sábado, abril 18, 2020

Loucura (parte 11) Processo da loucura

11. Processo da loucura

     “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti, porque ele confia em ti.” Isaías 26.3

      Seguindo na reflexão sobre o processo de desenvolvimento de doenças mentais, temos uma segunda fase, que se inicia com a fase adulta, após a adolescência física, eu disse física pois um doente mental pode seguir emocionalmente na adolescência (ou mesmo na infância) por muito tempo. Nessa segunda fase se está tão atordoado com o mal que se sofreu e que se reteve durante a primeira fase, que não se tem noção das coisas. Se vai sendo empurrado pela vida, machucando, se machucando e sendo machucado, sem referências, seja de tempo, de espaço ou de moral, essa é a pior fase. Alguém deveria perceber a condição do doente e tomar uma atitude, principalmente se estiver em idade física adulta incoerente com suas atitudes sociais. 
      “O louco sabe de tudo, menos que é louco”, e quando digo de tudo digo que ele pode achar mesmo que tem super poderes, que pode ver o universo com um olhar especial, que é alguma espécie de “escolhido”, enfim, mas que na verdade é apenas fantasia de sua mente doentia. O louco sofre? Conscientemente muitas vezes nem sofre, ele apenas existe, se ele não tem referência de nada, por que deveria ter de sua dor? Uma das características do doente mental é que ele não consegue se prender a alianças sociais, como empregos, estudos, igrejas ou casamentos. Na verdade ele está casado com sua insanidade, é fiel só a ela, quem o olha de fora vê uma face plastificada, como a de um boneco, sempre igual, sem emoção, fria, olhando para um mundo que só existe dentro de sua cabeça. 
      Na terceira fase começa-se a ter uma noção da situação, da vergonha que se está passando, então se quer achar alguém para se colocar a culpa. Nessa fase o doente se sente profundamente vitimizado e por isso ele pode somatizar doenças físicas, já que experimenta muita dor, em silêncio e na solidão, não compartilha isso com ninguém porque nem sabe ainda que isso é anormal, só sabe que dói. Sem válvula de escape, maus pensamentos viram tumores ou outros males. Essa fase pode durar muito tempo, mais até que as outras, e pode terminar em uma crise emocional grave, com um quadro depressivo sério, que tragicamente pode ser o que, enfim, revele aos outros que havia um doente grave próximo a eles e eles não sabiam. 
      Na quarta fase, que pode acontecer pela misericórdia de Deus, pelo caráter do doente e com a ajuda de profissionais da área médica, a ficha cai, a cura vem, para-se de jogar a culpa nos outros, assume-se a culpa por muitas coisas, e se é libertado do terrível complexo de vítima. Encontra-se a paz, contudo, pode-se entender quanto tempo foi perdido, uma juventude, uma maturidade que começou tardiamente colocando o ex-doente numa falta de sincronia entre idade física e idade emocional. É só nessa fase que o doente adquire referências, de certo e errado, de tempo, é só nessa fase que um ex-louco começa de fato a experimentar uma vida real, que valoriza e segura alianças, nessa fase um verdadeiro novo nascimento acontece.

      O texto inicial nos ensina um segredo que pode ser um remédio para o que experimenta feridas em sua mente. O que é ter a mente firme em Deus? O texto diz que quem tem isso tem uma paz mantida, não por ele, mas por Deus. Se entregamos a Deus nossa vida ele cuida dela, fiel à sua palavra e à nossa entrega. Entender isso pode ser a diferença entre ser curado e ficar ainda mais enfermo. Em poucas palavras ter a mente firme em Deus é descansar em Deus, e descansar não é fazer força, mas relaxar com segurança. Quem relaxa o faz não porque confia em sua capacidade de resolver um problema, mas na capacidade daquele no qual ele descansou para resolver. Quem nos faz descansar é Deus, não a fé que pomos nele para nos fazer descansar. 
      Quando nós sentamos num sofá, não ficamos apreensivos tentando manter a integridade do sofá através de nosso pensamento, não, nós sentamos e relaxamos, tranquilos sabendo que o sofá suportará nosso peso e nos permitirá descansar nele. Ocorre como uma integração, entre nós e o sofá, é como se ele fizesse parte de nosso corpo, acomodando nosso corpo, suportando o peso e se mantendo íntegro enquanto estamos sobre ele. Ocorre a mesma coisa quando firmamos nossa mente em Deus, não fazemos força porque a verdadeira fé não é a princípio convicção emocional e intelectual nossa, mas dom espiritual de Deus. Precisamos ao menos crer, mas nem isso é esforço nosso. 
      Se vêm de Deus e para ele retorna, não é mérito ou crédito nosso, assim não nos é pesado, se não pesa não pode nos enfraquecer e levar-nos a adoecer, mas nos renova e nos fortalece. Mas como saber quando estamos usando fé dom de Deus e quando estamos nos cansando com alguma energia de corpo e de alma nossa? O que é de Deus deixa paz que permanece, simples assim, Deus nunca exige de nós algo que não podemos fazer ou que vai nos trazer prejuízos, sejam físicos, emocionais ou espirituais. Para aquele que está com alguma problema mental, seja depressão, trauma ou algum transtorno, Deus só orienta que entregue a ele o problema e espere, mais nada.
      Assim, é de suma importância que a pessoa com algum problema mental pare de fazer tudo o que está fazendo, que tenha, daqueles que o cercam, a segurança de que eles vão ajudá-lo e que ela não precisa se preocupar com nada. Isso precisa ficar bem claro, caso contrário o doente não conseguirá descansar e se restabelecer, e creia, um descanso verdadeiro, profundo, continuado, cura ou ajuda a curar muitos males. Tarefas na igreja, mesmo que sejam “para Deus”, como dizem muitos, não nos descansam, é um trabalho como qualquer outro, nem podem ser trocadas por favores divinos, se estiver doente mentalmente dê um tempo com trabalhos em igrejas, siga orientação do médico, não do pastor, se tiverem opiniões distintas sobre isso.

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