26/08/25

Uma nova parábola

1. O rio da união

      “Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós. Mas a graça foi dada a cada um de nós segundo a medida do dom de Cristo.” Efésios 4.6-7

      Não julguemos mal ninguém, muito menos os que se dão ao trabalho de vivenciar uma religião com fidelidade pura e boa sinceridade. Nem todos os seres humanos acham no cristianismo ferramenta eficiente para conduzir ao aperfeiçoamento moral, e consequentemente, à vida digna neste mundo e “céu” no outro. Mesmo muitos que se autodenominam cristãos poderiam ter vidas mais limpas e felizes se buscassem outras ferramentas. Isso não significa que Jesus não seja único e excelente, mas significa que os que o seguem devem ser únicos e excelentes por causa disso, em amor, tolerância, justiça, santidade e humildade. Contudo, a verdade da conexão espiritual de cada ser com Deus, só conheceremos de fato na eternidade. 

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      O texto que segue é mais que obra de ficção, são simbologias espirituais por trás de um conto, num estilo literário no qual Jesus era mestre, a parábola. Pela misericórdia de Deus escrevi essa “estória” sem racionalizar muito, a base foi coisa de quinze minutos, parei depois com mais calma para apurar a linguagem e acrescentar detalhes, esses foram iluminações que o Espírito Santo me deu sobre a inspiração inicial. Nas próximas cinco postagens farei explicações das simbologias, mas muito mais pode ser aprendido se meditarmos sobre a “estória”. Espero abençoá-los com o texto. 

1.1. Ilusão ou realidade?

      É nossa existência neste mundo, realidade ou ilusão? Uma metáfora para nos ensinar o que de fato importa no universo? Pode ser só um sonho passageiro que o divino cria para que seres inferiores sejam instruídos. Não suportaríamos a verdade, não estamos preparados para ela, assim, como crianças, somos atraídos com doces para fazermos as coisas certas, ainda que em nossa infantilidade achemos que nosso principal propósito neste mundo seja pegar doces. Se for uma ilusão, seria igual em todos os mundos do universo? Ainda que a realidade seja só uma, os sonhos podem ser diferentes em cada mundo. Isso na verdade nem importa para o divino, contanto que os seres aprendam a lição. 

1.2. Experiências diferentes

      Em algum lugar do universo, após um período em que as chuvas deixaram de ser constantes e suficientes, que levou a zero o nível de águas nas cisternas, três homens tiveram sede. Sabiam, através de um mito antigo, que havia um rio de águas limpas e frescas próximo à sua cidade, assim resolveram procurar o rio. O primeiro homem, pobre e dependente de seu trabalho diário para sobreviver, foi o primeiro a achar o rio. Chegando ao rio levou as mãos em forma de concha às águas, depois à boca e matou sua sede. Ele entendeu que sempre que tivesse sede, para não depender das chuvas tão raras, teria que ir até o rio e tomar agua, fez outras viagens com sua família para que esses tivessem água. 
      O segundo homem, mais rico, sabendo do rio, quis pagar outros homens para irem ao rio e trazerem a água, mas o esforço de levarem baldes os levava a consumir a água dos baldes e assim quando retornavam já não tinham água para o homem rico. O homem resolveu então ir ele mesmo ao rio, mandou fazer uma caneca de ouro adornada com pedras preciosas, assim ia ao rio, matava sua sede e ainda podia trazer uma caneca cheia de água. Fez outras viagens com membros de sua família, para os quais também mandou confeccionar luxuosas canecas. O rico temeu, achou que a água do rio poderia acabar, assim pôs soldados na saída da cidade que impediam que outros homens fossem buscar água. 
      O terceiro homem, conhecedor de tecnologia, mais íntimo da ciência, teve uma grande ideia, construir um sistema de canos que levaria a água do rio até o lugar onde morava. Para tal fez uma aliança com o homem rico, disse que entregaria água por um preço, cobraria um valor e dividiria o lucro com o rico. Com o tempo todos passaram a usar o sistema de transporte de água, e com o tempo grande parte das pessoas esqueceu-se da existência do rio. Contudo, depois de algum tempo o sistema de transporte de água parou de funcionar, os construtores haviam morrido, as pessoas não sabiam como construir um novo sistema, assim com chuvas raras o povo ficou novamente sem água e ainda mais cético. 

1.3. O jeito simples é o certo

      Um quarto homem resolveu acreditar no antigo mito, que a água vinha de um rio e era farta e de graça, assim, iniciou uma jornada para descobrir o lugar. Os tempos eram ainda mais difíceis, entre a cidade e o rio, um terrível e seco deserto havia se formado. Os destroços do antigo sistema de canos ajudou um pouco, mostrando o caminho, mas justamente na parte mais próxima ao rio ele tinha sido totalmente invadido pela natureza. Finalmente o homem chegou ao rio, matou sua sede e teve uma ideia, chamar o povo para morar nas margens do rio, assim todos poderiam ter água sem grandes esforços. Contudo, essa mudança tinha um preço, muitos deveriam deixar seus palácios e construir residências próximas ao rio. 
      Para não sujar ou interferir no rio, as casas deveriam ser pequenas. Os ricos se revoltaram, não queriam perder o status que tinham por serem donos de palácios, assim resolveram ficar, mas antes tiveram permissão de irem até o rio e pegarem grandes quantias de água para acumularem em cisternas. O povo do rio deixou claro que a cidade construída nas margens do rio estava disponível para que os ricos morassem nela, desde que obedecessem a regra da igualdade. Contudo, só uma coisa foi proibida, caso quisessem continuar na cidade longe do rio, a construção de um novo sistema de canos para transportar a água. Os ricos estariam por conta da própria sorte, só teriam a água armazenada e a pouca chuva que caía.
      Com o tempo, o povo do rio prosperou, de maneira igual para todos, não havia em seu meio pobres ou ricos. Já os ricos da cidade empobreciam e sofriam, sabendo disso, o povo do rio teve compaixão, mandou mensageiros, com alguma água, para convencer o povo da cidade para que viesse morar com eles. Os primeiros mensageiros foram mortos e a água que levaram foi roubada. Mas o povo do rio, em seu grande amor, não desistiu, mandou novos mensageiros, a segunda leva foi roubada e aprisionada, usada para cavar poços profundos, que entregava uma água salobra e de pouca quantidade ao povo da cidade. Finalmente, depois de um tempo, após vários mensageiros não retornarem, o povo do rio parou de enviá-los. 

1.4. No tempo colhe-se os frutos

      Muitos do povo da cidade longe do rio morreram, pais orgulhosos viram filhos e idosos definharem, assim, após muitos anos de sofrimento e humilhação um pequeno grupo de sobreviventes tomou uma decisão, iria até o rio, pediria misericórdia ao povo de lá, que recebessem os sobreviventes ainda que como escravos, mas que lhes permitissem usar as águas do rio. A distância não era grande, mas devido ao estado debilitado que se encontravam, a viagem durou muito mais que deveria. Todavia, quando estavam no meio do caminho, avistaram, vindo em direção a eles, o povo do rio, então, eles temeram, pensaram, “nos matarão, a todos, se vingarão de todos os mensageiros que matamos e encarceramos”. 
      Os remanescentes dos ricos orgulhosos surpreenderam-se quando, aproximando-se, o povo do rio os recebeu com cântaros de água limpa e fresca e com largos sorrisos nos rostos. O povo do rio ajudou o povo debilitado da cidade a chegar à cidade do rio, lá os viajantes cansados receberam casas para morar, iguais às dos que lá já moravam. Os ricos, agora empobrecidos pelo próprio orgulho, disseram: nós não merecemos essas casas, fomos cruéis com vocês e vocês nos recebem com honras? O povo do rio respondeu: nós já vencemos a vingança e a cobiça, só queremos viver em paz com todos, vocês sempre foram nossos irmãos, mas distantes, que precisaram de mais tempo para entender as mais altas relevâncias da vida. 
      Entre os sobreviventes do povo da cidade, havia especialistas em tecnologia, mais talentosos que o povo da rio, a necessidade aperfeiçoa a ferramenta. O povo da cidade não sobreviveu porque não conhecia a ciência, mas porque era orgulhoso, não reconhecia que todo o seu conhecimento não muda leis básicas da natureza, como clima, falta de chuvas, distâncias geográficas ou superfície do solo. Quando aprendeu a lição, tornou-se humilde, assim pôde ajudar o povo do rio, que sempre foi rico em humildade e amor, a realizar um sonho que tinha e que pelas próprias capacidades não podia realizar, ajudar outras cidades longe do rio, construindo sistemas de encanamento de água. União entregou a força maior. 

