericordiosos, mas só somos misericordiosos quando provamos misericórdia e só provamos misericórdia quando somos humildes. “Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas” (Mateus 11.29), que texto maravilhoso é esse, daqueles que vêm do centro do evangelho. Quer militar por uma causa que valha a pena? Comece militando por si mesmo, ache a paz e a segure, humildemente com todo o coração, seja curado, só depois você poderá entender o que é ser servo, e só um servo de verdade pode lutar uma militância legítima e por amor.     

Está é a 8ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

07/10/21

Quem é o anticristo? (7/31)

      “Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós. E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo.” 
I João 2.18-20
      “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui.” 
João 18.36

      Algumas coisas não são bem o que parecem ser, ter convicção, por exemplo, não significa estar certo, só ter fé não confere legitimidade para que se receba algo, pelo menos não de Deus. Seguir alguém que tem certeza do que é, quer e faz, pode parecer seguro, nos dar o foco que podemos não achar em nós mesmos, mas delegar escolhas para os outros nos colocará como escravos dos outros, assumiremos a responsabilidade de erros dos outros. Usar o nome de Deus não significa ter aprovação de Deus. Eis uma estratégia que líderes populistas de direita podem usar, colocar Deus na história, e quem coloca Deus de maneira errada numa causa, certamente colocará também o diabo, como seu antagonista e no lado dos inimigos de sua causa, na outra militância. Um conflito entre Deus e o diabo pode ser tudo que muitos cristãos equivocados necessitem para militarem por uma causa, esses podem pensar, “se Deus está envolvido devo me envolver, e do lado dele, com certeza se há Deus, a vitória é do lado dele”. 
      Isso é muito perigoso, pode ser usado para envolver cristãos em militâncias que eles não entrariam se vissem claramente que eram só conflitos entre ideologias humanas e políticas. Não estou comparando nenhum líder político brasileiro de direita ao “fühler”, longe disso, mesmo porque não acho que eles tenham, não só a maldade, mas também a inteligência do Adolf. Também não acredito que Deus tenha esse grau de provação para o povo brasileiro, contudo, precisamos ter cuidado (leia mais na reflexão anterior). "O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus” (John Dalberg-Acton), por isso não é sábio cristãos se envolverem com militância política, querer estabelecer o reino de Deus no mundo é heresia (interpretando errado Deuteronômio 11.24-25 para os dias atuais e para o Brasil). Ainda assim é nessa tentação que muitos evangélicos têm caído, quando veem num político que se diz simpatizante de causas cristãs um salvador, ser simpatizante não significa ser cristão. 
      O que é um ídolo senão aquilo que está abaixo do céu mais alto e o homem põe o olhar buscando solução para sua vida para depois adora-lo? Um mito não é Deus, pode ser só uma fake news antiga que hoje parece verdade só por ser antiga, mas pode se transformar num diabo, ainda que apresentando-se como um profeta divino. Para um líder populista de direita é fácil defender causas cristãs convencionais, como não ao aborto, sexualidade binária, valores familiares tradicionais, Cristo como única verdade. Isso engaja multidões em sua militância, isso ganha eleições, mantém cargos políticos e lhe veneração a um líder. O engano é que causas ditas como de esquerda, como conceito mais amplo de sexualidade e casamento, não ao racismo, feminismo, defesa de minorias e de causas ecológicas globais, podem ser tomadas como bandeiras de uma militância demonizada pela direita, e isso ao pé da letra, a esquerda pode ser vista como militando por estratégias do diabo para corromper a sociedade e fortalecer o anticristo.  
      Em conflitos estabelecidos por líderes populistas não há espaço para o equilíbrio, o seu lado é do bem e o outro é do mal, e em se tratando da ótica de cristãos equivocados engajados, o seu lado é de Deu e o outro do diabo. Essa militância extremista não entende que a justiça está no meio, que existe o bem em coisas de ambos os lados, assim como existe o mal. Deus sempre se encontra no centro, não por ser isento, mas por amar a todos, e se revelar a todos que o querem conhecer, indiferente de ideologias políticas pelas quais lutem. É claro que por causa de todo um processo histórico, certas bandeiras se tornaram tradições de esquerda e outras de direita. A luta contra ditadores, por exemplo, parece ser mais pauta da esquerda, ainda que existam também ditadores de esquerda e bem violentos (é só estudarmos um pouco as histórias da Rússia, da China e da Coreia do Norte, por exemplo). Já o conceito de luta contra um anticristo, que representa todo o mal, é uma bandeira tradicional da direita cristã, ainda que para a esquerda um líder facista torturador seja uma espécie de “anticristo”. 
      Os anticristos, aos quais João se refere em sua primeira carta, são os gnósticos e seitas vertentes, desviados do evangelho de sua época, por isso ele diz no capítulo dois saíram de nós. Esses defendiam que “o conhecimento é superior à virtude, que o verdadeiro significado das Escrituras está no sentido não literal”, “que o mal no mundo impossibilita que Deus seja o criador, que a Encarnação é coisa incrível porque a divindade não pode se ligar a nada que seja material - tal como o corpo, e que não existe a ressurreição da carne”. Outra vertente “defendia que Jesus não era humano sob qualquer aspecto, mas uma teofania meramente estendida”, por isso a exortação, no capítulo quatro da mesma carta, Cristo veio em carne (leia mais em Comentário Bíblico Mood). Anticristo, termo tão usado hoje, não é bem o que parece ser, fez sentido para a época em que foi usado, aliás, engano que muitos que fazem estudos bíblicos comentem frequentemente, usarem textos antigos para defenderem assuntos atuais, que pouco podem ter a ver com o que motivou os escritores bíblicos a escreverem originalmente. 
      Mas o que de fato significa anticristo na prática para nós hoje? Algo que nega Cristo, que se apresenta como um opositor a tudo o que Jesus representa (I João 4.2-3). Mas o que Jesus representa? Podem ser coisas diferentes para pessoas diferentes. Os homens entendem relevâncias diferentes no evangelho de acordo com aquilo que acham importante para suas vidas, assim o conceito de anticristo pode não ser algo constante, novamente, algumas coisas não são bem o que parecem ser. O cristão que crê que deve ter prosperidade material no mundo e que pode colocar no governo um político que defenda sua religião, se forem transportados os objetivos que Deus tinha com a nação de Israel na velha aliança (conforme Deuteronômio 11.24-25) para a igreja da nova aliança, pode achar que anticristianimos é crer que no mundo temos que viver de maneira mais simples, que não temos que ser prósperos só por sermos cristãos, que não precisamos ter um presidente evangélico e nem nos envolvermos ativamente com militância política. 
      Por outro lado, o que vê o reino de Deus como algo que só será plenamente realizado no plano espiritual, entendendo dessa forma a palavra de Jesus (por exemplo em João 18.36), pode definir anticristianismo como tentar estabelecer um reino de Deus no mundo hoje. Os dois entendimentos têm embasamento bíblico, qual te representa? Que posicionamento você tem agora, após alguns anos de um governo que se elegeu apoiado por muitos cristãos e se dizendo defensor dos verdadeiros valores da tradição judaica-cristã? Contudo, talvez a pergunta que se deva fazer seja: qual a orientação de Jesus pelo vivo Espírito Santo ao homem do século XXI? O tempo mostra os frutos, é por eles que avaliamos as árvores, e para quem quer ver frutos já têm sido mostrados, basta enxergar as consequências de uma administração federal negacionista diante de uma pandemia. Mas ninguém se iluda com lados, há militantes errados na esquerda e na direita, só não caem em armadilhas os que se colocam no Deus verdadeiro, não em homens, sejam políticos, religiosos ou outros, homens sempre militam errado. 
 
