Contudo, esse falso
senso de justiça só revela como as pessoas são exageradamente sensíveis com os
seus problemas e indiferente com os problemas dos outros. Muitas condições
causam dor e vergonha às pessoas, não somente aquela de sexualidade “diferente”,
e isso principalmente nas pessoas que se converteram ao cristianismo, que se
apresentaram, diante de Deus, arrependidas, e que mediante perdão seguiram numa
vida diferente. (Essas sofrem porque sabe que mudaram, que têm outro presente,
mas que ainda são perseguidas por seus passados por pessoas insensíveis com a dor alheia). Muitas condições ainda são
estigmatizadas numa sociedade contemporânea, só quem vive essas condições sabe dessa
angústia.
Dizendo o que não
precisava ser dito, mas que muitas pessoas ainda teimam em não entender, ter
uma opinião diferente, e lutar por ela, e tê-la em amor, não se impondo seja lá
por qualquer espécie de violência física ou mesmo por qualquer tipo de constrangimento
emocional. Esse cuidado deve ter principalmente os evangélicos que creem em
cura para a homossexualidade, já que em ser evangélico está embutido o amor de
Cristo pelo pecador, mesmo que o pecado seja combatido, seja o conceito de
pecado o que for. Veja que pode ser considerada violência e constrangimento
simples chacotas que se fazem com as pessoas em condição de dor.
Todos, sem exceção,
têm suas peculiaridades em termos de dor e fraqueza, mas muitas vezes não
entendemos a dimensão dessa dor e dessa fraqueza. Você não sabe a batalha que
uma pessoa sincera e munida de caráter tem quando precisou enfrentar desde a
sua infância uma condição de homossexualidade, portanto não faça piadinhas
sobre gays, cuidado com termos como “bicha” e “sapata” (se alguém se
escandalizou, desculpe-me, podemos não gostar de ler, e de ouvir esses termos
em um púlpito, mas como os usamos nas rodinhas, como rimos deles nos programas
televisivos humorísticos, quanta hipocrisia a nossa...).
Você também não
sabe a batalha que pessoas que experimentaram casamentos quebrados tiveram e têm,
portanto, e isso digo principalmente aos evangélicos, cuidado ao declarar do
alto dos púlpitos que essa condição e de gente promíscua, que se o casamento não
durou foi culpa desse ou daquele. Sim, creio num casamento para sempre, mas
creio agora, que minha vida está no centro da vontade de Deus, o Senhor sabe as
lutas que enfrentei sozinho, nessa área, da tristeza que já vivi quando não via
esperança para a minha condição (desculpe-me novamente, agora por abrir o coração).
Pouca gente entende
também a agonia que passa aqueles com problemas psiquiátricos, seja uma depressão
comum até transtornos mais sérios de personalidade. Esses, até pouco tempo,
eram trancafiados em manicômios, locais desumanos, sem afeto, sem higiene, visitei
um lugar desses, nos anos 1980, aqui no Brasil, nunca vi nada mais degradante,
nem em presídios, quando fazia evangelismo. Até os homossexuais, atualmente, são
tratados com mais respeito que esquizofrênicos e maníacos depressivos (usei esse
termo ao invés de bipolares, que é a maneira mais atual de chamar essas
pessoas, pra chocar mesmo, já que muitos não sabem o que isso significa). Como
dói para alguém com essas doenças ser chamado de louco, ser desprezado por ser
considerado sem consciência, sem inteligência, mesmo sem sensibilidade
espiritual, afinal “são loucos mesmo, quem dá bola para o que eles dizem?”. Preconceito,
preconceito, falta de informação, desrespeito, falta de amor, hipocrisia.
Sim, tudo se resume
a falta de amor, mas a tal da projeção, que a psicologia se refere, é o que
mais acontece, projetamos em outros, o que vemos em nós. Se não nos respeitamos
de fato, não podemos respeitar os outros. Quando medimos o tamanho da nossa dor
e da nossa vergonha, nós começamos a entender a dimensão da dor e da vergonha
do outro. Falta de conhecimento do próximo e falta de conhecimento de si mesmo, nada mais é que outra maneira de chamar falta humildade.
E aí vai, quem sabe
a luta que passa um fumante, um alcoólatra? Não, não estou diminuindo o poder do
Evangelho, tenho aprendido a crer, mais e mais a cada dia, e meus cinquenta e
poucos anos de muita desilusão e equívocos não conseguiram mudar isso, que há
poder sim em Jesus, há poder na oração, há muito poder na adoração, que junto
do amor é o que durará por toda a eternidade. Há poder que médicos e filósofos
não entendem, não provam, há poder, por meio da fé.
Para ter cuidado
com os outros é preciso cuidado consigo mesmo, para ter compaixão pela dor
alheia e necessária noção da amplitude da própria dor. O cristão maduro pensa
antes de falar, nivela-se por igual, nunca maior (e nem menor) que o próximo,
sabe que o seu problema é tão importante quanto o problema do outro, que sua
causa é tão prioridade quanto a causa do outro. Isso se aprende com o tempo, já
desconsiderei muito o meu próximo, já fui insensível com ele, já zombei e menosprezei
o problema alheio, mas fiz isso tudo porque desconsiderava a mim mesmo, era
insensível comigo mesmo, no meu coração, eu tratava com sarcasmo minha batalha
pessoal. Por quê? Eram maneiras de poder viver com o problema, de sofrer menos,
maneiras fáceis. Hoje sei que os problemas precisam ser enfrentados de frente,
com respeito, mas acima de tudo crendo no ilimitado poder de Deus.
Infelizmente tenho
aprendido a não tratar o problema do outro de forma irresponsável, depreciando-o,
depois de viver em minha própria carne problemas sérios, de risco moral, psicológico
e físico, não, não é exagero meu. Que você não precise passar por tudo isso
para simplesmente demostrar pelo outro o amor daquele que deu a própria vida
por você, Jesus.
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