25/11/20

56. Espíritos

Espiritualidade Cristã (parte 56/64)

      “E o Espírito do Senhor se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do Senhor.I Samuel 16.14

      Antes de iniciarmos uma reflexão sobre espíritos, algo importante para se entender dentro do tema Espiritualidade Cristã, façamos um rápido resumo sobre a história de Saul. Israel queria um rei, mas o profeta Samuel disse que isso não era a vontade de Deus, na insistência do povo, Deus deu a Israel um rei, conforme o coração do povo. Saul era um homem de boa aparência, tinha suas qualidades, mas desobedeceu o Senhor, Deus mandou que ele destruísse totalmente um inimigo e não ficasse com os despojos, mas ele não seguiu a ordem, assim perdeu direito ao trono. Deus, então, levanta Davi como novo rei, um homem de aparência mais simples, mas de muitos talentos, com um coração adorador e com uma unção diferenciada, é nesse momento da história que o versículo inicial é citado. Entre o momento que Saul perdeu a legitimidade como rei até o momento que Davi assumiu como o novo rei, um tempo se passa, e é nele que podemos estudar todo o processo de degradação do homem Saul. 
      O ponto desta reflexão são os usos da palavra espírito, citados no versículo inicial (se possível leia todo o capítulo 16 de I Samuel): um se refere ao Espírito do próprio Deus, o outro é um ser espiritual rebelde, do mal, das trevas, mas conforme o texto, vindo da parte do Senhor. Se as pessoas entendessem a verdade ensinada nesse texto, tanto cristãs como não cristãs, perceberiam como interpretam erradamente o mundo espiritual, Deus e o diabo, luz e trevas, bem e mal. O plano espiritual não é um campo de batalha, com duas forças iguais e antagônicas, numa guerra eterna, que influenciam o plano físico cada uma à sua maneira. Deus é soberano, acima de tudo e todos, presente em todos os lugares, com autoridade sobre tudo e todos, sempre! O diabos, os anjos caídos, os demônios, ou seres espirituais rebeldes que um dia tiveram oportunidade de livre arbítrio e que escolheram não estar em comunhão com Deus, nos melhores e mais elevados lugares espirituais de luz, estão absolutamente subordinados a Deus. 
      Qual é então a diferença entre esses diabos e os outros seres espirituais, os de luz e do bem, que chamamos de anjos, arcanjos, querubins, serafins? Os seres da luz existem em perfeita harmonia com o Deus Altíssimo, são responsáveis por diversas tarefas, mas sempre, conforme entendemos pela teologia cristã tradicional, para abençoar os homens. Os seres das trevas podem “pensar” e desejar o mal, contudo, só podem fazer o mal em primeiro lugar sob autorização de Deus, e em segundo lugar através de obras, que nós homens fazemos, para as quais damos a eles o crédito. Por causa de suas índoles, diabos e demônios são responsáveis por testar e atormentar os homens, fazem o serviço “sujo”, digamos assim, mas ainda assim sob ordem de Deus. O diabo não tem corpo físico, dessa forma não pode andar pelo mundo, mas ele pode conversar conosco e tentar nos convencer a fazer o mal no mundo e aos outros homens, assim podemos ser ferramentas do diabo no plano físico. 
      Por que Saul era atormentado por um mau espírito? Não penso que a resposta para isso seja simples, a princípio ele negou a comunhão do Espírito de Deus, o que o deixou frágil para um ataque contrário. Mas não foi só o caso dele ter quebrado uma aliança com Deus, e então, em represália, Deus ter enviado um espírito mau para lhe atormentar. Toda a situação de desobediência de Saul destruiu sua sanidade, suas referências de certo e errado, de amigo e de inimigo, a prova disso é que mesmo Davi, que a princípio era alguém que ele gostava (I Samuel 16.22), depois tornou-se, pelo menos na cabeça de Saul, seu inimigo. Davi teve temor a Deus e respeitou Saul até sua morte. Na vida de Davi podemos ver um outro aspecto sobre espírito, Davi tinha uma unção espiritual especial, e era isso que conferia às suas expressões artísticas, seja no tocar do instrumento ou na composição de salmos, que já eram frutos de um talento humano especial, um poder curativo. 
      Enquanto Saul teve sua alma ferida por causa de seu orgulho espiritual, Davi teve a alma ungida, um experimentou enfermidade, o outro, arte. Incrível como Deus reuniu numa mesma história duas pessoas tão contrárias, e ambos com características semelhantes, dentre elas a espiritualidade. Sensibilidade espiritual é uma faca de dois gumes, pode tanto discernir a voz de Deus, quanto outras vozes, sejam de ecos negativos da própria mente ou de espíritos maus. Isso nos ensina que pessoas com um dom espiritual, com uma chamada de Deus especial, se não forem obedientes ao Senhor podem provar uma força contrária e semelhante, que ao invés de conferir unção de Deus, entrega tormentos e mesmo doenças, principalmente mentais. A música de Davi era terapêutica para Saul, e essa ironia, onde alguém acha justamente no principal oponente o remédio para seu tormento, é só parte de uma história bíblica complexa, e mais sofisticada que muito romance literário. 
      Mas podemos entender que Saul ficou psicótico, o que começou como arrogância, como uma má administração dos direitos reais que tinha, acabou por levá-lo a desobedecer a Deus, a perder direitos e finalmente a transtornos mentais. Algo que devemos aprender na história de Saul é que o entendimento das passagens bíblicas pode não ser algo fácil, simples e rápido. Sim, podemos fazer uma interpretação mais simplificada, numa primeira leitura, que já nos ensina algo. Deus em seu grande amor pelos homens permite ensinos mais simples para aqueles que por um motivo ou outro não se aprofundam na Bíblia, mas se estudarmos um pouco mais poderemos ver além da superfície. Entender, no texto de I Samuel 16, que Deus simplesmente envia um mal para atormentar alguém não penso que seja o mais correto, o livre arbítrio humano coloca a misericórdia do Senhor no limite, assim certas portas só são abertas quando o homem insiste e muito em fazer algo errado. 
      O mal maior, a vergonha maior, a queda no buraco mais fundo, nunca ocorre na vida de alguém de um dia para o outro, e isso é devido, repito, principalmente ao amor e à misericórdia de Deus, que tenta de toda maneira recuperar o homem, salvá-lo, principalmente alguém como Saul que recebeu do Senhor uma honra tão grande. Contudo, o exemplo de Saul é pra lá de emblemático, como alguém que começou tão alto caiu tão baixo? O final da vida de Saul foi humilhante (I Samuel 31.4-6), se suicidou, talvez não exista fim mais covarde e incrédulo para o ser humano. O certo é que ter a instalação de um “mal espírito”, seja isso algo espiritual ou psiquiátrico, quando não se tem um problema congênito ou efeito de uma longa vida de erros, antes, um bom berço e boas oportunidades na vida, é algo sério, uma situação quase que irremediável de perdição ainda no mundo, tenhamos a humildade para nos acertar antes que isso possa ocorrer.
      A história de Saul é de fato muita rica para aprendemos sobre “espíritos”, além das três abordagens que fizemos acima, o Espírito de Deus, um espírito mau sobre Saul e o Espírito Santo sobre Davi, tem ainda a consulta de Saul à profetiza de En-Dor (I Samuel 28). Refletimos nesse tema no estudo “Reavaliemos nossas crenças”, assim não vou me aprofundar nele desta vez, mas o acontecimento só reforça a ideia da relevância que Saul dava para a espiritualidade, e ainda na desobediência a Deus e após a morte do homem que era boca de Deus em sua vida, o profeta Samuel, ele tentou esse meio para achar conhecimento, ainda que para acessar fins polêmicos dentro da teologia cristã. Interessante que o mesmo homem que consultou uma médium espírita teve o tormento de um espírito mau, isso pode revelar uma porta que o próprio Saul deu legalidade para ser aberta em sua vida, que quando mexeu com coisas proibidas pagou um preço caro.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