Está é a 7ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

06/10/21

Hitler, arquétipo diabólico (6/31)

      “O homem ímpio cava o mal, e nos seus lábios há como que uma fogueira. O homem perverso instiga a contenda, e o intrigante separa os maiores amigos. O homem violento coage o seu próximo, e o faz deslizar por caminhos nada bons.” 
Provérbios 16.27-29

      Militância de direita, eis uma bandeira que não foi levantada no Brasil, de maneira significativa, por um bom tempo, principalmente pelos remorsos deixados pela ditadura militar, e que permitiu à esquerda liderar politicamente, mas que ressurgiu e tem sido apoiada por muitos cristãos. Para entendermos melhor o perigo de se militar não só por homens, mas por homens que usam bandeiras divinas como meios de fortalecer suas causas e convencer as pessoas, que é o que ocorre com militância de direita atualmente no Brasil, refletiremos um pouco sobre o arquétipo de líder facista, o alemão Adolf Hitler, que levou o mundo à segunda guerra mundial. É fascinante a personalidade desse terrível personagem, que num momento certo achou num povo as condições adequadas para estabelecer seu intento. Cuidado, os que buscam salvadores da pátria, podem achar só falsos messias. 
      Quando eu pensava que já tinha assistido todos os documentários possíveis sobre a segunda guerra mundial, assisti um, na CNN Brasil, com depoimentos colhidos pela BBC de pessoas que viveram nas décadas de 1920 e 1930, especificamente sobre o carisma de Hitler. Hitler, fisicamente era descrito como um homem comum, que berrava com uma voz rouca e estridente, sua aparência externa não impressionava, mas ele tinha algo em seu interior que era lançado por seus olhos, por seus gestos e por suas palavras, que conquistava as pessoas. Hitler não chegou onde chegou por sorte ou ao acaso, ele construiu uma personalidade que se conectou com milhões, ele achou determinação para isso em uma convicção pessoal de que era alguém predestinado por aquilo que ele denominava como “providência”, uma força espiritual que chamou-o inicialmente e orientava-o nas decisões. 
      Adolf transformou seus limites, falta de talento para debates, argumentos fracos e cheios de ódio e preconceitos, e dificuldade em estabelecer vínculos afetivos, em vantagens, que muitos interpretaram não como fraquezas, mas como empatia. Ele não queria só dar uma vida decente para um país, ele queria colocar um povo como superior no mundo, dominando militarmente outras nações, e exterminando aqueles que considerava inferiores, ele pregava a superioridade ariana. Seja como efeito da condição de seu povo, ou usando essa condição para exaltar seu ego doentio, ele achou uma Alemanha derrotada na primeira guerra mundial, humilhada pelo Tratado de Versalhes e dentro de uma depressão econômica mundial, ódios principalmente pelos  judeus, e ressaltou temores, como pelo comunismo que despontava como solução para levantar os germânicos, isso tudo para construir uma intenção. 
      O que não faz um homem machucado e não resolvido, com carisma e achando outros em iguais condições que só precisam de um líder. A responsabilidade não foi só de Hitler pelo genocídio que houve, mas da maioria do povo alemão da época que lhe deu ouvidos. Eis fatores importantes nas mãos de um líder populista, conhecer as fraquezas de alguém, assim quando ele se levanta como líder, não é para lutar por interesses pessoais, como alguém que pensava só em si, mas como um paladino altruísta, que batalha pelos direitos dos fracos. Enfraquecer para liderar, eis outro princípio eficiente, e se alguém não está fraco o suficiente, enfatiza-se essa fraqueza com discursos apaixonados. Hitler desempenhou esse papel, sim, porque ele parecia isso, um ator encenando um papel e fazia isso o tempo todo, não só como líder político, mas como messias religioso. Dessa forma ele descobriu e potencializou as fraquezas de outros para depois se colocar como aquele que poderia livrar esses de suas fraquezas. 
      Há inteligência nessa estratégia, Hitler sabia o que queria desde o início, e mesmo em 1923, quando seu golpe de estado em Munique para tentar tomar o poder fracassou, resultando em sua prisão, durante a qual ele escreveu o manifesto político, Mein Kampf ("Minha Luta"), ele usou isso para firmar uma característica importante num messias, a de mártir. O “fühler” manipulou todo o ambiente, mostrou o problema, apontou a causa e conectou-se com a vítima, convencendo-a que sua solução era a melhor, e não fez isso com trabalho em grupo, mas como um personagem, que sozinho tinha todas as melhores respostas. A ele se juntaram outros homens, isso é certo, poderosos e competentes, na área militar e também na do marketing, e Hitler soube usar muito bem o marketing para criar a figura de um salvador. Mas ele deixava bem claro que a palavra inicial e a final eram dele, de mais ninguém, e ai dos que se levantassem contra isso. 
      Hitler não demonstrava a carência, que muitos líderes tiveram e têm, de necessidade de apoio dos outros para tomar decisões, ele se mostrava sempre seguro e todos viam nele uma rocha firme em quem podiam confiar, isso só mudou de fato em seus últimos dias. Adolf não se apresentava só como um homem, mas como um deus, mesmo parte da igreja cristã protestante alemã da época o apoiou. Um homem não acessa tanto poder e consegue se conectar a tanta gente usando só argumentos políticos, mesmo se aproveitando de uma situação econômica terrível. Os grandes líderes entendem que o mundo espiritual tem um apelo forte sobre os homens, assim constróem ambientes religiosos ao seus redores, templos para que sejam, não só obedecidos, mas adorados, e não só nesta vida, mas na outra. Hitler usou de vários meios para conferir legitimidade espiritual a seu império, enviando equipes pelo mundo para colher objetos aliados à magia e ocultismo, e praticando rituais mágicos (veja mais no link).
      Que fique bem claro que não estou fazendo aqui comparações, muito menos lançando indiretas. Aliás, seria injusto comparar Hitler com quem quer que seja, pela gravidade extrema e singular de seus atos na humanidade, especialmente para o povo judeu. Concordo que esta reflexão foi mais compartilhamento histórico que orientações morais, mas certas informações podem nos ajudar a entender certos mecanismos do mal espiritual, tentando prevalecer no mundo físico. Estar na luz de Deus é mais que amar o próximo e viver de trabalho honesto, isso é o mais importante, mas não é tudo, precisamos ser cidadãos realmente do bem, não como militantes políticos, mas como filhos do Altíssimo. É importante termos discernimento espiritual para percebermos a tempo a atuação de homens maus, que podem usar qualquer coisa para terem poder. Ninguém se engane, o falso pode não ser fácil de ser reconhecido, se fosse a Bíblia não diria, “porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos” (Mateus 24.24). 

