20/03/22

Co-herdeiros no trono (49/90)

      “Ao que vencer lhe concederei que se assente comigo no meu trono; assim como eu venci, e me assentei com meu Pai no seu trono.
Apocalipse 3:21

      João evangelista parece mostrar o céu de forma gradativa nas sete promessas de Apocalipse. Depois de ser alimentado com alimento exclusivo (árvore da vida e maná escondido), ser livrado do dano da segunda morte, receber novo nome (pedra branca), administrar o plano espiritual (reger as nações), vestir novas vestes e ser um com Deus (coluna do templo e nova Jerusalém), o que vencer se assentará no trono com Jesus, a promessa mais elevada Agora não haverá só diferenciação do ser em relação aos outros, mas o que vencer estará no mesmo nível que o Cristo. Co-herdeiros de Cristo é termo citado em outros textos, por Paulo (Romanos 8.17) e por Jesus (João 14.1-6), quando diz que os salvos estarão no mesmo lugar que ele.
      O mais importante é que Jesus não se coloca como superior, mas no mesmo nível dos que vencem, novamente não interpretemos “trono” como um lugar num castelo, onde o líder supremo é visitado e venerado por súditos. A Bíblia sob os olhos de homens antigos vê poder e espiritualidade sempre de forma estática, chega-se a um final, alguns vencem e outros perdem. Os que vencem, imperam, os que perdem, servem, de maneira que posições sejam definitivas. Isso com certeza era o ideal de civilização dos que viviam para a guerra, construíam e mantinham impérios fazendo guerras e vencendo inimigos. Cristãos, quando vamos entender que não somos mais assim e por isso a Bíblia precisa ser reavaliada? Quando?! 
      O evangelho de Jesus não vê assim a existência humana, por ele as pessoas podem errar e podem se corrigir, nada é definitivo, assim quem está por baixo hoje pode subir, e quem está por cima, se não tomar cuidado, pode cair (I Coríntios 10.12). Como interpretaríamos hoje o lugar de uma pessoa importante? Mesmo que ainda existam reis, tronos e castelos, como na Grã-bretanha e na Espanha, esse conceito hoje é mais folclórico que de fato levado a sério, excetuando logicamente por britânicos e espanhóis. Para o senso comum atual, alguém poderoso é rico ou famoso, não relacionamos isso necessariamente a poder político herdado por sangue real, o que confere status quo é dinheiro e fama, principalmente pela vida virtual. 
      Mas “tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos” (I Coríntios 10.11), que palavra reveladora é essa de Paulo, cabe tão bem a tanta coisa que lemos na Bíblia, não só na velha aliança de Israel em relação à nova aliança da igreja. Deus sempre falou (e fala, e falará ainda por um bom tempo), com figuras aos homens, como a crianças, e mesmo que muitos escritores bíblicos soubessem de mais coisas, o que eu pessoalmente não acredito, e se for isso só em raras situações já que só Jesus homem de fato conhecia todos os mistérios e o significado de todas as simbologias e parábolas, mesmo que homens conhecessem os mistérios eles usaram figuras.
      Por que foi, é e será assim? Por amor, um amor que é paciente, que não se priva de dialogar mesmo com quem entende muito pouco ou quase nada do que é dito. Ah, meus queridos, como existem tanto materialistas como espiritualistas que olham cristãos tradicionais com jactância, achando-se superiores, com mais informações, sejam da ciência ou de suas experiências espirituais mais profundas. Mas esses pequeninos que são muitos cristãos, conhecem o principal pelo amor de Deus, podem não conhecer detalhes, mas experimentam o mais importante. Esses fazem parte do grupo de seres humanos chamados de vencedores, que receberão todas as promessas feitas no livro de Apocalipse aos anjos das sete igrejas. 

Esta é a 49ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

19/03/22

Coluna do templo e Nova Jerusalém (48/90)

      “A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, e dele nunca sairá; e escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, do meu Deus, e também o meu novo nome.
Apocalipse 3:12