24/11/20

55. A verdade sobre o mundo espiritual

Espiritualidade Cristã (parte 55/64)

      A verdade sobre o mundo espiritual é que nele existem seres espirituais que por algum motivo são rebeldes ao Deus altíssimo. Nessa afirmação temos que entender várias coisas para podermos enxergar a verdade, a primeira coisa é que existe um Deus altíssimo. Esse Deus não está em conflito com ninguém, nem se iguala em tamanho e altura a ninguém, seja na pureza de sua luz espiritual, nas virtudes de sua essência moral e no controle que ele tem sobre tudo, em todos os planos, espiritual e físico, e em todos os tempos (estudamos sobre isso em “Deus e o diabo”). Não existem no universo dois poderes numa batalha eterna, bem contra o mal, ou luz contra as trevas, a batalha existe dentro dos seres humanos e esses podem permitir a vitória de um lado ou de outro dentro deles, através do livre arbítrio. Essas escolhas afetam a eles e a seus próximos, mas não o universo e muito menos a Deus, ainda que o Altíssimo possa permitir que exércitos da luz lutem contra exércitos das trevas para beneficiar um ser (Daniel 10.11-13).
      A segunda coisa a saber é que existem seres espirituais não encarnados, que podem estar ou não em comunhão com o melhor de Deus (leia mais em “Desvendando o verdadeiro mundo espiritual”), assim, quando alguém se prontifica a se comunicar com o mundo espiritual há varias possibilidades, pode-se fazer contato com seres de índoles distintas (I João 4). Falar com os mortos não foi proibido porque não pode ser feito, mas porque não deve ser feito, essa é a opinião desse que vos escreve (falamos a respeito em “Comunicação com mortos...”). Por que não deve ser feito? Porque pode-se incorrer em muitos erros, e o principal deles é se desviar do Espírito Santo que através da salvação em Cristo é o meio autorizado por Deus para todas as pessoas saberem e viverem as verdades espirituais. Para ser sincero eu não creio que seja só isso, mas creio que isso seja a vontade de Deus segura e eficiente para salvar qualquer homem, em qualquer tempo, indiferentemente de seus conhecimentos, cuidados ou experiências. 
      A terceira coisa a saber é sobre alguns seres espirituais especiais, que nunca se encarnam, são mais que demônios menores, são príncipes, grandes diabos, anjos ou arcanjos caídos, rebeldes de alguma maneira ao Deus Altíssimo. Esses, em algum momento, também tiveram oportunidade de escolha, mas não puderam, depois disso, mudar o efeito dessa escolha. Eles possuem, do próprio Altíssimo, liberdade de ação em diversas instâncias, mais que isso, são ferramentas de Deus, e nunca semelhantes a ele de maneira alguma, visto que são criaturas e não criadores. O início da história de Jó é o melhor exemplo disso (Jó 1 e 2), Satanás pedindo permissão a Deus, depois de andar pela Terra, e Deus permitindo que ele tirasse coisas de Jó, não foi Deus quem tirou diretamente, mas o Diabo, que tocou os bens, a família e a saúde física de Jó. Podemos entender com isso que o diabo é a ferramenta de Deus para o serviço “sujo”? Mas se for isso sua existência é útil aos propósitos divinos de alguma maneira, ou não (Deuteronômio 32.39)? 
      Citar a serpente no Éden como exemplo de Deus usando o diabo, pode tocar em assunto polêmico para muitos, se alegarmos que mais que ser instrumento de tentação, que só testou o livre arbitro dado ao homem pelo próprio Deus, a própria queda que adveio da desobediência foi “vontade“ do Altíssimo. Se Deus tudo sabe, ele já sabia que o homem iria cair na tentação. Será que podemos dizer que o diabo foi instrumento de Deus para que a humanidade tomasse o caminho que tomou? Seja como for, o que precisamos entender é que o mundo espiritual pode ser bem complexo para os que forem além daquilo que o cristianismo tradicional recomenda, e o conhecimento disso é o que muitos chamam de elevada espiritualidade. Contudo, aliado a isso, pelo menos em muitas religiões e visões espiritualistas, espiritualidade está numa vida de abstinências materiais, que para muitos é condição sine qua non para se receber conhecimentos espirituais, para se ser digno das revelações dos grandes mistérios. 
      Não é só ser um bom cidadão, trabalhador honesto, tolerante com todas as diferenças e praticante de caridade para com os mais necessitados, é experimentar uma vida de sacrifício no corpo, “refrear” a carne para libertar o espírito. Todavia, o início dessa reflexão foi a afirmação de uma verdade, e tão importante quanto saber que existe um Deus, que se estivermos em comunhão com ele pode nos abençoar, é saber sobre a rebeldia de seres poderosos. Essa rebeldia não é só aprovada por nós quando de alguma maneira agradamos mais a nós, a nossa carne, que a Deus e aos outros, não, pessoas em íntima comunhão com os grandes príncipes rebeldes espirituais podem viver existências de privações e caridade, e ainda assim serem rebeldes com o Deus Altíssimo. Por que levantei esse tema no estudo “Espiritualidade Cristã”? Porque para muitos espiritualidade pode ser mais uma armadilha que encarcera e faz retroceder, que uma fonte de águas vivas que renovam, curam e permitem evolução espiritual.
      “Portanto, não os temais; porque nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se. O que vos digo em trevas dizei-o em luz; e o que escutais ao ouvido pregai-o sobre os telhados. E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mateus 10.26-28), viciar-se nos apetites carnais pode matar o corpo, contudo, a espiritualidade dos príncipes espirituais rebeldes pode matar o espírito, porque nega o Espírito Santo, peca contra ele, não aceita o caminho reto de Cristo e desvia-se do Deus Altíssimo para os falsos deuses. Tenhamos cuidado com as armadilhas desses “anjos” caídos, e eles podem influenciar mais que vidas individuais, mas sociedades inteiras, toda uma civilização, através de ideologias que fazem a cabeça de líderes intelectuais, sociais, políticos e religiosos. O homem de bem, contudo, sempre terá a chance de fazer a escolha certa, terá uma visão lúcida de tudo, para esse nunca se apagará a luz de Deus. 
      Nosso exemplo maior e completo de espiritualidade é Jesus encarnado, não o que ele sempre foi como Deus, esse é nosso salvador e Senhor, mas como ele viveu no mundo desprovido de poderes divinos. O que muitos não entendem é que o ministério do Espírito Santo não é nos fazer deuses, com poderes para operar atos extraordinários, seu ministério é nos ensinar a ser homens, como foi Jesus encarnado. Mas sim, para aqueles que buscarem de Deus mais que vaidades e satisfação de necessidades materiais, o Espírito Santo pode revelar mistérios acima de qualquer conhecimento que obtêm magos e espiritualistas com os grandes anjos rebeldes, mas mistérios com a autorização do Altíssimo pelo poder de Cristo o redentor eterno. Assim, anime-se, espiritualidade é ouvir a voz de Deus que nos entrega o real sentido da vida, os simples e humildes a acharão e serão muito felizes, não para exibirem isso aos homens, a eles basta nossa prática de vida em amor e paz, mas para nos prepararmos para a eternidade que é plenamente espiritual. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

