10/11/20

41. Espiritualidade e o planeta

Espiritualidade Cristã (parte 41/64)

      “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão. Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.II Pedro 3.10-13

      “Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele, Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto. Ninguém de maneira alguma vos engane; porque não será assim sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe, e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.II Tessalonicenses 2.1-4

      Quando pensamos em espiritualidade, seja como cristãos ou mesmo em outras religiões, a maioria de nós pensa em valores para existir no plano espiritual, na melhor eternidade com Deus, no céu, contudo, esse mundo continuará a existir, e muitos que amamos, nossos descendentes, filhos, netos, bisnetos, continuarão aqui. Como espirituais, sintonizados com o Deus Altíssimo, o que temos que desejar para este plano, ou melhor, o que devemos fazer por este mundo? Nada? Só aguardar o juízo onde tudo será destruído pelo fogo, quando novos céus e nova Terra existirão? Até que ponto espiritualidade deve se refletir também num mundo no plano físico com melhor qualidade? Esse assunto é bem relevante nos dias atuais e com certeza um ponto a ser levantado nesse estudo, que pode expandir nosso conceito de espiritualidade.
      Em primeiro lugar é importante que entendamos que certas preocupações com o mundo, como conservação da natureza, das florestas, dos recursos hidráulicos e da atmosfera, equilíbrio ecológico, numa sociedade sustentável capaz de se desenvolver suprindo as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações, sem esgotar os recursos do planeta, todos esses pontos que a mídia e outras organizações tanto têm levantado atualmente, bandeiras que têm se transformado quase que em religião, não eram importantes há um tempo atrás, mesmo no início do século XX. Assim, não culpem os cristãos por não se preocuparem com isso, ainda que eles possam ser culpados por ainda olharem o mundo sob uma ótica ultrapassada, em várias áreas. 
      Como parte da estratégia humanista do diabo está o levantamento dessa bandeira, que junta duas coisas importantes para ele, uma prioridade óbvia para o planeta que agrada a tantos mais preocupados com esse mundo que com o outro, e o antagonismo a prioridades ditas espirituais por muitos cristãos, ainda que não por todos (não estou generalizando). Isso coloca o cristianismo como vilão e dá aos que já não simpatizam com o cristianismo mais motivos para continuarem assim. Sim, sem sombra de dúvidas, luta por um mundo melhor é uma bandeira do anti-cristianismo, que de maneira alguma tem prioridades a princípio más ou injustas, ao contrário, junto de tolerância religiosa, igualdade entre sexos e raças e cientificismo, entrega a última e mais completa religião anti-cristá. Estão os cristãos preparados para esse embate? 
      Importante salientar que o estudo, do qual este texto é parte, é palavra direcionada a cristãos, usando termos e conceitos de cristãos, muitos que não forem de fato cristãos e que não tiverem algum conhecimento da doutrina cristã comum às denominações protestantes e evangélicas, talvez não entendam o que é dito, e não possam usar isso de maneira mais adequada. Assim, quando dizemos que algo é do “diabo”, bem, diabo é um conceito que pode ser bem abrangente, que vai de um ser mal que quer levar as pessoas para longe de Deus e finalmente ao inferno, a um ser espiritual simplesmente rebelde à ótica cristã, que quer o bem do homem, só que não de acordo com as “regras“ do cristianismo. Dessa forma, o diabo pode ser somente um anti-cristão, não necessariamente alguém ruim, ainda que para os cristãos ser anti-cristão baste para ser ruim.
      Mas será que muitos de nós cristãos estamos certos em não priorizar tanto assim esse planeta, de nos preocuparmos mais com o céu? A resposta para essa pergunta está novamente num dos conceitos mais simples e aplicáveis da Bíblia, pelos frutos serão reconhecidos. Se o cristão viver de fato a misericórdia e o amor do evangelho, ele terá, como um dos efeitos, uma vivência justa e equilibrada no planeta, com a natureza, com os animais, com a água, com o ar, enfim, com o plano físico. Contudo, numa hipocrisia estrutural instalada em grande parte do cristianismo, nos acostumamos a falar e não a praticar, a pregar, mesmo crer, mas a não averiguarmos se isso tudo de fato está mudando para melhor as sociedades em que vivemos. Estamos mais ocupados com a qualidade do som e das cadeiras de nossos tempos, que com os rios e as matas do planeta. 
      O cristão precisa reavaliar suas crenças, abranger seu conceito de espiritualidade, de forma que isso seja de fato causa de um efeito muito maior, em primeiro lugar em sua vida moral, em suas virtudes interiores, e depois no planeta onde vive. O cristão precisa libertar-se do cárcere dos templos, dos carcereiros, os falsos pastores, assim como dos espetáculos que assistem nos templos e que não levam de fato a Deus, mas só iludem e tiram deles dinheiro. O resultado da incoerência entre o que muitos evangélicos dizem e o que eles fazem é que o cristianismo está “entregando ouro ao bandido”, está armando os inimigos do cristianismo, afastando os que ainda não são cristãos e que precisam de Cristo, e legitimando bandeiras certas, mas levantadas por mãos erradas. 
      Outro ponto é que ninguém sabe quando o mundo vai “terminar”, se é que vai ser do jeito que muito cristão acha, teremos que existir aqui talvez por muito tempo, se não nós, pessoas que amamos. Não pense ninguém que temos motivos mais legítimos para achar que o final está próximo, o cristianismo já achou muitas vezes na história, que o mundo iria acabar e não acabou. Foi assim nas duas grandes guerras mundiais do século XX, na idade média, e mesmo nos tempos do apóstolo Paulo, cristãos se equivocaram sobre quando seria o fim. Atualmente estamos mais próximos do que nunca do fim, isso é fato, mas ainda teremos um longo tempo aqui, e seja como for, luz se faz necessária nas trevas, é o mundo quem precisa dela, o plano físico, não o céu, portanto, cristãos, sejamos espirituais também para o bem do planeta Terra. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.


09/11/20

40. Espiritualidade e sexo

Espiritualidade Cristã (parte 40/64)

      Temos uma ideia errada sobre vício, o que torna algo um vício não é o simples fato de ser errado ou ruim, que prejudica de alguma maneira nosso corpo, nossa mente ou nosso espírito, vício é fazer algo de forma exagerada, deixando que nos controle. Assim, a princípio, vício pode não ser algo ruim ou errado, mas que feito sem controle, na hora errada, no lugar errado, com as pessoas erradas, pode viciar. Algo bom pode ser tornar um vício se não conseguirmos parar de fazê-lo ou se dependermos dele para estarmos bem. Iniciei esta reflexão sobre sexo falando sobre vício porque o vício mais comum é o vício por sexo, isso por vários motivos. Sexo é algo que se pode fazer de graça e sozinho, sem que haja necessidade de pagamentos, outros recursos ou mesmo de companhia. Diferente de bebida alcoólica ou de entorpecentes, que precisam ser comprados e muitos podem ser bem caros, para sexo podem bastar os nossos próprios corpos e alguma imaginação. 
      A princípio o pecado não está em algumas coisas, mas no exagero delas, no vício dessas coisas, e a verdade é que vivemos numa sociedade obcecada por sexo, e nem é pela interação social que ele proporciona, mas pelo consolo que ele oferece para que se possa enfrentar dores e carências. Um exagero, no início, sempre traz desconforto, o fígado reclama, a alma se sente culpada, é só na sua insistência, que é quando algo se transforma de fato em vício, que o homem se acostuma e fica viciado. Então, a busca inicial por um prazer muda, a dor de não ter o prazer do vício é que leva as pessoas a ficarem mais viciadas, no final não se anulou uma dor com um prazer, mas só se trocou de dor. A dor da falta de carinho dos pais, por exemplo, é substituída pela abstinência de sexo, que no início até era resolvida com sexo seguro, mas que depois bastou sexo casual numa madrugada qualquer após um encontro num lugar regado à música ruim e álcool. 
      Mas até que ponto sexo é pecado, até que ponto pode limitar nossas vidas espirituais? Naquilo para o qual se desviou o cristianismo primitivo que se deu o nome de catolicismo, ordens religiosas surgiram com o objetivo de levar as pessoas àquilo que se achava que era a espiritualidade mais alta. Celibato era exigido assim como vida isolada em mosteiros, quem vê o mal nas coisas pensa que afastar-se das coisas pode facilitar uma vida santa, isso quando não se entende que o mal está dentro de nós e nos acompanha para onde formos. No que os historiadores europeus chamaram de idade das trevas (parte da idade média, e é de nos chamar a atenção denominarem assim um período onde o cristianismo tinha predominância religiosa, política e econômica no mundo ocidental), estabeleceu-se o conceito de que os sacerdotes deveriam se abster de sexo e de outros apetites carnais, assim casamento foi proibido aos padres e membros do clero: 