      As simbologias que João usa no texto bíblico inicial são de construção física e delimitação geográfica, coluna no templo e cidade de Jerusalém. A que espiritualmente ele se refere? Haverá mesmo uma cidade e um templo, construídos de pedras e metais preciosos, com dimensões específicas, com paredes, teto, janelas e portas? No livro de Apocalipse João está sempre transportando revelações espirituais, que via, ouvia e sentia em seu espírito ungido com o Espírito de Deus, para referências físicas que ele conhecia como homem de seu tempo. Chama-nos a atenção Jesus dizer que o vencedor será parte de uma construção, coluna no templo de Deus, pondo os vencedores numa posição de íntima comunhão com Deus. 
      Deus constrói o céu com os espíritos dos vencedores? O templo parece ser sustentado por esses seres espirituais, visto Jesus dizer que os que vencessem seriam colunas da construção. Estaremos dentro de um templo ou seremos o próprio templo? Mas não é isso que já ocorre no mundo com os salvos, são templos individuais do Espírito Santo? (I Coríntios 6.19). Num céu em que muitos salvos viverão juntos, onde estará a luz mais alta de Deus, tendo seus corpos espirituais transformados e numa interação plena com Deus, Deus viverá em todos e todos em Deus, por dentro e por fora. Procede João dizer que os vencedores serão colunas num templo, não só habitarão um espaço, mas serão o próprio espaço, e um espaço espiritual. 
      O termo nova Jerusalém deixa muito claro que o uso de um conceito material conhecido é importante para que homens de um tempo entendam e aceitem conceitos espirituais. Ao judeu do século I, Jerusalém é sua cidade mais importante, a capital de seu reino, o orgulho maior do povo israelita, o lugar onde deve estar o templo, centro de sua religião. É mais que uma região geográfica, é a embaixada de Deus na Terra, testemunho para a humanidade que Deus existe, é todo-poderoso, escolheu um povo para ser seu e cuida desse povo. Não existe maneira mais fácil de um judeu entender a importância de um lugar na eternidade que usando o nome de um lugar importante para ele, para um judeu o céu é uma Jerusalém nova.
      Mas que importância tem isso para um japonês, por exemplo? Esse não vê relevância em Jerusalém, muitos menos vê numa nova Jerusalém. Mas a Bíblia não é um livro de judeus escrito para judeus? Sim, mas ainda assim Deus a usa para falar com todos os povos. Escrita por judeus para cristãos judeus ou ainda que gentios, conhecedores da antiga religião dos hebreus. Isso é relevante para entendermos o quanto da religião judaica está contida na Bíblia, assim aceitarmos que muitos símbolos existentes nela existem porque foram interpretados por judeus. Pode-se argumentar: mas são símbolos de uma nação escolhida por Deus desde o início para testemunhar dele ao mundo, é o mundo que tem que se adaptar a isso.
      Sim, mas ainda assim são símbolos e judeus. Sendo símbolos, não podem ser interpretados ao pé da letra, como construções de pedras, tijolos, cimento etc. Mas tudo bem, não sejamos tão extremistas, se um cristão mais simples, sincero em sua fé, espera no céu morar numa cidade luxuosa, condição que nunca teve na Terra, Deus, o pai de amor, aceita isso e respeita. Temos que fazer alguma imagem mental, isso nos dá esperança, nos resolve, ainda que seja só um portal de uma realidade espiritual. Entretanto, precisamos aceitar que num momento onde existem seres libertos de espaço, tempo e matéria, as coisas serão diferentes dos símbolos que mentalizamos no mundo material presos à cultura, religião, inteligência e gostos pessoais.
      João revela-nos que Jesus escreverá o nome de Deus, o nome da cidade de Deus, assim como o novo nome dele, Jesus, sobre os que vencerem. Isso deixa claro a importância da simbologia “nome” no entendimento que João teve da revelação. Entendamos nome, não como uma identificação escrita ou verbal, como uma maneira de chamar alguém, como já dissemos quando refletimos sobre o nome na pedra branca que os vencedores receberão. O nome é mais que uma simples diferenciação de alguém no meio da multidão, que uma identificação, é a própria identidade, a posição e a qualidade moral e espiritual que os seres terão na eternidade, nome que na verdade já existe, mas escondido em nosso homem interior
      Essa qualificação é justa, porque é dada pelo próprio Cristo que nos conhece por dentro, é o nosso homem interior aperfeiçoado no plano físico que será considerado por Jesus. Essa qualificação é exclusiva, pois todos os seres são especiais para Deus, ele não ama ninguém de forma distinta. Contudo, a qualificação poderá ser diferenciada, colocando seres em alturas diferentes, ainda que isso não poderá ser usado por ninguém como vaidade. Paulo cita algo que pode ser base para isso, o conceito do galardão (I Coríntios 3.12-16), muitos serão salvos, mas o galardão poderá variar. Só na eternidade será manifestado o “nome” do nosso espírito, não o que achamos ter baseados em nossas passagens no mundo, mas o eterno. 
      Há uma chave espiritual para um mistério nesta reflexão, como há em muitos conhecimentos profundos da Bíblia escondidos sob a forma de simbologias e parábolas. O nome escondido diz respeito ao nosso espírito, que é eterno, sem começo e sem fim, não limitado à nossa vida encarnada no mundo no presente. Quem somos de fato, homens e mulheres com nomes, documentos, residências, graus educacionais, profissões, estado civil, religião, contas em bancos, tudo isso hoje no mundo? Será que é só isso, uma existência que nos define? Talvez, e estamos dizendo, talvez, se fosse só isso nosso nome na eternidade seria o mesmo que temos hoje, talvez não haveria necessidade de recebermos novos e melhores nomes... 

Esta é a 48ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

18/03/22

Vestes brancas e Livro da vida (47/90)

      “O que vencer será vestido de vestes brancas, e de maneira nenhuma riscarei o seu nome do livro da vida; e confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos.
Apocalipse 3:5

      Vestes brancas, João transporta o entendimento de uma posição espiritual, de uma condição moral, que ele com certeza discerniu em sua comunhão com o Espírito Santo, para referências materiais e externas. Penso que dessa vez ele não fez um transporte muito diferente daquele que faríamos hoje, se recebêssemos a mesma revelação. Branco, claro, alvo, tem a ver com santidade, com pureza moral, com elevação espiritual, com proximidade da luz, ele deve ter visto vestidos, a roupa típica de sua época. Talvez hoje, como homens ocidentais, víssemos camisas e calças, mas também de uma brancura singular, impedindo-nos de identificar detalhes, numa luz tão clara que deixariam desconfortáveis os olhos espirituais. 
      A cor branca tem uma característica, se juntarmos todas as cores, nas proporções adequadas, nenhuma se sobressairá, todas se transformarão em branca, isso nos diz algo sobre a luz da espiritualidade mais alta. O branco que vemos em várias passagens bíblicas quando se refere a visões, por exemplo de Ezequiel e Daniel, ao céu, aos anjos e a outros seres, à transfiguração de Jesus mais as aparições de Moisés e Elias, é a transferência para o plano físico de uma virtude espiritual, nossos olhos (espirituais) vêm o branco, mas na realidade o que existe é santidade. Santidade por sua vez não é só abstinência de prazeres físicos, isso é mais bons hábitos alimentares e equilíbrio sexual que outra coisa, alguém pode ter isso e não ser santo. 
      Santidade é ausência ou presença? Se a cor branca é mistura de todas as cores, então, ela é presença, não se é santo por se deixar de fazer as coisas, de se sentir as coisas, de se pensar, de se fazer as coisas, mas se alcança santidade tendo noção de tudo e usando tudo na proporção certa. O branco da santidade não é espaço vazio, mas espaço preenchido com equilíbrio. Não se aprende a ser santo retirando-se para o alto de uma montanha e evitando convívio com a realidade, com as pessoas, com as tentações, mas convivendo-se com tudo isso e não sendo contaminado por excessos. Se não fosse assim, não precisaríamos encarnar no mundo, aprendermos a fazer escolhas que nos aperfeiçoam, agradarmos a Deus e amarmos o próximo. 
      Não podemos ser crianças para sempre, uma criança não é santa, só é inocente, não escolhe não errar, só não aprendeu ainda a errar, assim faz a única coisa que sabe fazer. Quando amadurecer emocional e fisicamente poderá errar por escolha própria e terá responsabilidade por isso, portanto perderá a paz que só será reencontrada no reconhecimento do erro e numa prática de boa vida moral. Isso só se consegue plenamente em comunhão com Deus. Só temos forças para sermos santos respondendo sim à atração que o amor de Deus nos faz para sua santidade, isso nos dá direito às vestes brancas que os vencedores receberão de Jesus na eternidade, isso nos confere alvura espiritual ímpar, o objetivo maior de Deus para todos nós. 
      João também cita o livro da vida, termo que aparece muito no livro de Apocalipse, mas que Paulo usa só uma vez, em Filipenses 4.3. Seria um documento divino onde estão listados os nomes dos que venceram? João também diz que os que vencerem seriam confessados por Jesus diante de Deus e de seus anjos. Jesus tem um papel único na humanidade do nosso planeta, mostrou o caminho de salvação, mas também será o responsável por identificar quem é quem na eternidade, separar ovelhas de bodes (Mateus 25.32), salvos de condenados. O “céu” será uma posição elevada onde Cristo passou a habitar, depois que partiu da Terra no século um, mas Jesus pode ser o próprio “céu”, aguardando ser completado por cada um de nós.
      “O que vencer de maneira nenhuma riscarei seu nome do livro da vida”, se nos lembrássemos disso quando desanimamos, quando por coisas tão pequenas perdemos a paz. Diante de Deus no plano espiritual, o vencedor será identificado por Jesus no livro da vida, nada e nem ninguém pode tirar nosso nome desse livro. Se caminhamos persistentemente em santidade e em amor podemos ter certeza disso, usando essa certeza, não para nos protegermos de irresponsabilidades, mas para nos fortalecermos e sermos fiéis até o fim de nossas jornadas no mundo. “Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá” (João 11.25). Creia, ninguém está definitivamente morto, a vida é eterna, a morte, não é! 

