quarta-feira, setembro 29, 2021

Pai, amigo, professor

      “Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem.” 
Salmos 103.13
      “Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.” 
João 15.15
      “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito.” 
João 14.26

      Como nos relacionamos com Deus, como dizemos a ele o que pensamos, o que queremos, o que tememos, o que amamos, e como recebemos dele respostas sobre tudo isso? Deus pode nos responder de várias maneiras, seja pelas bocas de outros homens, não só pregadores mas qualquer ser humano, seja por acontecimentos que nos permitem entender se Deus está ou não aprovando determinado propósito nosso, seja pela Bíblia, as experiências de tantos personagens bíblicos, mesmo que tenham vivido em tempos passados, tudo isso pode nos orientar sobre nossas vidas. Contudo, o meio mais direto de dialogarmos com Deus é a oração, que exercida com dons espirituais pode nos permitir ainda mais clareza espiritual. 
      Toda relação com Deus é baseada em fé, já que nós, seres humanos encarnados, não podemos estabelecer uma comunicação direta e plena com o plano espiritual, assim, ainda que se tenha pouca experiência no evangelho ou com os dons espirituais, Deus responde a todos os que o buscam no Espírito, em verdade e com fé. Fé genuína nos coloca em movimento no caminho Espírito Santo que nos conduz à porta Jesus nas regiões celestiais mais elevadas que nos dá acesso direto ao pai Altíssimo. Fé, Espírito Santo e Jesus, eis a maneira de termos um diálogo objetivo com Deus, felizes os simples que discernem as coisas espirituais e podem ser tratados como filhos de Deus, para esses nada faltará, aqui e na eternidade. 
      Entretanto, à medida que amadurecemos com Deus as coisas ficam mais sérias, assim, da mesma forma que temos mais privilégios também teremos mais responsabilidades, deve ser assim para que sejamos atraídos a crescer espiritualmente. Deus é um ser inteligente, apesar de moralmente extremamente superior a nós e com poderes sobre tudo e sempre, ele se relaciona conosco da mesma maneira que outros seres se relacionam, existem diálogos, silêncios, iniciativas e esperas, principalmente levando em conta os nossos limites como seres encarnados, pecadores e inferiores, e não limites de Deus. Quem tem amizade com o Senhor percebe que há coisas que ele responde sempre e imediatamente, mas há outras que não. 
      No início de nossa caminhada com Deus, principalmente se somos jovens, nosso diálogo com Deus é disciplinado e pode se limitar às orações, não vivenciamos uma comunhão vinte e quatro horas com Deus. Além da forma o conteúdo também é diferente, entregamos assuntos básicos e principais, como nossa vida profissional, afetiva, nossa saúde física, assim como pedimos perdão e agradecemos por tudo isso. Com o tempo e com a roda viva da vida, aumentando nossos compromissos com a sobrevivência no mundo e com as pessoas, nossos momentos de orações podem se tornar menos disciplinados, mas por outro lado começamos a entender um Deus sempre presente e sempre nos orientando, o Deus pai mostra-se amigo.
      Em nossas vidas adultas, em média nosso período mais longo de existência, é quando mais experimentamos um relacionamento com o Deus amigo, amigo não concorda com tudo que fazemos, mas não nos abandona. O ideal é passarmos o mais depressa possível à próxima fase, quando nos relacionaremos com o Deus professor, que nos ensinará mais que o básico da vida espiritual que está na Bíblia e é o que a maioria das igrejas entrega. Usei a palavra professor no lugar de mestre para desmistificar as coisas, mas usando-a me refiro a um Deus que tem muito mais a nos dizer que muitos acham que tem, esse conhecimento é uma palavra diferente do consolo que recebemos diariamente. 
      Para termos esse relacionamento final é preciso inteligência, ele não é só conforto emocional ou interação com bases de sobrevivência no mundo, mas a construção do céu em nós, a formação do homem espiritual que estará com Deus na eternidade. Para esse ensino é preciso paciência e persistência, mas também sabedoria, não confundi-lo com o alimento básico, indispensável para nossa paz diária em Deus, ainda que possa se tornar alimento básico quando crescemos, estamos preparados e somos chamados por Deus para recebê-lo. Assunção de pecados e solicitação de proteção divina para nossas vidas e de nossos próximos é básico, já “batalha espiritual”, “final dos tempos” e temas assim são conhecimentos avançados.
      Enquanto o pai protege, alimenta, fica próximo, e o amigo acompanha mesmo à distância, entende e ama, o professor ensina, e em se tratando do ensino de Deus não são só conhecimentos que satisfazem curiosidades intelectuais, mas revelações da vida mais pura que existe na luz mais alta de Deus. O autor de Hebreus com o termo “meninos” em Hebreus 5.11-6.2 se refere aos cristãos presos à religião antiga e mesmo às primeiras coisas da nova religião, pergunto quantos cristãos atuais de fato entendem que deve haver um crescimento em suas experiências com Deus? Num determinado momento de nossas jornadas somos questionados se queremos seguir como religiosos ou se queremos conhecer mais a Deus, a escolha é nossa. 
      É natural que a chama se apague quando envelhecemos, nossa resposta a paixões aquieta-se, isso é inicialmente físico, mas que interfere em nossa vida mental e afetiva. Mas se conseguirmos crescer em nossa relação com Deus, se do pai passarmos ao amigo e então ao professor, veremos a chama ficar mais forte, não no corpo, mas no espírito. Isso nos permitirá ser mais santos e pacientes, achar as prioridades melhores da existência e cumprir o plano de Deus para nossas vidas de forma plena. Contudo, por resistirem à maturidade, por fazerem as coisas no tempo errado, por não se libertarem das vaidades do mundo, por se acomodarem à religião, muitos se acham no final mais carnais, ao invés de mais espirituais.

      “Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação; porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus; e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento. Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. 
      Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do costume, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal. Por isso, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até à perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno.” 
Hebreus 5.11-6.2

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