1.5. Amor, fruto da verdade

      Novos e aperfeiçoados sistemas de canos assim como cisternas mais eficientes foram criados, mas as cidades que recebiam esse auxílio recebiam também a informação que a água vinha de um rio que o povo inicial que habitou suas margens tratava como sagrado. Os que recebiam a água encanada não deveriam se ensoberbecer com a autonomia, mas serem gratos pela ajuda dos outros povos e pelo rio. As residências nas margens do rio eram limitadas, senão prejudicariam o rio, mas à medida que os que lá moravam faleciam sobravam casas que podiam receber habitantes das cidades longe do rio. Eram selecionados para tal aqueles que tinham vidas mais corretas, de maneira a incentivar as pessoas a serem melhores. 
      Cada cidade longe do rio que era ajudada, à medida que seus habitantes podiam morar com o povo do rio, acrescentava à cidade do rio novos talentos e capacitações. Dessa forma, à medida que o tempo passava novas técnicas permitiam aumentar as residências nas margens do rio, sem prejudicá-lo. Com o tempo a cidade do rio se tornou a única cidade do mundo conhecido por aqueles povos, todos vivendo de maneira justa, sem pobres ao extremo, nem ricos exagerados, todos reunidos numa missão, conservar o rio e distribuir gratuitamente água para o maior número de pessoas. Aquilo trouxe uma sensação de solução, contudo, o ser humano deve seguir trabalhando, ainda que evolua de trabalhos pesados para mais sutis.
      Se não houver trabalho há tempo para enganos, assim, quando a vida estava boa para todos, um homem, descendente do rico da caneca de ouro da primeira cidade, apareceu dizendo: o rio é o que nos mantém vivos, devemos reverencia-lo. Essa palavra convenceu muitos, esses com o tempo se tornaram arrogantes, achando-se melhores por se colocarem como guardiões do rio. Mas outro homem, descendente do primeiro homem que tinha tomado a água do rio com as mãos, após observar silenciosamente o líder e os que se reuniam ao redor dele, se levantou e disse: o rio, como a natureza e os seres humanos, têm um criador, esse merece reverência; o rio, apesar de importante, é criatura como tudo, precisa de respeito, não de adoração. 

1.6. Muito além do rio

      Na verdade, o rio não era uma divindade, mas um motivo usado pelo divino para unir todos os seres humanos em paz e justiça, se as pessoas soubessem e praticassem isso desde o início não faltariam chuvas para todos, ou poços com águas mais próximas. Finalmente, as pessoas mudaram seus olhares, pararam de olhar para o rio, e olharam para o alto, além do céu visível, para o divino, o criador de todas as coisas. Então entenderam que a existência vai além das cidades da Terra, vai para o universo, para outros planetas, então, compreenderam que a água mais importante não está no solo, na matéria, mas no céu, no plano espiritual, então, saciados da água física estavam prontos para a água espiritual. 

2. Experiências diferentes 

      “Porque isto é também como um homem que, partindo para fora da terra, chamou os seus servos, e entregou-lhes os seus bens. E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua capacidade, e ausentou-se logo para longe.” “Porque a qualquer que tiver será dado, e terá em abundância; mas ao que não tiver até o que tem ser-lhe-á tirado.” Mateus 25.14-15, 29

      Acostumados dentro de igrejas cristãs, católicas, protestantes tradicionais ou evangélicas pentecostais, podemos achar que nossa experiência com Deus é a única que é eficiente, para obter o favor de Deus em nossas vidas neste mundo e o conhecimento da verdade espiritual maior. Penso que isso era mais percebido assim há um tempo atrás, eu, que me converti numa igreja Batista tradicional, nos anos 1970, sentia igrejas como ilhas cercadas por muros. De vinte, trinta anos para cá, a realidade secular da vida levou crentes a interagirem melhor com não crentes, não condenarem tanto, principalmente por causa da área afetiva, nas questões familiares e sexuais, que têm misturado todos. 
      Ainda que se ouça nos púlpitos, por exemplo, que homossexualidade e divórcio são pecados, na prática mais cristãos têm experiências próximas com isso, assim julgam menos os que também as vivem no mundo, fora de igrejas. O tempo tem tornado muitos cristãos mais humildes e mesmo mais sábios, mas ainda existem muitos legalistas, que por tentarem viver uma crença que não é de Deus, ainda que achem que seja, não conseguem e se tornam falsos moralistas e hipócritas. Isso explica tantos protestantes apoiarem politicamente a extrema direita, que fala em defender valores da tradição judaico-cristã para a família, mas que tem prática de vida diferente, e às vezes oposta. 
         Uma coisa é certa, como evangélicos achamos que nossa experiência de conhecimento de Deus pela Bíblia e pelo Cristo, é melhor que as outras. Bem, ainda que eu saiba e experimente que Jesus é diferente de qualquer outro fundador de religião ou líder espiritualista, sei que as igrejas cristãs em sua grande parte não são embaixadoras fidedignas dessa exclusividade, que, como tanto digo aqui, são construções humanas e corruptas, ainda que sobre o nome poderoso de Jesus. Contudo, muitos cristãos não aceitam que Deus, por exemplo, ouça e cuide de muitos que o buscam em religiões orientais ou dentro de centos espíritas, para muitos cristãos isso é simplesmente coisa do diabo. 
      Na parábola “O rio da união” três homens beberam da água de um mesmo rio, mas de formas distintas. Um usou as mãos, esse foi o mais simples, utilizou uma forma direta, mas cansativa, mais solitária, mas também a mais pura. Um segundo homem usou uma caneca luxuosa, esse mostrou uma veneração à água, mas também confeccionou uma maneira de transportar a água, mas será que a água precisa ser venerada ou levada, não é melhor que cada um tenha uma experiência pessoal com ela? O terceiro homem criou um sistema, que ao mesmo tempo que beneficiou mais pessoas, afastou as pessoas da fonte original da água, o rio, e deu lucro a alguns.
      Durante séculos, principalmente a civilização ocidental, acostumou-se ao “sistema de encanamento” católico, protestante e pentecostal. Os tais “sistemas” levaram as pessoas a receberem a vontade de Deus por tanto tempo por doutrinas, dogmas, rituais e textos sagrados religiosos, que desaprenderam a se relacionarem com Deus diretamente pelo Espírito Santo, aliás, para muitos o jeito mais eficiente de receberem dádivas de Deus é dentro de catedrais e igrejas, participando de missas e cultos. Não nego a importância de religiões, mas para iniciar as pessoas na verdade, não para afastá-las dela, a verdade é que igrejas se tornaram meios de controle e enriquecimento de homens. 