23/11/20

54. Onde está teu Deus?

Espiritualidade Cristã (parte 54/64)

      “E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.Gênesis 3.8-10

      “As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?Salmos 42.3 

      “Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e crê-lo-emos. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus.Mateus 27.42-43

      Talvez essa seja a maior e mais determinante tentação que os filhos de Deus devam passar para que possam reagir do modo realmente espiritual, responder a uma pergunta: “onde está o teu Deus”? Qual a resposta certa? Nenhuma. Os que não conhecem a Deus em profundidade, e mesmo alguns que são seus filhos, levantam a voz e defendem seus pontos de vista, ainda mais quando eles se referem a confiar em Deus acima de tudo, mas será que uma resposta mais enfática tem alguma eficácia para quem faz uma pergunta como essa? Penso que não, por vários motivos, não somente pela dureza de coração de quem nos afronta, mas também pela situação de debilidade que podemos nos achar.
      O salmista diz, “minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite”, quem responde numa atitude ativa e defensiva se coloca no ataque, como forte, e não deve estar chorando com o questionamento incrédulo, cínico e injusto que lhe fazem. Se o salmista estava quebrantado era porque sabia que não adiantava responder, que estava só e fragilizado diante de grande insolência. Pode parecer fraqueza, mas diante de um confronto tão cruel, que pode vir geralmente quando estamos passando pela pior situação de sofrimento e vulnerabilidade, só nos resta olhar para Deus e nos humilhar, não é momento de levantar a voz, não é momento para nos defender ou defender àquele que nos defende, o Senhor.
      Quem enfrentou o pior exemplo dessa situação e da maneira mais espiritual foi Cristo na cruz, a ele disseram em sua pior hora, “confiou em Deus, livre-o agora se o ama”, parece difícil ouvir essas palavras? Mas muito pior foi para Jesus, e ele ouviu e se calou. Não, calar-se em momentos de grandes afrontas não é disposição de enfraquecimento, por isso tantas vezes procuramos palavras em certas situações e não achamos, os argumentos nos faltam enquanto o incrédulo e cínico destila sua injustiça com prazer, assistindo nossa humilhação. Se nosso Senhor passou humilhação pela justiça, por que os que dizem segui-lo não passariam? “Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (João 15.20b).
      Precisamos entender, contudo, que não deve ser uma humilhação por algo errado que fizemos, nesse caso ainda menos razão temos para responder à injúria, mas nos calarmos diante de uma afronta estando nós de fato testemunhando da justiça, aí sim, pode ser uma ferramenta poderosa nas mãos de Deus. “Porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (II Coríntios 12.9b), sim, nesse caso, nossa fragilidade pode ser usada para demonstrar o poder de Deus. Foi exatamente isso que ocorreu na morte de Cristo no calvário, Deus dando vida à humanidade à medida que seu filho morria, eis o conceito antagônico do plano espiritual em relação ao físico apresentado em seu apogeu. 
      Interessante que o silêncio de um justo compensou o silêncio dos pecadores originais no Éden, “e ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia, e esconderam-se”, os pecadores com noção de suas condições fogem do santíssimo, e isso ainda é algo bom, mostra que o coração não se cauterizou. Contudo, vivemos tempos que ainda erradas as pessoas se acham no direito, de enfrentarem a justiça, aos justos e ao santo Deus. Uma geração que acha que tem o direito de levantar a voz e defender posicionamentos sempre, afasta-se de Deus, fortalece-se no reino dos homens, mas enfraquece-se para ter direitos no reino da luz à medida que se rende ao reino das trevas.
      “Onde está o teu Deus?”, se alguém te perguntar isso, respire fundo, pense um pouco, não se apresse em responder, muitas vezes você não deverá responder nada, porque não adianta e porque Deus pode usar isso para julgar a dureza de coração das pessoas. Que a insolência do louco ecoe no teu silêncio e retorne a ele, para o fundo de sua alma, e fique lá, e o leve a responder a si mesmo à medida que lembre das vezes que Deus lhe falou e ele não quis ouvir, negou aquele que poderia lhe dar vida eterna. Deus pode usar nosso silêncio, muitas vezes muito mais que nossas palavras, afinal quem tem que brilhar é Deus, não nós, quem tem que convencer é o Espírito Santo, não nós, quem salva é aquele que se calou na cruz, não nós.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

22/11/20

53. Três testes para a espiritualidade

Espiritualidade Cristã (parte 53/64)

      “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo. E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre.
 I João 2.15-17

      “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela. Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais.”
 Gênesis 3.6-7

      “Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
      Então o diabo o transportou à cidade santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, E disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te de aqui abaixo; porque está escrito: Que aos seus anjos dará ordens a teu respeito, E tomar-te-ão nas mãos, Para que nunca tropeces em alguma pedra. Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.
      Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos, e o serviam.” 
Mateus 4.1-11

