segunda-feira, novembro 09, 2020

40. Espiritualidade e sexo

Espiritualidade Cristã (parte 40/64)

      Temos uma ideia errada sobre vício, o que torna algo um vício não é o simples fato de ser errado ou ruim, que prejudica de alguma maneira nosso corpo, nossa mente ou nosso espírito, vício é fazer algo de forma exagerada, deixando que nos controle. Assim, a princípio, vício pode não ser algo ruim ou errado, mas que feito sem controle, na hora errada, no lugar errado, com as pessoas erradas, pode viciar. Algo bom pode ser tornar um vício se não conseguirmos parar de fazê-lo ou se dependermos dele para estarmos bem. Iniciei esta reflexão sobre sexo falando sobre vício porque o vício mais comum é o vício por sexo, isso por vários motivos. Sexo é algo que se pode fazer de graça e sozinho, sem que haja necessidade de pagamentos, outros recursos ou mesmo de companhia. Diferente de bebida alcoólica ou de entorpecentes, que precisam ser comprados e muitos podem ser bem caros, para sexo podem bastar os nossos próprios corpos e alguma imaginação. 
      A princípio o pecado não está em algumas coisas, mas no exagero delas, no vício dessas coisas, e a verdade é que vivemos numa sociedade obcecada por sexo, e nem é pela interação social que ele proporciona, mas pelo consolo que ele oferece para que se possa enfrentar dores e carências. Um exagero, no início, sempre traz desconforto, o fígado reclama, a alma se sente culpada, é só na sua insistência, que é quando algo se transforma de fato em vício, que o homem se acostuma e fica viciado. Então, a busca inicial por um prazer muda, a dor de não ter o prazer do vício é que leva as pessoas a ficarem mais viciadas, no final não se anulou uma dor com um prazer, mas só se trocou de dor. A dor da falta de carinho dos pais, por exemplo, é substituída pela abstinência de sexo, que no início até era resolvida com sexo seguro, mas que depois bastou sexo casual numa madrugada qualquer após um encontro num lugar regado à música ruim e álcool. 
      Mas até que ponto sexo é pecado, até que ponto pode limitar nossas vidas espirituais? Naquilo para o qual se desviou o cristianismo primitivo que se deu o nome de catolicismo, ordens religiosas surgiram com o objetivo de levar as pessoas àquilo que se achava que era a espiritualidade mais alta. Celibato era exigido assim como vida isolada em mosteiros, quem vê o mal nas coisas pensa que afastar-se das coisas pode facilitar uma vida santa, isso quando não se entende que o mal está dentro de nós e nos acompanha para onde formos. No que os historiadores europeus chamaram de idade das trevas (parte da idade média, e é de nos chamar a atenção denominarem assim um período onde o cristianismo tinha predominância religiosa, política e econômica no mundo ocidental), estabeleceu-se o conceito de que os sacerdotes deveriam se abster de sexo e de outros apetites carnais, assim casamento foi proibido aos padres e membros do clero: 

      O celibato acabou por se impor no Ocidente: o Código de Direito Canónico impõe o celibato a todos os sacerdotes da Igreja Latina (em 1123). Porém, há várias exceções de sacerdotes casados na Igreja Latina, houve alguns papas casados (Adriano II, Honório IV), bispos casados (nas diocese da Islândia até à Reforma protestante; o bispo Salomão Barbosa Ferraz no Brasil) e vários padres casados ordenados nos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Reino Unido e Escandinávia, sob autorização especial. A Igreja Católica de rito latino, sinteticamente, dá as seguintes principais razões de ordem teológica para o celibato dos sacerdotes e religiosos de vida consagrada:
      - com o celibato os sacerdotes entregariam-se de modo mais excelente a Cristo, unindo-se a Ele com o coração indiviso;
      - o celibato facilita ao sacerdote a participação no amor de Cristo pela humanidade uma que vez que Ele não teve outro vínculo nupcial a não ser o que contraiu com a sua Igreja;
      - com o celibato os clérigos dedicariam-se com maior disponibilidade ao serviço dos outros homens;
      - a pessoa e a vida do sacerdote são possessão da Igreja, que faz as vezes de Cristo, seu esposo;
      - o celibato dispõe o sacerdote para receber e exercer com generosidade a paternidade que pertence a Cristo.
Fonte: Wikipedia