3. Jeito simples é melhor

      “E o que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E disse-me: Escreve; porque estas palavras são verdadeiras e fiéis. E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da vida. Quem vencer, herdará todas as coisas; e eu serei seu Deus, e ele será meu filho.” Apocalipse 21.5-7

      Podemos passar tanto tempo fazendo algo do jeito que nos ensinaram, que acabamos achando que esse é o único jeito de se fazer algo. Não nego que precisamos começar de algum jeito, por isso os ensinamentos em amor que recebemos de pais são importantes. Mas eles devem formar base para novos conhecimentos e experiências, que recebendo nossos questionamentos pessoais podem se constituir em piso para uma construção mais completa e duradoura. As bases legítimas nunca são destruídas ou desprezadas, porque elas resistem ao tempo, isso se aprendemos com seus princípios, com sua essência, mais que com suas formas. É preciso coragem para ver além da cobertura, muitas vezes lindíssima, do bolo. 
      O cristianismo tem o Cristo como base, não o judaísmo, o catolicismo ou o protestantismo, sobre ele devemos construir nossa experiência pessoal, aprofundando-nos mais em Deus pelo seu Santo Espírito. A ideia parece simples, mas não é para crianças sociais, intelectuais, morais e espirituais, e é útil que seja assim. O mundo espiritual é diverso, oferece o Cristo e seu altíssimo Espírito, mas também miríades e miríades de outros seres espirituais, nem todos eles bem intencionados e ferramentas do bem, ainda que administrados pelo bem. Por isso tantas orientações extremistas na tradição judaico-cristã sobre espíritos, mediunidade, vida após a morte e mesmo sobre o próprio criador do universo. 
      Na parábola “O rio da união”, um quarto homem, depois de ver o sistema de encanamento ser destruído pelo tempo, resolveu acreditar e se empenhar numa jornada pessoal e solitária, descobrir onde estava o rio, origem da água que saciou a sede de tantos com abundância. Contudo, já preparado pelo tempo e pronto para administrar o conhecimento de forma mais iluminada, ele não só descobriu o local do rio, como propôs a melhor maneira de acessar a água, estando próximo dela o tempo todo. Jesus fez isso pelo ser humano há quase dois mil anos, ainda que a Igreja Romana alegue ser dona exclusiva de um sistema que conduz o ser humano à pura água espiritual. 
      A luz se protege, não precisa de homens para protegê-la, o Espírito Santo se guarda, não precisa que ninguém legisle a seu favor. O que está preparado acha o conhecimento mais alto de Deus, consequentemente é alimentado por uma palavra pura que entrega paz e é força para vencer o mal que cada ser humano carrega dentro de si, vencendo o interior o mal exterior perde sua força. Na parábola do rio da união todos poderiam residir nas margens do rio, mas com um espírito diferente, sem injustiça, e não é que os que não quisessem isso fossem proibidos de alguma forma, mas suas escolhas teriam consequências, implicariam em não terem mais acesso à água do rio, pelo menos enquanto quisessem permanecer nessas escolhas. 
      Entendemos porque o evangelho diz que ricos têm mais dificuldade em entrar no reino de Deus. Não entendemos ricos só como prósperos materialmente e neste mundo, mas como donos de algum bem ou capacidade que os levam a acharem-se melhores por si sós, assim a se afastarem de Deus e dos homens. Muitos são ricos em dinheiro, mas outros em ciência, e outros ainda em religiosidade, todos esses podem num determinado momento afastarem-se do amor de Deus e da humildade com os homens. O homem se perde quando acha que já tem todas as respostas, ainda que sejam respostas baseadas em princípios religiosos, ainda que sejam respostas que um dia tiveram base na Bíblia. 

4. No tempo colhe-se o fruto

      “Disse-lhe o jovem: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda? Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me. E o jovem, ouvindo esta palavra, retirou-se triste, porque possuía muitas propriedades. Disse então Jesus aos seus discípulos: Em verdade vos digo que é difícil entrar um rico no reino dos céus.” Mateus 19.20-23

      O marxismo original, a mídia atual e o cristianismo tradicional querem o mesmo, estabelecer um reino “de Deus” na Terra, ainda que usando coisas diferentes, diabo, ciência ou ótica equivocada da vontade Deus (e não estou relacionando as coisas). Todos esses se enganam, todos, ainda que com facetas positivas e mesmo úteis a Deus, querem reinos humanos e físicos, afastando-se do reino espiritual de Deus. Sendo reino humano propõe, usa e defende, armas materiais, não espirituais, prepotência, frieza e até violência, ainda que só ideológica. O reino de Deus é espiritual e como tal usa ferramentas morais, amor, santidade, humildade, justiça, paz, que constróem o espírito no interior dos homens, não só no corpo físico e na aparência externa. 
      Na parábola “O rio da união” não pense que as pessoas que não quiseram morar perto do rio com igualdade de direitos, eram necessariamente pessoas más, não, a maioria era gente que só não queria abrir mão dos direitos que tinham conquistado até então, direitos que muitas delas tinham conseguido com trabalho honesto e persistente. O ponto aqui não é o mal aparente e óbvio, que lesa alguém de maneira explícita, mas o orgulho, que muitas vezes reside íntima e discretamente nos corações. Orgulhoso é essencialmente alguém inseguro, que confia mais nos homens e no que esses veem, que em suas qualidades morais interiores e no que Deus vê, assim há orgulho mesmo no religioso. 
      Ah, o tempo, ele é a principal ferramenta nas mãos do Altíssimo Deus. Por isso o mundo material foi criado, por isso Deus colocou espíritos eternos presos por algum em tempo em corpos físicos, para que o ser fosse confrontado com a morte, com o sofrimento, com as consequências de suas escolhas. É a magia do tempo que nos permite sentir de forma mais profunda o pecado, ver nossa existência sendo encerrada, vendo nossas forças, nossa saúde, nossas paixões sendo diluídas, entendendo que não somos deuses eternos, que podemos ter um fim. Só recebemos vida eterna depois que morrem, não nossos corpos, mas nossos orgulhos. Cristo morreu não por ter orgulho, mas para que nós fôssemos libertos do nosso orgulho. 
      Na parábola “O rio da união” o tempo teve seu bom fruto nos ricos que ficaram na cidade longe do rio, tanto que ainda que tenham aprendido a lição, estariam satisfeitos mesmo com menos que mereciam. De fato, os humildes que aprendem a lição têm essa disposição, não são mais insatisfeitos ainda que tenham muito, mas mesmo com pouco sentem que têm mais que precisam, por isso recebem de Deus glória eterna. Como já foi dito aqui, não basta fazer certo, temos que fazer do jeito certo, a coisa certa abençoa os outros, mas fazer do jeito certo abençoa quem faz. O jeito certo é o amor, esse acha na humildade a paz, na glória de Deus a recompensa. Não basta ser religioso, cristão ou patriota, é preciso ser humilde para ser espiritual.
      Uma palavra aos mais velhos, que frutos temos colhido no tempo? Cansaço, amargura, decepção, solidão, descrença, desvio religioso, hipocrisia? Ou achamos a paz que permanece, somos misericordiosos com os outros porque provamos a nossa parte de misericórdia de Deus, temos paciência para amar e assim temos poucos amigos, mas com os quais podemos contar, mesmo entre parentes próximos? A bênção está perto do rio, morando humildemente nas suas margens, pondo-se a orar em cada madrugada para beber diretamente do Santo Espírito a água mais pura e poderosa, sabendo o que tantos não sabem, não por teorias de conspiração, em interpretações escatológicas equivocadas, mas pela palavra de Deus que é vida eterna. 