      O celibato acabou por se impor no Ocidente: o Código de Direito Canónico impõe o celibato a todos os sacerdotes da Igreja Latina (em 1123). Porém, há várias exceções de sacerdotes casados na Igreja Latina, houve alguns papas casados (Adriano II, Honório IV), bispos casados (nas diocese da Islândia até à Reforma protestante; o bispo Salomão Barbosa Ferraz no Brasil) e vários padres casados ordenados nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido e Escandinávia, sob autorização especial. A Igreja Católica de rito latino, sinteticamente, dá as seguintes principais razões de ordem teológica para o celibato dos sacerdotes e religiosos de vida consagrada:
      - com o celibato os sacerdotes entregariam-se de modo mais excelente a Cristo, unindo-se a Ele com o coração indiviso;
      - o celibato facilita ao sacerdote a participação no amor de Cristo pela humanidade uma que vez que Ele não teve outro vínculo nupcial a não ser o que contraiu com a sua Igreja;
      - com o celibato os clérigos dedicariam-se com maior disponibilidade ao serviço dos outros homens;
      - a pessoa e a vida do sacerdote são possessão da Igreja, que faz as vezes de Cristo, seu esposo;
      - o celibato dispõe o sacerdote para receber e exercer com generosidade a paternidade que pertence a Cristo.
Fonte: Wikipedia

      Quem sai da cobertura do Espírito Santo e ainda assim quer viver para Deus (ou para o que pensa ser Deus), está sozinho, só tem suas próprias forças para ter vida espiritual, os católicos em seu cristianismo desviado do original, mas ainda obstinados, por vários motivos, a se manterem como representantes oficiais de Cristo na Terra, inventaram suas regras e uma delas foi controlar a força mais poderosa que existe no homem, o sexo. Mais forte que outros instintos, mais forte que outras vaidades, mais forte mesmo que a sede de dominar outros homens na política, nas riquezas e na guerra, o sexo é democrático, todos, pobres, ricos, pouco instruídos ou eruditos, podem usufruí-lo. Por ele muitos abrem mão de muitas coisas, reis já abdicaram por uma paixão, reis já mudaram de religião pelas paixões, teve um, Henrique VIII, que mudou a religião de seu império por elas, transformou o catolicismo da Grã Bretanha em anglicanismo, para ter autorização para se casar de novo e de novo. 
      Mas não é só no cristianismo que sexo é visto de forma equivocada, muitas culturas o demonizam, algumas mutilam (até hoje) fisicamente mulheres para que não tenham prazer sexual, e outras as mutilavam emocionalmente, colocando-as no papel de somente geradoras de filhos, o prazer os maridos teriam com profissionais do sexo. As religiões orientais também orientam abstinência sexual para o caminho de uma espiritualidade mais elevada e mesmo o apóstolo Paulo tinha uma visão que impunha prioridades para que vida sexual interagisse bem com espiritualidade, coerente com a cultura de seu tempo. Precisamos aceitar que a Bíblia deve ser entendida com a ajuda do vivo Espírito Santo porque seus textos são, sim, influenciados pelas culturas dos tempos dos que a registraram, e em assuntos referentes à sexualidade é onde precisamos de mais auxílio do Espírito Santo, para não ficarmos escravos de preconceitos e tradições de homens, que não representam a real vontade de Deus.

      “Ora, quanto às virgens, não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel. Tenho, pois, por bom, por causa da instante necessidade, que é bom para o homem o estar assim. Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher. Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos. Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem...” “E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.” 
I Coríntios 7.25-29 e 32-33
   
      O pensamento de Paulo sobre sexo fica bem claro no texto inicial, é importante notarmos a honestidade dele quando começa o ensino dizendo “não tenho mandamento do Senhor, dou, porém, o meu parecer”. Eu já cheguei a um entendimento que ouço a voz do Espírito Santo indiferente do que uma leitura rasa da Bíblia diz, mas mesmo os que só têm fé para entender e obedecer a Bíblia ao pé da letra concordarão que a orientação não é o que Paulo entendia como de Jesus, mas dele, ainda que para muitos a orientação de Paulo possa ter o mesmo peso que a de Jesus por estar na Bíblia. Mas é sensato compreendermos que o ensino não é uma lei, mas apenas uma orientação, que pode ser seguida com sabedoria. Qual é o parecer de Paulo? Se alguém tiver feito uma aliança de casamento, mantenha-se nela, mas se não tiver, não a faça, é mais fácil obter a espiritualidade na condição de solteiros.
      Para mim, com sessenta anos de idade e com um bom casamento de mais de vinte anos, talvez seja mais fácil dizer aos jovens, se puderem, permaneçam solteiros, e não me entenda mal, mas os anos nos “acalmam” e na maturidade muitas coisas ganham mais importância que o prazer de uma relação sexual. Hoje posso me dar ao luxo de focar minhas energias em orar, estudar a Bíblia, ler bons livros, enfim, me aprofundar em cultura e espiritualidade, sem que meus instintos me empurrem para querer, buscar e achar “namoradas”. Jovens, creiam em mim, envelhecer é uma bênção. Paulo escrevia como alguém maduro, resolvido como homem, não sabemos pela Bíblia sobre a vida conjugal do apóstolo-teólogo, mas se apresenta em seus textos como alguém com quem Deus pode contar, com o tempo e com as capacidades, intelectuais, sociais e espirituais, de um chamado para uma missão para lá de especial no cristianismo, só superada pela do próprio Cristo.
      Todavia, o que Paulo orienta não é fácil para os jovens, principalmente para os jovens de hoje, numa sociedade que prega sexo sem culpa sempre e para todos, que disponibiliza fantasias gratuitas a qualquer hora e lugar no aparelho celular, que oferece controles seguros de natalidade e de proteção contra doenças sexualmente transmissíveis, e onde se tem liberdade para ir e vir mesmo sendo jovem (obviamente fora de um ambiente de pandemia como temos vivido nestes dias). E se os tempos são outros, em relação aos meus tempos de juventude ou dos tempos de meus pais, são outros completamente diferentes em relação aos tempos do apóstolo Paulo e da sociedade para a qual ele falava, que legalizava escravos, tinha a mulher como ser inferior ao homem e que pouco valor dava a crianças e adolescentes. 
      Mas a declaração reveladora de Paulo e que tem certa dificuldade de ser colocada em prática em vista dos papéis de homem, mulher e casamento atualmente na sociedade, é a seguinte: “o solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor, mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher”. Hoje o solteiro tem muito mais liberdade e facilidades, como dissemos acima, de servir a ele mesmo, tanto no esforço de se preparar melhor para uma independência econômica, estudando e trabalhando, como nas possibilidades de diversão e entretenimento, e nisso sexo é algo prioritário. Assim, ao meu ver, hoje o entendimento é o contrário daquele que tinha Paulo, e também como dissemos acima, o mais maduro, os não tão jovens, têm bem mais oportunidades de servirem a Deus, principalmente se já tiverem tido um bom casamento. 
      O homem moderno pede um evangelho interpretado pelo Espírito Santo que satisfaça necessidades diferentes das elencadas não Bíblia, por diversos motivos. Homem e mulher têm as mesmas oportunidades de estudar, trabalhar e se casar, ninguém é dono de ninguém, não existe o conceito de submissão, mas de respeito mútuo e igualdade, e ambos, se ficarem solteiros, podem ter vidas de independência econômica sem qualquer vínculo financeiro ou hierárquico com pais. Assim, ninguém serve melhor a Deus porque não se casa, aliás, o evangelho só atualmente está podendo ser compreendido em toda a sua abrangência libertária, algo que sempre esteve no coração de Deus, mas que só em nossos dias o Espírito Santo tem tido liberdade de ensinar. Essa abrangência diz que todos somos chamados a conhecer a Deus e a servi-lo, isso não depende de se ter um ministério específico e exclusivo ligado a igrejas, podemos exercer chamadas dentro de vidas profissionais seculares, casados e administrando família. 

      “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento. Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.” I Coríntios 7.4-9