Está é a 6ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
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José Osório de Souza, março de 2021

05/10/21

Teoria de conspiração, grana e sexo (5/31)

      “Rogo-vos, porém, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer.” 
I Coríntios 1.10

      Não creio em teorias de conspiração, em nenhuma delas, sejam de direita, de esquerda, de centro etc. Olhando todas essas militâncias atuais, muitos nelas veem teorias de conspiração, acreditam que bandeiras são levantadas com o objetivo de colocar grupos contra grupos, de maneira a lançar a sociedade em guerra. Para quê? Para gerar caos, e quando isso for feito “alguém” poderá tomar o comando, é mais fácil dominar uma sociedade desunida, assim, dividir antes para conquistar depois. Dividir para conquistar é um conceito antigo, foi utilizado pelo governante romano César (“divide et impera”), por Filipe II da Macedónia e pelo imperador francês Napoleão (“divide ut regnes”), dentre outros (veja mais no link).
       Quem as pessoas acham que pode dominar em um caos estabelecido? Muitos cristãos acham que será o anticristo, muitos da esquerda acham que será um ditador facista, muitos da direita acham que será o comunismo, enfim, existem teorias de conspiração para todos os gostos e ideologias. O que é mais sensato pensar de acordo com esse que vos escreve? Que o que ocorre no momento atual é só mais uma etapa da evolução humana no planeta Terra, com enganos, como ocorre sempre no início de novas etapas, mas como efeitos de necessidades legítimas, cujas bandeiras serão purificadas pelo tempo que darão, no momento certo, bons frutos. Deus é mais, está sempre no controle, não existe plano secreto do diabo, capice
      É preciso dizer algo sobre teoria de conspiração, ela nasce de uma necessidade íntima e sincera das pessoas, na verdade algo profundo e eterno que vem da essência espiritual do ser humano que clama por Deus. Por isso a curiosidade pelo desconhecido, a paixão pelos mistérios, a busca de respostas para aquilo que o homem não consegue entender, até aí tudo bem. Contudo, ao invés do ser humano buscar o Deus altíssimo, abrir diante dele o coração, persistir nessa busca para então receber respostas, todas elas, e de alguém que não mente, o homem assume que existem coisas que não podem ser perguntadas a Deus, ou que ninguém sabe mesmo, então, não querendo confiar no Senhor, confia em teorias de conspiração. 
      As artes, principalmente a literária e a cinematográfica, são construídas a partir dessa curiosidade humana, e se isso ficasse só aí, como imaginação para entretenimento, não haveria problema, o problema é quando os homens começam a acreditar nas teorias de conspiração, aí viram paranóia, doença mental. Entendamos uma coisas, no plano físico, abaixo do poder de Deus, existem dois poderes supremos, um é o do sexo, o outro é o da grana, se não existe Deus como foco, homens desejarão dinheiro e prazer sexual. Mesmo os que se acham espiritualizados, mas não buscam o Deus altíssimo, querem alguma espécie de poder, ainda que supersticioso, para serem ricos financeiramente e poderem ter na cama quem desejarem. 
      Papas buscaram esses poderes, assim como bruxos, imperadores, presidentes, donos de corporações, e homens comuns como eu e você, se não existe Deus, há grana e sexo na jogada. Assim, o grande plano do mal é seduzir as pessoas por esses poderes, é isso que conspira contra a humanidade, e isso esta dentro delas, não fora, para obtê-los, quem não tem Deus como prioridade, usará de todas as artimanhas, mesmo o mundo espiritual. Não é o diabo que manipula o homem, mas o homem que utiliza o diabo, que o inventa, que o empodera, para tentar satisfazer seu corpo físico com dinheiro e prazer sexual, o mesmo homem que depois culpa um demônio exterior pelos frutos amargos que, quem busca satisfação em mentiras, colhe. 
      Talvez a grande conspiração que exista, o mais eficiente plano secreto do mal, e eu disse do mal, que existe no interior do homem, não do diabo como ser externo, seja o homem acreditar que pode ser virtuoso sem Deus. Assim ele se ilude, achando que pode lutar por bandeiras elevadas, mesmo que não se quebrante diante do Senhor, sendo que na verdade só quer satisfazer a carne, esse plano nivela todos os seres humanos por baixo. O que isso tem a ver com militância ideológica? Se não há Deus no coração, mesmo lutas legítimas podem ser só jogo de poder. Por justiça? Não, justiça só há em Deus, mas jogo de poder por grana e sexo, ainda que iludidos muitos iniciem suas “jornadas” achando-se paladinos da justiça. 
      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gálatas 6.7), o que semeia não são nossas palavras, nossas bandeiras, é a nossa intenção que realiza, é ela quem move e comunga com o plano espiritual, que escolhe que Deus abençoe ou que outros espíritos trabalhem. Ainda que sejam aparentemente boas, obras feitas fora da luz mais alta de Deus não prevalecem, ninguém se engane com relação a isso. Dividir para conquistar? Um plano secreto do diabo? Não, só teorias de conspiração enganosas, que escondem as maiores militâncias humanas, grana e sexo. Busquemos a Deus que ilumina quem o busca e o liberta do engano de todas as falsas militâncias.    