Esta é a 47ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

17/03/22

Poder sobre as nações (46/90)

      “E ao que vencer, e guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei poder sobre as naçõese com vara de ferro as regerá; e serão quebradas como vasos de oleiro; como também recebi de meu Pai.
Apocalipse 2:26-27

      Antes de iniciarmos a reflexão, algo precisa ser dito. Nós, evangélicos e protestantes, nos acostumamos tanto a ler a Bíblia, que na maioria das vezes não prestamos atenção ao que lemos, aceitamos como dogmas, não questionamos porque cremos que é a palavra de Deus, e só. Hoje temos muitas versões de Bíblia disponíveis em livrarias, e interessantes para serem usadas como consultas secundárias são as versões em linguagem de hoje. É bom usarmos com cuidado, e o ideal é consultarmos mais de uma versão, mas o principal é entendermos de fato as palavras que lemos. 
      Das promessas feitas “ao que vencer”, a do texto bíblico inicial, pode ser a mais difícil de ser entendida hoje, justamente por parecer a mais simples, se interpretada ao pé da letra. Para um homem do primeiro século, debaixo da opressão romana, e como judeu, ainda próximo da realidade do israelita do velho testamento, o que mais representaria uma vitória definitiva? Não seria uma posição militar, política e social, superior, não de oprimido, mas de opressor? Não só como um mero administrador, mas como um juiz que faz cumprir penas, “quebrando as nações como vasos de barro”
     Pois é, essa é a visão de mundo de João, o evangelista, escritor do livro das revelações, a visão de justiça, a visão de vitória, a visão de eternidade, a visão de Deus que ele tinha. Será que entendemos realmente o quanto isso se opõe ao Deus de amor ensinado por Jesus? Você acredita que por crer no Cristo terá o direito de castigar aqueles que não creem? Ou você não acredita, não entende o texto do Apocalipse, mas também não se importa muito com isso. Se for esse o caso, você não está levando a sério a Bíblia, que é ensinada a você como sendo palavra infalível de Deus. 
      Agora, se não for, se houver partes que precisam ser reavaliadas, entendendo diferentemente daquilo que a tradição cristã ensina, então devem haver “verdades” que não são bem o que você acha que são, ainda que estejam na Bíblia. Eu não brinco com a Bíblia, ou ela é, ou não é, não varro para baixo do tapete questões que teólogos chamam de polêmicas, só para não assumir que a Bíblia não é coesa. Será que o que queremos pelo evangelho no mundo hoje, é vingança sobre inimigos, oprimirmos opressores, aqueles que odeiam o cristianismo e são injustos com os cristãos? 
      O evangelho ensina-nos perdoarmos inimigos, orarmos por eles e estendermos a mão para restaurá-los. Se é assim aqui, por que seria diferente na eternidade? O Deus que oprime nações inimigas é o “Deus” do antigo testamento, que João ainda tinha na memória, já que ainda vivia num mundo oprimido por um poderoso império. Se você acha que não existe incoerência nisso, fique em tua crença, mas eu penso que há, principalmente se considerarmos o nível moral do homem civilizado atual, que não aceita mais o modus operandi guerras, como meio das nações se manterem.  
      Mas o mistério que João viu, a relevância que temos que entender hoje e que não pode ser esquecida, ainda que João, autor de Apocalipse, tenha feito um registro coerente com o homem de seu tempo, é que o que vencer fará algum tipo de trabalho, uma administração ativa, no plano espiritual, não para oprimir, mas seguindo o evangelho, para orientar e abençoar. Esse é o conceito eterno que Deus quer nos ensinar por trás da história antiga e da mitologia. Assim, os que no mundo foram injustiçados, desempenharão na eternidade papel de liderança sobre os que foram injustos.
      Esse conhecimento não deve alimentar em nós vingança infantil e carnal, mas madura responsabilidade em humildade e temor. Se essa promessa “ao que vencer” é a que pode ser mais mal interpretada se lida ao pé da letra, é a que pode revelar um dos maiores mistérios da eternidade. Lá não será um lugar só para descanso e adoração, o que muitos que não conhecem a renovadora unção do Espírito Santo podem interpretar como algo tedioso e sem graça. O trabalho espiritual é eterno, irmãos e irmãs cristãs, o que mudará é a qualidade desse trabalho, de físico para espiritual. 