      Essa abordagem não é nova, mas achei interessante trazê-la a esse estudo sobre espiritualidade, ela diz que em todas as tentações que sofremos, basicamente, três coisas são testadas em nós. Ela resumi todos os “testes” que o mal nos faz a essas três coisas, partes de uma estratégia que esteve presente na tentação de Adão no Éden, assim como na tentação de Cristo no deserto. As três coisas são: concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e a soberba da vida, que confrontam gradativamente o ser com o mal. Concupiscência, é cobiça de bens materiais ou anelo de prazeres sensuais, é dar lugar aos instintos carnais do homem, carnal no sentido físico, do corpo, que a princípio nada tem de errado, mas que pode se tornar “carnal” no sentido pecaminoso. A carne se torna “carnal” quando valores mais altos são relegados em favor dos mais baixos, quando o físico ou o emocional ganham prioridades sobre o espiritual, quando o ser humano perde o equilíbrio entre suas partes, o corpo, a alma e o espírito. 
      Moisés, no texto de Gênesis, define os conceitos denominados por João o evangelista em sua primeira carta, assim há uma correspondência entre eles. O fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal é bom para comer, o que tenta a concupiscência da carne, mas ele também é agradável aos olhos, o que tenta a concupiscência dos olhos, finalmente é desejável para dar conhecimento, que tenta a soberba da vida. Uma testa o corpo, a outra a alma e a última o espírito. Na tentação de Cristo também há uma correspondência entre as três coisas, na sugestão dada a Cristo para que ele transformasse pedras em pães é tentada a concupiscência da carne, na sugestão que ele se lançasse do pináculo do templo é tentada a concupiscência dos olhos, e na possibilidade de ter tudo o que quisesse é tentada a soberba da vida. O corpo é tentado com às necessidades básicas de sobrevivência, a alma com as vaidades aparentes que vão além dos instintos primordiais, o espírito com a necessidade de ter poder sobre tudo. 
      A concupiscência da carne tenta o querer imediato, a concupiscência dos olhos o ter para mostrar aos outros, e a soberba da vida tenta o ser, que estrapola o plano físico e quer dominar o espiritual. Querer, ter e ser, eis a evolução daquilo que é tentado em nós pelo mal, vemos claramente na sociedade pessoas de níveis financeiros e culturais diferentes desejando coisas distintas. Os mais pobres só querem trabalho para se alimentarem, se vestirem e terem onde morar. Acima desses, aqueles que ganham o suficiente para o básico mais alguma coisa, não se satisfazem só com comer, vestir e morar, querem comer algo mais caro, vestir algo mais chique, morar numa casa melhor, ter mais de um carro. Para que, para satisfazer necessidades? Não, passaram desse ponto, querem mostrar aos outros que são melhores, no campo material, mas também usam o que têm a mais que os mais pobres para consumir cultura e informação, e isso também é vaidade, o primeiro passo para a soberba da vida no campo intelectual. 
      Finalmente vemos os mais perigosos, que já têm tudo o que precisam e mais um pouco, tanto na área material quanto intelectual, esses querem ser, ser o quê? Serem adorados, querem ser deuses. Vemos políticos, empresários, artistas e outros nesse nível de tentação. Não há nada de errado em ser rico, político ou artista, mas alguns acham prazer na proeminência social que essas posições dão e se viciam nesse prazer, proeminência que é simples efeito de uma causa. Quando se faz um bom trabalho é natural que sejamos elogiados por isso, que ganhemos mesmo alguma fama por isso, mas a fama é algo perigoso, que deve ser administrado com lucidez e humildade. Muitos conseguem vencer a tentação nos dois primeiros testes, não se vendem por um prato de comida nem querem aparentar só para parecerem melhor que os outros, contudo, caem diante da soberba da vida, a pior das tentações porque corrompe mais que corpo e alma, corrompe o espírito e leva o homem a invejar a Deus. 
      Assim, a fama, que deveria ser mero efeito de quem é competente, passa a ser o objetivo final, quando as pessoas não querem mais fazer algo bem feito, querem ser adorados por isso. Veja que nas duas primeiras tentações a queda numa tentação só prejudica a própria pessoa, quando ela troca o prazer de um fruto por uma virtude, ou troca a exibição da aparência do fruto pelo amor sincero dos outros, sim, porque o que sucumbe à concupiscência dos olhos se afasta das pessoas porque se acha melhor que elas. Na terceira tentação, contudo, as pessoas querem se aproximar das outras, mas para dominá-las, e fazem isso mentindo, enganando. Quem quer o lugar de Deus toma o lugar de Lúcifer e esse não tem escrúpulos para obter seus objetivos. A soberba da vida quer o conhecimento de Deus sem ser Deus e sem ter o Espírito Santo dentro de si. Infelizmente muitos pastores, pregadores e cantores evangélicos caem nessa tentação, viciam-se em fama e poder, e querem adoradores, não irmãos ou ovelhas. 
      Como o diabo que dizemos ser o pai da mentira, um ser das trevas, que incentiva o mal, conhece tão bem o ser humano? Na verdade precisaríamos rever muitas de nossas crenças, incluindo o que achamos ser o diabo e entender melhor o que é bem e mal, luz e trevas, e todas as implicações disso tudo na nossa moralidade. Não é o ponto aqui, mas resumindo, esse assunto não é tão simples como muitos acham que é, contudo, o que de fato precisamos saber é: o melhor caminho, o que traz a paz que permanece e o amor que une, é aquele que olha para o Deus altíssimo através de Jesus. Esse caminho nos afasta do diabo e de todas as suas estratégias, que não são de maneira alguma burras ou levianas, porque na minha opinião são autorizadas por Deus. Se como já foi dito nesse estudo, o diabo é responsável pelo serviço sujo, ele também é responsável pelos testes, não é o que ensina, mas pode ser o que aplica as provas, se for isso ele não é um oponente que contribui para o caos, mas parte do grande sistema, que confere a ele, equilíbrio. 