      A Bíblia e as tradições cristãs, muitas ainda católicas, mesmo no meio protestante e evangélico, precisam ser desmitificadas, à luz e na autoridade do Espírito Santo de Deus, refletimos bastante a respeito em “Reavaliemos nossas crenças”, mas a interação entre sexo e espiritualidade talvez seja o tema mais importante nessa reavaliação. Muitos se espantariam ao saber o que Deus de fato pensa sobre sexo, que em poucas palavras é, Deus não dá para sexo tanta importância como damos. Deus se importa, sim, com alianças, e santidade nada mais é que ser fiel a alianças. Por isso Paulo diz que o que foi chamado solteiro ou ao que está viúvo, que assim permaneça, quem não estabelece aliança não pode quebrá-la, mas isso não é estar legal e religiosamente solteiro, enquanto se mantém vida sexual ativa e com mais de um parceiro, isso é promiscuidade tanto quanto é adultério para casados.
      Nesse caso a aliança que se quebra é com o próprio corpo (I Coríntios 6.16), e se alguém disser que não está tendo relação sexual com profissional do sexo porque não está pagando, saiba que todos que fazem sexo só por prazer, sem aliança de fidelidade, se prostitui, ainda que não pague ou que receba pagamento por isso. Vivemos numa sociedade onde muitas pessoas, incluindo muitos jovens, se prostituem uns com os outros, e fazem isso sem culpa. A consequência são os filhos que nascem de relações sexuais e não de relações conjugais, criados sem famílias, só por solteiros imaturos, ainda que já velhos. Enfatizo que aqui não estou pregando qualquer padrão tradicional de família, meus queridos, para Deus isso não importa, família é aliança mantida com fidelidade, sejam os parceiros do sexo que forem, aceitem isso, amados cristãos.
      Santidade é origem e fim da verdadeira espiritualidade do Espírito Santo do Deus altíssimo, defino espiritualidade assim porque o termo espiritualidade é bastante usado por muitos, que conhecem o mundo espiritual e que interagem com ele, mas santidade é uma característica que só possui a espiritualidade de Deus. Muitos são espiritualistas, espiritualizados, mas não são de fato santificados, assim não são espirituais, porque só o nome de Jesus pode nos limpar de todo o pecado e nos selar com o Espírito Santo, e a verdadeira espiritualidade é o Espírito Santo, não outros espíritos, entidades, anjos, arcanjos, diabos, demônios etc. Mas existe algo que mais faz com que sintamos que perdemos a santidade que uma experiência errada com sexo? Podemos nos limpar em várias áreas, nos abstermos de bebidas, de ira, de vaidades, mas tentação a sexo errado é algo que nos acompanha o tempo todo, e basta um deslize e caímos. 
      Como cristãos genuínos filhos de Deus em Jesus o segredo é: nunca deixemos de chamar pecado de pecado, nunca menosprezemos a culpa, peçamos perdão por algo que sabemos que fizemos e que não é correto, nem porque magoamos alguém, nem porque alguém sabe, mas porque ferimos a nós mesmos e ao Espírito Santo. Deixemos claro em nossas mentes e em nossas sentimentos que algo é errado, que não queremos mais fazer e que em Jesus somos totalmente perdoado, façamos isso sempre que for preciso. Contudo, achemos em Deus o prazer maior, remédio para todas as faltas de atenção que os homens nos deram, para todas as calúnias que tantos muitas vezes fazem sobre nossas vidas, o Espírito Santo pode nos dar uma paz maior e única que não deixará que as mágoas fiquem em nós, nem as injustiças com que tantos nos tratam. Sem dor não buscaremos em sexo um vício, e desejaremos mais e mais estarmos próximos a Deus, nisso conheceremos a verdadeira espiritualidade.
      Pessoalmente não acho casamento e sexo problemas para a espiritualidade, de maneira alguma, somos almas partidas, não conseguimos ser sós, temos necessidade do outro, há em cada um de nós uma necessidade implícita de nos “casarmos”, começando pelos nossos corpos, senão seríamos hermafroditas. Ainda que muitos escolham viver só, Deus sabe deles e os abençoe, nada nos amadurece mais que partilhar a existência com alguém, criar filhos com esse alguém, além de nos evoluir nos protege e nos faz proteger, é bênção de todos os lados. Novamente enfatizo o ponto de vista do “Como o ar que respiro”, que não interessa como seja esse casamento, com papel ou sem, não importa cerimônia religiosa, com ou sem, ainda que se puder haver isso é bom, mas também não importa sexualidade, dessa maneira ou “daquela”, criando filhos biológicos ou não. Tudo isso não faz nenhuma importância para Deus e nem nivela espiritualidade, fidelidade às alianças em comunhão com o Deus Altíssimo, isso é que importa. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

08/11/20

39. Espiritualidade e bebidas alcoólicas

Espiritualidade Cristã (parte 39/64)

      O cristão deve tomar bebida alcoólica? Se tiver tempo de tomar e não perder tempo depois de tomar, sim, ele pode. Tudo se resume a prioridades e em usar bem o tempo, se isso estiver certo não haverá excessos, em nenhuma área. O cristão será feliz, não machucará o corpo, não sujara a alma e nem esfriará o espírito, fará os outros felizes e agradará a Deus. Então, a pergunta que devemos fazer é: temos tempo para certas coisas na vida, e mais, no tempo atual do mundo em que vivemos? Antes de começar a reflexão é preciso que se faça uma afirmativa: aquele que nunca coloca uma gota de bebida alcoólica na boca, não é mais espiritual que os outros só por causa disso! 
      Quando estamos focados em trabalho, não há tempo mesmo para um copo ou uma dose de algo que a princípio nos fará relaxar e nos deixará menos aptos para certas atividades. Quem está trabalhando no serviço secular precisa estar em sua melhor forma, para se concentrar, atender as pessoas e ser eficiente, e mesmo que nisso, pelo menos a princípio, nem tenha necessidade de estar em comunhão com Deus ou com princípios espirituais e morais. Contudo, se no trabalho secular é preciso lucidez, muito mais numa comunhão espiritual com Deus, principalmente quando Deus nos chamam para uma consagração mais especial, com jejum e maior tempo de oração. 
      Abrindo um parênteses, a consagração genuína, da qual um jejum verdadeiro pode fazer parte, é chamada por Deus para nossas vidas, o Espírito Santo nos convoca para ela, nos prepara para ela, nos leva a ela, porque tem um objetivo muito claro para as nossas vidas através dela, que nos levará a um novo posicionamento espiritual. O jejum verdadeiro não é o homem se sacrificando para Deus mas Deus limpando seu templo, nossos seres, para transbordar seu Espírito, fecho parênteses. Quem está no meio de uma batalha, principalmente espiritual, não tem tempo para relaxar ou se divertir, desde que seja uma batalha para a qual Deus o chamou. 
      Entendamos uma coisa, em nossa existência no plano físico não temos que estar em todo o tempo em luta espiritual, vigilantes e tementes, sim, mas não sempre numa disposição mais extrema de conquista de terreno espiritual. Muitas vezes bastará que mantenhamos o que conquistamos, usando a metáfora bíblica do povo de Israel no antigo testamento, não era sempre que essa nação estava em guerra para conquista ou reconquista de território. Assim, neste mundo temos tempo, sim, para relaxar e com equilíbrio muitas coisas nos são permitidas, ainda que mesmo quando temos tempo, com certas coisas é preciso não exagerar, para que não percamos depois tempo numa “recuperação”.
      O soldado pode parar para descansar, mas sempre tem em mente sua condição de soldado, confesso que não gosto de usar o termo soldado para definir o cristão, porque essa simbologia leva muitos cristãos a cometerem vários enganos sobre o que eles são e como devem se comportar nesse mundo. Mas a melhor maneira de entendermos essa metáfora e nos vermos como soltados numa guerra espiritual por nossas vidas e pelas vidas dos nossos próximos, pelos quais temos responsabilidade de dar cobertura espiritual. O erro é trazermos a simbologia de Israel do velho testamento para o Brasil atual, assunto que já refletimos muito no “Como o ar que respiro” e no estudo “Espiritualidade Cristã” do qual esta reflexão faz parte. 
      Outra coisa que precisamos entender é que certas coisas limpam o templo, mas não colocam nele o melhor conteúdo, assim em si mesmas não nos tornam espirituais, não basta abrirmos mão de certos prazeres do corpo, não basta tirar do organismo bebidas alcoólicas, temos que encher o espírito com o Santo Espírito. A verdadeira espiritualidade não é seguir uma lista de nãos, nem somente uma lista de sins, mas é equilibrar as duas listas, quando é Deus nos mostrando como sermos espirituais achamos forças para sermos harmoniosos e nunca extremados. Tudo começa aprendendo a ouvir a voz de Deus e discernindo o que de fato ele quer de nós, nem mais e nem menos. 
      Confesso que tenho achado pouco tempo para certos prazeres, e não é porque sou melhor que os outros, só não beber vinho não me faz melhor que ninguém, no máximo beneficia meu fígado. Mas buscar o enchimento do Espírito de Deus me dá uma visão mais clara de minha existência e de como posso ser mais útil nas mãos de Deus, principalmente neste momento difícil que vivemos no Brasil e no mundo. Oro a Deus para que um dia possa ter tempo, com minha família, para relaxar e me dar ao direito de certos prazeres, o cristão sabe que não é deste mundo, mas deve trabalhar para o bem dele, tendo paz aqui mas sabendo que a paz maior não vem daqui.
      Para encerrar uma orientação, algumas pessoas podem ser facilmente viciáveis em bebidas alcoólicas, ou podem, mesmo que com pouca quantidade delas, perderem o controle, tornarem-se violentas ou cometerem outras inconveniências sociais, outras pessoas podem ter enfermidades, como cirrose, diabetes, para as quais bebida alcoólica é altamente prejudicial. Para essas pessoas, tomar bebida alcoólica não é uma escolha, mas obrigação de evitar. Pessoas assim aceitem seus limites com humildade buscando a Deus, que sempre dá forças para que sejamos nosso melhor nele, todos nós de alguma maneira temos limites, que nos são permitidos para sermos mais espirituais, não menos. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

07/11/20

38. Espiritualidade e arte

 Espiritualidade Cristã (parte 38/64)