5. Amor, fruto da verdade 

      “Tu crês que há um só Deus, fazes bem, também os demônios o crêem e estremecem, mas ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta?” “Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.” Tiago 2.19-20, 24 “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor.” I Coríntios 13.13

      Amor abre, abraça, assim, une e adiciona tornando o todo mais forte. Nas trevas há ausência de amor, ainda que se ache para isso desculpa num “Deus” que julga e condena os que andam longe dele, mas isso é uma mentira, ninguém está longe de Deus, nunca, não pelo que depende de Deus. Sem amor há cisões, seitas, divisões, conflitos, guerras, violência, desrespeito com o diferente. Sem amor a ideologia de alguns é imposta para todos, assim há uma contradição, ainda que se ache que se faz uma união, faz-se uma divisão, não para que cada um creia quando, onde e como possa, mas naquilo que alguns creem. No amor também há uma contradição, mas boa, ela divide para unir, entrega liberdade para que todos sejam semelhantes.
      Em amor luta-se pelo direito mesmo daquele que não quer o amor. No amor espera-se, pacientemente, ainda que silenciosamente pelo que se afasta, consciente de que esse se afasta, mas crendo e orando para que haja volta. O tempo só pode ser administrado do melhor jeito com amor, porque aí ele será tempo de morte da semente na terra para que depois brote e viva como uma linda árvore frutífera. Tristemente muitos que se dizem cristãos atualmente negam as ferramentas e as virtudes mais altas de Deus, amor paciente e o tempo, querem tudo aqui e agora, achando-se merecedores disso por se dizerem cheios de fé, como se fé bastasse, assim apoiam líderes enganadores, se enganam porque se tornaram enganáveis. 
      Não basta crer, a obra maior é o amor. O quarto homem da parábola “O rio da união”, assim como os habitantes da cidade nas margens do rio que ele fundou, entenderam que o mais importante nem era a água, mas o amor. Se fosse a água, teria bastado o sistema de encanamento que o terceiro homem construiu. Nem só a fé num Cristo, atualmente numa posição espiritual altíssima, bastou a uma humanidade que gerou religiões cristãs que queriam manipular e lucrar. É preciso praticar obras usando como exemplo a vida do Cristo homem. A humanidade passou do momento “fé num Deus único”, mas ainda não foi aprovada no quesito “amar como Cristo” para estar perto desse Deus.
      Os habitantes das margens do rio abriram as águas para todos, e quando muitos entenderam que estar unidos com semelhantes era melhor, os talentos e diferenças de muitos deixaram a sociedade mais forte. Cristãos precisam de budistas, como budistas precisam de afro-espíritas, como afro-espíritas precisam de muçulmanos, como muçulmanos precisam de cristãos, só para citar alguns exemplos, e todos esses precisam de cientistas, como cientistas precisam de todos os religiosos. Se alguém se achar mais dono da verdade mais alta que outros, que guarde essa presunção para si e para Deus, isso pode nem ser algo errado, mas que mostre em obras de amor essa superioridade aos outros, com humildade, não com arrogância. 
      A humanidade é linda pelas diferenças, como é a natureza em sua diversidade animal e vegetal, e essa beleza material é prova da sofisticação de um Deus espiritual. Um Deus espiritual Altíssimo cria espíritos de todas as matizes, de forma muito mais complexa que muitos protestantes acham, cegos dentro das quatro paredes de seus templos, cantando hinos centenários aos domingos. Somos chamados para fora, não para dentro, como alguns já entenderam, mas como os mesmos não entenderam, para ficar lá fora, não para fazer escravos e voltar para dentro. Não fora de igrejas, mas fora do orgulho, só então estaremos dentro do amor de Deus. Fé em Deus importa, mas sem amor será água vendida e manipulada por homens. 

6. Muito além do rio 

      “Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão. Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.” II Pedro 3.10-13 

      A última prova será a mais difícil, e muitos se preparam de maneira errada para ela. A última parte da parábola “O rio da união” mostra que o trabalho moral do ser humano, assim espiritual, é longo. Num momento quando tudo pareceu estar bem, as pessoas caíram numa tentação, que ainda que parecesse uma graduação espiritual, não era uma iluminação, era um retrocesso. Alguns se acharam mais espirituais que os outros e tentaram adicionar algo à pureza da vida. Deus não precisa de advogados, mas usa testemunhas. Ao que se dá nome limita-se. Na espiritualidade muita coisa definida como dogma é só uma limitação material e humana a algo espiritual e divino.
      O ser humano tem um desejo difícil de ser superado, ser dono exclusivo de algo, e eis outra contradição humana. O homem quer ser exclusivo, mas para ter algo que outros valorizam, só se valoriza algo que se experimentou como algo bom, portanto algo que não é exclusivo. Atualmente muitos querem postar fotos em redes sociais para exibirem-se como quem aproveita a vida fazendo ou sendo algo diferente, mas quando mais de um quer se postar assim, para ser valorizado por pares, não se faz ou é mais algo exclusivo, mas igual. Só tem um jeito de realmente sermos exclusivos, do jeito espiritual, sendo o que Deus nos criou para ser, mas para isso temos que nos libertar da carência de aprovação de seres humanos.
      Na parábola quando todos estavam felizes tendo mais ou menos a mesma coisa e sendo mantidos por um único bem maior, o rio, alguns ficaram insatisfeitos. Foram tentados pela vaidade de serem diferentes, achando que nisso teriam uma atenção maior de homens que os outros. Quando olhamos demais para baixo é porque deixamos de olhar para cima, quando exigimos demais de homens é porque não estamos pedindo a Deus e nos satisfazendo com o que ele dá. Em Deus não há insatisfação, mas há num falso deus ou na ociosidade. Ser espiritual é estar espiritual, uma diferenciação que a língua portuguesa nos permite, assim ser espiritual é estar em movimento para o alto, em constante trabalho para melhorar. 
      Voltemos agora à afirmação feita no início desta reflexão: a última prova será a mais difícil. Muitos cristãos se preparam para os últimos tempos achando que grandes provas de fé serão como foram as provas do cristianismo primitivo, com ameaça física de tortura e morte. O ser humano já passou desse ponto, as provas hoje são mais ideológicas, são mentais e psicológicas, sociais e morais, não direta e explicitamente materiais. Hoje ações e palavras são coibidas, não com espada e cárcere, mas com leis e cancelamentos em redes sociais, a perseguição é virtual. Muitos cristãos se dizem prontos para morrer pelo evangelho, mas não resistem diante de dislikes e perda de inscritos em páginas e canais da internet, as coisas mudaram. 
      O rio da parábola era só algo para conduzir as pessoas para provarem algo melhor em suas existências, algo que as faria melhores como sociedade: viverem unidas com igualdade. Contudo, quando esse propósito fosse alcançado as pessoas não ficariam sem objetivo. O muito além do rio estava no alto, mas não no alto físico, nos satélites, planetas, estrelas, sistemas solares, galáxias, estava no alto espiritual. Como humanidade, quando chegaremos nesse ponto, quando o problema não será mais água, comida, saúde, educação, arte, cuidado com o planeta Terra, enfim com o rio, mas com a vida eterna? Todavia, antes disso, a humanidade passará por uma grande prova, para a qual muitos cristãos não estão prontos. 