Está é a 5ª parte do estudo
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José Osório de Souza, março de 2021

04/10/21

A luta é de todos (4/31)

      “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos” 
Mateus 5.6 
      “E qualquer que tiver dado só que seja um copo de água fria a um destes pequenos, em nome de discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu galardão.” 
Mateus 10.42
      “Veio o Filho do Homem, comendo e bebendo, e as pessoas dizem: “Eis aí um glutão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores!” Mas a sabedoria é justificada por suas obras.” 
Mateus 11.19 (versão Nova Almeida Atualizada)

      A luta é de todos, o problema é de todos, todos devem lutar por uma sociedade ferida que considera alguns diferentemente de outros. Homens lutem pelas mulheres, brancos lutem pelos afro-descendentes, heterossexuais lutem por todos os que vivenciam outras sexualidades. Contudo, talvez devam lutar os que não sofrem opressão mais até que os que são oprimidos, simplesmente porque eles têm mais condições para isso. Isso não representa qualquer espécie de apropriação cultural, não deve ser encarado como motivo para vitimização orgulhosa, mas aceito humildemente como compaixão, como genuíno evangelho. O que mais mostrou o Cristo encarnado que luta por minorias? Por isso o crucificaram. 
      Jesus homem lutou por aqueles que sofriam preconceitos na sociedade judaica de seu tempo, globalizada pela ocupação romana, acolheu prostitutas, coletores de impostos, leprosos, marginalizados, enfraquecidos por um motivo ou outro. Muitos fracos estão em situações que devem ser administradas porque não podem ser mudadas, esses são todos os seres humanos na infância, os deficientes mentais, muitos sem-teto, que não estão preparados para competir com adultos produtivos e sãos, esses precisam ser amparados. Entretanto, muitos estão enfraquecidos pelas contingências da realidade no mundo, esses podem lutar, mas também precisam da ajuda dos outros para que suas situações mudem.
      O que muitos militantes precisam entender hoje em dia é que certas bandeiras são muito importantes, mais até que eles, e por isso são pesadas, se eles não tiverem força moral elas não ficarão de pé. Jesus, sozinho, empunhou a mais pesada e importante das bandeiras, aquela que libertaria e conduziria todos os seres humanos, de todos tempos, raças e posições, sejam financeiras, intelectuais ou religiosas, ao Altíssimo Deus. Cristo, contudo, só conseguiu empunhar essa bandeira, só pôde militar certo, e sem apoio de ninguém, visto que em seu último e crucial momento todos o abandonaram, até seus amigos mais próximos, porque tinha força moral e espiritual, adquirida em vida de íntima comunhão com Deus. 
      Quantos hoje acham legitimidade para militar porque podem se esconder no meio das massas, sim, “juntos somos mais fortes”, e a existência de grupos pode evidenciar a legitimidade de uma causa, mas será que muitos hoje se insurgiriam sozinhos contra uma injustiça? E nem estou dizendo que correndo o risco de exporem suas vidas à morte, não estou chegando a esse extremo, mas só por exporem um ponto de vista diante de uma sociedade virtual que cancela todos que discordam de seus pontos de vista. Eu sei que muitos precisam mais é serem cancelados (outro termo em voga), principalmente se militam errado, mas muitos de nós nos calamos, mesmo diante de injustiças, só para não ganharmos dislikes.
      A verdade é uma só, preconceito só se anula com amor verdadeiro, assim enganam-se os que acham que podem vencê-lo com boa educação que respeita direitos civis, isso pode até mudar palavras e ações, mas não mudará a intenção, o coração. Muitos se consideram sinceramente superiores aos outros por serem educados, por obedecerem a leis, por não exercerem violência ativa. Mas lá dentro, em seus corações, eles se acham melhores só por serem quem são, e por isso se sentem com mais direitos que os outros. Orgulho negro? Orgulho gay? Orgulho feminino? Ou orgulho branco, hétero e masculino? Antes de tudo isso, orgulho de ser humano, de ser indivíduo único, e mais, de ser espiritual, eterno e filho de Deus. 
      É nesse ponto que a humanidade deve chegar, e do jeito que vai, podemos ver isso, ainda que existam hoje tantos equívocos que mais desunem que unem. Antes se via dois tipos de sexo, depois passou-se a ver três, mas hoje se entende muitas sexualidades, assim a militância não será nem por grupos majoritários, nem por minoritários, mas pelo indivíduo, seu amplo livre arbítrio para ser o que escolher. Não é essa a bandeira que o verdadeiro Deus levanta e pela qual Jesus militou? Não, meus queridos, não é a bandeira do cristianismo oficial no mundo, representado pelo catolicismo e pelo protestantismo, mas a do Cristo genuíno, cujas palavras estão registradas num evangelho de amor e justiça, eis como militar certo!  

Está é a 4ª parte do estudo
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José Osório de Souza, março de 2021

03/10/21

Preconceito na história (3/31)

      “Vós, servos, sujeitai-vos com todo o temor aos senhores, não somente aos bons e humanos, mas também aos maus. Porque é coisa agradável, que alguém, por causa da consciência para com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque, que glória será essa, se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas se, fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a Deus.” 
I Pedro 2.18-20
      “Peço-te por meu filho Onésimo, que gerei nas minhas prisões; o qual noutro tempo te foi inútil, mas agora a ti e a mim muito útil; eu to tornei a enviar.” “Porque bem pode ser que ele se tenha separado de ti por algum tempo, para que o retivesses para sempre, não já como servo, antes, mais do que servo, como irmão amado, particularmente de mim, e quanto mais de ti, assim na carne como no Senhor? Assim, pois, se me tens por companheiro, recebe-o como a mim mesmo.” 
Filemom 1.10-11, 15-17