      O cristão evangélico tende a ter uma visão não adequada de pessoas que trabalham com arte, principalmente se essas pessoas querem exercer cargos nas igrejas. Quando um médico vem para uma igreja, indiferente de outros valores, ele é respeitado, como profissional de medicina, isso ocorre também com outros profissionais, mas não acontece sempre com músicos. Em primeiro lugar, e não por todos, mas por muitos, tanto no meio pentecostal quanto no meio tradicional, o músico é mais visto como uma pessoa ligada a vida frívola que frequenta lugares não recomendados, onde se desrespeita valores morais e se escraviza pessoas a vícios. Sim, bares, boates, danceterias, clubes, podem ser lugares onde coisas ruins têm mais possibilidade e liberdade para ocorrerem, mas mundo é mundo, mesmo que em alguns locais as coisas ruins possam ser mais escondidas, mais disfarçadas, elas acontecem. Por outro lado, existem ambientes “pesados” em qualquer área, mesmo num hospital pode haver muito espaço para vícios e adultério.
      Outro ponto é que, como dizem muitos evangélicos, a arte engrandece o homem, o ego humano, não a Deus, por isso mesmo trabalhando nas igrejas os músicos são tão cobrados, julgados, desrespeitados, ainda que existam muitos músicos que de fato não separam arte musical de adoração por música. Mas existe tentação à vaidade também em outros ministérios eclesiásticos, na palavra ela é bem forte, mas aí está o equívoco, um bom pregador é elogiado, mas um músico, principalmente o instrumental, se aparecer demais é porque está dando lugar à carne, e repito, ainda que existam músicos instrumentais que de fato perdem o limite entre liberdade de adoração pelo instrumento e simples exposição de seu talento e técnica. Muitas coisas contribuem para uma visão confusa da arte, e principalmente da música, no meio cristão, e talvez a mais importante seja o fato de que o músico verdadeiro nasce com uma aptidão diferenciada, independente se ele usará isso ou não para a adoração. A princípio alguém pode não necessitar de estudo para ser artista, e isso pode incomodar alguns. 
      Essa diferenciação, que aquele que nasce com ela não tem culpa de possuí-la, pode suscitar inveja em alguns, ainda que mesmo sem talento ou conhecimento muitos se achem no direito de julgar os músicos e suas atuações, todo mundo acha que entende de música só porque pode ouvir. Ninguém, ou poucos, julgam médicos, eles são respeitados, afinal fizeram uma faculdade difícil e cara, possuem anos de treinamento, mas os músicos são tantas vezes destratados. É importante salientar que isso ocorre mais com o músico instrumental, como citei antes, já que o vocal, na mentalidade de muitos evangélicos, principalmente de pentecostais, é visto como pregador, que ao invés de discursar ou ensinar a palavra, usa a música para “profetizar”. É justamente aí onde muitos confundem unção espiritual com paixão emocional, e é nesse ponto que o assunto ganha interesse nesta reflexão, dentro do estudo, “Espiritualidade Cristã”. Como pensamos ser espiritual uma cantora, afinada, apaixonada, enfática, e cantando textos do antigo testamento, mas seria isso suficiente para que alguém tenha espiritualidade?
      Naquilo do cristianismo original que se tornou catolicismo, logo nos primeiros séculos foi retirado a música nas missas cantada por leigos, só corais, estrategicamente colocados nos locais traseiros dos templos, ou em outros lugares, mas sempre meio escondidos, faziam os cânticos, isso por vários motivos. Um deles era a necessidade, dentro de uma seita que se afastava de Deus e calava o Espírito Santo, de ter controle e padronização na liturgia, assim mais e mais foi se perdendo a liberdade de culto, em muitos aspectos. Foi só com a reforma protestante no século XVI que o cristianismo voltou a uma música de adoração executada por leigos e não só por um grupo profissionalizado. Além disso surgiu o conceito de louvores, usando-se muitas vezes músicas seculares com letras sacras, o que hoje chamamos de hinos eram os “corinhos” do início do protestantismo. Nisso vemos de novo a tendência do ser humano de se acomodar e “tradicionalizar” as coisas, buscando segurança preguiçosa em verdades antigas sem se dar ao trabalho de se renovar pela viva comunhão com o Espírito Santo. 
      Parece que o ser humano é obcecado por tradições, e quando acha algo, ainda que tenha sido algo novo que tenha tido alguma dificuldade para se assentar nas cabeças das pessoas, já que via de regra os homens são avessos a novidades, ele “tradicionaliza” e se acomoda. Vemos isso em movimentos recentes na área musical que afetaram muitas igrejas evangélicas, algo que há pouco mais de vinte anos era novidade, agora virou tradição, desde simples termos modistas como “gospel” e “worship”, ao estilo “mantra” (repetição de palavras ou frases ad infinitum) como meio para levar “adoradores” ao êxtase. Assim, quem aparece e usa essas tradições é respeitado por muitos como espirituais, isso vai até alguém com coragem e algum talento inventar uma nova moda. A espiritualidade verdadeira do Espírito Santo não precisa de modas, e é viva mesmo que se cante um hino de quinhentos anos, assim, a verdade é que tanto faz a arte, se ela de fato é instrumentalizada por alguém que de fato só deseja adorar a Deus. A espiritualidade afeta a alma, como a arte, e muito como a música, mas a verdadeira espiritualidade começa no espírito. 
      Contudo, nem todos se sentem confortáveis com todo tipo de expressão artística, assim não se deve tentar generalizar, forçando todos a louvarem de um jeito, correndo o risco de escandalizar, e nem julgar um músico por sua formação e estilo musical, correndo o risco de ser preconceituoso, ambos os erros podem afastar as pessoas das igrejas, se essas não acharem uma música de adoração que abrace seu louvor pessoal, seja como adoradores ou como “ministros” de louvor. O mais sábio é permitir que o Espírito Santo tenha liberdade no maior número de pessoas possível, já que agradar a todos e sempre é impossível, e liberdade com alguma ordem social, já que somos seres civilizados. Seja como for, falsa unção e tradicionalismo são dois equívocos que ocorrem no uso da arte musical nas igrejas, e que podem se travestir de espiritualidade, um liberando a alma, o outro aprisionando-a, sem que haja um equilíbrio do espírito humano no Espírito Santo de Deus. Infelizmente, enquanto neste mundo, a alma sempre estará em conflito, sendo tentada pela carne, ainda que sensível ao espírito. 

      “E sucedeu que, quando os que levavam a arca do Senhor tinham dado seis passos, sacrificava bois e carneiros cevados. E Davi saltava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava Davi cingido de um éfode de linho. Assim subindo, levavam Davi e todo o Israel a arca do Senhor, com júbilo, e ao som das trombetas. E sucedeu que, entrando a arca do Senhor na cidade de Davi, Mical, a filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi, que ia bailando e saltando diante do Senhor, o desprezou no seu coração.”
      “E, voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, a filha de Saul, saiu a encontrar-se com Davi, e disse: Quão honrado foi o rei de Israel, descobrindo-se hoje aos olhos das servas de seus servos, como sem pejo se descobre qualquer dos vadios. Disse, porém, Davi a Mical: Perante o Senhor, que me escolheu preferindo-me a teu pai, e a toda a sua casa, mandando-me que fosse soberano sobre o povo do Senhor, sobre Israel, perante o Senhor tenho me alegrado. E ainda mais do que isto me envilecerei, e me humilharei aos meus olhos; mas das servas, de quem falaste, delas serei honrado. 
      E Mical, a filha de Saul, não teve filhos, até o dia da sua morte.” 
II Samuel 6.13-16 e 20-23