Esta é a 46ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
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José Osório de Souza, março de 2021

16/03/22

Maná escondido e Pedra branca (45/90)

      “Ao que vencer darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca, e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe.
Apocalipse 2:17b

     O que é o maná escondido? Para entendermos temos que saber a importância que teve o maná material original para a nação de Israel no antigo testamento, quando fugia dos egípcios, no meio do deserto, sem água e sem comida. A resposta é simples: foi uma provisão especial de um Deus que pode fazer aquilo que parece impossível aos olhos humanos. O que vencer provará mais que um prazer, e no plano espiritual prazer tem um conceito diferente, não é egoísta e passageiro como no plano físico, o que vencer será alimentado com um alimento especial. 
      Esse alimento será diferente de tudo que o ser humano provou no mundo, não é material, e é melhor mesmo que a unção do Espírito Santo que provamos encarnados, já que o corpo nunca pode perceber e reter toda a relevância que possui uma experiência de plenitude no Espírito de Deus. No plano espiritual, prazer é vida, é qualidade moral, é proximidade da luz mais alta de Deus, são as virtudes do Senhor. No plano espiritual teremos prazer na paz, na santidade, no amor, tudo isso é eterno e incorruptível, não será parcial, mas pleno, dentro e fora de nós. 
      Justamente por muitos não conseguirem no mundo desvencilharem-se dos apetites do corpo, retendo assim carnalidade em seus homens interiores, e consequentemente construindo infernos dentro de si, é que enfrentarão a continuidade desses infernos na eternidade. Se no mundo podemos fugir de Deus nos prazeres do corpo, na eternidade não haverá corpo para escaparmos. O único prazer será estar no amor de Deus para o qual nos decidimos encarnados no mundo, caso contrário, lá só restará a tortura de desejar algo que não se pode ter. Eis uma definição de inferno.  
      Temos tentado insistentemente definir o inferno neste estudo, porque muitos cristãos preguiçosamente aceitam o inferno como dor infinita causada por agente externo. Crer que é Deus quem põe fogo num lugar e lança lá os que considera culpados, de uma certa forma joga a responsabilidade toda em Deus. Coloca o Senhor como uma potência vingativa e capaz de criar e manter um lugar eterno e terrível, mas não é bem assim. O inferno é interior e construído pelos homens, vivenciado no mundo, ainda que aqui os homens tenham meios de anestesiarem a dor infernal. 
      Sobre pedra branca, a primeira coisa que temos que entender é que lugar, objetos e nomes, que no plano físico se referem a coisas físicas, dentro de dimensões físicas, são apenas simbologias para outras referências no plano espiritual. Lugares, por exemplo, podemos entender como posições morais, saindo da dimensão horizontal e indo para a vertical, assim menos moralidade é região inferior, é trevas, mais moralidade é região superior, é luz. Deus é a luz mais elevada. Todo o plano físico, suas leis e seus valores no tempo, são símbolos do plano espiritual. 
      Nome, por sua vez, não é uma denominação, usada para chamar alguém, mas uma graduação e também moral, que coloca a pessoa numa altura espiritual, espiritualidade tem a ver com posição e identificação. O interessante é o texto dizer que ninguém sabe o nome a não ser quem recebe, isso denota uma condição de ausência de vaidades, de não carência de se impor sobre os outros, mas é uma satisfação que se contenta por saber e saber que Deus sabe, mais nada. Nome espiritual define nossa identidade essencial como espírito eterno, é isso que é a pedra branca. 

Esta é a 45ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
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José Osório de Souza, março de 2021

15/03/22

Dano da segunda morte (44/90)

      “O que vencer não receberá o dano da segunda morte.
Apocalipse 2:11b

      Esse ensino é mais fácil de entender pela tradição cristã, apoiado pelos evangelhos e pelas epístolas (João 3.18 e Romanos 6.23). O texto não diz “não receberá a segunda morte”, mas “não receberá o dano da segunda morte”. A segunda morte vale para os que não creem em Cristo como salvador, ainda que estejam vivos neste mundo. Os que possuem capacidade intelectual e moral para escolherem pecar ou não, que não são inocentes, como crianças e portadores de certas deficiências mentais, e que não estão ligados a Deus pelo Espírito, provam a segunda morte, diz o cristianismo (Efésios 2.5). 
      No mundo, contudo, ninguém prova plenamente o dano da segunda morte, porque até que a primeira morte, a do corpo, ocorra, há oportunidade para se livrar da segunda morte e do seu mais terrível e duradouro dano. O que vence não sofre o dano da segunda morte, assim podemos entender que o dano é a condenação a uma danação duradoura, que só ocorrerá na eternidade, depois da primeira morte. Morte espiritual nos separa de Deus, nela não existe em nós o Espírito Santo, que nos dá vida eterna, nos permite conexão ativa com Deus e recebimento de consequentes direitos morais. 
      Mas será que não provamos o dano dessa segunda morte aqui? Nós cristãos, principalmente quando experimentamos conversão em Cristo muito cedo, nos acostumamos tanto a andar com Deus, mesmo a trancos e barrancos (principalmente no início, quando somos jovens e fazendo más escolhas), que acabamos nos esquecendo de como é andar longe do Senhor. Mesmo que pequemos, corremos para Deus, nos humilhamos e ficamos em paz. Mas como deve ser negar a Deus o tempo todo, tentar se convencer que Deus não existe e que cristianismo é coisa de gente doida ou ignorante? 
      Volto a dizer, para não cometermos o engano de achar que alguém não anda com Deus, só porque não é um cristão no padrão das igrejas evangélicas. Não erremos, a coisa não funciona assim, não no amor de Deus. Mas existem pessoas, sim, que ainda que sejam boas cidadãs, seres humanos que contribuem positivamente no planeta, fogem de Deus como o diabo foge da cruz. Para essas a vida é um inferno e ainda no mundo, antes de provarem a segunda morte. Podemos concluir que inferno é estar longe de Deus, da luz mais alta, do amor que a todos atrai, e quanto sofrimento há nele. 
      Muitos se acostumam a viver na segunda morte, constróem universos nela, se habituam às trevas. Nas trevas não se vê nada, mas pode-se imaginar muitas coisas, mecanismo usado por espíritos enganadores confortáveis com o ambiente sem luz, para enganar os que se sintonizam em suas baixas regiões espirituais. Essa disposição é perigosa, pode conduzir a transtornos psiquiátricos, que mesmo controlados com algum esforço, persistem dentro das pessoas, pessoas cansadas emocionalmente, por viverem vidas duplas, que tentam achar felicidade material ainda que mortas espiritualmente. 
      Podemos não saber se alguém ainda está na segunda morte, mas não é difícil ver se alguém sofre algum dano dela. As pessoas podem enganar por um tempo, parecerem controladas, mas um dia explodem, vindo à tona uma realidade de perturbação. Tenhamos cuidado, não deixemos que se instale o inferno em nós, sejamos humildes ainda que tenhamos dificuldades para crermos no Deus das religiões, ainda que tenhamos tido exemplos ruins do cristianismo dos homens. Nos aproximemos de Deus como estamos, Deus sempre responde ao que o busca e o livra da segunda morte e de seu dano. 

