quarta-feira, novembro 04, 2020

35. Espiritualidade e hipocrisia

Espiritualidade Cristã (parte 35/64)

      “Sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus.Mateus 5.48

      Grande parte dos cristãos vive uma vida de acordo com os novos costumes, principalmente em relação à família e sexualidade. No dia a dia, convivendo com colegas de serviço, com clientes e fornecedores, com amigos da escola, com familiares, com vizinhos de bairro, muitos cristãos praticam tolerância religiosa, respeito às diferenças sexuais, eles não condenam ao inferno os não cristãos nem nutrem preconceitos contra espíritas, esotéricos e outros. Contudo, quando entram nos templos ouvem do púlpito uma palavra diferente, não, não estou dizendo que é uma palavra intolerante ou preconceituosa, não é assim que as igrejas evangélicas funcionam, não a maioria, quem acha isso deve se informar mais sobre o assunto ao invés de ficar julgando mal os evangélicos, e eis aqui uma palavra em defesa aos crentes. Então, que palavra diferente é essa? É uma que se for de fato praticada pode conduzir, sim, à intolerância e aos preconceitos. 
      Por que acontece isso? O problema não está, a princípio, nas ovelhas, mas nos pastores, esses por um motivo ou outro ensinam uma palavra errada, pelo menos para o mundo atual. Ensinam porque muitas doutrinas se tornaram tradições, para eles isso confere a elas legitimidade, e eles não têm coragem de reavaliar isso pelo Espírito Santo para então ensinar melhor as ovelhas. Seja por medo de irem contra o que eles acham serem dogmas protestantes, ou por preguiça, a pouca vontade de se dar ao trabalho de pensar e orar, muitos pregadores continuam dizendo e dizendo as mesmas coisas, sem checarem a realidade, não só do mundo, mas da igreja. Nisso usar a Bíblia, palavra inspirada pelo Espírito Santo, mas em homens de outras épocas, sociedades e culturas, como doutrina inquestionável é interessante, já que se alguém discordar pode-se argumentar, “está na Bíblia, não sou eu quem está dizendo”. Enquanto isso hipocrisia rola livre e solta. 
      O problema se torna pior porque não é só o caso de deixar de assumir algo que se sabe, mas de não saber, as pessoas não percebem o que está acontecendo, não veem por isso nem podem assumir. Parece que muitos cristãos se habituaram a ouvir uma coisa e a viver outra, parece que aceitaram que certas coisas são vontade de Deus e por isso são impossíveis de serem vividas, assim se ninguém vive, nem eles precisam viver. Mas ainda assim devem ouvir calados isso dos púlpitos, dizerem amém, mas só de boca, não de coração, e ainda que louvando a Deus por lhes mostrar uma vontade tão excelsa, não se acham necessariamente responsáveis para viverem isso. Sim, muitos são de fato hipócritas, não vivem o básico e atemporal do cristianismo ensinado na Bíblia e dizem que vivem, mas grande parte vive uma loucura, contempla aquilo que acha ser o plano ideal de Deus para o homem, enquanto na prática só dança conforme a música.
      Por isso tantos não experimentam libertação de vícios, só os trocam, deixam aqueles que prejudicam principalmente o corpo, bebidas alcoólicas, tabagismo e drogas, e aderem à religiosidade. Bem, religiosidade implica em obedecer rituais e liturgias, basta estar presente fisicamente, sem necessidade de raciocinar a respeito e muito menos de ter uma comunhão espiritual pelo Espírito Santo. Não estou dizendo que religiosos são frios, não eles sentem, e muito, contudo, não há limites para a paixão humana e pelo que ela pode se apaixonar, existem cultos os mais diversos possíveis no mundo onde os homens experimentam êxtases. Não usemos sentir algo diferente como argumento para legitimar presença poderosa de Deus em uma religião, ainda que a presença poderosa de Deus nos faça sentir algo forte e singular. Contudo, religiosidade que experimenta Deus é plena, vivenciada com equilíbrio no corpo, nos sentimentos, no raciocínio e no espírito.
      Quando o homem não confronta o que ouve no púlpito com aquilo que pratica em sua vida, não está sendo um ser humano pleno, está enganando a si mesmo, desse jeito não poderá alcançar espiritualidade cristã. Meus queridos, como nos acostumamos com a mentira como cristãos, a maioria bebe bebidas alcoólicas, e grande parte moderadamente, mas ainda assim não admite isso pra ninguém, e se sente em pecado quando bebe, quando Deus não exige de ninguém isso. Por que se faz isso? Porque se construiu um dogma evangélico que diz que bebida alcoólica é pecado. Talvez essa hipocrisia, em alguns assuntos, seja melhor que uma assunção extremista de certas tradições, infelizmente, atualmente no Brasil vivemos um momento perigoso onde muitos cristãos se perderam nas heresias e têm levado à sociedade objetivos que são para indivíduos, querendo estabelecer no mundo um novo Israel, isso não é plano de Deus para o Brasil hoje. 
      Cristãos são hipócritas porque não conseguem viver o que falam, porque se comportam diferentemente dentro do templo e no mundo, mas essa incoerência existe ou porque eles de fato são desobedientes à palavra de Deus ou porque são desobedientes a uma palavra que acham que é de Deus e não é. De todo jeito eles se sentem mal com a hipocrisia, porque acham que não conseguem seguir a vontade de Deus, e eu quero crer que ainda existe sensibilidade espiritual em muitos para ouvirem a voz de Deus e se entristecerem por não conseguirem obedecê-la, eu creio que ainda com hipocrisia o Espírito Santo habita o coração dos cristãos, porque Deus é misericordioso com todos. Mas talvez falte a muitos cristãos mais leveza, libertarem-se da bigorna religiosa trazida da tradição católica que pesa sobre tantos exigindo muito e negando aquele que pode viver tudo em nós, o Espírito Santo, e nesse ponto espiritualidade cristã deve ser reavaliada. 