      A passagem inicial relata um típico encontro entre alguém, que por algum motivo está afastado de Deus, no caso Mical, e outra pessoa, absolutamente livre para adorar a Deus, alguém que num determinado momento não teve sensibilidade para pôr a espiritualidade de alguém acima de seu rancor, e alguém que não se importava com a opinião dos homens, ainda que fosse alguém afetivamente muito próximo. Mas ainda assim o texto não nos autoriza a classificar como espiritual aquele que se solta fisicamente no louvor, muitos podem ser espirituais, ainda que discretos e silenciosos, o texto só nos ensina que importa mais é agradar a Deus, de que maneira? Da maneira mais sincera e coerente possível, de acordo com a verdade pessoal de cada um. O final do texto é triste, e Deus não nos poupou dessa informação em sua palavra, Mical, a amada de Davi, foi estéril por toda a vida, nunca teve filhos, que cada um tire suas próprias conclusões e ligue as coisas. Esse texto diz muito sobre Davi, um homem espiritual, ainda que um homem, e também pode nos ensinar sobre a “Mical” que às vezes pode se apresentar dentro de cada um de nós.
      Além da percepção (ou pelo menos mais acentuada no plano físico) de tempo, assunto que já pensamos neste estudo, outra consequência do pecado foi a divisão do ser humano em partes, partes que têm dificuldades para coexistirem em harmonia, e que estão o tempo todo em conflito dentro de nós. Isso não acontecia antes do ”pecado original”, nem acontecerá na melhor eternidade com Deus, o céu. Assim, o corpo luta contra o espírito e ambos deixam a alma desequilibrada e atormentada, por isso a expressão artística humana causa tanta polêmica, principalmente num meio cristão imaturo e arrogante, que acha que pode ditar regras por se achar o “último biscoito do pacote” na espiritualidade. Sempre uso no “Como o ar que respiro” o conceito de tricotomia que entende o ser humano como corpo, alma e espírito. O corpo é a parte física, material, estudada pela ciência. O espírito é parte vista pelas religiões, o sopro de Deus que nos faz diferentes dos animais e da natureza, que é selado com o Espírito Santo quando há conversão pelo nome de Jesus, e que pode se relacionar com Deus. 
      A alma, contudo, é a interface, fica no meio, entre o corpo e o espírito, ela é a primeira que interpreta o entendimento e o sentimento do espírito, seja pelo intelecto, a mente, ou pelo chamado “coração” (não o órgão físico), com consciência de pensamentos e de sentimentos. Nossa identidade presente, no plano físico, está contida na alma, já que a eterna, que está em nosso espírito, só conheceremos de fato totalmente na eternidade (eis aqui um mistério para os que têm “ouvidos” ouvirem). A partir desse entendimento humano o corpo é informado para então reagir, seja pelos sentidos ou por movimentos mecânicos. No plano espiritual do melhor de Deus (o céu, não o inferno), existirão o espírito com uma comunhão mais plena com o Espírito Santo, e um novo corpo, transformado, mas não físico, além de uma alma em perfeita harmonia com tudo isso. Obviamente é o corpo físico que terá sua maior mudança no plano espiritual, mas penso que é a alma que terá mais benefícios, porque será uma só com um espírito, em total comunhão com o Espírito de Deus, e novamente me refiro aqui à existência espiritual na melhor eternidade de Deus. 
      Existirá arte na eternidade? Talvez aqueles que “demonizam” arte e artistas dirão, não haverá, lá Deus será glorificado, não o homem, mas é justamente o contrário, haverá arte e numa plenitude muito maior, a vida no paraíso será pura arte. Você nunca se perguntou por que gosta tanto dos textos do livro de Salmos? Pois bem, Davi foi um homem que conseguia equilibrar de maneira maravilhosa corpo, alma e espírito, pelo menos em seus textos, ele harmonizava estética artística (poética e musical) com unção (revelação, adoração, exortação espirituais) de uma maneira que consegue falar com homens de tempos e de lugares diferentes. Imagine termos na eternidade uma comunicação semelhante a muitos textos dos Salmos, onde num olhar um ser que esteja no paraíso consiga transmitir, sem palavras (e na velocidade do pensamento), um poema, uma música, um quadro, uma escultura, um filme inteiro, e não só com estética artística, mas também com unção, a verdadeira unção de Deus, que nos transborda de prazer, de paz e de um desejo profundo e intenso de sermos santos, amorosos e agradarmos ao Deus altíssimo.
      Ah, se os artistas, e todos nós somos artistas em algum ponto, entendessem essa interação de arte com unção, de música com adoração, de alma com espírito, e se ou outros dessem a esses artistas o direito e a liberdade para serem ferramentas nas mãos de Deus. Sempre é preciso dizer que o homem que Deus mais usou em Israel, para colocar o povo de Deus em sua posição máxima neste mundo, não foi um Saul, mas um Davi, alguém fisicamente menor, mas com uma iluminação espiritual e artística especiais. Por que isso? Porque havia em Davi um cuidado para todas as áreas de seu ser, ele também era um bom soldado e um excelente líder político, mas dando prioridade não para o corpo, mas para o espírito e a alma. É dito que antes da descida do Espírito Santo em pentecostes, Davi foi o homem que mais provou da unção do Espírito Santo, ele andava em unção, Davi era espiritual. Contudo, eu fico só imaginando, como músico que sou, a beleza das músicas que serão executadas na eternidade, vocal, instrumental, tudo junto, porque lá o ser humano será íntegro no amor de Deus, não mais partido, em sua mais elevada espiritualidade.
      O plano físico não é a realidade eterna, é só uma expressão material e passageira dela, ainda assim, tudo que existe nele, a natureza, os animais, a terra e todas as diversidades, incluindo a de seres humanos, é lindo. Um quadro de uma paisagem pode ser belo, mas é só a expressão artística humana da natureza real, não é a paisagem de verdade, assim é todo o plano físico, uma expressão artística de Deus. O universo material é uma maravilhosa obra de arte de Deus, um jeito de Deus expressar o plano espiritual. A beleza original e eterna está no plano espiritual, o mundo e os seres humanos encarnados, perto do que existe no plano espiritual, são só um quadro, limitados às dimensões físicas. Deus é um artista, o melhor deles, e nós somos suas obras primas, ainda que necessitando de restauração. A restauração foi habilitada por Jesus e Deus a faz usando não qualquer material, assim como não altera o que resta do original, escondido debaixo de sujeiras, remendos e buracos. O Espírito Santo, o material original, é usado, que nos limpa e nos completa, deixando-nos com a beleza que havia no coração de Deus quando nos criou. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

06/11/20

37. Espiritualidade e liberdade

Espiritualidade Cristã (parte 37/64)

      “Assim diz o Senhor, Deus de Israel: Eu fiz aliança com vossos pais, no dia em que os tirei da terra do Egito, da casa da servidão, dizendo: Ao fim de sete anos libertareis cada um a seu irmão hebreu, que te for vendido, e te houver servido seis anos, e despedi-lo-ás livre de ti; mas vossos pais não me ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos. E vos havíeis hoje arrependido, e fizestes o que é reto aos meus olhos, apregoando liberdade cada um ao seu próximo; e fizestes diante de mim uma aliança, na casa que se chama pelo meu nome; Mudastes, porém, e profanastes o meu nome, e fizestes voltar cada um ao seu servo, e cada um à sua serva, os quais já tínheis despedido libertos conforme a vontade deles; e os sujeitastes, para que se vos fizessem servos e servas. 
      Portanto assim diz o Senhor: Vós não me ouvistes a mim, para apregoardes a liberdade, cada um ao seu irmão, e cada um ao seu próximo; pois eis que eu vos apregôo a liberdade, diz o Senhor, para a espada, para a pestilência, e para a fome; e farei que sejais espanto a todos os reinos da terra. E entregarei os homens que transgrediram a minha aliança, que não cumpriram as palavras da aliança que fizeram diante de mim, com o bezerro, que dividiram em duas partes, e passaram pelo meio das suas porções; A saber, os príncipes de Judá, e os príncipes de Jerusalém, os eunucos, e os sacerdotes, e todo o povo da terra que passou por meio das porções do bezerro” 
Jeremias 34.13-19

      A religião de Israel nos tempos do antigo testamento era bem mais que regras morais e protocolos religiosos, também dava orientações sociais, políticas e mesmo de saúde e higiene, enfim, eram ensinos completos para que uma nação fosse espiritual neste mundo seguindo o Deus verdadeiro, à medida que testemunhava às outras nações que esse Deus existia e é superior a outros deuses. Entre as orientações havia a citada no texto inicial, os israelitas podiam ser levados, por motivos como dívidas etc, a se tornarem mão de obra escrava dentro de Israel. Não confunda o conceito de escravatura desses tempos e em Israel com a escravatura de africanos feita por portugueses no Brasil, essa era diferente e bem mais cruel.
      Na escravatura de africanos, que existiu no mundo entre o século quinze e o dezenove, escravos não tinham direitos, eram mercadoria, apesar de mesmo nesse sistema desumano haver diferença de tratamento, não nos enganemos com relação a isso, sempre existiu essa diferença no mundo, em tempos, culturas e locais diferentes, porque sempre houve gente boa e gente má que ainda que dentro de um sistema ruim ou bom podia agir de forma melhor ou pior. O ser humano sempre foi o ser humano, com livre arbítrio para ser justo ou misericordioso, ou egoísta e ganancioso. Mas voltando ao ponto, em Israel o servo tinha alguns direitos, um deles era de ser liberto de suas obrigações como escravo a cada sete anos.
      Essa regra permitia que o filho de Deus em Israel sempre tivesse nova oportunidade para ser livre, ninguém deveria ser escravo para sempre, obviamente que ter servos permitia certas vantagens econômicas aos senhores, vantagens que homens desviados de Deus podiam querer manter, independente se isso representasse não obedecer à Lei de Deus. Era isso que estava acontecendo no tempo do texto e o profeta Jeremias foi usado para dar a exortação registrada no capítulo 34 do livro do profeta à Israel. Quem não liberta se torna escravo, foi isso o que aconteceu a Israel, porque não só o povo, mas rei e líderes, estavam desobedecendo orientações do Senhor, todos caíram como escravos de Nabucodonosor, rei da Babilônia.
      Quem não liberta se torna escravo, de quem? De si mesmo, assim somos presos numa prisão que é o nosso coração cujo carcereiro somos nós mesmos. Essa é a lição que nós como Igreja espiritual pela nova aliança de Jesus podemos tirar usando uma lei da velha aliança de Deus à nação de Israel, não podemos receber o que não damos. Se escravizamos os outros nos tornamos escravos, ou se somos escravos não poderemos libertar os outros. Como podemos encarcerar as pessoas? Principalmente com a negação de perdão e de amor, virtudes intrinsecamente interligadas, só perdoa de fato quem ama e quem ama sempre perdoa, quem perdoa e ama é humilde e tem paz e quem é humilde e tem paz é livre, plenamente liberto. 
       Nos enganamos quando achamos que estamos tendo alguma vantagem por não perdoar alguém, por manter em nossos corações rancor e ódio, não são os odiados que ficam encarcerados, mas quem odeia, e muitos vezes os odiados nem fazem ideia de que são odiados por alguém. Perdoe, e a princípio nem para beneficiar o perdoado, mas a si mesmo, depois, se puder, se for sábio, verbalize isso para ele, mas faça isso para ganhar um amigo não para jogar na cara de alguém que ele te magoou e que você ainda assim é espiritual o bastante para perdoá-lo. Isso é só uma espécie de vingança, não é perdão e muito menos espiritualidade, é auto vitimização, e vítimas equivocadas são seres amarrados e jamais espirituais. 