      Um fator que temos que considerar, é que muitas violências e injustiças foram cometidas em outros tempos. O ser humano era diferente, tinha níveis de inteligência intelectual, moral, afetiva e social, inferiores aos de nosso tempo, estava contido num processo histórico que legitimava certos costumes. Escravidão foi parte da sociedade por séculos, ainda que a escravatura de africanos tenha características diferentes daquela praticada, por exemplo, por gregos e romanos. Uma sociedade pré-industrial crescia fazendo guerras, usando os derrotados como mão de obra, e nessa sociedade homens saiam, guerreavam e faziam o trabalho na terra, enquanto as mulheres tinham que ficar, gerar filhos, administrar família e casa.
      Por favor, não me entendam errado, mas tentemos ser mais lúcidos, em todos os tempos da humanidade existiram seres humanos maus e seres humanos bons, patrões cruéis e patrões justos, assim existiam fazendeiros de bem que mesmo num sistema de escravidão, que hoje temos consciência do quão injusto era, procuravam fazer seu trabalho com alguma humanidade. As pessoas se adaptam, as mulheres se adaptavam a uma sociedade onde o costume era os pais escolherem de antemão maridos para elas, e não pense que todas as mulheres eram extremamente infelizes por causa disso. Ocorre que chega um momento que a consciência evolui, e aí as coisas não podem mais seguir iguais, precisam mudar e para melhor. 
      Uma criança não é infeliz por ser tratada como criança, mas há maneiras justas e injustas de se tratar uma criança, contudo, se um adulto for tratado como criança, mesmo de maneira justa, ele não se sentirá bem, cada coisa para seu tempo e sempre do jeito adequado. Se estudarmos um pouco de história mundial veremos o quanto a humanidade mudou, quanto algumas coisas terríveis foram deixadas para trás, aqui no blog temos falado bastante sobre a história do cristianismo e todas as atrocidades que a igreja católica cometeu. Não pensemos que com isso a grande maioria da sociedade não era feliz, ela levava sua vida normalmente, a maioria nem tinha consciência que algo terrível estava sendo feito em nome de Deus. 
      Junto de militância outra palavra em voga é vitimizar, o grande problema de quem se vitimiza é que só vê o seu problema, mais nada, vitimização não é uma disposição justa, madura, mas infantil e egoísta. Uma coisa não exclui a outra, não é porque há vitimização por um motivo que não se deva militar pelo mesmo motivo, mas o que milita deve ter consciência da nobreza de sua causa, que ela vai muito além de uma dor pessoal. Contudo, é difícil, injusto e até desumano, exigir de quem sofre um preconceito que seja maduro para separar as coisas, a vitimização nesse caso é inerente. Talvez não sejam os oprimidos que devam ser prioritariamente melhores, mas humildemente os herdeiros dos opressores, como obrigação civilizatória.
      Tem gente militando errado? Mais por vitimização que por justiça, mais por vingança que para trazer um bem que beneficiará não só os oprimidos, mas toda a sociedade, não só os afrodescendentes, mas os brancos, não só as mulheres, mas os homens, não só os héteros, mas os de demais sexualidades? Sim! Mas é injusto exigir do doente que luta por direito de tratamento, que se porte com a mesma saúde que aqueles que estão sãos e fora do hospital. Não são os militantes que têm a obrigação de melhorar, são os outros, que desfrutam de situações privilegiadas, que não sofrem com preconceitos, e que por não serem opressores ativos, se sentem no direito de serem passivos na militância. O problema é nosso, não deles! 
      O texto inicial de Pedro é um exemplo bíblico de que nem personagens bíblicos iam contra os costumes de seus momentos históricos, mas a carta de Paulo a Filemon é exemplo de um testemunho pessoal disso. Fala sobre Onésimo, um escravo fujão, que convertido a Cristo precisava voltar a Filemon, seu senhor, que já era convertido e que recebe de Paulo orientação para aceitar o servo, agora não só como tal, mas também como irmão. Por ter se tornado cristão, Onésimo não ganhou direito de não ser mais servo, antes a obrigação de ser um escravo melhor. Esse conhecimento é relevante para que cristãos aceitem que a Bíblia não deve ser transportada ao pé da letra para a sociedade atual, principalmente em termos de costumes.
      Escritores do cânone bíblico não eram revolucionários ou militantes sociais e políticos, eram apenas homens de seus tempos com experiências com Deus. Por outro lado, não cristãos não devem tomar isso como exemplo da Bíblia apoiar escravatura, não é com o costume social que é respeitado, ainda que seja ultrapassado hoje, que devemos aprender, mas com o princípio moral, e esse é justamente o ponto que muitos hoje querem desprezar. Muitos querem liberdade e respeito, mas não querem ser humildes e misericordiosos, assim levantam bandeiras corretas, mas com os corações fragmentados. Bandeiras assim não se sustentam, não por falta de verdade nelas, mas pela fraqueza moral dos que as tentam empunhar. 

Está é a 3ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

02/10/21

Bandeira certa com intenção certa (2/31)

      “Que aproveita a imagem de escultura, depois que a esculpiu o seu artífice? Ela é máscara e ensina mentira, para que quem a formou confie na sua obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz ao pau: Acorda! e à pedra muda: Desperta! Pode isso ensinar? Eis que está coberta de ouro e de prata, mas dentro dela não há espírito algum. Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra.” 
Habacuque 2.18-20