Esta é a 44ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
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José Osório de Souza, março de 2021

14/03/22

Árvore da vida (43/90)

      Ao que vencer, dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no meio do paraíso de Deus.
Apocalipse 2:7b

      Em Gênesis o homem caiu porque comeu o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o fruto da outra árvore, a árvore da vida, ele não comeu (Gênesis 2.9, 3.22). Essa promessa de Apocalipse diz que o que vencer poderá, enfim, comer do fruto dessa segunda árvore, entendemos por Gênesis que se o homem original tivesse comido desse fruto, viveria para sempre, e como já tinha caído moralmente, seria eterno e mal. Isso seria terrível, uma capacidade a mais para o homem seguir distante de Deus, já que por mais que pecasse, agora com conhecimento moral maior, não morreria. 
      A morte tem um peso muito importante na avaliação que o ser humano faz de sua jornada na Terra, envelhecer e perder aos poucos liberdade, forças e prazer no plano físico, o conduzem a entender que a existência não é só material, que deve haver algo além, melhor, que dá sentido à sua existência. O homem morreria fisicamente, a primeira morte, se não tivesse pecado? Podemos entender que não (Êxodo 32.33, Romanos 6.23), as mortes, física e espiritual, são consequências da queda do homem no pecado, senão a árvore da vida não teria utilidade para um homem que tivesse caído. 
      Em Jesus, a segunda morte, a espiritual, pode ser anulada, mas a física continua válida, contudo, na eternidade, os que estiverem libertos em Cristo da segunda morte terão direito ao fruto da árvore da vida. Qual exatamente o significado disso? Que efeito faz o fruto dessa árvore num espírito já liberto do corpo? Se o homem já estiver no plano espiritual, e salvo em Cristo, já terá vida eterna, e mesmo que esteja condenado ao inferno, terá morte duradoura, de nenhuma maneira há necessidade de algo que o livre da primeira morte, ele não está mais encapado com matéria que perece.
      Essa interpretação da árvore da vida é a dada pelo cristianismo tradicional, mas o que mais podemos entender, que vai além do que estamos acostumados a saber pela doutrina que os homens dogmatizaram? Há uma vida além da vida eterna? Só os que vencerem terão direito ao fruto da árvore da vida, assim os condenados, ainda que com existência espiritual eterna, e precisa ser assim quando se admite uma pena duradoura, não comerão desse fruto. Seria esse fruto o que transformaria os salvos, lhes daria um corpo adequado para serem cidadãos da melhor eternidade, o céu? 
      O certo é que uma árvore plantada originalmente no oriente médio, milhares de anos atrás, pela cronologia bíblica original, não deve ser a mesma que existe no meio do paraíso espiritual. Isso nos leva a concluir que os fatos contados no início do livro de Gênesis não são reais, mas metafóricos, ainda que possam ser baseados em história real, contada e mantida pela tradição oral, até chegar em Moisés, escritor de Gênesis, já como mito. A tempo, a humanidade ter alguns milênios de idade não bate com informações científicas que datam um homo sapiens bem mais antigo. 
      Como sempre, não devemos nos prender à interpretação ao pé da letra da Bíblia, importa que tentemos aprender com o princípio, uma “árvore” que está presente tanto no início da humanidade no plano físico, como no final dos tempos no plano espiritual, a relevância que a árvore da vida tem. Podemos entender que um direito que foi perdido com o pecado pode ser reconquistado por Jesus, a vida eterna. Mas porque essa árvore estava no jardim do Éden? Deus disse que era proibido comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas nada disse sobre a árvore da vida (Gênesis 2.17). 
      Se era um risco ter a árvore da vida no Éden, tanto que querubins foram enviados para guardá-la após a queda (Gênesis 3.24), esse risco deveria ter uma finalidade, que não era provar o homem como a outra árvore. Nos parece que ela representa uma fonte de potência espiritual, que dá e mantém a vida. A simbologia da árvore da vida tem papel crucial no sistema da Cabala (e nem tente entender o que é com a leitura rápida de um texto), o ocultismo judaico e base para outros ocultismos. Aos que estudam isso, a árvore da vida é representação de tudo no universo, nos planos físico e espiritual. 