      “E tomou o Senhor Deus o homem, e o pós no jardim do Éden para o lavrar e o guardar. E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás. E disse o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” “E ambos estavam nus, o homem e a sua mulher; e não se envergonhavam.” Gênesis 2.15-18 e 25

      Liberdade, uma virtude que Deus sempre quis conceder aos que o buscam, um conceito muitas vezes difícil de entendermos, nós, que podemos nos acostumar com celas de cadeia, acharmos nelas não restrições, mas proteções, de alguma maneira, ainda que nos limite. A característica de adaptabilidade do ser humano, que o permite se adaptar a situações, terrenos, climas, ambientes tanto físicos quanto psicológicos diferentes, e que permitiu que ele conquistasse o planeta e se desenvolvesse, também faz com que ele se vicie em coisas que a princípio podem até ser boas, mas depois, pelo exagero, tornam-se ruins, ou ruins, ou podem ser ruins, mas também pelo exagero podem se tornar falsamente boas.
      Vício é tudo que controla o homem e não é controlado por ele, se for algo para para que ele usufrua com equilíbrio, e se for algo ruim, mas que ele provê uma vez, no máximo, e não prove mais. O homem também pode se adaptar a celas porque elas protegem, é interessante para quem não se importa de não poder fazer isso ou aquilo, ou de não ir a esse ou àquele lugar, contanto que outras pessoas ou coisas se mantenham longe. “Estou preso, mas estou protegido, alimentado, suprido, ainda que com limites e não dependendo de meu trabalho mas do que meu carcereiro me fornece”, esse é o pensamento de quem se acostuma com prisões e abrirem mão de liberdade. 
      Livre arbítrio para fazermos as escolhas morais, espirituais e físicas que acharmos melhor, nisso está a essência da liberdade que Deus dá às suas criaturas, mas é aí onde se origina as prisões mais antigas, no primeiro teste desse livre arbítrio o homem escolheu, não a liberdade em Deus, mas a prisão, na opção que o diabo dava pela serpente no Éden para que ele comesse do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal. Interessante que a proposta que o diabo para o homem, não foi de prisão, mas de liberdade, pela serpente ele disse que no que Deus queria é que havia restrição, já no comer do fruto haveria conhecimento ilimitado, liberdade para saber. 
      Outro ponto é que a tentação original e principal dos espíritos rebeldes das trevas não foi para que o homem tivesse mais prazeres carnais ou riquezas materiais, mas conhecimento, talvez porque aquele homem original, ainda não corrompido pelo pecado, em sua maior pureza e qualidade de comunhão com Deus, não seria tentando por valores menores como os físicos ou materiais, mas somente por algo superior como conhecimento, e mais que científico, moral e espiritual. Um longo caminho foi percorrido pelo ser humano em sua trajetória no planeta, à medida que evoluiu científica, social e psicologicamente, suas noções de espiritualidade caíram e subiram.
      Da mesma maneira o conceito de liberdade se modificou, piorou e tornou a melhorar, vemos isso na transformação da prática de escravatura, iniciando em algo explícito e violento que via o ser humano como coisa qualquer, até chegar às existências como escravos que tantos têm até hoje como empregados em empresas, tendo que usar doze horas por dia entre trabalho e transporte para poderem sobreviver. Escravos no corpo, na mente, na religião, na cultura, qual seria o pior tipo? Mas é preciso admitir que vivemos um momento na humanidade de clamor intenso por liberdade, mas seria uma liberdade que de fato conduz à mais alta espiritualidade ou apenas libertinagem para usufruir prazeres no plano físico? 
      O texto de Gênesis 2 nos diz qual a visão bíblica daquilo que Deus tinha para o homem originalmente, antes que ele pecasse. A vida parece que seria simples, lavrar a terra e gerar filhos, lembrando que inicialmente o homem era vegetariano, não comia carne, dessa forma bastaria ter os frutos da agricultura para sobreviver. Além disso, antes do pecado, a terra não havia sido amaldiçoada, nem o homem, nem a mulher, assim o trabalho de sobreviver e gerar filhos não seria algo penoso. Essa era a proposta de vida sem pecado, nisso o homem poderia usufruir de liberdade completa assim como da mais alta espiritualidade, Deus falava diretamente com o homem, seus “véus” ou metáforas religiosas. 
      Isso era pouco, menor, mas não é exatamente isso que muitos desejam como a melhor vida hoje? Hábitos simples, comida natural, com tempo para arte e espiritualidade? Existiria avanço científico e tecnológico? Sim, mas num passo diferente, não pela vaidade dos homens, não por intenções  beligerantes das nações, não para que poucos dominassem sobre muitos, mas simplesmente para manter a existência neste mundo, sem que a prioridade espiritual fosse relegada a segundo plano. O ser humano seria livre para viver a mais excelente das espiritualidade, com conhecimento do mundo espiritual e total comunhão com ele, que planeta teríamos nas mãos, que vida, uma longa e próspera vida ainda na carne. 

      “Seria este o jejum que eu escolheria, que o homem um dia aflija a sua alma, que incline a sua cabeça como o junco, e estenda debaixo de si saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aprazível ao Senhor? Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres abandonados; e, quando vires o nu, o cubras, e não te escondas da tua carne? Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda.” Isaías 58.5-8

      A verdade é que o ser humano tem perdido a vergonha na cara, não sente mais culpa, querendo liberdade perdeu a sensibilidade, e mais que para conviver de maneira elegante consigo mesmo e com as outras pessoas, mas para perceber o Santo Espírito de Deus e obedecê-lo. A liberdade melhor e mais alta que temos deve nos levar ao Altíssimo, antes de tudo, não a uma vida sexual mais satisfatória, para ser bem claro, ainda que a espiritualidade conquistada com essa liberdade deva repercutir como prática de vida justa e de respeito a todos no plano físico. É exatamente sobre isso que fala o texto inicial de Isaías 58, passagem que refere-se a uma das bandeiras principais do “Como o ar que respiro”. 
      “Seria este o jejum que eu escolheria?”, é a pergunta que Deus faz, explicando, Deus se importa mesmo com religião, com ritos, com tradições, com nomes, com templos, resumindo, com aparência externa? Do que adianta tudo isso se “as ligaduras da impiedade não são soltas, se as ataduras do jugo não são desfeitas, se os oprimidos não são libertos, se o jugo não é despedaçado, se o pão não é repartido com o faminto, se os pobres abandonados não são recolhidos em casa e se o nu é desprezado”? Esse texto é uma exaltação à liberdade, de pessoas como cidadãs em uma sociedade, à medida que outros cidadãos não as escravizam, antes permitem que todos tenham direitos iguais. 
      A religião dada por Deus à Israel tinha objetivos práticos, se preocupava com justiça e igualdade social, para que todos tivessem liberdade neste mundo para serem felizes e prósperos. Isso nos faz pensar profundamente no que chamamos hoje de religião, de espiritualidade, o que de fato agrada a Deus e ele deseja de todos nós, isso nos leva a uma questão: o que é fé sem obras? O que é espiritualidade se não tiver efeitos no plano físico? Se fôssemos espirituais não estaríamos neste mundo, o plano espiritual com Deus se conquista no plano físico vivendo corretamente com seres físicos, com necessidades materiais, assim não podemos ser espirituais sem darmos às pessoas liberdade, mesmo para não serem espirituais. 
      “Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente; E se abrires a tua alma ao faminto, e fartares a alma aflita; então a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. E o Senhor te guiará continuamente, e fartará a tua alma em lugares áridos, e fortificará os teus ossos; e serás como um jardim regado, e como um manancial, cujas águas nunca faltam.” (Isaías 58.9-11), eis a promessa de Deus aos obedientes, existem bençãos melhores que essas? Elas são efeitos naturais de quem é livre e deixa ser livre em Deus. Escolha ser livre e livre para viver em Deus. 
      Concluindo esta reflexão sobre espiritualidade e liberdade, preciso dar uma orientação. De todas as liberdades, a melhor é a que temos através do Espírito Santo em oração, e muitos não usufruem dessa liberdade, por isso tanta depressão mesmo no meio cristão, por isso tantos bons pastores se suicidam, por tentarem viver um cristianismo meramente mental. Busque a Deus, principalmente de forma privativa, e tenha experiências profundas no Espírito Santo, com os sentidos espirituais, olhos e ouvidos, abertos para ouvir e ver coisas maravilhosas que Deus tem para mostrar a todos que o buscam com intimidade. Só essa experiência pode nos alimentar e nos livrar da morte, “ouvi-me e vivei, diz o Senhor, sois livres para isso”. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

05/11/20

36. Espiritualidade e obras

Espiritualidade Cristã (parte 36/64)

      “Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé. E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários, e os despediu por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta.Tiago 2.20-26