      “E aconteceu que, tendo decorrido um ano, no tempo em que os reis saem à guerra, enviou Davi a Joabe, e com ele os seus servos, e a todo o Israel; e eles destruíram os filhos de Amom, e cercaram a Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém. E aconteceu que numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista. E mandou Davi indagar quem era aquela mulher; e disseram: Porventura não é esta Bate-Seba, filha de Eliã, mulher de Urias, o heteu? Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela (pois já estava purificada da sua imundícia); então voltou ela para sua casa.
II Samuel 11.1-4

      Cada teste é perigoso para cada um de nós no nível de espiritualidade que estivermos. Muitas vezes é melhor termos vidas simples se podemos dar conta só do primeiro teste, simples mas humildes. Em outros casos, ainda que tenhamos competências, é melhor permanecermos discretos e não adquirirmos fama, se ela for uma tentação muito forte para nós, que nos leve a querer uma glória que é de Deus, não nossa. Melhor entrarmos no céu com só um olho que com dois formos ao inferno (Mateus 18.9). Muitos podem não acreditar, mas como existem pessoas que fazem o que fazem só porque querem ser amadas, e se essa carência for muito grande e muito mal resolvida as pessoas poderão ser motivadas para alcançarem posições elevadas no mundo, só para terem a atenção do maior número de pessoas possível. Muitos ditadores e tiranos, levaram nações inteiras a guerrearem contra o mundo, só para saciarem uma terrível necessidade de adoração.
      Mas por mais inacreditável que pareça o desejo dessas concupiscências está latente no ser humano, o casal original sucumbiu aos três testes e eles não tinham nenhum motivo aparente para serem carentes, de nada. Tinham um jardim maravilhoso para viver e um pai, o melhor pai do universo, que cuidava deles bem de perto. Isso nos ensina que a culpa de nossos pecados não é de nossos pais, de nossa criação ou da sociedade, a culpa é nossa, todos temos livre arbítrio para fazer escolhas. Que espiritualidade podemos ter? Aquela que administrarmos do melhor jeito, simples assim, e entenda, aquela que lidarmos melhor com ela, será o jeito melhor de agradarmos a Deus, de sermos felizes e de fazer nossos próximos felizes. Deus não julga pela aparência, mas pelo coração. Muitos adquirirão o mais elevado nível de espiritualidade sendo pessoas simples e discretas, sem nenhum reconhecimento do homem (leia também sobre a tentação de Cristo em “A primeira tentação de Cristo”).
      Algo interessante sobre os três testes é que eles podem ocorrer em tempos e lugares diferentes, se no jardim do Éden foi testado o primeiro homem e no deserto o último, podemos achar na vida de Davi (II Samuel 11) o tempo e o lugar para testar o homem intermediário. Esses testes, esses tempos e esses lugares revelam mistérios profundos, são metáforas para as vidas de todos os seres humanos. Nosso primeiro teste ocorre no início de nossas vidas como adultos, é o que nos faz sair da idade da inocência e entrar na idade da razão, onde escolhas nos são apresentadas e fazê-las definirá nossas vidas. O último teste ocorre em nossas velhices, quando a paixão já tiver seca, quando nossas forças físicas estiverem diminuídas e consequentemente estivermos menos susceptíveis a cairmos nas tentações básicas da carne. Nesse momento, no deserto, poderemos ser confrontados com os conhecimentos espirituais mais profundos, que definirão nossa eternidade, mais próxima do que nunca de nós. 
      Mas o segundo teste ocorre no meio do caminho, quando já tivemos algumas vitórias e conquistamos, principalmente neste mundo, bens e posições. O segredo para não cair nessa tentação é não relaxar antes do tempo, se é que existe neste mundo um momento para relaxar, manter-se vigiando e lutando, é não se iludir com o passageiro. Davi pode ter caído porque achou que já tinha tudo e podia ficar em casa descansando, enquanto os outros lutavam, “numa tarde Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando... então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la, e ela veio, e ele se deitou com ela. Parece-nos que tudo foi tão fácil e rápido, mas esse é um exemplo típico de se estar no tempo errado, no lugar errado fazendo a coisa errada. Somos presas fáceis do pecado quando depois de muitos avisos desobedecemos não uma, mas várias regras, simplesmente porque queremos descansar antes do tempo.  
      Davi é o símbolo da glória maior do homem no plano físico, levou Israel, dentro da velha aliança, à sua melhor situação no mundo, como nação política, econômica e religiosa, mas como tudo que ainda não conhece a espiritualidade mais alta de Deus, sucumbe, e sucumbiu justamente na concupiscência dos olhos de Davi quando ele adulterou. Por misericórdia Deus não permitiu que o castigo maior viesse no tempo de Davi, nem de seu filho Salomão, que nasceu de sua relação adúltera, mas só no tempo de seu neto. Roboão não reinaria sobre as doze tribos unificadas por seu avó Davi, mas somente sobre Judá e Benjamim, reino que recebeu o nome de Judá, as outras dez tribos ficariam com Jeroboão que legaram o nome de Reino de Israel. É um ensino para todos nós, a desaprovação no segundo teste pode tirar de nós grande parte do direito de prosperidade que teríamos se fôssemos aprovados, seguiremos com algumas vitórias, mas aquém daquelas que originalmente Deus queria nos dar. 
      Mais que estarmos no lugar errado e com os sentimentos errados, podemos cometer um erro pior e perdermos tudo o que tínhamos conquistado até então, se perdermos a noção de tempo. Há tempo para descansar, e se for o tempo de Deus estaremos protegidos, por fora e por dentro, por fora pela providência divina, e por dentro pelo nosso próprio espírito já amadurecido e focado nas coisas do Espírito Santo e não da carne. “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus“ (Romanos 8.14), os que são guiados pelo Espírito de Deus têm noção do tempo, não se apressam em relaxar antes da hora, mas também não se mantêm fazendo esforços exagerados quando já deveriam descansar em Deus e ocuparem-se só com coisas espirituais. Pecam os que param de lutar antes do momento e também os que continuam lutando quando Deus mandou parar de lutar. Enfim, jardim, terraço ou deserto? Em que lugar e tempo estamos? Em quantos testes fomos aprovados a caminho da espiritualidade?

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

21/11/20

52. Permaneçamos no amor de Deus

Espiritualidade Cristã (parte 52/64)

      “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” Mateus 22.37-40

      “Como o Pai me amou, também eu vos amei a vós; permanecei no meu amor.” João 15.9

      “Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, Nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” Romanos 8.38-39