José Osório de Souza, 30/01/2023

25/08/25

Iluminação não é opção (7/7)

      “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.Provérbios 4.18

      Queridos, queridas e demais, existe um motivo pelo qual insisto tanto em dizer que Deus tem para nós algo mais que aquilo que a teologia tradicional protestante nos ensina em igrejas evangélicas. O motivo é que há muitos perdendo a batalha para o pecado, porque tentam combatê-lo como crianças, não como adultos. Repito o que já disse outras vezes, não demonizo aqui religião ou igrejas, nenhuma, cristianismos católico, protestante e pentecostal são úteis nas mãos de Deus para ensinar Jesus, entregar perdão e paz, e com efeito, permitir um caminhar de vitória neste mundo e no outro. Se você quer conhecer o Cristo, participe de reuniões em igrejas cristãs, seja fiel no que aprende, Deus tem muito para você nesses lugares. 
     O ponto é que religiões estabelecidas, cristãs ou não, não podem ser eficientes em toda a nossa trajetória no mundo, porque ainda que não admitamos, nossas almas amadurecem, assim precisam mais que experiências dos outros. Só experiências em primeira mão com Deus nos levarão até o final em paz e vitória. Por isso, num determinado momento, quando a ilusão de religiões construídas por homens acabar, quando nos cansarmos de dizer a nós mesmos que nenhuma igreja é perfeita e que não devemos olhar para homens, mas para Deus, temos que iniciar uma jornada pessoal, não só pela verdade mais alta e mais pura, mas pela nossa saúde moral, espiritual e mesmo física e mental, isso se de fato queremos melhorar. 
      Nesta reflexão em sete partes, pensamos iluminação espiritual sob vários aspectos. O termo iluminação, usado em óticas espiritualistas, também está na Bíblia, como em Salmos 34.5, mas Jesus é a maior iluminação que a humanidade recebeu. Não pense o termo iluminação como saber de algum conhecimento ocultista, portanto, diabólico, mas como a recepção de uma emanação de luz do Deus Altíssimo, onde há abertura dos sentidos espirituais para que sejamos libertados, não só de vícios e doenças morais, que acham no uso desenfreado do corpo físico a fuga em prazeres passageiros e destrutivos, mas libertados de superstições e misticismos religiosos, que nos prendem a um entendimento menor de Deus e do plano espiritual. 
      Todos chegam num ponto onde receber iluminação não é mais questão de escolha, mas obrigação por necessidade. Quando nos abrimos para a luz do Altíssimo nos sentimos como vendo um ambiente mais definido pela primeira vez, ambiente no qual habitamos por tanto tempo com pouca luz, onde achávamos que os esboços que víamos era toda a verdade. Quem anda em Jesus não está em trevas, mas só recebe luz mais forte se quiser, estiver preparado, e consequentemente, estiver necessitado, visto que não pode mais seguir em paz e vitória sem luz mais forte. Contudo, sei que muitas palavras do “Como o ar que respiro” não são para todos, assim, não se escandalize nem se desvie, se estiver de fato bem como está fique firme.
      Uma iluminação espiritual genuína não nega Jesus, Bíblia ou cristianismo, mas ilumina entendimentos que temos disso e nos faz ver além. Nunca deixo de citar versículos aqui, amo a Bíblia, mas não tenho medo de criticar certos registros antigos, e mais, certas interpretações ultrapassadas que muitos fazem da Bíblia, não porque Deus tenha mudado, mas porque o homem mudou e está pronto para ser iluminado. Acredito num cristianismo progressista, não conservador, porque creio num Deus progressista. Deus se revela aos poucos, arrogantes os que acham que tudo que precisam saber já foi revelado. A crianças o pai fala de forma infantil, ainda que ensinando princípios básicos e imutáveis, mas crianças devem crescer. 
      Todavia, seres humanos vaidosos, covardes, e consequentemente presos a preconceitos e ao pecado, querem manter como referência máxima de iluminação as sombras nas quais os homens viveram por tanto tempo. Manter adultos como crianças facilita o controle, impede iniciativas de avaliações pessoais e mudança de opinião. Isso inibe o livre pensar que permite que se deixe a tutela de outros e se caminhe sozinho, fazendo escolhas próprias. Infelizmente muitos temem mais papa, falsos apóstolos, padres, pastores, teólogos, instituições religiosas e tradições, que a Deus. Adultos podem reavaliar tudo, inclusive os próprios pais, para então conhecer melhor o Pai superior de todas as almas, o Deus da luz mais elevada. 

24/08/25

Jornada de iluminações (6/7)

      “Olharam para ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficaram confundidos.” Salmos 34.5 

      Se nada é dito ou é porque tudo foi dito, ou porque nada pode ser dito, pelo menos no nível atual do ouvinte. Conhecemos as coisas espirituais mais altas relacionando-nos com Deus, num diálogo onde se fala e se ouve. Mas o aprendizado desse diálogo não tem objetivo único de passar informações para satisfazer curiosidade intelectual, aliás, a tradição judaico-cristã nunca se prestou a isso. Seja pela obediência à lei mosaica, seja pela fé no Cristo, o objetivo é fazer o ser humano melhor moralmente, de modo a receber ajuda de Deus neste mundo e descanso no outro. Dialogar com Deus permite conhecimento de sua viva palavra pelo seu Espírito, é mais que informação, é força para se vencer o pecado e aproximar-se de Deus.
      A palavra de Deus é vida eterna! Quando o Senhor dialoga conosco ele compartilha sua essência com a nossa, o que nos atrai para o alto, às virtudes morais mais elevadas. É claro que enquanto no mundo físico, presos a corpos materiais, a vida recebida não fica conosco para sempre, como água que mata a sede acaba assim que é consumida. Por isso a necessidade de uma busca constante e perseverante, que só anexará a nossos espíritos um nível superior quando morrermos no mundo e formos avaliados no juízo. Lá seremos o que fomos por mais tempo aqui, se santos, humildes e amorosos, cidadãos de um céu, se sujos, orgulhosos e egoístas, prisioneiros do inferno. Enfim, estamos aqui para nos aproximarmos da luz divina. 
      Convertermo-nos ao evangelho, nascermos de novo no espírito, crermos em Jesus e recebermos pela fé o perdão de Deus, eis a iluminação inicial, que nos conecta a Deus pelo seu Espírito. Experimentarmos os dons do Espírito, liberando nossa mente e nosso emocional para discernirmos as coisas espirituais por ferramentas espirituais, eis uma segunda iluminação. Contudo, diferente do que muitos cristãos acham, isso não é o fim, mas só o princípio. Bem-aventurado aquele que entra na grande casa espiritual pela porta principal, o Espírito Santo enviado por Jesus, esse ficará, ceará e será satisfeito. A tentativa de entrar por outros meios, não será bem sucedida, quem entra pela janela é ladrão, não filho do proprietário da casa. 
      Caminhar para Deus é trabalho a dois, nos movemos à medida que somos atraídos, temos que avançar, mas só quando estivermos preparados, consequentemente quando estivermos capacitados para seguir. Saber quando ir e quando esperar, quando perguntar e quando ouvir, discernir se o silêncio é porque não nos preparamos ou porque já ouvimos o suficiente, tudo isso é conhecido numa íntima conexão com Deus. Nessa conexão podemos ouvir a voz de Deus nos púlpitos, pela Bíblia, exercendo atividades seculares, mas o jeito mais eficiente e direto é orando no Espírito Santo, exercendo dons espirituais para falar, ouvir, ver e sentir mistérios espirituais. Isso é iluminação, a obra principal que temos que realizar no mundo.
      Ensinando-me sobre a jornada de iluminações espirituais, o Espírito Santo me passou a ideia que essa jornada é um caminho que passa por múltiplas salas com múltiplas portas. Ninguém começa a andar com Deus e chega direto à última sala, as portas a princípio estão fechadas. Para abrir cada porta é preciso aperfeiçoamento moral, nisso seguir ensinos e a exemplo do Cristo aprova-nos para usar chaves. Ocultistas, bruxos e satanistas têm conhecimento semelhante, a diferença é que muitos deles não caminham com temor a Deus, obedecendo o melhor plano de Deus para suas vidas, e principalmente, para serem seres humanos parecidos com Jesus. Ainda que respeitem o plano espiritual, muitos querem manipula-lo com objetivos egoístas e materiais. 
      “Se estiver preparado uma força te atrairá”. Há uma organização espiritualista que usa frase semelhante, não fazendo juízo de valor dessa organização, sinto verdade nessa frase, aliás como há verdade em tantas frases usadas por igrejas evangélicas não tão bem intencionadas. Humildade para esperar e saber a vontade de Deus, fé e diligência para obedecer a vontade de Deus, santidade e amor para permanecer na vontade de Deus, assim somos conduzidos, porta a porta para entrar em sala após sala. Em cada porta é preciso fé para abrir, diante delas Deus nos deixará cientes da seriedade que há em receber uma nova iluminação. Mas à medida que progredirmos na jornada seremos melhores e anônimos, discretos com o conhecimento obtido. 