      Interessante que o mesmo religioso que busca tanto receber dádivas materiais nas igrejas, é meio avesso a abençoar materialmente os outros, e eis mais uma das características do povo evangélico atual. Muitos sentem-se absolutamente desobrigados para ajudar materialmente principalmente os mais pobres e necessitados, existe uma grande maioria de crentes em igrejas evangélicas que não se sentem responsáveis por serem fatores de mudança numa sociedade onde poucos têm muito e muitos têm pouco. O “Como o ar que respiro” não é um espaço de estudos bíblicos, no sentido convencional, creio que de estudos bíblicos, e de excelente qualidade, os púlpitos, reais e virtuais, estão cheios, e ainda assim o povo cristão não muda de atitude. Dessa forma não vai aqui mais um estudo sobre o livro de Tiago, o escritor do cânone bíblico que fala com mais propriedade do tema, mas uma exortação para nos acordar para a espiritualidade cristã. 
      Talvez tenha pouco a ver com a espiritualidade da teologia evangélica tradicional na prática, mas muito com a espiritualidade ensinada por Jesus, quando homem neste mundo, a espiritualidade cristã mais pura e original. O que vemos nas igrejas evangélicas opõe-se à prática de outras religiões, principalmente espíritas, onde o ditado “faça o bem não importa a quem e no nome de quem” revela que boas obras podem ser mais importantes até que fé e mesmo fé em Deus, para elevar a espiritualidade humana. Esse é o outro extremo do ensino, sabemos que a Bíblia não ensina um extremo mas o equilíbrio, entre fé e obras, mas na prática muitos evangélicos vivem o extremo de que só é necessário crer. Você acha que isso não é verdade? Então talvez seja porque tua igreja é uma exceção, mas se for feito um senso veremos que muitas igrejas não têm preocupação em ajudar materialmente o próximo, no máximo fazem alguma distribuição de cesta básica para membros em situações econômicas ruins. 
      Uma informação sobre o texto inicial, que aliás se aplica a muitas das apologias teológicas do novo testamento, principalmente as de Paulo, frequentemente se afirma a maior excelência da nova aliança por Cristo sobre a velha aliança de Moisés. Naquele momento da história cristã, no século um, era importante que os judeus entendessem a eficácia do sacrifício de Jesus, que eles não precisariam continuar com sua velha religião, com sacrifícios e festas, todas essas obras foram substituídas pelo sacrifício de Cristo. Na visão do evangelho fé é de suma importância porque credita salvação em algo que já foi feito, e não é, algo que se está fazendo no momento em que a fé está sendo exercida. Na velha aliança também era necessário fé, mas em algo presente, mas o sacrifício de Cristo é algo do passado, e mais eficiente que o sacrifício de animais porque foi o próprio Deus que se sacrificou sem pecado. 
       No caso do texto de Tiago 2 Abraão é usado como exemplo porque é conhecido pelos judeus como o pai da fé, alguém que tinha experimentado aliança com Deus pela fé e não por obras antes mesmo da Lei de Moisés, uma aliança por obras, ser estabelecida. Paulo usa Abraão em uma defesa da fé sobre as obras, “Pois, que diz a Escritura? Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça“ (leia todo o 4º capítulo da carta aos Romanos para mais entendimento, texto que é creditado por muitos estudiosos a Paulo). Mas Tiago usa o mesmo Abraão para defender o valor das obras, não como maior que o da fé, mas como algo que a completa. A frase final do texto inicial de Tiago é fantástica, “assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”, explica o conceito com as palavras do Espírito Santo, fé e obras ligadas como causa e efeito, não se pode separar o corpo do espírito.
      A verdade é que não são eventos separados, fé dom de Deus tem como efeito boas obras, isso é algo natural na experiência de caminhar com o Senhor, mas se isso não está ocorrendo o homem está em débito, não com Deus, Deus não precisa de nada e de ninguém para se completar, ele é pleno, mas com o universo, criado por Deus e sob regras inexoráveis dele que servem para todos os homens. O cristão que está errado sente o erro, contudo, muitos tentam pagar a dívida de outro jeito, ao invés de ajudarem os que precisam com iniciativas financeiras, enchem os “altares” de dízimos e ofertas, uma igreja que vive e incentiva essa prática nunca vai se posicionar nas mais elevada espiritualidade cristã. O correto seria ajudar como ensina o evangelho, na mais completa discrição (Mateus 6.3-4) e somente por amor. Mas será que a Igreja (corpo de Cristo na Terra hoje) ama? Será que ela está sendo ensinada a amar?
      “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais a hortelã, e a arruda, e toda a hortaliça, e desprezais o juízo e o amor de Deus. Importava fazer estas coisas, e não deixar as outras“ (Lucas 11.42). Infelizmente muitas igrejas ou são grandes empresas ou pequenos clubes. Nas igrejas “grandes empresas” as pessoas são parte de massas com carência de fazerem parte de algo, de uniformes, nessas é onde se paga tudo com dízimos, onde quanto mais gente tiver é melhor, onde perder-se na multidão é escapismo para não enfrentar a própria realidade. Nos “clubes” constroem-se comunidades quase que familiares, esses até se ajudam, mas como grupos fechados e com número limitado de membros, essas igrejas perderam a visão de evangelismo. Nos dois tipos de igreja se foge do inferno e do diabo, mas ainda assim não se prova a verdadeira espiritualidade cristã, e muito menos se adquire maturidade para exercer obras de amor. 
      O que de fato falta é uma apropriação profunda da vivência cristã, as pessoas atualmente até se aprofundam, mas nas coisas erradas. Se apaixonam loucamente umas pelas outras e em nome da paixão se dão por inteiras e depressa, ah, se fossem assim com Deus, se se apaixonassem por Jesus com igual energia e com tamanha disposição para seja aprofundarem nessa comunhão. Então, a fé seria intensa e os obras naturais, toda a sociedade seria abençoada, não só as igrejas, não só os líderes, a luz de Deus brilharia de tal maneira no mundo que o evangelho teria, da maneira certa, uma influência positiva. Não seria como muitos pensam hoje no Brasil, ter um presidente que respeita cristãos e que perdoa dividas de impostos não pagos de templos, não seria como participante em um conflito de ideologias extremas, porque os cristãos não se imporiam por palavras, mas praticando boas obras por amor, sem exigirem nada em troca. 
      Um outro ponto é que muitos cristãos aliam suas espiritualidades às igrejas, ou melhor, àquilo que fazem dentro das quatro paredes dos templos, assim se portam novamente como manadas que seguem ordens sem pensarem muito no assunto, isso lhes oferece uma zona de conforto, além de jogar a responsabilidade por qualquer erro de percurso nos líderes, não neles. Dessa forma não tomam iniciativa para serem espirituais como indivíduos, mas só como partes do coletivo, se veem uma família vizinha do bairro onde moram em dificuldades, pensam, o problema não é deles, eles já fazem suas partes participando de cultos, dizimando. Muitos evangélicos atualmente não se pensam como parte da sociedade, mas só como participantes de igrejas, é certo que essa polarização política que esta ocorrendo no Brasil desde a última eleição presidencial tem politizado muitos cristãos, mas essa nova realidade tem se mostrado equivocada.
      Muitos evangélicos não pensam uma sociedade com tolerância religiosa e diferenças de ideologias, mas como uma grande igreja evangélica, um engano que desrespeita o livre arbítrio humano assim como a vontade soberana de Deus para o mundo atual. Ser cristão no mundo não é algo fácil, fácil é sê-lo entre as quatro paredes dos templos, mas Jesus nos chama para fora, não para dentro, essa foi sua ordem final antes de subir ao céu (Mateus 28.19-20). Dessa forma desenvolver uma espiritualidade individual, independente da agenda de ministérios cristãos de igrejas, é assumir responsabilidade pessoal pela sociedade, pelo mundo, ainda que muitos no mundo não sejam cristãos. Isso é mostrar amor como Jesus mostrava como homem, sem compromisso com fama ou apego a vaidades, sendo verdadeiro com as pessoas, mas nunca condenando-as, e sempre deixando uma porta aberta para a salvação. Isso é espiritualidade cristã.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

04/11/20

35. Espiritualidade e hipocrisia

Espiritualidade Cristã (parte 35/64)