Esta é a 43ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
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José Osório de Souza, março de 2021

13/03/22

Sete anjos e Sete igrejas (42/90)

      “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer; o mistério das sete estrelas, que viste na minha destra, e dos sete castiçais de ouro. As sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete castiçais, que viste, são as sete igrejas.” 
Apocalipse 1.19-20

      Esta e as próximas sete partes da reflexão “Quem você será na eternidade?”, não constituem um estudo detalhado das sete cartas aos anjos das igrejas, registradas no livro de Apocalipse, nos ateremos com mais cuidado às promessas “ao que vencer”, que encerram cada carta. Esta primeira parte é uma introdução, mas veremos que em cada promessa há mistérios profundos, que ensinam muito sobre a razão da existência para aqueles que buscam a Deus e abrem olhos e ouvidos espirituais para o Espírito Santo, que desejam e podem saber mais que aquilo que a tradição cristã de homens ensina. 
      A visão começa com a voz do Filho do Homem apresentando os símbolos das cartas. Há entendimentos diferentes sobre o que são anjos e igrejas. Uns dizem que os anjos são anjos mesmo, seres espirituais sob autoridade de Deus que guardam indivíduos, famílias, igrejas, regiões e nações. Outros dizem que os anjos são pastores de igrejas locais, os nomes das cidades citadas são contemporâneos a João. Como igrejas também há opiniões divergentes, podem ser igrejas locais da época de João, mas podem ser eras, dividindo a história da humanidade da época de João até o final dos tempos. 
      Um conceito que o cristão protestante não dá muito valor e o de anjo da guarda, aprendem a falar diretamente com Deus através de Jesus, creem que o Espírito Santo os unge para vencerem o pecado e o diabo e para entenderem e ensinarem a palavra, mas mais nada. Em anjos, até creem que Deus pode usá-los, mas como homens muitos cristãos creem que não podem ordenar que anjos façam isso ou aquilo. Talvez, com medo das práticas mágicas e ocultistas, o catolicismo tenha dogmatizado cristãos para não crerem em anjos, mas até católicos pedem a anjos por proteção. 
      O texto sobre os sete anjos do livro de Apocalipse pode indicar que Deus usa seres espirituais de luz para exercer sua vontade, para proteger, ensinar e consolar o homem. O arcanjo Miguel é citado no livro de Daniel várias vezes (Daniel 10.13,21, 12.1), em uma delas dá-nos a entender que seria o ser espiritual protetor da nação de Israel. O anjo Gabriel também aparece a Daniel (Daniel 8.16, 9.21). Daniel e João o evangelista podem estar entre os homens com mais experiências com o mundo espiritual registradas na Bíblia. Qual seria a verdade por trás dos sete anjos e das sete igrejas? 
      Penso que é tudo isso que citamos, ao mesmo tempo e mais algumas coisas. A Bíblia sempre fala pelo menos de três maneiras diferentes, em textos com profecias. Em primeiro lugar fala sobre o futuro imediato do profeta, afinal de contas Deus responde ao que o busca, se o profeta quer uma palavra sobre sua realidade, como no exemplo de Daniel, Deus falará a ele sobre isso. Deus é sempre direto e fiel, amoroso e paciente, quem complica as coisas, não cumpre o que promete, diz uma coisa, enquanto faz e sente outra, somos nós, homens. A espiritualidade mais alta é simples e objetiva. 
      Contudo, uma resposta de Deus sobre algo próximo e direto pode conter revelações mais profundas e futurísticas. Deve haver busca no Espírito Santo para entendermos além do óbvio, que não está aberto a todos. É assim porque são informações proibidas? Não necessariamente, é proibido para quem não está preparado para saber, e não está porque não paga os preços para ir além do superficial. Mas para quem sabe perguntar nenhuma resposta é negada, guardando depois o que se recebeu com temor a Deus, não revelando para qualquer um, por pura vaidade, o que nem o Senhor revela.
      A última maneira que uma revelação de Deus fala é a mais simples e atemporal, nem é profética, no sentido de revelar algo que vai acontecer, seja para a realidade do profeta que a registrou, seja para uma realidade distante. Isso ocorre por causa do motivo principal da Bíblia existir, confortar o ser humano, de qualquer tempo, com qualquer nível moral ou intelectual, seja da cultura que for, sem que haja necessidade de estudo teológico mais técnico. Qualquer um que ler um texto bíblico, se houver nele sincera intenção de ouvir a voz do Deus verdadeiro, ouvirá e sairá fortalecido. 
      O termo “ao que vencer” aparece sete vezes no livro Apocalipse nos textos com as promessas aos anjos das sete igrejas. Ele implica em algo importante, que a melhor eternidade não será para todos, mas só para os que vencerem. Quem são os vencedores? Os que crerem em Cristo como salvador ou os que persistirem em andar no mundo seguindo o exemplo de Jesus homem? A teologia protestante tradicional diz que o céu será para os que crerem em Cristo, mas pensemos nas promessas “ao que vencer” não só como maravilhosos direitos, há também sérios deveres nelas. 
      João usou de metáforas em seu texto, que ele conhecia da mitologia bíblica já antiga, mesmo para seu tempo. Mas será que hoje temos que estar limitados pelo mesmo nível de entendimento dele? Deus não sofre mutações, o homem, sim, hoje talvez possamos entender o livro de Apocalipse de um jeito que nem o próprio apóstolo do amor entendeu, ainda que tenha registrado com fidelidade e temor a Deus profecias que recebeu na mente de homem do final do século I. O certo é que “ao que vencer” será dado na eternidade, bem mais que um lugar para descansar e adorar a Deus. 