      Quem sai da cobertura do Espírito Santo e ainda assim quer viver para Deus (ou para o que pensa ser Deus), está sozinho, só tem suas próprias forças para ter vida espiritual, os católicos em seu cristianismo desviado do original, mas ainda obstinados, por vários motivos, a se manterem como representantes oficiais de Cristo na Terra, inventaram suas regras e uma delas foi controlar a força mais poderosa que existe no homem, o sexo. Mais forte que outros instintos, mais forte que outras vaidades, mais forte mesmo que a sede de dominar outros homens na política, nas riquezas e na guerra, o sexo é democrático, todos, pobres, ricos, pouco instruídos ou eruditos, podem usufruí-lo. Por ele muitos abrem mão de muitas coisas, reis já abdicaram por uma paixão, reis já mudaram de religião pelas paixões, teve um, Henrique VIII, que mudou a religião de seu império por elas, transformou o catolicismo da Grã Bretanha em anglicanismo, para ter autorização para se casar de novo e de novo. 
      Mas não é só no cristianismo que sexo é visto de forma equivocada, muitas culturas o demonizam, algumas mutilam (até hoje) fisicamente mulheres para que não tenham prazer sexual, e outras as mutilavam emocionalmente, colocando-as no papel de somente geradoras de filhos, o prazer os maridos teriam com profissionais do sexo. As religiões orientais também orientam abstinência sexual para o caminho de uma espiritualidade mais elevada e mesmo o apóstolo Paulo tinha uma visão que impunha prioridades para que vida sexual interagisse bem com espiritualidade, coerente com a cultura de seu tempo. Precisamos aceitar que a Bíblia deve ser entendida com a ajuda do vivo Espírito Santo porque seus textos são, sim, influenciados pelas culturas dos tempos dos que a registraram, e em assuntos referentes à sexualidade é onde precisamos de mais auxílio do Espírito Santo, para não ficarmos escravos de preconceitos e tradições de homens, que não representam a real vontade de Deus.

      “Ora, quanto às virgens, não tenho mandamento do Senhor; dou, porém, o meu parecer, como quem tem alcançado misericórdia do Senhor para ser fiel. Tenho, pois, por bom, por causa da instante necessidade, que é bom para o homem o estar assim. Estás ligado à mulher? não busques separar-te. Estás livre de mulher? não busques mulher. Mas, se te casares, não pecas; e, se a virgem se casar, não peca. Todavia os tais terão tribulações na carne, e eu quereria poupar-vos. Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem...” “E bem quisera eu que estivésseis sem cuidado. O solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor; Mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher.” 
I Coríntios 7.25-29 e 32-33
   