      Quem tem direito a militar? Talvez a pergunta melhor seja: quem tem a obrigação de militar? Todos têm, contudo, se questões pessoais e interiores não forem resolvidas, as pessoas poderão usar militâncias externas e coletivas como álibis para resolverem problemas dos outros, sem resolverem os seus problemas antes, colocando-se como heróis coletivos para compensarem feridas não curadas que são delas, não do coletivo. É por isso que vemos pessoas “militando errado”, porque trazem questões pessoais que precisam resolver sozinhas, como pautas de agendas coletivas, se alguém tem problemas com autoaceitação, autoestima, tanto fará a cor de sua pele, seria mais sensato resolver-se antes de lutar por causas.
      É claro que problemas pessoais podem ser causados por problemas sociais mais amplos, mas é preciso separar as coisas, alguém que sofreu bullying desde pequeno por ter tendência a engordar poderá até encorajar-se e se tornar um militante do grupo de pessoas com mais peso. Mas qual é o problema, então? O que torna alguém um militante errado? O coração. Antes da pele, do tamanho do corpo ou do sexo se tornar bandeira, o coração deve ser curado, aceitar-se, perdoar os que o oprimiu. Se não houver isso antes, a militância usará a vitimização como arma para agredir os opressores, e vítima que agride também é agressor. A diferença está, não na bandeira, nas palavras, mas na intenção, no interior. 
      O que o texto inicial tem a ver com este tema? Quem milita, ainda que por causas relevantes para a coletividade, mas com um coração cheio de ódio, de rancor, de inveja, de não respeito a si mesmo, e respeito na proporção correta, nem menos, levando à autocomiseração, e nem mais, levando à arrogância, milita, não por uma verdade espiritual alta, que é viva por si só, mas por um ídolo material, morto e vazio. Verdades espirituais não morrem, se impõe por si só, sobrevivem aos homens, mas ídolos são máscaras, mentiras, acabam em nada, não convencerão ninguém, e assim que aquele que fala por eles, mesmo com veemência, com boa oratória, com carisma, com o apoio da mídia, se calar, os ídolos se calam. 
      Escondidos dentro de alguém que milita por uma causa coletiva, podem estar questões pessoais não resolvidas. Quem verifica se uma pessoa trata mal o filho, quando ela se apresenta como feminista militante? Esse é o motivo de gostarmos de assistir reportagens sobre gente cometendo violências, quando uma referência extrema de um mal é apresentada, males menores perdem a relevância, diante de um serial killer assassino de crianças nossos erros ficam pequenos, com os holofotes sobre esses somos relevados. É essa covardia, que se esconde atrás dos erros dos outros, que dá legitimidade para alguém se achar paladino da justiça, e que conduz a linchamentos, sejam físicos ou verbais, ao vivo ou pela internet. 
      Sim, meus queridos cristãos, se as pessoas buscassem curas pessoais em Deus através do verdadeiro evangelho, ricos, pobres, brancos, negros, héteros, homoafetivos, homens, mulheres, eruditos, com menos instrução, os preconceitos, todos eles, desapareceriam. Contudo, não cabe a nós, mesmo sabendo por experiência própria, que o amor de Jesus é maravilhoso, desrespeitar o livre arbítrio que o próprio Deus respeita. Cabe a nós dar um testemunho genuíno, de misericórdia, de justiça, de humildade e acima de tudo de amor que não faz acepção de pessoas. Assim, nosso cristianismo deve ser o primeiro a dar exemplo de militância, não por essa ou aquela bandeira, mas pelo indivíduo, seja ele quem for. 
      Alguém pode argumentar, “mas por que eu preciso ter amor no coração para militar, quem me oprimiu e me oprime não teve e não tem nenhum amor por mim?” Porque senão, com o tempo, você, ainda que esteja defendendo hoje uma causa nobre, se não tiver a intenção correta pode se tornar um novo opressor, por ser motivado por ódio. Militantes, vocês querem justiça ou vingança? O que levará a esses objetivos diferentes é a qualidade, não da bandeira, mas da intenção no coração do militante. Percebemos com clareza, olhando nos olhos do militante e ouvindo o tom de sua voz, quando sua militância é feita por justiça social ou só por recalque pessoal, clamando por justiça em paz ou por vingança em ódio. 

Está é a 2ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

01/10/21

Preconceito: mal a ser combatido (1/31)

      Hoje começo a compartilhar “Militou errado!”, um estudo dividido em trinta e uma partes, uma reflexão sobre temas atuais, preconceitos, militâncias, ideologias, cristianismo e política. O estudo é constituído de partes independentes, mas se puder leia todo o texto para ter uma opinião melhor.

      “O que come não despreze o que não come; e o que não come, não julgue o que come; porque Deus o recebeu por seu.” 
Romanos 14.3
      “E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.” 
Gálatas 2.11-12

      O que a Bíblia registra em Romanos 14.3 é um preconceito, o de judeus contra gentios, quando judeus julgavam como menores aqueles que se convertiam ao cristianismo e não obedeciam às leis da religião judaica. Esse assunto é tão importante que motivou Paulo a escrever vários textos, exortando tanto sobre a superioridade da nova aliança sobre a velha aliança, como ensinando que ninguém era melhor que ninguém por exercer sua religião dessa ou daquela maneira, nem gentios convertidos seriam melhores que judeus convertidos por agirem de outra forma. Ação é importante, mas se não bate com a intenção fica desqualificada, essa Deus conhece bem, ainda que nós possamos esconder com perícia de outros homens. 
      O registro em Gálatas 2.11-12 sobre Pedro, refere-se ao mesmo assunto, sim, Pedro, aquele que a igreja católica diz ser o primeiro papa (e que como tal deveria ser infalível?), esse é repreendido por Paulo por agir de maneira preconceituosa. O registro é de um evento informal, Pedro comia com gentios, mas quando os judeus chegaram afastou-se dos gentios, com medo dos judeus, ele agiu por pura conveniência social. Como nós fazemos isso, muitas vezes de forma sútil, só para agradarmos a uns, que achamos que são mais importantes numa situação, em detrimento de agradarmos a outros, por considerarmos esses menos importantes, e consequentemente achando nós que agindo assim nos prejudicamos politicamente menos.
      Vivemos um momento especial no mundo, onde preconceitos têm sido desmascarados, principalmente no Brasil, onde costuma-se dizer que é um país onde não existem certos preconceitos, só desigualdade financeira por causa de injustiça social. Mas existe, sim, preconceitos, assim um homem hétero e branco tem mais oportunidades que uma mulher, que um homoafetivo ou que um afro-descendente, e se a pessoa tiver as três características, mulher, negra e não heterossexual, ela desce para o nível mais baixo de direitos. Nessa triste realidade, construída por séculos de injustiças e tratamentos desiguais em todo o mundo, é preciso lutar, todos precisamos lutar, o problema não é dele, mas meu, ou melhor, nosso. 
      Cristão, não vou tentar convencê-lo de nada neste texto, e você nem precisa mudar seu ponto de vista, aliás, se tentar, por exemplo, viver seu posicionamento, que acredita ser o da tradição cristã diante de homossexualidade, em amor verdadeiro, Deus e o tempo vão ensiná-lo a respeito. O que não pode, como cristão, é lutar pelo cristianismo sem amor, se não houver amor é melhor ficar quieto e não se envolver em questões que você não pode resolver, mesmo porque o cristianismo, mais que qualquer outra bandeira, é baseado no amor. Contudo, a questão nesta reflexão não é mudar ninguém para que possa se encaixar naquilo que o cristianismo prega como sendo o que dá direito ao céu, a questão aqui se refere ao mundo.  
      Dessa forma, logo de início informo aos cristãos, seja qual for o ensino da Bíblia que vocês desejam ensinar para o mundo, se fazem isso sem amor, militam errado! O ponto deste texto tem a ver com o mundo, com existência como cidadão numa sociedade, com direito à alimentação, casa, saúde, educação, infraestrutura de água, esgoto e energia, emprego, vida afetiva, divertimento, cultura, religião, tudo com liberdade de escolha e direito de ir e vir, indiferente da posição que a pessoa tiver sobre Deus e o mundo espiritual. O cristão não pode tentar se isentar disso, achando que tem uma causa mais alta para lutar, ele faz parte da sociedade, sobrevive nela e tem responsabilidades sobre ela, assim o bem de todos é o dele. 
      Postas essas palavras introdutórias, vamos ao assunto principal: quem tem direito de militar? Militar é uma palavra que está em moda, e não tem a ver com militar (substantivo) relativo a soldado, mas significa militar (verbo), lutar por uma bandeira, por uma ideologia. Os que defendem uma ideia, como “vidas negras importam”, fazem parte de uma militância, são militantes. Todos têm direito a militar por causas nas quais acreditam e que são relevantes para a sociedade, principalmente para grupos minoritários que são perseguidos e oprimidos por maiorias. O significado de minoria e maioria atualmente tem mudado, hoje, no Brasil, brancos não são mais maioria, e a tendência é que sejam cada vez menos no mundo.
      A população mundial migra de um lugar para outro mais facilmente atualmente, consequentemente a mistura entre raças e nacionalidades ocorre com mais facilidade e celeridade. A tendência é termos no futuro, uma população mundial parecida, onde africanos, chineses, indianos, árabes, europeus, americanos, e de demais origens, se misturem, as diferenças que tantas guerras já causaram e que têm sido motivos de tantas militâncias, podem desaparecer no futuro. Na verdade os corpos e suas aparências físicas, só vão refletir com mais exatidão os espíritos, e espírito não tem cor, não tem nacionalidade, não tem raça, não têm diferenças financeiras nem intelectuais, são todos iguais, distintos só pela moralidade.