23/08/25

A glória do anonimato (5/7)

      “E depois disto Jesus andava pela Galiléia, e já não queria andar pela Judéia, pois os judeus procuravam matá-lo. E estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos. Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.João 7.1-5

      O título desta reflexão é “A glória do anonimato”, mas há glória no anonimato? O que muitas pessoas mais querem atualmente, de posse de um celular e de contas em redes sociais e no Youtube, é não serem anônimas, é serem conhecidas pelo maior número de pessoas possível por serem especiais de alguma forma. É certo que há uma enorme contradição nesse desejo, querem ser diferentes à medida que se encaixam em referências reconhecidas como de pessoas importantes, assim querem ser iguais. O ser humano é amante de contradições, consegue funcionar nelas como se elas não existissem, por isso tantos fugindo da lucidez, abraçando a insanidade e amando ser anormalmente normais. 
      Jesus é o melhor exemplo de ser anônimo, aquele que é não por ser medíocre, por não ter auto-estima, por não desempenhar qualquer função notável na sociedade, mas por ser altamente espiritual. Jesus em vida não fundou religião, não reuniu milhares em templos, escolheu só doze, e se milhares queriam ouvir sua palavra e receber seus milagres não era por intenção direta dele, ainda que servisse a esses pelo amor mais puro e desinteressado. Vemos nos evangelhos um Cristo aconselhando aqueles que recebiam dele uma cura, que guardassem segredo (Marcos 1.41-45), também o vemos evitando algumas regiões em sua peregrinação. Jesus não queria fama porque sabia o fim de seres humanos bons que se tornam famosos. 
      Eis uma altíssima iluminação espiritual, entender que há glória no anonimato. Jesus também era pragmático, sabia que sua qualidade espiritual incomodava a liderança religiosa de sua época, e que isso suscitaria inveja e vingança. Jesus não queria apressar as coisas, mas ele também sabia que uma grande maioria de pessoas, mesmos entre os muitos que provavam de seus favores e dos poucos que gozavam de sua intimidade, não estava preparada para a verdade que ele vivia aqui e seria lá. Jesus não vendia o cristianismo barato, nem caro, sabia que só no tempo certo as pessoas aceitam a graça de Deus. Mas Jesus era feliz no anonimato, creiam nisso, não achava que estava sacrificando-se nele.
      Católicos e protestantes não entendem a glória do anonimato, ainda que de formas distintas. A cultura católica doutrina o homem numa disposição de morte à vaidade, nela as ordens de padres, freiras, irmãs, freis e de outros, são a celebração de uma religiosidade que acha haver espiritualidade na pobreza, na abstinência, no isolamento e na ignorância. Mas a contradição existe quando eles querem buscar isso, não numa pequena igreja, ligada a alguma denominação protestante desconhecida, mas sob as asas da poderosa Igreja Romana, com sede num Vaticano repleto de catedrais e outras construções luxuosas. O papa é o exemplo maior de glória no mundo, ainda que fale uma coisa, vive outra diferente.
      Já protestantes, ainda que tenham na fundação de sua seita uma igreja cristã mais simples, nega isso nos últimos dias. Grandes denominações têm sido formadas, principalmente no meio pentecostal e neo-pentecostal, com templos-sedes que deixam católicos em suas catedrais seculares com inveja. Mas tem sido ainda pior, querem o reino de Deus no mundo, querem o novo Israel no Brasil, nos E.U.A., querem ser a religião oficial, demonizando tudo e todos que a esse propósito, que pensam ter aprovação de Deus, se opõem. Não, grande parte de auto-denominados cristãos atualmente, não quer a glória do anonimato, por isso não está preparada para a iluminação da verdade espiritual mais elevada. 
      É buscando glória de homens e neste mundo que muitos cristãos não mudam de ideia e não conhecem a verdade, apesar de verem que suas religiões os levaram a um beco sem saída, foram bênçãos no início, mas no final de suas vidas já não os fazem mais seres humanos melhores. Contudo, sem coragem, trocam vitória íntima por aprovação social, trocam o anonimato requerido de todo que é iluminado, vence o pecado e recebe conhecimento do Espírito Santo, por fama. É esse orgulho que tem levado tantos evangélicos a apoiarem uma direita política estúpida. Não sei se está entendendo esta palavra, mas quando tiver tua espiritualidade baseada numa conexão íntima com Deus, não em religião, entenderá. 

22/08/25

Deus não é homem (4/7)

      “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? Eis que recebi mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar.Números 23.19-20
 
      O senso comum cristão usa a afirmação “Deus não é homem”, mas de forma conveniente à teologia tradicional protestante. É útil dizer que Deus não é homem por ter qualidades morais e poderes materiais e espirituais superiores aos dos seres humanos, porém quando se trata de características negativas, como ira, tristeza, vingança, o senso comum não segue o princípio do texto bíblico inicial. Deus não está de fato e por inteiro no mesmo nível moral, material ou espiritual de qualquer ser humano! Em qualquer área! Deus não mente, mas também não se ira, Deus não se arrepende, mas também não se entristece, Deus não volta atrás com sua palavra, não a descumpre, mas também não se vinga. 
      Homens, mulheres, héteros ou homoafetivos, enfim, todos, têm muita dificuldade para entender Deus sem usar a si mesmos como referências. Julgamos os outros por nós, de preferência pondo-nos como melhores e os outros como piores. Entendemos Deus como semelhante, ainda que num nível máximo de excelência, mas com as mesmas características. Não há trevas na luz, não há ausência de amor no Altíssimo, Deus nunca deixa sua posição elevada de virtudes morais, ainda assim nos entende, nos ajuda, se compartilha conosco. Por isso Jesus e sua obra redentora como exemplo de vida, por isso o Espírito Santo e sua missão consoladora e didática. 
      Se pecamos e temos dificuldade para sentir o poder de Deus é porque sujamos o templo, que precisa de tempo para ser restabelecido como local da presença excelsa de Deus. Isso não significa que não podemos ter paz um instante após confessarmos nosso pecado e mostrarmos desejo sincero de não mais cometê-lo. A demora não é porque Deus se entristeceu, se zangou, e está de alguma forma nos punindo e se vingando. A demora em sermos restabelecidos após o pecado é para aprendermos sobre a seriedade do pecado e a necessidade de perseverante vigilância em santidade e amor. Deus não age com dubiedade ou melindre, é sempre consistente e construtivo. 
      Entender a constância benigna e imutável de Deus é uma iluminação espiritual, que muitos não buscam e não se preparam para receber. Para muitos é mais fácil antropomorfizar Deus, vê-lo como um ancião de longos e brancos cabelos e barbas, sentado num trono, rodeado de seres celestiais de luz e entregando penas e recompensas eternas e irrevogáveis. Muitos acham que isso é o fim da mais alta espiritualidade, mas ainda que o conceito por trás disso seja verdadeiro e útil, é apenas o início, por isso homens do passado podiam ter essa noção do divino. Eis um mistério, que nem todos compreendem, conhecimento espiritual se constrói com elementos mentais. 
      Um argumento que ateus e cientificistas gostam de usar é que Deus não criou o homem, foi o homem que criou Deus. Na verdade eles confundem os meios de se colher água com a água. Podemos usar as mãos, canecas ou construir sofisticados sistemas de encanamento, isso são as ferramentas humanas e podem variar, mas a água é a mesma e inalterável. Compreendemos mais o plano espiritual, o sobre-humano, Deus, se nossas ferramentas mentais forem mais sofisticadas, aperfeiçoamos essas ferramentas com oração no Espírito Santo, mas também abrindo a mente para entendimentos espirituais que vão além da doutrina protestante tradicional. 
      Muitos cristãos usam, ainda que de forma implícita, a famosa frase, “não li e não gostei”. Julgam textos de outras religiões como diabólicos sem nunca terem lido. Mas mais que ler os textos, muitos cristãos deveriam conhecer profundamente a prática de vida, não só religiosa, mas social de muitos que condenam como seguidores de satanás, ficariam surpresos a constatarem que muitos desses praticam mais obras de amor e justiça que eles. Mas que cristão quer, ainda que seja só ler, um texto que a doutrina tradicional de sua igreja diz que é de origem demoníaca e que leva ao inferno quem o segue? Sem coragem, não veremos além de um Deus-homem. 