Esta é a 42ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

12/03/22

Não negue o convite para a festa (41/90)

      “Porém, ele lhe disse: Um certo homem fez uma grande ceia, e convidou a muitos. E à hora da ceia mandou o seu servo dizer aos convidados: Vinde, que já tudo está preparado. E todos à uma começaram a escusar-se. Disse-lhe o primeiro: Comprei um campo, e importa ir vê-lo; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Comprei cinco juntas de bois, e vou experimentá-los; rogo-te que me hajas por escusado. E outro disse: Casei, e portanto não posso ir. 
      E, voltando aquele servo, anunciou estas coisas ao seu senhor. Então o pai de família, indignado, disse ao seu servo: Sai depressa pelas ruas e bairros da cidade, e traze aqui os pobres, e aleijados, e mancos e cegos. E disse o servo: Senhor, feito está como mandaste; e ainda há lugar. E disse o senhor ao servo: Sai pelos caminhos e valados, e força-os a entrar, para que a minha casa se encha. Porque eu vos digo que nenhum daqueles homens que foram convidados provará a minha ceia.” 
Lucas 14.16-24

      Talvez a parábola do texto inicial, como vários outros textos do novo testamento, principalmente certas cartas de Paulo, se refira só à Israel e os gentios. Tendo os judeus, no papel de suas lideranças religiosas do primeiro século, negado a nova aliança de Cristo, essa foi oferecida a outros povos. Mas a lição serve para todos, faz alguns alertas sérios e mesmo trágicos, com relação ao melhor que podemos desfrutar no mundo, mas principalmente na eternidade. Quando lemos o texto podemos ficar espantados com a atitude dos convidados inicias, podemos dizer que nós no lugar deles não agiríamos da mesma maneira. Normalmente os primeiros convidados a uma festa são parentes e amigos mais próximos, e foram esses que negaram o convite.
      Interpretemos assim a parábola, o dono da festa é Deus, Jesus é o servo que sai fazendo os convites. Os mais próximos são os que se dizem religiosos, principalmente cristãos, que se identificam como conhecedores do evangelho, das doutrinas cristãs, assíduos em cultos e missas, conectados oficialmente a denominações católicas, protestantes e evangélicas. São justamente muitos desses, e aqui não posso generalizar que foram todos, que deram mil desculpas para não poderem ir à festa. O dono da festa deve ter se entristecido, como, justamente aqueles que ele considerava mais próximos a ele, lhe faziam essa desfeita? Negavam convite para algo especial, no qual eram convidados privilegiados, com prioridade sobre outros? 
      Interessante que as desculpas não eram porque coisas ruins tinham lhes acontecido, essas até poderiam ser entendidas, alguém não poder ir a uma festa porque tinha falecido alguém próximo, porque tinha perdido bens, porque estava enfermo, contudo, as desculpas foram porque coisas boas tinham acontecido a eles e eles precisavam administra-las. Saber disso deve ter entristecido ainda mais o dono da festa, mas não tinha jeito, a festa seria dada, alguém precisaria usufruir dela, dessa forma o convite foi aberto. No lugar de convidados, aparentemente mais preparados para uma festa, foram chamados estranhos e marginalizados, pobres e aleijados, mancos e cegos, que talvez, por não poderem trabalhar, fossem pedintes sem teto.
      A abertura do convite é uma simbologia para a abrangência do amor de Deus, que não considera privilegiados religiosos, cristãos oficiais, mas todos são chamados para usufruírem da intimidade do Senhor, mesmo que aparentemente não sejam os mais adequados. Deus não ama pela aparência a alguns, Deus ama todos pelo coração, não faz diferença entre quem conhece a doutrina cristã e quem não sabe nada de cristianismo. Mas o amor de Deus é ainda mais maravilhoso, mesmo os que dizem não por falta de consciência, de entendimento, diferente dos primeiros convidados que disseram não com consciência, Deus acha um jeito de convencer para que festejem com ele, no mundo e na eternidade. Deus não deseja inferno a ninguém. 
      Muitos, que tantos evangélicos marginalizam, condenam ao inferno, tratam com preconceitos, podem experimentar na eternidade uma condição de paz e luz melhor que a de muitos cristãos, a parábola é bem clara sobre isso, quem tem olhos para ver que veja. Poderão experimentar um “céu”, não os que se acham preparados para isso por serem religiosos, nem os que intimamente se acham mais merecedores por sofrerem mais injustiças no mundo, mas os que são convencidos sinceramente pelo amor de Deus, sem qualquer segunda intenção. Esses são aqueles que estão pelos caminhos e valados, meio escondidos no mundo e de igrejas, que podem nem aparentar espiritualidade ou mesmo qualquer anelo por ela, surpresas haverá. 
      O relógio anda, Deus tem eventos a serem cumpridos no tempo, isso faz parte de um plano muito maior, que a maioria não tem noção de como funciona, nada pode impedir isso. Mas tenhamos cuidado, a exortação final é trágica, nenhum daqueles homens que foram inicialmente convidados provou a ceia. Sabe o porquê? Porque esses não negaram só um convite, negaram vários convites. Se convidados desprezam a festa de alguém querido e muito poderoso porque consideram suas alegrias mais importantes, é porque não querem estar com esse alguém, com ou sem festa. Poderiam ir, nem por gosto, mas ao menos por temor, isso pelo menos mostraria que respeitam o dono da festa, mas temor é algo que muitos perderam há muito tempo. 

Esta é a 41ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021

11/03/22

Que morte merecemos? (40/90)

      “Aqueles que confiam na sua fazenda, e se gloriam na multidão das suas riquezas, nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele.” 
Salmos 49.6-7

      A morte do corpo é inexorável, todos vão prová-la, indiferente de qualquer coisa, status social, nível financeiro, intelectual, raça, idade e mesmo religião, ela não pode ser trocada por bens materiais, não podemos comprar a vida para nos livrarmos da responsabilidade de vivê-la corretamente. A morte pode acontecer de diversas maneiras a seres humanos diferentes, pode vir cedo demais, ou antes do tempo melhor, pode ser no tempo certo, pode ser sofrida e demorada, pode ser abrupta e fulminante, pode ser tranquila também. Pode ser por um acidente, por uma violência, por um descaso, mas pode ser somente a parada do funcionamento do corpo, que mesmo que tenha sido bem tratado, respeitado, teve sua “data de validade” vencida. Ela é a única certeza que todos podem ter em suas jornadas neste mundo, ainda que seja só a passagem do plano físico para o espiritual. O plano espiritual será aquilo que construirmos dele no plano físico, efeito espiritual de uma causa no plano material. Só entende a vida quem entende a morte, e vice-versa. 

