segunda-feira, novembro 23, 2020

54. Onde está teu Deus?

Espiritualidade Cristã (parte 54/64)

      “E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus a Adão, e disse-lhe: Onde estás? E ele disse: Ouvi a tua voz soar no jardim, e temi, porque estava nu, e escondi-me.Gênesis 3.8-10

      “As minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite, enquanto me dizem constantemente: Onde está o teu Deus?Salmos 42.3 

      “Salvou os outros, e a si mesmo não pode salvar-se. Se é o Rei de Israel, desça agora da cruz, e crê-lo-emos. Confiou em Deus; livre-o agora, se o ama; porque disse: Sou Filho de Deus.Mateus 27.42-43

      Talvez essa seja a maior e mais determinante tentação que os filhos de Deus devam passar para que possam reagir do modo realmente espiritual, responder a uma pergunta: “onde está o teu Deus”? Qual a resposta certa? Nenhuma. Os que não conhecem a Deus em profundidade, e mesmo alguns que são seus filhos, levantam a voz e defendem seus pontos de vista, ainda mais quando eles se referem a confiar em Deus acima de tudo, mas será que uma resposta mais enfática tem alguma eficácia para quem faz uma pergunta como essa? Penso que não, por vários motivos, não somente pela dureza de coração de quem nos afronta, mas também pela situação de debilidade que podemos nos achar.
      O salmista diz, “minhas lágrimas servem-me de mantimento de dia e de noite”, quem responde numa atitude ativa e defensiva se coloca no ataque, como forte, e não deve estar chorando com o questionamento incrédulo, cínico e injusto que lhe fazem. Se o salmista estava quebrantado era porque sabia que não adiantava responder, que estava só e fragilizado diante de grande insolência. Pode parecer fraqueza, mas diante de um confronto tão cruel, que pode vir geralmente quando estamos passando pela pior situação de sofrimento e vulnerabilidade, só nos resta olhar para Deus e nos humilhar, não é momento de levantar a voz, não é momento para nos defender ou defender àquele que nos defende, o Senhor.
      Quem enfrentou o pior exemplo dessa situação e da maneira mais espiritual foi Cristo na cruz, a ele disseram em sua pior hora, “confiou em Deus, livre-o agora se o ama”, parece difícil ouvir essas palavras? Mas muito pior foi para Jesus, e ele ouviu e se calou. Não, calar-se em momentos de grandes afrontas não é disposição de enfraquecimento, por isso tantas vezes procuramos palavras em certas situações e não achamos, os argumentos nos faltam enquanto o incrédulo e cínico destila sua injustiça com prazer, assistindo nossa humilhação. Se nosso Senhor passou humilhação pela justiça, por que os que dizem segui-lo não passariam? “Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós” (João 15.20b).
      Precisamos entender, contudo, que não deve ser uma humilhação por algo errado que fizemos, nesse caso ainda menos razão temos para responder à injúria, mas nos calarmos diante de uma afronta estando nós de fato testemunhando da justiça, aí sim, pode ser uma ferramenta poderosa nas mãos de Deus. “Porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (II Coríntios 12.9b), sim, nesse caso, nossa fragilidade pode ser usada para demonstrar o poder de Deus. Foi exatamente isso que ocorreu na morte de Cristo no calvário, Deus dando vida à humanidade à medida que seu filho morria, eis o conceito antagônico do plano espiritual em relação ao físico apresentado em seu apogeu. 
      Interessante que o silêncio de um justo compensou o silêncio dos pecadores originais no Éden, “e ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia, e esconderam-se”, os pecadores com noção de suas condições fogem do santíssimo, e isso ainda é algo bom, mostra que o coração não se cauterizou. Contudo, vivemos tempos que ainda erradas as pessoas se acham no direito, de enfrentarem a justiça, aos justos e ao santo Deus. Uma geração que acha que tem o direito de levantar a voz e defender posicionamentos sempre, afasta-se de Deus, fortalece-se no reino dos homens, mas enfraquece-se para ter direitos no reino da luz à medida que se rende ao reino das trevas.
      “Onde está o teu Deus?”, se alguém te perguntar isso, respire fundo, pense um pouco, não se apresse em responder, muitas vezes você não deverá responder nada, porque não adianta e porque Deus pode usar isso para julgar a dureza de coração das pessoas. Que a insolência do louco ecoe no teu silêncio e retorne a ele, para o fundo de sua alma, e fique lá, e o leve a responder a si mesmo à medida que lembre das vezes que Deus lhe falou e ele não quis ouvir, negou aquele que poderia lhe dar vida eterna. Deus pode usar nosso silêncio, muitas vezes muito mais que nossas palavras, afinal quem tem que brilhar é Deus, não nós, quem tem que convencer é o Espírito Santo, não nós, quem salva é aquele que se calou na cruz, não nós.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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