      Iniciei o estudo “Espiritualidade Cristã” com Mateus 22.37-40, ele tem um assunto em comum com João 15.9, o amor. Mateus resume a velha aliança de Moisés, obrigações do homem para com Deus e com seus semelhantes, o homem deve amá-los, mas João nos fala da maior motivação que Deus tem para buscar o homem, Deus ama o homem. Quer saber o que é a mais elevada espiritualidade, seja no plano físico ou no espiritual? É permanecer no amor de Deus. João resume tudo num único versículo, Deus amou a Jesus, Jesus nos amou e nós devemos ama-lo, quem ama permanece, tem comunhão, obedece, adora, conhece e dá testemunho disso, por amor e em amor. 
      É muito difícil entendermos o amor de Deus, assim como muitos de nós até hoje não entendem a obra de Jesus, estamos presos demais a uma religiosidade de barganhas, que acha que para ter favores de Deus precisa fazer favores a ele em troca, fé por milagres, dízimos por provisão material, assiduidade em cultos por algo que apazigue almas escravizadas a remorsos. O amor de Jesus não exige nada, só pede permissão para nos amar, e quem é amado se sente satisfeito, não corre atrás de vaidades ou de prazeres passageiros. O amor liberta, quem é amado não se sente só e quem ama não se sente vazio, o amor ilumina, abre a porta para o mais alto dos conhecimentos espirituais e nos coloca perto do Altíssimo. 
      O grande desafio que temos na vida é permanecer no amor de Deus, isso quando nós mesmos, os homens, o mundo, os espíritos rebeldes, todos estão sempre tentando nos tirar dessa posição. Estar nessa posição é ser espiritual, espiritualidade não é um lugar para se chegar, mas é uma posição para se estar. Quem pensa que tem que melhorar, caminhar por um longo tempo para agradar a Deus, nunca alcançará seu objetivo, pisamos a mais elevada posição espiritual pela fé, quando nos lavamos com o “sangue” de Cristo o cordeiro de Deus e permitimos que o Espírito Santo nos conheça e se deixe conhecer por nós, numa comunhão que levaremos à eternidade, que permite que nosso espírito volte para quem o criou. 
      Quem prova isso tem a vida transformada, toma da água da vida e nunca mais desejará outro líquido espiritual ou material para satisfazer, não o corpo e a alma, mas o espírito. Quem tem essa experiência já chegou no ponto espiritual mais alto, ainda que caminhe por esse mundo, ainda que mude, não perderá jamais a referência daquele que pode alimentar para sempre o espírito, uma riqueza que bem ou prazer nenhum desse mundo ou do outro pode superar. Esse conheceu o amor de Deus e não abrirá mão dele, antes ficará, até o fim, e não existe lugar melhor para se estar que no amor de Deus, isso é mais que conhecimento espiritual, que milagres físicos, que sinais e mistérios, é a própria pessoa do Altíssimo.
      Os espíritos rebeldes, chamemos-os dos nomes que forem, diabo, Satanás, demônios, anjos caídos, arcanjos caídos, enfim, seres espirituais que nunca escarnaram e que num momento do tempo tiveram autorização de Deus para exercerem livre arbítrio, são seres que não têm direito a nada, só ao inferno. Por isso quiseram fazer com que o homem se afastasse de Deus, para terem legalidade de entrar no lugar que nem Deus pode impedir que entrem, no coração do homem se esse autorizar. Esses seres não têm outro poder senão aquele que os homens delegam a eles, e Deus não pode ir contra o livre arbítrio que ele mesmo deu aos homens, pelo menos até o juízo final, por isso o diabo tem tanto interesse no homem. 
      Esses espíritos rebeldes não querem que o homem fique no amor de Deus, pois isso simplesmente os impedem de terem poder, de ocuparem espaço no mundo. O diabo conquista o mundo não com suas mãos e seus pés, mas com as mãos e os pés dos seres humanos, enquanto esses realizam, fora do amor de Deus, injustiça, egoísmo, intolerância. Contudo, ainda que defendendo os valores morais e espirituais mais altos, o diabo conquista espaço, e essa é sua estratégia final, negando a Deus, sua mais alta posição espiritual, sua onipotência, e principalmente, sua salvação pelo nome de Jesus. Quem nega a Jesus, nega a Deus e de maneira alguma pode provar o verdadeiro amor, sem esse amor espiritualidade é impossível. 
      Por todas as coisas pela quais devemos lutar, a mais importante delas é permanecer no amor Deus, nada falta aos que se colocam nessa posição, assim como ninguém toca os amados de Jesus. E entendamos certo, no amor não existe exigência de sacrifícios, mas só compartilhamento de misericórdia. Um bom casamento é a maior bênção que podemos ter nesse mundo, mas só no amor de Deus podemos ter, administrar e manter isso com equilíbrio e paz. Que percamos tudo, bens e aprovações de homens, mas no amor de Deus sempre estaremos tranquilos, protegidos, vitoriosos, e acima de tudo, preparados para a eternidade melhor de Deus, onde nós e Jesus seremos todos um só no eterno amor do Deus Altíssimo.

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

20/11/20

51. Adoração, porta para espiritualidade

Espiritualidade Cristã (parte 51/64)

      “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação. E, se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus. E falem dois ou três profetas, e os outros julguem. Mas, se a outro, que estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro. Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros; para que todos aprendam, e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas. Porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas as igrejas dos santos.” “Portanto, irmãos, procurai, com zelo, profetizar, e não proibais falar línguas. Mas faça-se tudo decentemente e com ordem” I Coríntios 14.26-33, 39-40