Está é a 1ª parte do estudo
“Militou errado!” dividido em 31 partes,
para um melhor entendimento, 
se possível, leia o estudo na íntegra.

José Osório de Souza, março de 2021

30/09/21

E se você pudesse voltar no tempo?

      “Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo. Porque para todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a miséria do homem pesa sobre ele.Eclesiastes 8.5-6

      Se você pudesse reviver teu passado, mudaria alguma coisa em tua vida? Nessa suposição, estabeleçamos dois pré-requisitos, o primeiro é que você seria no passado que voltasse exatamente quem você foi, não quem você é no presente, o segundo é que teria a possibilidade de alterar uma única coisa, fazer uma escolha diferente daquela que você fez. Por mais impossível que essa situação seja, a escolha de para qual momento voltarmos e o que fazermos de diferente nesse momento, pode revelar o que achamos ser importante na vida e que tipo de escolha consideramos relevante. 
      Escolhermos quando e o que mudarmos no passado pode dizer muito sobre quem somos no presente e se estamos felizes. Por exemplo, alguém que é casado, achar importante voltar no tempo para escolher não se casar, pode revelar ou um casamento infeliz, porque escolheu mal, ou um presente imaturo, que não trabalha no casamento para crescer e ser feliz. A pergunta é: a escolha de não se casar objetiva fazer mais feliz o outro e a si, permitindo que ambos façam alianças melhores no casamento, ou objetiva permanecer solteiro e desfrutar de liberdade egoísta que só busca prazer pessoal? 
      Acertar o casamento foi só um exemplo, mas fazemos muitas escolhas na vida que hoje, olhando o passado com os olhos do presente, pensamos que poderiam ter sido outras, contudo, fizemos tais escolhas porque éramos diferentes do que somos hoje. Se voltássemos no tempo e pudéssemos conversar com nosso eu passado muitos de nós não nos reconheceríamos, o que sempre fomos e que manifestou-se hoje estaria dentro do eu passado, mas talvez tão escondido, soterrado ainda por tantas feridas não curadas e perturbações emocionais, que seriam duas pessoas estranhas se falando. 
      Eu tenho um pensamento, não sei se você concorda, se pudéssemos alterar uma decisão que achamos hoje errada, a vida nos conduziria a uma nova situação onde faríamos novamente a mesma decisão errada, e que poderia ter repercussões ainda piores que a primeira. O que temos que viver está dentro de nós, não fora, não somos escolhidos pela vida, mas escolhemos a vida, ainda que inconscientemente. O que temos que mudar está dentro de nós e só melhoramos vivendo, ainda que errando, mas o que somos de melhor está dentro de nós desde o momento que nascemos neste mundo. 
      Não é das pessoas, dos lugares, das situações que temos que fugir, mas temos que nos conhecer melhor, o que queremos de fato nos levará a fazer alianças com pessoas, a estar em lugares e a viver situações, ainda que o tempo revele que tudo isso não é o melhor para nós. Quem se anula para não mostrar aos outros valores que os outros não aprovam, morre em vida, não aproveita a razão de sua existência, e no final acabará só e arrogante, ainda que próspero e aprovado por muitos como alguém que não cometeu erros. É preciso alguma irresponsabilidade, ao menos para se começar a viver. 
      Alguns podem dizer que algumas reflexões do “Como o ar que respiro” são humanistas demais, falam muito do homem e menos de Deus. Mas o que adianta descrever em detalhes o espelho, admirar a limpeza e nitidez de sua superfície, se encantar com sua bela moldura, e não usá-lo para o fim adequado? “Conhece-te a ti mesmo”, mas só nos conhecemos nos olhando em Deus, o espelho perfeito que mostra-nos quem somos e o que precisamos ser. Na humildade de assumirmos que erramos e de trabalharmos para mudar, adquirimos espiritualidade, dependemos de Deus e amamos o próximo. 
      Por razões misteriosas que Deus sabe, é conveniente estarmos presos por um pouco à matéria, ao espaço e ao tempo, numa existência linear quando não temos controle sobre muitas coisas. Erros cometemos e suas consequências não podem ser anuladas, temos que conviver com elas. Assumirmos a responsabilidade de nossas escolhas, não jogar a culpa nos outros ou mesmo em Deus, e seguirmos de pé, em paz e com fé, desejando e trabalhando por dias melhores, é nossa vocação. O resto são provações que estamos no mundo para passar e nelas sermos aprovados, Deus é o Senhor dos tempos. 