      Para ninguém dizer que fiz um estudo errado em três pontos, li um texto, saí do texto e nunca mais voltei ao texto, deixei para refletir no texto inicial agora, e eis aí um dos textos bíblicos que mais me metem medo. Por quê? Porque ele exige algo inalcançável de nós como cristãos, perfeição. Contudo, é por colocar as coisas em extremos que se faz inimigos, se cria preconceitos e se vive hipocrisias. Extremismos são convenientes a homens que querem dominar sobre homens no mundo, no plano físico, por isso imperadores e papas, na política e na religião, e também no meio protestante evangélico. Como me revolta ver líderes evangélicos se autodenominando bispos, apóstolos, quanta carnalidade num meio que deveria dar o maior exemplo de humildade e desprendimento de vaidades. Só Deus é o Altíssimo, só Deus é perfeito, e nós somos quando nos posicionamos nele, isso é possível? Sim, sempre que oramos e nos aprumamos pelo Espírito Santo. 
      Conseguimos estar nessa posição o tempo todo? Não, e nem precisamos, ainda que devamos andar em vigilância e temor a Deus sempre. Mas é por entender erradamente isso que as pessoas se sentem culpadas, e quem sente culpa por um erro se torna mais frágil para cometer outros erros, piores que o que causou a culpa inicial. Podemos pensar assim, “isso é errado? mas eu já estou errado mesmo, um erro a mais não faz diferença”, eis uma armadilha que o diabo tem interesse em armar para nós, quando andamos com culpas e pecados pendentes, para nos lançar num buraco mais fundo ainda, nos afastando ainda mais de Deus. Uma consciência em paz está protegida da mentira, mas um coração pesado, ainda que por uma mentira, é presa fácil de novas e maiores mentiras. A solução para a hipocrisia é conhecer mais a Deus, o que pode ser um conhecimento que se adquire sozinho, orando e vivendo, e não necessariamente ouvindo pastores e pregadores. 
      Quem conhece a Deus conhece seu amor e quem conhece o amor de Deus se conhece e se ama. Quem se ama tem paz, se assume por inteiro e em qualquer lugar, não vendo necessidade de ser hipócrita, na verdade de Deus achamos nossa verdade e não temos medo de mostrá-la aos homens. É importante que nos assumamos como cristãos coerentes nesses tempos, mas acima de tudo coerentes com aquilo que Deus de fato quer de nós. Nisso muitas vezes é mais adequado não estarmos ligados a cargos em igrejas, por quê? Para sermos coerentes e não escandalizarmos ninguém, principalmente os mais fracos e novos na fé. Quem faz aliança se compromete, quem se liga de maneira mais íntima com ministérios cristãos deve ser fiel a eles, mas com quem mais nos interessa fazermos alianças, com homens ou com Deus? Não é por ser igreja cristã que é de Deus para nós, pode até ser para os outros, mas pode não ser para nós se isso nos leva à hipocrisia. 
      O tempo sempre confronta as pessoas com a verdade se forem minimamente lúcidas, se tiverem alguma coragem mudarão de atitude, e se tiverem humildade conhecerão a melhor espiritualidade. As igrejas, os pastores e os “irmãos” nos decepcionam? Sim, e a princípio isso pode ser até positivo, pode significar que esperávamos desses atitudes coerentes com o evangelho e não achamos. Mas o que nos definirá como espirituais é como administraremos essa decepção, a pior reação é colocar a culpa em Deus e nos afastarmos de Jesus por causa de homens. Contudo, também podemos errar quando, mesmo depois de acertarmos com Deus a nossa decepção com os homens, pararmos de frequentar igrejas. Se Deus quisesse que as igrejas fossem melhores não teria permitido uma igreja cristã com quase dois mil anos de existência do jeito que é, seja no catolicismo, no protestantismo ou em outras denominações, não funciona assim com Deus. 
      Acerte-se com Deus de maneira que possa viver com uma só cara, no mundo e nos templos, mas permita-se continuar sendo confrontando pelas igrejas cristãs, frequente-as, com humildade, com paciência, não assumindo o que não precisa cumprir, não se intimidando com ameaças de homens, principalmente dos escondidos atrás de púlpitos. Nisso você será abençoado, porque Deus fala através de seus filhos, de todos, e não é só por você, mas nisso você também poderá abençoar, com simplicidade, com sabedoria, e muitos mais que com palavras, mas com atitudes. Siga sem ilusões, sem mágoas, resolva tuas carências em Deus, quanto ao homem ele sempre será homem, em todo lugar, no mundo ou na igreja, desprenda tua paz dele, de sua aprovação, desamarre Deus do homem, o Espírito Santo é Deus, e nele a gente sempre pode confiar. Seja luz, no mundo e no templo, conheça e execute tua missão, essa é a espiritualidade que Deus quer de você. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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