      “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.” 
Salmos 23.6

      Que morte merecemos? A morte que precisamos ter. O entendimento inicial é que nossa passagem do plano físico para o espiritual, nossa morte no corpo, seja de acordo com o bem que plantamos na vida, seguindo o ensino do Salmo 23. Quem temeu a Deus, obedeceu ao Senhor, trabalhou pelas prioridades corretas, não foi ganancioso ou vaidoso, buscando nos bens materiais uma honra maior para aparentar para os homens, mas se aproximou mais de Deus, e ainda mais à medida que os anos passaram, esse merecerá uma morte tranquila, rápida, com o mínimo de sofrimento. Quem equilibra corpo, alma e espírito não permite que se instale em si doenças mais terríveis, sejam físicas ou emocionais, mas mesmo que tenha vivido algum tempo de maneira errada, se humilhou-se a tempo de todo o coração diante do Senhor, também achará no Espírito Santo cura e vitória que o preparem para uma boa morte. O justo vive bem, principalmente no fim, porque plantou para isso, sua luz ainda que pequena no início, será grande no final, consequentemente viverá muito e terá uma passagem serena. 

      “O Senhor me castigou muito, mas não me entregou à morte.” 
Salmos 118.18

      Contudo, podemos ter um entendimento mais profundo sobre a morte, baseados no seguinte questionamento: quem conhece o plano real de Deus para cada ser humano? Ou então, o que precisamos passar neste mundo, até nosso último suspiro, para chegarmos ao melhor de Deus para nossas vidas, o melhor que levaremos à eternidade? Essa pergunta não é tão fácil assim de ser respondida, uma coisa eu creio que seja certa, todos nós passamos por este mundo, num instante de tempo comparado a toda eternidade, para que tenhamos a oportunidade de abrirmos mão de nós mesmos e darmos prioridade para o outro e para Deus, viver bem de fato nada mais é que morrermos para nós mesmos. A vida é um confronto com morte para que tenhamos direito à vida, vivemos para morrer, quem não vive preparando-se para morte, morre, porque morre a segunda morte que é espiritual ainda vivo fisicamente. A morte do ego, todavia, é algo pessoal, específico para cada um de nós, e alguns podem precisar de uma morte demorada e doída para que possam abrir mão do ego e terem direito à vida eterna em Deus. 

      “Preciosa é à vista do Senhor a morte dos seus santos.
 Salmos 116.15

      Aqueles que verdadeiramente obedecem e adoram a Deus são especiais para Deus, porque estão em Cristo, fazem parte dele, conheceram sua luz, para ela olharam e nela fizeram refúgio, contra o mal, as trevas e a morte, dessa forma para a luz irão quando seus espíritos forem desprendidos dos corpos. A morte só é violenta para os violentos, só é enganosa para os enganadores, só será uma surpresa ruim para os que amaram a mentira e não foram humildes o suficiente para se revelarem em verdade. Livrar-se de uma morte ruim não é fácil, pode custar um vida longa e difícil, nossos corações orgulhosos e egoístas, muitas vezes viciados nos apetites da carne e nas vaidades, podem precisar de muita vergonha, perdas e humilhações para se renderem a Deus. Tenhamos a lucidez de entendermos o que Deus tem para nós e obedeçamos isso enquanto há tempo, para que mereçamos uma morte em Cristo que alegre o Pai, e Deus contempla o final da vida física de um filho obediente, que foi útil para abençoar outros seres, que achou a luz, nela ficou e nela será espiritualmente consumado por seu amor. 

      “E digo-vos, amigos meus: Não temais os que matam o corpo e, depois, não têm mais que fazer. Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei.” 
Lucas 12.4-5

      Inferno se constrói aqui e se leva para lá, quando não se humilha diante de Deus e não se conhece a Jesus como salvador. O pior tipo de inferno, se é que há tipo de inferno, é aquele construído na alma de um suicida. O suicida não quer exterminar o corpo, ele tenta calar o espírito que sofre dentro dele, ainda que o espírito não possa ser morto em sua substância, só em sua moralidade, e ele pode fazer isso ainda em vida física à medida que foge da luz, da verdade, de Deus, e nega a si mesmo cura e paz. O arrogante e vaidoso, que quer viver de aparência para mostrar aos outros o que não é e nem precisa ser, mortifica seu espírito, e se não conseguir manter a farsa matará o corpo para tentar acabar com sentimentos e pensamentos de dor, isso só apressará um inferno terrível. O que se mata não amaldiçoa somente a si, mas à sua família, que ficará e terá que conviver emocionalmente com uma perda estúpida, que aconteceu antes do tempo melhor, e com consequências materiais que terá que administrar, como dívidas e alianças profissionais quebradas. Se o suicida pensasse um pouco em quem terá que continuar vivendo, se tivesse ao menos algum amor pelos outros mais que por si, não cometeria tal insensatez. 

      “Porque para mim o viver é Cristo, e o morrer é ganho.” 
Filipenses 1.21 

      Longe de nós nos compararmos a Paulo, pelo menos, longe de mim, para podermos afirmar com total propriedade o texto acima. Mas Deus, em sua graça, permite aos seres humanos, indiferentemente de suas vocações, trabalhos seculares e ministérios eclesiásticos, viverem em Cristo e serem felizes. Para que isso aconteça precisamos ser obedientes até o fim, nos libertarmos de ilusões, sejam elas quais forem, as materiais e também as religiosas, e existe muita ilusão em igrejas cristãs. Mas quem de fato viver em Deus, confiando nele e pagando todos os preços para agradá-lo, entenderá que tanto faz morrer ou viver, dos dois jeitos estamos na luz do Altíssimo, protegidos por ele, cuidados pelo seu amor, honrados pelo Senhor e criador de todas as coisas. Quem vive para abençoar o próximo servindo a Deus, será servido pelos anjos do Senhor na eternidade, mas quem descobre que servir ao próximo é sua maior vocação, tem no mundo alegria semelhante a que terá no céu, e eis um dos grandes mistérios da existência, entender que o espiritual importa mais que o material. 

Esta é a 40ª parte da reflexão
“Quem você será na eternidade?”
dividida em 90 partes, para melhor
entendimento leia toda a reflexão.

José Osório de Souza, março de 2021