      Por adoração ser tão libertadora e simples é que o “mal” tenta desviar o cristão dela, seja impedindo que ele chegue a ela ou corrompendo-a depois que ele já a provou. Ele impede quando leva cristãos a crerem que liberdade emocional e exposição dela é fraqueza, ele corrompe quando convence muitos que liberdade emocional é o clímax da espiritualidade. Mas o que tem a ver liberdade emocional com adoração e espiritualidade? O ser humano é composto de três partes, o corpo, a alma e o espírito (refletimos sobre isso em “Mapa espiritual cristão”), a alma é composta de um centro intelectual e um centro emocional, ou mente e coração, bem, uma interação com Deus o experimenta nas três áreas, com respeito e equilíbrio. Assim negar uma parte é negar um ser humano completo, é aleijá-lo, é impedir que o ser humano tenha uma experiência completa com o universo, o mundo, as pessoas, Deus e o mundo espiritual. 
      Alguns se sentem mais confortáveis enfatizando o intelecto, essa área humana é mais contida, aparentemente controlada, mais ligada ao material e à ciência, cristãos que enfatizam isso darão preferência a igrejas protestantes mais tradicionais, que focam num estudo teológico de mais qualidade e que buscam entender Deus, o cristianismo e a Bíblia, de um jeito mais racional. Outros, contudo, se sentem mais confortáveis tendo experiências mais sensoriais com Deus, querem sentir e não têm nenhuma vergonha de mostrar isso aos outros, veja que as pessoas procuram aquilo que mais as protege, afirmam aquilo que elas querem ser e escondem o que elas não querem ser. Os emocionais buscarão igrejas pentecostais ou onde existe liberdade maior principalmente para o louvor, depois, para que busquem e provem dons espirituais, manifestação dos dons é quase que o efeito natural de uma adoração emocional livre. 
      Eu creio que todos, quando se convertem e são selados com o Espírito Santo, recebem dons espirituais, todos, mesmo aqueles que nem creem que dons existam, o que acontece, que pode ser no momento da conversão ou anos depois após muita busca, é a conscientização emocional dos dons. É nela que os dons se manifestam, através de línguas estranhas, revelação, visão, ou outras maneiras que o Espírito Santo acha para se manifestar no nosso espírito que depois externa, através de nossa alma e de nosso corpo, para o mundo exterior. Assim, nossas emoções são muito importantes, elas nos dão referências de prazer e de dor, de paz e de tormento, de alegria e de tristeza, e se coisas de homens nos fazem realizados, como não fariam as coisas de Deus, como não mexeria com nossos sentimentos a presença do Espírito Santo de Deus em nós? Além do mais, Deus é vivo e sempre renovado, assim perceptível.
      Contudo, se o mal não consegue nos anular emocionalmente ele tenta liberar nossas emoções de forma descontrolada, assim ele sempre joga com nossos extremos. Por isso muitos acham que espiritualidade é adorar em todo o tempo e sentir êxtases arrebatadores, mas aí é preciso lembrar das outras partes que nos compõem como seres humanos, a razão deve existir para equilibrar a emoção e vice-versa, e nunca uma para anular a outra. Quem consegue ter uma experiência intelectual depois que teve a emocional, amadurece, começa a entender espiritualidade cristã, mas quem estaciona em uma delas, aleija-se, limita-se, impede Deus de trabalhar. Deus é pleno e nos quer plenamente para que entendamos a existência de forma plena, Deus nunca nos chama pela metade, Deus nunca nos vê por partes, ainda que nós tentemos expor só as partes que nos interessam. 
      O versos 39 e 40 de I Coríntios 14 resumem a interação de espírito, emoção e razão, tenhamos liberdade no Espírito, isso é nosso direito, mas com ordem e decência, isso é nosso dever. Eis uma coisa que me faz amar a verdade de Deus entregue pelo evangelho, uma verdade sem igual, os que têm olhos podem ver, os que têm ouvidos podem ouvir e maravilharem-se com a espiritualidade que só há em Cristo. Os que acham que dons não são para os dias de hoje que rasguem da Bíblia as partes que falam a respeito. Mas ninguém se engane, Deus está presente no meio de evangélicos simples, adorando e falando em línguas, presente e se agradando, mas Deus também se agrada com aquele que dedicou anos aprendendo as línguas originais da Bíblia, estudando escatologia, entendendo a religião judaica, esmiuçando a teologia de Paulo em sua apologia à fé. Ainda que nos vejamos em partes, Deus nos ama por inteiros. 

Espiritualidade Cristã
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

19/11/20

50. Espiritualidade de graça

Espiritualidade Cristã (parte 50/64)

      “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus. Porque está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, E aniquilarei a inteligência dos inteligentes. Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo? Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação. I Coríntios 1.18-21

      Muitos não entendem o conhecimento profundo que existe no princípio “pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus” (Efésio 2.8), muitos acham, e infelizmente baseados em equívocos que os próprios cristãos criam e creem, que isso é um jeito de enfraquecer o homem para que outros homens, em nome de Deus, possam controlá-lo. Aliás, muitos dizem que o cristianismo é a velha ordem mundial, no qual um teocentrismo negacionista impede a humanidade de evoluir cientificamente e socialmente, e isso pode até ser verdade em relação ao falso cristianismo criado por religiosos sem escrúpulos, não em relação ao cristianismo original. A verdade do ensino de Paulo não tem o objetivo de enfraquecer ou subjugar o homem, mas de liberta-lo, abrir seus olhos espirituais para a luz mais alta, num plano onde as referências materiais não funcionam. 
      Entretanto, mesmo os que entendem essa verdade, acabam usando-a para se acomodarem, assim, o que deveria ser o começo acaba sendo o final. Temos uma caminhada a fazer, mas não para receber a verdade, mas para crescer nela, e é isso que dá à existência prazer e sentido. Muitos, contudo, estão mais ocupados em ganhar dinheiro para sobreviverem, e nada de errado tem nisso, não num mundo injusto onde poucos dominam e exploram muitos. “Aprofundar-se na espiritualidade? Não tenho tempo”, dizem, assim querem resultados rápidos, pedir a Deus e receber, agradecerão ao Senhor por isso, mas sem perderem muito tempo. Isso parece dar pouco a um Deus que tanto dá? E é, mas Deus ama os homens, todos eles, mesmo uma maioria que não tem tempo para ser espiritual. Por isso o evangelho é acima de tudo uma prova do amor de Deus pelos homens, homens que pouco tempo têm para Deus. 
      Vou dizer algo que talvez muitos cristãos não aceitem, cristãos com um poder aquisitivo mais alto, que podem ter uma qualidade de vida melhor, e que têm tempo não só para trabalhar, mas também para adquirir cultura: a Bíblia é a versão elementar da verdade mais alta de Deus, enquanto que textos religiosos de outras crenças e óticas metafísicas, são versões avançadas de verdades abaixo da mais alta de Deus. Alguns podem não aceitar isso porque têm tempo e vontade de se aprofundarem na Bíblia, assim tentam descobrir nela conhecimentos que outros não têm, mas estudar com mais afinco um livro de fundamentos não faz o livro mais profundo, mas esse não é o ponto aqui. O ponto é que Deus ama o homem, assim, para salvá-lo, disponibilizou o conhecimento da salvação de um jeito que qualquer homem pudesse entender, sem que tivesse mais tempo ou erudição para se aprofundar nele.
      Por isso certas religiões seduzem os que se acham mais sábios, mais cultos, por isso esses mesmos criticam o cristianismo como uma religião de ignorantes, por isso eruditos se perdem mais facilmente e os simples se salvam com mais facilidade, por isso Paulo diz em I Coríntios 1, “destruirei a sabedoria dos sábios e aniquilarei a inteligência dos inteligentes”. A Bíblia pode ser o básico, mas é suficiente, e talvez o possível para a grande maioria de seres humanos do mundo atual, e creiam, em certas coisas o homem não evoluiu muito, ainda é o mesmo de quase dois mil anos atrás, assim a Bíblia ainda é atual. Jesus sempre é atual, isso nunca vai mudar, mas a aplicação do evangelho na moral, nos costumes, na família, na sexualidade, nos direitos políticos, isso precisa mudar, mas só mudará quando o homem se aprofundar em sua espiritualidade, e mais, na espiritualidade mais alta do cristianismo.
      Amor, isso define melhor a Deus que erudição teológica, luz, isso explica melhor o Senhor que conhecimentos ocultos, simplicidade, isso representa mais a sabedoria de Deus que complexos rituais religiosos. Deus é amor, é luz e é simples, para que os simples tenham acesso a ele e tenham paz. Do que vale todo o conhecimento se não há paz no coração? O amor de Deus traz paz, eis o início e o fim da espiritualidade, o resto é trevas, é o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, e isso está abaixo dos mais altos lugares celestiais em Cristo. Graças a Deus que nos ama, glória a Deus que se faz homem para que os homens o entendam, se abaixa sem se rebaixar, louvores ao altíssimo, que ainda que esteja lá em cima, nos acha pelo seu Santo Espírito e nos ensina, coisas inefáveis, que não merecemos saber, mas que ele compartilha com filhos do seu amor em Cristo.

