sábado, janeiro 19, 2019

Não fique triste, se possível...

      Introdução - Depoimento da tristeza

      De tudo que se pode morrer, não morra de tristeza, nessa morte morre alma antes do corpo, e o espírito, fica preso num limbo material, pior que o espiritual. A tristeza vem devagar, mesmo que em grande intensidade, retardada por um forte desejo de se continuar sem senti-la, mas se transforma em morte letal à medida que é escondida, que é mantida em segredo, sem reação, na resignação de quem sabe que não adianta mais reclamar, dialogar, resolver, mas apenas se entristecer numa solidão profunda. Da solidão para a morte é um passo, ninguém resiste à ela, e não se iludam os bem casados e cercados de amigos pensando que estão a salvos da solidão. A carne é forte, coração, mente, pulmões, rins, fígado etc, eles podem permanecer funcionando por anos, aparentando integridade, enquanto a alma fragmenta-se, num loop de dissolver e coagular quase eterno, o inferno na carne. 
      Um dia, então, não cola mais, os pedaços se separam e se espalham, o corpo ainda vive, mas a alma perde a razão e a loucura apodera-se do ser, desprendendo o espírito que encontra no limbo um lar. Quem está fora fala, mas nada é respondido, arrepende-se, mas já é tarde, tenta dar a atenção que não deu por tanto tempo e cuja falta gerou a tristeza, contudo, o espírito já se soltou, existe cérebro, mas não existe pensamento, existe coração, mas não mais emoção que gere necessidade de relação. A solidão abriu a porta para uma dimensão onde não há mais dor, não há mais culpa, não há mais vontade de trocar amor, de exigir direitos, mas só há morte, prematura, insana, tão eterna quanto qualquer outra morte. Há volta? Sim, uma vez, duas vezes, três no máximo, mas um dia não há mais forças, o prazer do limbo físico torna-se irresistivelmente melhor e o ser entrega-se a ele para nunca mais voltar.

      Você achou triste a introdução acima, negativa, não conforme o tom de muitos púlpitos atualmente? Pois leia o texto bíblico a seguir.

      “Um bom nome é melhor do que um perfume finíssimo, e o dia da morte é melhor do que o dia do nascimento. É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério! A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração. O coração do sábio está na casa onde há luto, mas o dos tolos, na casa da alegria.” Eclesiastes 7.1-4

      Não, mesmo um cristão legitimamente convertido e selado com o Espírito Santo, perdoado e obediente, enfrenta a tristeza. Alguns, até líderes, pastores e pregadores, são encarcerados de uma tal maneira pela tristeza que entram numa crise depressiva extrema, crise que pode mesmo conduzir a um estado de catalepsia, onde não há mais interação motora com a realidade. Que a tristeza como consequência de uma conscientização, como assunção de culpa, como parte de um processo de arrependimento, pode levar à cura e ao crescimento, é indiscutível, o texto de Salomão em Eclesiastes tem esse tom. “A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração”, isso é lindo e profundo demais.
      Todavia, a tristeza que advém de uma situação onde não se encontra solução, onde toda possibilidade de diálogo foi calada, e há uma resignação mórbida e errada do problema, leva à morte da alma descrita na introdução desta reflexão, e acreditem, existe muita gente nessa situação, incluindo bons e fiéis cristãos. Numa situação assim não adianta expulsar espírito maligno, o que pode até impedir a atuação do mal, mas a mente só volta ao normal com o amor daqueles que convivem com o doente, dando a ele, agora com paciência e sabedoria, a atenção da qual ele tanto carece. A mente do homem é mais poderosa que os demônios, e pode tanto conduzir à vida, quanto à morte.
      Assim, infelizmente, em alguns casos, seres humanos não se recuperam e ficam catalépticos, por muito tempo. O segredo é não abusarmos de nossos corpos, de nossa saúde, mas principalmente de nossas mentes. Doenças mentais são difíceis de serem diagnosticadas, um dos motivos principais é porque as pessoas dão a elas importância errada, ou exageram e por isso não as assumem de vergonha, ou as menosprezam e por isso também não a assumem. Contudo, elas podem se desenvolver devagar, silenciosamente, sem a devida atenção dos próximos, e só será percebida por todos numa crise, momento que já pode ser tarde demais, isso vale para vários tipos de transtornos psiquiátricos. 
      Não espiritualizemos problemas mentais, nem intelectualizemos problemas espirituais, mesmo que no ser humano, corpo, alma e espírito, estejam intrinsecamente interligados, é preciso sabedoria, ouvir bons profissionais da área médica, assim como pastores equilibrados e sérios. Mas o principal conselho é, não fique triste, se possível, não tanto e nem sempre, não ache na tristeza cama, objetivo final, mesmo que no caminho nos sentemos em poltronas de tristeza temporariamente, é isso todos nós experimentamos. A alegria sempre está disponível aos humildes responsáveis, que assumem suas vidas, sem jogar culpas nos outros, mas aceitam os outros como são, com simplicidade, confiando sempre mais no Senhor. Isso é o que pode ser feito, que Deus tenha misericórdia de nós, ele sabe aquilo que conseguimos fazer de fato...

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