21/08/25

Prontos para a verdade? (3/7)

      “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.Gênesis 12.1-2

      A maior vaidade humana, que por isso pode ser o maior equívoco humano, é o ser humano se achar, não só dono da verdade, mas ter exclusividade sobre ela, verdade que outros não têm, por isso o dono pode considerar-se sinceramente melhor que os outros. Materialistas e céticos, carnais e ateus, civilizados ou não, por não entenderem a existência mais que aquela que sobrevive num corpo físico no plano material, cujas regras podem ser entendidas só pela ciência, se acham proprietários da verdade, e por isso melhores que religiosos e os que baseiam suas existências aqui e no além em fé no sobre-humano e espiritual. 
      Religiosos, ainda que muitos não neguem a ciência para administrar o plano físico, também se acham melhores que veneradores da deusa ciência, mas há agravantes nos religiosos. Enquanto cientificistas são unidos pela ciência, religiosos se dividem e lutam entre si, também por se considerarem mais donos da verdade que outros religiosos. Assim cristianismo saiu do judaísmo, catolicismo saiu do cristianismo original, protestantismo saiu do catolicismo, pentecostalismo saiu do protestantismo. Ciência fria une mais as pessoas que fé religiosa num Deus único e de amor, por triste que seja e incrível que pareça. 
      Cientificistas puristas dizem que ciência atéia salva vidas enquanto religião já matou muitos em nome de Deus. Mas isso não é verdade. Primeiro porque dificilmente há ciência pura, quem financiou e financia a ciência foram impérios e são empresas. Impérios queriam conhecimento para ter poder no mundo, conquistarem e manterem terras e povos. Empresas querem lucro, assim financiam o que dá-lhes retorno financeiro maior e mais fácil, e relevam o que não dá, ainda que seja em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e remédios, por exemplo, que podem salvar de forma mais rápida e barata muita gente. 
      Tudo que está debaixo do ser humano, pelo menos até o momento atual, é corrompido pelo egoísmo, pela cobiça e pela vaidade, de ignorância a conhecimento, de ciência à fé, de universidades a denominações religiosas. Não estamos prontos para a verdade, e me refiro à verdade existencial maior, à iluminação espiritual mais alta. Até estamos, pelos menos muitos e já há algum tempo. Contudo, limitando a ferramenta o que se obtém com ela é menos, ciência e cristianismo são manipulados. O que não podemos é idolatrar coisas manipuladas, corrompidas, e acharmos que nisso estão razão ou espiritualidade puras.
      Cientificistas, manipulados muitas vezes sem saberem ou sem admitirem, consideram os que confiam na fé e não no conhecimento, ignorantes. Cristãos, também manipulados por religiões e textos “sagrados” construídos por homens corruptos, acham que cientistas ou outros religiosos são diabólicos. A verdade não está disponível em qualquer esquina, real ou virtual, de graça e pura, para que qualquer um possa adquirir. A verdade sabe quem se dá ao trabalho de garimpar o ouro puro no meio de sujeira, lixo e simulacros do ouro real. Ela tem um preço? Tem, mas não aquele que homens dão, tem o preço da perseverança moral. 
      Se terminarmos a vida olhando-a igual, dentro da mesma religião, com os mesmos pontos de vista, não conheceremos a verdade. O preço maior pagamos quando entendemos que o que pensamos e cremos não está nos fazendo seres humanos melhores, ainda que tenha nos ajudado até então. Muitos nesse ponto, ou se revoltam com Deus, e muitas vezes o fazem sem admitirem a ninguém, ou seguem hipócritas, tentando achar satisfação no apoio humano que têm dentro dos grupos sociais em que viveram por tanto tempo. Coragem para mudar é o que dá, tanto forças para ser alguém melhor, quanto conhecimento da verdade. 

20/08/25

Direito de fazer (2/7)

      “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” 
Tiago 1.17
      “João respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.” 
João 3.27
      “Respondeu Jesus: nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.” 
João 19.11

      “Quem faz recebeu direito para fazer”, eis um outro princípio que dentro do cristianismo protestante podemos ter dificuldade para entender. Mas existem textos bíblicos que podem embasar esse princípio, como os acima. O terceiro texto bíblico inicial é o mais relevante para esta reflexão, Jesus diz a Pilatos que o fato dele estar mantendo-o preso era um direito que Deus estava lhe dando, portanto, Jesus afirma que seu sofrimento era autorizado por Deus. Mas era autorizado porque Jesus merecia? Acreditamos que não, mas aí está a relevância da obra do Cristo, suportar sofrimento injusto em paz e com humildade.
      Quando nos achamos no direito de ter algo bom e que não prejudica ninguém, o princípio é aceito sem dificuldades, mas o ponto que faz a teologia cristã, de modo geral, criar mirabolantes ou superficiais argumentações, é com relação a quem faz algo que claramente vemos como mau para nós. Na verdade, de maneira geral, o cristianismo tem dificuldades para interagir com o sofrimento, por isso lhe importa tanto a manutenção de uma grande vítima, o Cristo que morreu na cruz. Com esse álibi é mais fácil ter alguém para jogar a culpa, o diabo, e alguém para receber o castigo, Jesus, eximindo-nos de culpa e castigo. 
      Como um assassino tem o direito de ser assassino? Ou como uma criança inocente tem o dever de sofrer crueldade? Pois é, explique isso teologia cristã. É mais fácil responder, “Deus sabe, o assassino terá o inferno como castigo e a criança o céu como recompensa”. Da mesma forma nossa luta diária, se queremos algo de Deus, mas temos “culpa no cartório”, assumimos que fé no Cristo perdoa-nos os pecados e nos deixa com créditos para recebermos algo de Deus. Agora, se o que se pede a Deus demorar, bem, “a culpa é do diabo que é ladrão”. De fato, a teologia cristã torna a vida simples com respostas simplistas. 
      Isso foi útil, durante séculos, para um povo intelectual, moral, social e espiritualmente mais simples. Mas será que essas respostas bastam hoje? Sob meu ponto de vista, infelizmente, ainda bastam para muitos, muitos que usam a maior parte de suas vidas para trabalhar pelo alimento material básico. Contudo, também bastam para gente com mais poder aquisitivo e com melhor formação acadêmica, mas que se acomoda à religião, com o álibi, “creio no que a Bíblia aprova, o que passa disso é diabólico”. Novamente voltamos ao mesmo ponto: a Bíblia é construção humana, ainda que com experiências reais de homens com o Deus verdadeiro. 
      Voltemos ao tema desta reflexão, que podemos chamar também de iluminação: quem faz algo recebeu direito para fazê-lo. Mas recebeu tal direito quando? Se nossa existência inicia-se quando nascemos fisicamente neste mundo, como ensina a doutrina cristã, implica que de forma aleatória alguns recebem o direito de serem agressores, outros, o dever de serem vítimas, sem nenhuma razão específica, alguns nascem para sofrer e outros para fazer sofrer. A cada ser humano cabe aceitar seu “destino”, que pode ser mudado se ele crer em Jesus como salvador. Uma jornada por esse mundo não dá tempo para mais nada. 
      Se quiser poderá entender a quê os questionamentos feitos aqui tentam conduzir. Vendo minha jornada neste mundo e sendo atraído pelo Espírito, busquei aprovação de Deus para entendimentos que vão além da teologia protestante. Demorei muito para ser melhor, magoei muitos, ainda que pela misericórdia de Deus tenha sido protegido de mim mesmo para não deixar consequências mais sérias de meus erros. Mas aos sessenta e três anos provo paz em muitas áreas, e entendi que o direito que tenho nesta vida é de não ser exaltado, assim aceito certas oposições, não como injustiças, mas como necessárias para eu ser humilde.