29/09/21

Pai, amigo, professor

      “Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.” 
Salmos 103.13
      “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” 
João 15.15
      “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” 
João 14.26

      Como nos relacionamos com Deus, como dizemos a ele o que pensamos, o que queremos, o que tememos, o que amamos, e como recebemos dele respostas sobre tudo isso? Deus pode nos responder de várias maneiras, seja pelas bocas de outros homens, não só pregadores mas qualquer ser humano, seja por acontecimentos que nos permitem entender se Deus está ou não aprovando determinado propósito nosso, seja pela Bíblia, as experiências de tantos personagens bíblicos, mesmo que tenham vivido em tempos passados, tudo isso pode nos orientar sobre nossas vidas. Contudo, o meio mais direto de dialogarmos com Deus é a oração, que exercida com dons espirituais pode nos permitir ainda mais clareza espiritual. 
      Toda relação com Deus é baseada em fé, já que nós, seres humanos encarnados, não podemos estabelecer uma comunicação direta e plena com o plano espiritual, assim, ainda que se tenha pouca experiência no evangelho ou com os dons espirituais, Deus responde a todos os que o buscam no Espírito, em verdade e com fé. Fé genuína nos coloca em movimento no caminho Espírito Santo que nos conduz à porta Jesus nas regiões celestiais mais elevadas que nos dá acesso direto ao pai Altíssimo. Fé, Espírito Santo e Jesus, eis a maneira de termos um diálogo objetivo com Deus, felizes os simples que discernem as coisas espirituais e podem ser tratados como filhos de Deus, para esses nada faltará, aqui e na eternidade. 
      Entretanto, à medida que amadurecemos com Deus as coisas ficam mais sérias, assim, da mesma forma que temos mais privilégios também teremos mais responsabilidades, deve ser assim para que sejamos atraídos a crescer espiritualmente. Deus é um ser inteligente, apesar de moralmente extremamente superior a nós e com poderes sobre tudo e sempre, ele se relaciona conosco da mesma maneira que outros seres se relacionam, existem diálogos, silêncios, iniciativas e esperas, principalmente levando em conta os nossos limites como seres encarnados, pecadores e inferiores, e não limites de Deus. Quem tem amizade com o Senhor percebe que há coisas que ele responde sempre e imediatamente, mas há outras que não. 
      No início de nossa caminhada com Deus, principalmente se somos jovens, nosso diálogo com Deus é disciplinado e pode se limitar às orações, não vivenciamos uma comunhão vinte e quatro horas com Deus. Além da forma o conteúdo também é diferente, entregamos assuntos básicos e principais, como nossa vida profissional, afetiva, nossa saúde física, assim como pedimos perdão e agradecemos por tudo isso. Com o tempo e com a roda viva da vida, aumentando nossos compromissos com a sobrevivência no mundo e com as pessoas, nossos momentos de orações podem se tornar menos disciplinados, mas por outro lado começamos a entender um Deus sempre presente e sempre nos orientando, o Deus pai mostra-se amigo.
      Em nossas vidas adultas, em média nosso período mais longo de existência, é quando mais experimentamos um relacionamento com o Deus amigo, amigo não concorda com tudo que fazemos, mas não nos abandona. O ideal é passarmos o mais depressa possível à próxima fase, quando nos relacionaremos com o Deus professor, que nos ensinará mais que o básico da vida espiritual que está na Bíblia e é o que a maioria das igrejas entrega. Usei a palavra professor no lugar de mestre para desmistificar as coisas, mas usando-a me refiro a um Deus que tem muito mais a nos dizer que muitos acham que tem, esse conhecimento é uma palavra diferente do consolo que recebemos diariamente. 
      Para termos esse relacionamento final é preciso inteligência, ele não é só conforto emocional ou interação com bases de sobrevivência no mundo, mas a construção do céu em nós, a formação do homem espiritual que estará com Deus na eternidade. Para esse ensino é preciso paciência e persistência, mas também sabedoria, não confundi-lo com o alimento básico, indispensável para nossa paz diária em Deus, ainda que possa se tornar alimento básico quando crescemos, estamos preparados e somos chamados por Deus para recebê-lo. Assunção de pecados e solicitação de proteção divina para nossas vidas e de nossos próximos é básico, já “batalha espiritual”, “final dos tempos” e temas assim são conhecimentos avançados.
      Enquanto o pai protege, alimenta, fica próximo, e o amigo acompanha mesmo à distância, entende e ama, o professor ensina, e em se tratando do ensino de Deus não são só conhecimentos que satisfazem curiosidades intelectuais, mas revelações da vida mais pura que existe na luz mais alta de Deus. O autor de Hebreus com o termo “meninos” em Hebreus 5.11-6.2 se refere aos cristãos presos à religião antiga e mesmo às primeiras coisas da nova religião, pergunto quantos cristãos atuais de fato entendem que deve haver um crescimento em suas experiências com Deus? Num determinado momento de nossas jornadas somos questionados se queremos seguir como religiosos ou se queremos conhecer mais a Deus, a escolha é nossa. 
      É natural que a chama se apague quando envelhecemos, nossa resposta a paixões aquieta-se, isso é inicialmente físico, mas que interfere em nossa vida mental e afetiva. Mas se conseguirmos crescer em nossa relação com Deus, se do pai passarmos ao amigo e então ao professor, veremos a chama ficar mais forte, não no corpo, mas no espírito. Isso nos permitirá ser mais santos e pacientes, achar as prioridades melhores da existência e cumprir o plano de Deus para nossas vidas de forma plena. Contudo, por resistirem à maturidade, por fazerem as coisas no tempo errado, por não se libertarem das vaidades do mundo, por se acomodarem à religião, muitos se acham no final mais carnais, ao invés de mais espirituais.

      “Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. 
      Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal. Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno.” 
Hebreus 5.11-6.2