      O pensamento de Paulo sobre sexo fica bem claro no texto inicial, é importante notarmos a honestidade dele quando começa o ensino dizendo “não tenho mandamento do Senhor, dou, porém, o meu parecer”. Eu já cheguei a um entendimento que ouço a voz do Espírito Santo indiferente do que uma leitura rasa da Bíblia diz, mas mesmo os que só têm fé para entender e obedecer a Bíblia ao pé da letra concordarão que a orientação não é o que Paulo entendia como de Jesus, mas dele, ainda que para muitos a orientação de Paulo possa ter o mesmo peso que a de Jesus por estar na Bíblia. Mas é sensato compreendermos que o ensino não é uma lei, mas apenas uma orientação, que pode ser seguida com sabedoria. Qual é o parecer de Paulo? Se alguém tiver feito uma aliança de casamento, mantenha-se nela, mas se não tiver, não a faça, é mais fácil obter a espiritualidade na condição de solteiros.
      Para mim, com sessenta anos de idade e com um bom casamento de mais de vinte anos, talvez seja mais fácil dizer aos jovens, se puderem, permaneçam solteiros, e não me entenda mal, mas os anos nos “acalmam” e na maturidade muitas coisas ganham mais importância que o prazer de uma relação sexual. Hoje posso me dar ao luxo de focar minhas energias em orar, estudar a Bíblia, ler bons livros, enfim, me aprofundar em cultura e espiritualidade, sem que meus instintos me empurrem para querer, buscar e achar “namoradas”. Jovens, creiam em mim, envelhecer é uma bênção. Paulo escrevia como alguém maduro, resolvido como homem, não sabemos pela Bíblia sobre a vida conjugal do apóstolo-teólogo, mas se apresenta em seus textos como alguém com quem Deus pode contar, com o tempo e com as capacidades, intelectuais, sociais e espirituais, de um chamado para uma missão para lá de especial no cristianismo, só superada pela do próprio Cristo.
      Todavia, o que Paulo orienta não é fácil para os jovens, principalmente para os jovens de hoje, numa sociedade que prega sexo sem culpa sempre e para todos, que disponibiliza fantasias gratuitas a qualquer hora e lugar no aparelho celular, que oferece controles seguros de natalidade e de proteção contra doenças sexualmente transmissíveis, e onde se tem liberdade para ir e vir mesmo sendo jovem (obviamente fora de um ambiente de pandemia como temos vivido nestes dias). E se os tempos são outros, em relação aos meus tempos de juventude ou dos tempos de meus pais, são outros completamente diferentes em relação aos tempos do apóstolo Paulo e da sociedade para a qual ele falava, que legalizava escravos, tinha a mulher como ser inferior ao homem e que pouco valor dava a crianças e adolescentes. 
      Mas a declaração reveladora de Paulo e que tem certa dificuldade de ser colocada em prática em vista dos papéis de homem, mulher e casamento atualmente na sociedade, é a seguinte: “o solteiro cuida das coisas do Senhor, em como há de agradar ao Senhor, mas o que é casado cuida das coisas do mundo, em como há de agradar à mulher”. Hoje o solteiro tem muito mais liberdade e facilidades, como dissemos acima, de servir a ele mesmo, tanto no esforço de se preparar melhor para uma independência econômica, estudando e trabalhando, como nas possibilidades de diversão e entretenimento, e nisso sexo é algo prioritário. Assim, ao meu ver, hoje o entendimento é o contrário daquele que tinha Paulo, e também como dissemos acima, o mais maduro, os não tão jovens, têm bem mais oportunidades de servirem a Deus, principalmente se já tiverem tido um bom casamento. 
      O homem moderno pede um evangelho interpretado pelo Espírito Santo que satisfaça necessidades diferentes das elencadas não Bíblia, por diversos motivos. Homem e mulher têm as mesmas oportunidades de estudar, trabalhar e se casar, ninguém é dono de ninguém, não existe o conceito de submissão, mas de respeito mútuo e igualdade, e ambos, se ficarem solteiros, podem ter vidas de independência econômica sem qualquer vínculo financeiro ou hierárquico com pais. Assim, ninguém serve melhor a Deus porque não se casa, aliás, o evangelho só atualmente está podendo ser compreendido em toda a sua abrangência libertária, algo que sempre esteve no coração de Deus, mas que só em nossos dias o Espírito Santo tem tido liberdade de ensinar. Essa abrangência diz que todos somos chamados a conhecer a Deus e a servi-lo, isso não depende de se ter um ministério específico e exclusivo ligado a igrejas, podemos exercer chamadas dentro de vidas profissionais seculares, casados e administrando família. 

      “A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. Não vos priveis um ao outro, senão por consentimento mútuo por algum tempo, para vos aplicardes ao jejum e à oração; e depois ajuntai-vos outra vez, para que Satanás não vos tente pela vossa incontinência. Digo, porém, isto como que por permissão e não por mandamento. Porque quereria que todos os homens fossem como eu mesmo; mas cada um tem de Deus o seu próprio dom, um de uma maneira e outro de outra. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas, que lhes é bom se ficarem como eu. Mas, se não podem conter-se, casem-se. Porque é melhor casar do que abrasar-se.” I Coríntios 7.4-9

