quinta-feira, setembro 30, 2021

E se você pudesse voltar no tempo?

      “Quem guardar o mandamento não experimentará nenhum mal; e o coração do sábio discernirá o tempo e o juízo. Porque para todo o propósito há seu tempo e juízo; porquanto a miséria do homem pesa sobre ele.Eclesiastes 8.5-6

      Se você pudesse reviver teu passado, mudaria alguma coisa em tua vida? Nessa suposição, estabeleçamos dois pré-requisitos, o primeiro é que você seria no passado que voltasse exatamente quem você foi, não quem você é no presente, o segundo é que teria a possibilidade de alterar uma única coisa, fazer uma escolha diferente daquela que você fez. Por mais impossível que essa situação seja, a escolha de para qual momento voltarmos e o que fazermos de diferente nesse momento, pode revelar o que achamos ser importante na vida e que tipo de escolha consideramos relevante. 
      Escolhermos quando e o que mudarmos no passado pode dizer muito sobre quem somos no presente e se estamos felizes. Por exemplo, alguém que é casado, achar importante voltar no tempo para escolher não se casar, pode revelar ou um casamento infeliz, porque escolheu mal, ou um presente imaturo, que não trabalha no casamento para crescer e ser feliz. A pergunta é: a escolha de não se casar objetiva fazer mais feliz o outro e a si, permitindo que ambos façam alianças melhores no casamento, ou objetiva permanecer solteiro e desfrutar de liberdade egoísta que só busca prazer pessoal? 
      Acertar o casamento foi só um exemplo, mas fazemos muitas escolhas na vida que hoje, olhando o passado com os olhos do presente, pensamos que poderiam ter sido outras, contudo, fizemos tais escolhas porque éramos diferentes do que somos hoje. Se voltássemos no tempo e pudéssemos conversar com nosso eu passado muitos de nós não nos reconheceríamos, o que sempre fomos e que manifestou-se hoje estaria dentro do eu passado, mas talvez tão escondido, soterrado ainda por tantas feridas não curadas e perturbações emocionais, que seriam duas pessoas estranhas se falando. 
      Eu tenho um pensamento, não sei se você concorda, se pudéssemos alterar uma decisão que achamos hoje errada, a vida nos conduziria a uma nova situação onde faríamos novamente a mesma decisão errada, e que poderia ter repercussões ainda piores que a primeira. O que temos que viver está dentro de nós, não fora, não somos escolhidos pela vida, mas escolhemos a vida, ainda que inconscientemente. O que temos que mudar está dentro de nós e só melhoramos vivendo, ainda que errando, mas o que somos de melhor está dentro de nós desde o momento que nascemos neste mundo. 
      Não é das pessoas, dos lugares, das situações que temos que fugir, mas temos que nos conhecer melhor, o que queremos de fato nos levará a fazer alianças com pessoas, a estar em lugares e a viver situações, ainda que o tempo revele que tudo isso não é o melhor para nós. Quem se anula para não mostrar aos outros valores que os outros não aprovam, morre em vida, não aproveita a razão de sua existência, e no final acabará só e arrogante, ainda que próspero e aprovado por muitos como alguém que não cometeu erros. É preciso alguma irresponsabilidade, ao menos para se começar a viver. 
      Alguns podem dizer que algumas reflexões do “Como o ar que respiro” são humanistas demais, falam muito do homem e menos de Deus. Mas o que adianta descrever em detalhes o espelho, admirar a limpeza e nitidez de sua superfície, se encantar com sua bela moldura, e não usá-lo para o fim adequado? “Conhece-te a ti mesmo”, mas só nos conhecemos nos olhando em Deus, o espelho perfeito que mostra-nos quem somos e o que precisamos ser. Na humildade de assumirmos que erramos e de trabalharmos para mudar, adquirimos espiritualidade, dependemos de Deus e amamos o próximo. 
      Por razões misteriosas que Deus sabe, é conveniente estarmos presos por um pouco à matéria, ao espaço e ao tempo, numa existência linear quando não temos controle sobre muitas coisas. Erros cometemos e suas consequências não podem ser anuladas, temos que conviver com elas. Assumirmos a responsabilidade de nossas escolhas, não jogar a culpa nos outros ou mesmo em Deus, e seguirmos de pé, em paz e com fé, desejando e trabalhando por dias melhores, é nossa vocação. O resto são provações que estamos no mundo para passar e nelas sermos aprovados, Deus é o Senhor dos tempos. 

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