      “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.Mateus 5.48

      Grande parte dos cristãos vive uma vida de acordo com os novos costumes, principalmente em relação à família e sexualidade. No dia a dia, convivendo com colegas de serviço, com clientes e fornecedores, com amigos da escola, com familiares, com vizinhos de bairro, muitos cristãos praticam tolerância religiosa, respeito às diferenças sexuais, eles não condenam ao inferno os não cristãos nem nutrem preconceitos contra espíritas, esotéricos e outros. Contudo, quando entram nos templos ouvem do púlpito uma palavra diferente, não, não estou dizendo que é uma palavra intolerante ou preconceituosa, não é assim que as igrejas evangélicas funcionam, não a maioria, quem acha isso deve se informar mais sobre o assunto ao invés de ficar julgando mal os evangélicos, e eis aqui uma palavra em defesa aos crentes. Então, que palavra diferente é essa? É uma que se for de fato praticada pode conduzir, sim, à intolerância e aos preconceitos. 
      Por que acontece isso? O problema não está, a princípio, nas ovelhas, mas nos pastores, esses por um motivo ou outro ensinam uma palavra errada, pelo menos para o mundo atual. Ensinam porque muitas doutrinas se tornaram tradições, para eles isso confere a elas legitimidade, e eles não têm coragem de reavaliar isso pelo Espírito Santo para então ensinar melhor as ovelhas. Seja por medo de irem contra o que eles acham serem dogmas protestantes, ou por preguiça, a pouca vontade de se dar ao trabalho de pensar e orar, muitos pregadores continuam dizendo e dizendo as mesmas coisas, sem checarem a realidade, não só do mundo, mas da igreja. Nisso usar a Bíblia, palavra inspirada pelo Espírito Santo, mas em homens de outras épocas, sociedades e culturas, como doutrina inquestionável é interessante, já que se alguém discordar pode-se argumentar, “está na Bíblia, não sou eu quem está dizendo”. Enquanto isso hipocrisia rola livre e solta. 
      O problema se torna pior porque não é só o caso de deixar de assumir algo que se sabe, mas de não saber, as pessoas não percebem o que está acontecendo, não veem por isso nem podem assumir. Parece que muitos cristãos se habituaram a ouvir uma coisa e a viver outra, parece que aceitaram que certas coisas são vontade de Deus e por isso são impossíveis de serem vividas, assim se ninguém vive, nem eles precisam viver. Mas ainda assim devem ouvir calados isso dos púlpitos, dizerem amém, mas só de boca, não de coração, e ainda que louvando a Deus por lhes mostrar uma vontade tão excelsa, não se acham necessariamente responsáveis para viverem isso. Sim, muitos são de fato hipócritas, não vivem o básico e atemporal do cristianismo ensinado na Bíblia e dizem que vivem, mas grande parte vive uma loucura, contempla aquilo que acha ser o plano ideal de Deus para o homem, enquanto na prática só dança conforme a música.
      Por isso tantos não experimentam libertação de vícios, só os trocam, deixam aqueles que prejudicam principalmente o corpo, bebidas alcoólicas, tabagismo e drogas, e aderem à religiosidade. Bem, religiosidade implica em obedecer rituais e liturgias, basta estar presente fisicamente, sem necessidade de raciocinar a respeito e muito menos de ter uma comunhão espiritual pelo Espírito Santo. Não estou dizendo que religiosos são frios, não eles sentem, e muito, contudo, não há limites para a paixão humana e pelo que ela pode se apaixonar, existem cultos os mais diversos possíveis no mundo onde os homens experimentam êxtases. Não usemos sentir algo diferente como argumento para legitimar presença poderosa de Deus em uma religião, ainda que a presença poderosa de Deus nos faça sentir algo forte e singular. Contudo, religiosidade que experimenta Deus é plena, vivenciada com equilíbrio no corpo, nos sentimentos, no raciocínio e no espírito.
      Quando o homem não confronta o que ouve no púlpito com aquilo que pratica em sua vida, não está sendo um ser humano pleno, está enganando a si mesmo, desse jeito não poderá alcançar espiritualidade cristã. Meus queridos, como nos acostumamos com a mentira como cristãos, a maioria bebe bebidas alcoólicas, e grande parte moderadamente, mas ainda assim não admite isso pra ninguém, e se sente em pecado quando bebe, quando Deus não exige de ninguém isso. Por que se faz isso? Porque se construiu um dogma evangélico que diz que bebida alcoólica é pecado. Talvez essa hipocrisia, em alguns assuntos, seja melhor que uma assunção extremista de certas tradições, infelizmente, atualmente no Brasil vivemos um momento perigoso onde muitos cristãos se perderam nas heresias e têm levado à sociedade objetivos que são para indivíduos, querendo estabelecer no mundo um novo Israel, isso não é plano de Deus para o Brasil hoje. 
      Cristãos são hipócritas porque não conseguem viver o que falam, porque se comportam diferentemente dentro do templo e no mundo, mas essa incoerência existe ou porque eles de fato são desobedientes à palavra de Deus ou porque são desobedientes a uma palavra que acham que é de Deus e não é. De todo jeito eles se sentem mal com a hipocrisia, porque acham que não conseguem seguir a vontade de Deus, e eu quero crer que ainda existe sensibilidade espiritual em muitos para ouvirem a voz de Deus e se entristecerem por não conseguirem obedecê-la, eu creio que ainda com hipocrisia o Espírito Santo habita o coração dos cristãos, porque Deus é misericordioso com todos. Mas talvez falte a muitos cristãos mais leveza, libertarem-se da bigorna religiosa trazida da tradição católica que pesa sobre tantos exigindo muito e negando aquele que pode viver tudo em nós, o Espírito Santo, e nesse ponto espiritualidade cristã deve ser reavaliada. 

      Para ninguém dizer que fiz um estudo errado em três pontos, li um texto, saí do texto e nunca mais voltei ao texto, deixei para refletir no texto inicial agora, e eis aí um dos textos bíblicos que mais me metem medo. Por quê? Porque ele exige algo inalcançável de nós como cristãos, perfeição. Contudo, é por colocar as coisas em extremos que se faz inimigos, se cria preconceitos e se vive hipocrisias. Extremismos são convenientes a homens que querem dominar sobre homens no mundo, no plano físico, por isso imperadores e papas, na política e na religião, e também no meio protestante evangélico. Como me revolta ver líderes evangélicos se autodenominando bispos, apóstolos, quanta carnalidade num meio que deveria dar o maior exemplo de humildade e desprendimento de vaidades. Só Deus é o Altíssimo, só Deus é perfeito, e nós somos quando nos posicionamos nele, isso é possível? Sim, sempre que oramos e nos aprumamos pelo Espírito Santo. 
      Conseguimos estar nessa posição o tempo todo? Não, e nem precisamos, ainda que devamos andar em vigilância e temor a Deus sempre. Mas é por entender erradamente isso que as pessoas se sentem culpadas, e quem sente culpa por um erro se torna mais frágil para cometer outros erros, piores que o que causou a culpa inicial. Podemos pensar assim, “isso é errado? mas eu já estou errado mesmo, um erro a mais não faz diferença”, eis uma armadilha que o diabo tem interesse em armar para nós, quando andamos com culpas e pecados pendentes, para nos lançar num buraco mais fundo ainda, nos afastando ainda mais de Deus. Uma consciência em paz está protegida da mentira, mas um coração pesado, ainda que por uma mentira, é presa fácil de novas e maiores mentiras. A solução para a hipocrisia é conhecer mais a Deus, o que pode ser um conhecimento que se adquire sozinho, orando e vivendo, e não necessariamente ouvindo pastores e pregadores. 
      Quem conhece a Deus conhece seu amor e quem conhece o amor de Deus se conhece e se ama. Quem se ama tem paz, se assume por inteiro e em qualquer lugar, não vendo necessidade de ser hipócrita, na verdade de Deus achamos nossa verdade e não temos medo de mostrá-la aos homens. É importante que nos assumamos como cristãos coerentes nesses tempos, mas acima de tudo coerentes com aquilo que Deus de fato quer de nós. Nisso muitas vezes é mais adequado não estarmos ligados a cargos em igrejas, por quê? Para sermos coerentes e não escandalizarmos ninguém, principalmente os mais fracos e novos na fé. Quem faz aliança se compromete, quem se liga de maneira mais íntima com ministérios cristãos deve ser fiel a eles, mas com quem mais nos interessa fazermos alianças, com homens ou com Deus? Não é por ser igreja cristã que é de Deus para nós, pode até ser para os outros, mas pode não ser para nós se isso nos leva à hipocrisia. 
      O tempo sempre confronta as pessoas com a verdade se forem minimamente lúcidas, se tiverem alguma coragem mudarão de atitude, e se tiverem humildade conhecerão a melhor espiritualidade. As igrejas, os pastores e os “irmãos” nos decepcionam? Sim, e a princípio isso pode ser até positivo, pode significar que esperávamos desses atitudes coerentes com o evangelho e não achamos. Mas o que nos definirá como espirituais é como administraremos essa decepção, a pior reação é colocar a culpa em Deus e nos afastarmos de Jesus por causa de homens. Contudo, também podemos errar quando, mesmo depois de acertarmos com Deus a nossa decepção com os homens, pararmos de frequentar igrejas. Se Deus quisesse que as igrejas fossem melhores não teria permitido uma igreja cristã com quase dois mil anos de existência do jeito que é, seja no catolicismo, no protestantismo ou em outras denominações, não funciona assim com Deus. 
      Acerte-se com Deus de maneira que possa viver com uma só cara, no mundo e nos templos, mas permita-se continuar sendo confrontando pelas igrejas cristãs, frequente-as, com humildade, com paciência, não assumindo o que não precisa cumprir, não se intimidando com ameaças de homens, principalmente dos escondidos atrás de púlpitos. Nisso você será abençoado, porque Deus fala através de seus filhos, de todos, e não é só por você, mas nisso você também poderá abençoar, com simplicidade, com sabedoria, e muitos mais que com palavras, mas com atitudes. Siga sem ilusões, sem mágoas, resolva tuas carências em Deus, quanto ao homem ele sempre será homem, em todo lugar, no mundo ou na igreja, desprenda tua paz dele, de sua aprovação, desamarre Deus do homem, o Espírito Santo é Deus, e nele a gente sempre pode confiar. Seja luz, no mundo e no templo, conheça e execute tua missão, essa é a espiritualidade que Deus quer de você. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.