      “Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo. Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez. E assim todo o sacerdote aparece cada dia, ministrando e oferecendo muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca podem tirar os pecados; Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus, Daqui em diante esperando até que os seus inimigos sejam postos por escabelo de seus pés. 
      Porque com uma só oblação aperfeiçoou para sempre os que são santificados. E também o Espírito Santo no-lo testifica, porque depois de haver dito: Esta é a aliança que farei com eles Depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, E as escreverei em seus entendimentos; acrescenta: E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado.” 
Hebreus 10.9-18

      No texto inicial, como presente nas epístolas paulinas de maneira geral, o escritor faz a defesa do evangelho como estabelecedor de uma aliança melhor e eterna de Deus com os homens através da obra de Cristo. Depois que Cristo concluiu sua obra não há mais necessidade de sacrifícios de animais para que os homens possam receber perdão, basta a eles que creiam no nome de Jesus. Isso pode ser aplicado também a tantas outras substituições que os homens tentam fazer para a obra de Cristo através das religiões, mesmo nos dias de hoje, substituições que sempre negam um princípio básico da maneira de Deus agir, sua graça. Se tantas coisas Deus dá ao homem de graça, muito mais a salvação, e não é só por generosidade, mas porque não existe outro jeito. O homem não pode, pelas próprias forças, se salvar, se existe evolução espiritual que depende de tempo e trabalho humano, ocorre depois que ele é salvo, não para ser salvo. 
      Algo que choca muitas religiões com relação ao cristianismo, pelo menos em relação ao cristianismo que o protestantismo tentou resgatar, é o conceito da graça de Deus. Como tantas vezes já foi dito, e que define a diferença entre cristianismo e outras religiões, o evangelho é Deus buscando o homem, enquanto as outras religiões são o homem buscando a Deus. Quando o homem se coloca como protagonista sempre quer, de alguma maneira, glória para si, aplauso pelo seu trabalho, por isso a espiritualidade buscada por ele sempre custa preços. Vemos isso no catolicismo, que desviado do cristianismo original, criou ritos, cerimônias e sacramentos. Quando o Espírito Santo falta o homem tenta fazer o trabalho, que simule espiritualidade e alie ao culto alguma sagração, por isso o catolicismo se tornou uma religião pesada e morta, que acaba separando o homem da graça mais pura de Deus.
      Rituais são encenações aos quais são aliados poderes religiosos, onde se procura refazer um acontecimento, através de teatrialização, para reviver a capacitação dada pelo evento original. Por exemplo, quando se encena na Quaresma a “Via Crúcis”, o "Caminho da Cruz" ou “ Via Sacra”, referente ao trajeto percorrido por Jesus carregando a cruz do Pretório ao Calvário, pode ser um rito, se as pessoas crerem que podem obter algo através dessa encenação. Contudo, uma diferença importante do genuíno cristianismo, é que ele não precisa de rituais, o novo testamento não deixou orientação para eles, basta crer na obra final de Jesus. O batismo nas águas e a ceia são mais eventos sociais, testemunhos públicos da fé, momentos para se ter comunhão com os que comungam a mesma crença, eles não possuem qualquer poder espiritual ou concedem qualquer benefício de salvação ou perdão.  
      Quem precisa reviver o passado para achar forças ou motivos para crer é porque não tem no presente algo vivo e capaz que mantenha viva sua fé, sem o Espírito Santo utiliza-se rituais, repletos de pompas e circunstâncias. Rituais impressionam emocionalmente e fortemente as pessoas e fazem com que elas se sintam parte de algo maior e importante. Infelizmente muitas denominações evangélicas atuais, que se desviam do verdadeiro evangelho, têm provado a falta do verdadeiro Espírito e também têm inventado rituais, principalmente baseados na religião israelita do antigo testamento. Isso sempre glorifica mais o homem, que se sacrifica, que cumpre uma “promessa”, que participa fielmente de uma série de vigílias, que jejua por um grande número de dias ou que tem fé suficiente para alcançar uma graça. Mas graça não se compra nem se troca, só se recebe, é de gratuita. 
      Quando Deus busca o homem, a glória é de Deus, mas não porque ele exija isso ou precise disso, é simplesmente porque ele é Deus e Deus sempre merece todo o louvor. O louvor que damos a Deus não exige de nós trabalho, ao contrário, é prazeroso, nada alimenta mais o espírito humano que adorar o Deus altíssimo. Adoração confere ao homem uma intimidade espiritual com um Deus pessoal que muitas religiões não podem dar, não podem dar porque não têm o direito de dar e não têm o direito de dar porque não têm Cristo. É justamente a adoração a porta para experiências espirituais mais profundas, quantos não receberam dons espirituais, tiveram suas primeiras experiências com línguas espirituais estranhas, louvando a Deus com liberdade. Assim, a graça de Deus nos leva a louva-lo, o louvor abre a porta para os dons, e os dons são o início da mais profunda espiritualidade cristã.
      É maravilhoso como Deus nos atrai de um jeito simples, que nos realiza por completos, intelectual, emocional e espiritualmente, de graça por amor e através da fé, sem ritos, sem protocolos mágicos complicados, sem sacrifícios, algo possível a todo ser humano que passou da “idade da inocência”, seja qual for seu nível intelectual, financeiro ou etário. Mesmo que o verdadeiro evangelho nos leve a abrir mãos de vaidades e prazeres, ele o faz do jeito certo, nos respeitando e tirando de nós o nosso melhor, e isso, repito, é como Deus trabalha, não as religiões, incluindo as cristãs. Deus não pede sacrifícios de ninguém, e se parece sacrifícios o é aos que amam mais o mundo e a si mesmos que as virtudes. Se o “diabo” é um senhor cruel e mentiroso, cobra preços altos, faz muitas exigências, e na verdade não dá nada em troca, Deus dá de graça porque Cristo já pagou o preço, com a própria vida, dá muito mais que merecemos ou imaginamos e para sempre.

Espiritualidade Cristã
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José Osório de Souza, 30/09/2020.