      A Bíblia e as tradições cristãs, muitas ainda católicas, mesmo no meio protestante e evangélico, precisam ser desmitificadas, à luz e na autoridade do Espírito Santo de Deus, refletimos bastante a respeito em “Reavaliemos nossas crenças”, mas a interação entre sexo e espiritualidade talvez seja o tema mais importante nessa reavaliação. Muitos se espantariam ao saber o que Deus de fato pensa sobre sexo, que em poucas palavras é, Deus não dá para sexo tanta importância como damos. Deus se importa, sim, com alianças, e santidade nada mais é que ser fiel a alianças. Por isso Paulo diz que o que foi chamado solteiro ou ao que está viúvo, que assim permaneça, quem não estabelece aliança não pode quebrá-la, mas isso não é estar legal e religiosamente solteiro, enquanto se mantém vida sexual ativa e com mais de um parceiro, isso é promiscuidade tanto quanto é adultério para casados.
      Nesse caso a aliança que se quebra é com o próprio corpo (I Coríntios 6.16), e se alguém disser que não está tendo relação sexual com profissional do sexo porque não está pagando, saiba que todos que fazem sexo só por prazer, sem aliança de fidelidade, se prostitui, ainda que não pague ou que receba pagamento por isso. Vivemos numa sociedade onde muitas pessoas, incluindo muitos jovens, se prostituem uns com os outros, e fazem isso sem culpa. A consequência são os filhos que nascem de relações sexuais e não de relações conjugais, criados sem famílias, só por solteiros imaturos, ainda que já velhos. Enfatizo que aqui não estou pregando qualquer padrão tradicional de família, meus queridos, para Deus isso não importa, família é aliança mantida com fidelidade, sejam os parceiros do sexo que forem, aceitem isso, amados cristãos.
      Santidade é origem e fim da verdadeira espiritualidade do Espírito Santo do Deus altíssimo, defino espiritualidade assim porque o termo espiritualidade é bastante usado por muitos, que conhecem o mundo espiritual e que interagem com ele, mas santidade é uma característica que só possui a espiritualidade de Deus. Muitos são espiritualistas, espiritualizados, mas não são de fato santificados, assim não são espirituais, porque só o nome de Jesus pode nos limpar de todo o pecado e nos selar com o Espírito Santo, e a verdadeira espiritualidade é o Espírito Santo, não outros espíritos, entidades, anjos, arcanjos, diabos, demônios etc. Mas existe algo que mais faz com que sintamos que perdemos a santidade que uma experiência errada com sexo? Podemos nos limpar em várias áreas, nos abstermos de bebidas, de ira, de vaidades, mas tentação a sexo errado é algo que nos acompanha o tempo todo, e basta um deslize e caímos. 
      Como cristãos genuínos filhos de Deus em Jesus o segredo é: nunca deixemos de chamar pecado de pecado, nunca menosprezemos a culpa, peçamos perdão por algo que sabemos que fizemos e que não é correto, nem porque magoamos alguém, nem porque alguém sabe, mas porque ferimos a nós mesmos e ao Espírito Santo. Deixemos claro em nossas mentes e em nossas sentimentos que algo é errado, que não queremos mais fazer e que em Jesus somos totalmente perdoado, façamos isso sempre que for preciso. Contudo, achemos em Deus o prazer maior, remédio para todas as faltas de atenção que os homens nos deram, para todas as calúnias que tantos muitas vezes fazem sobre nossas vidas, o Espírito Santo pode nos dar uma paz maior e única que não deixará que as mágoas fiquem em nós, nem as injustiças com que tantos nos tratam. Sem dor não buscaremos em sexo um vício, e desejaremos mais e mais estarmos próximos a Deus, nisso conheceremos a verdadeira espiritualidade.
      Pessoalmente não acho casamento e sexo problemas para a espiritualidade, de maneira alguma, somos almas partidas, não conseguimos ser sós, temos necessidade do outro, há em cada um de nós uma necessidade implícita de nos “casarmos”, começando pelos nossos corpos, senão seríamos hermafroditas. Ainda que muitos escolham viver só, Deus sabe deles e os abençoe, nada nos amadurece mais que partilhar a existência com alguém, criar filhos com esse alguém, além de nos evoluir nos protege e nos faz proteger, é bênção de todos os lados. Novamente enfatizo o ponto de vista do “Como o ar que respiro”, que não interessa como seja esse casamento, com papel ou sem, não importa cerimônia religiosa, com ou sem, ainda que se puder haver isso é bom, mas também não importa sexualidade, dessa maneira ou “daquela”, criando filhos biológicos ou não. Tudo isso não faz nenhuma importância para Deus e nem nivela espiritualidade, fidelidade às alianças em comunhão com o Deus Altíssimo, isso é que importa. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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