19/08/25

Todos em todos (1/7)

      “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céusMateus 5.39-41, 44

      “Fazemos parte do universo, quando falhamos, o universo falha”. Como cristãos, podemos ler frases como essa é acharmos que é coisa de religião esotérica ou espiritualista, temos dificuldade de trazer algumas verdades para a doutrina que aprendemos em igrejas protestantes. Abro parênteses, quando uso o termo protestante, me refiro a cristãos que seguem, em sua maioria, uma doutrina comum, pelo menos na maior parte dela, diferenciando da doutrina cristã católica, ortodoxa e mesmo das adições feitas por doutrinas evangélicas pentecostais, fecho parênteses. 
      Como protestantes podemos entender nossa existência de uma forma meio egoísta, ou pelo menos individualista, assim achamos que se pecamos nos prejudicamos, caso contrário, somos beneficiados e mais dignos de um “céu” sem condenação eterna. Mas Jesus não ensinou assim, entendemos isso estudando o sermão das bem-aventuranças em Mateus 5. Abençoar inimigos, dar a outra face ao que nos bate em uma, andar duas milhas com quem nos obriga a caminhar uma, tem a ver não só com ser humilde e pacificador, mas com amar o próximo e ajudá-lo a ser melhor.
      Quando, em nossas provações pessoais, falhamos, estamos perdendo uma oportunidade, ou pelo menos um tempo para sermos úteis nas vidas de outras pessoas. Todos os seres humanos estão ligados pelas chamas eternas que habitam seus interiores. Cada espírito humano é uma porção espiritual originada em Deus, o pai de todos os espíritos, os quais têm o desejo implícito, ainda que muitas vezes não assumido ou mesmo ainda não reconhecido, de voltar para esse pai. Mas essa jornada não é solitária, vai muito além das pessoas que estão fisicamente próximas a nós neste mundo. 
      Não fazemos ideia da complexidade de conexões que existem no universo, entre seres encarnados e os puramente espirituais, entre homens bem e mal intencionados, entre cônjuges, país e filhos, irmãos e amigos, e entre estranhos por completo. Alguns não colhem efeitos diretos e imediatos de nossas escolhas, mas colherão em algum momento. Todos nós somos anjos e demônios dos outros, servos e acusadores, companheiros em cargas pesadas e orgulhosos, tornando a carga dos outros mais pesada. Tudo está ligado, todos estão, você não é só, faz parte do todo. 
      Contudo, só entendemos essa verdade no Espírito Santo. Isso é mais que praticar o cristianismo de forma intelectual, ou distante, e longe não de igrejas e da Bíblia, mas do vivo Espírito. Quem nos une é esse Espírito, que expande nossa percepção mental e emocional da vida e das pessoas. Essa visão, que posso chamar de iluminação, muda nossa maneira de praticar o cristianismo, nos faz entender tudo e todos como Jesus homem entendia. Mas essa visão é unção, força espiritual maior que precisamos para vencer pecado, vaidade, egoísmo, culpa e dor de existirmos aqui. 
      Nessa iluminação não vemos inimigos, ainda que muitos se coloquem assim em relação a nós. Ainda que nos afastemos de alguns, não por escolha nossa, mas de alguns, que insistem em não nos perdoar, que não querem chegar a um entendimento conosco, que não se entendem como parte de todos, assim também de nós, mas como soldados numa batalha contra inimigos, ainda assim sabemos que nosso desleixo na vigilância moral, que nossa falta de misericórdia e paciência, prejudica outros, inclusive inimigos. No Espírito amamos, e no amor nos importamos com todos.

Iluminação

Introdução 

       "Tu pois ordenarás aos filhos de Israel que te tragam azeite puro de oliveiras, batido, para o candeeiro, para fazer arder as lâmpadas continuamente." Êxodo 27.20

      Parece óbvio, mantém-se uma luz de qualidade acesa para que a visão seja melhor, contudo, não é isso que as religiões cristãs têm feito no passar dos séculos. A lâmpada de led da revelação original foi substituída por lâmpadas incandescentes, depois por iluminação a gás e hoje poucas velas, velhas e fracas, seguem tentando clarear grandiosos templos, onde muitos murmuram améns aprovando, cheios de medos, tudo que homens inescrupulosos rezam. Luz transforma-se em trevas, e isso não no mundo escuro, mas nos locais onde se reúnem seres humanos em nome de Deus. Na verdade Deus não prioriza o coletivo, o oficial, o tradicional, o externo, mas o indivíduo, o anônimo, o solitário, o íntimo. Depende de mim e de você sabermos o que importa para sermos o que é eterno.

1. Todos em todos

      “Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; e, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a túnica, larga-lhe também a capa; e, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.” “Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus” Mateus 5.39-41, 44

      “Fazemos parte do universo, quando falhamos, o universo falha”. Como cristãos, podemos ler frases como essa é acharmos que é coisa de religião esotérica ou espiritualista, temos dificuldade de trazer algumas verdades para a doutrina que aprendemos em igrejas protestantes. Abro parênteses, quando uso o termo protestante, me refiro a cristãos que seguem, em sua maioria, uma doutrina comum, pelo menos na maior parte dela, diferenciando da doutrina cristã católica, ortodoxa e mesmo das adições feitas por doutrinas evangélicas pentecostais, fecho parênteses. 
      Como protestantes podemos entender nossa existência de uma forma meio egoísta, ou pelo menos individualista, assim achamos que se pecamos nos prejudicamos, caso contrário, somos beneficiados e mais dignos de um “céu” sem condenação eterna. Mas Jesus não ensinou assim, entendemos isso estudando o sermão das bem-aventuranças em Mateus 5. Abençoar inimigos, dar a outra face ao que nos bate em uma, andar duas milhas com quem nos obriga a caminhar uma, tem a ver não só com ser humilde e pacificador, mas com amar o próximo e ajudá-lo a ser melhor.
      Quando, em nossas provações pessoais, falhamos, estamos perdendo uma oportunidade, ou pelo menos um tempo para sermos úteis nas vidas de outras pessoas. Todos os seres humanos estão ligados pelas chamas eternas que habitam seus interiores. Cada espírito humano é uma porção espiritual originada em Deus, o pai de todos os espíritos, os quais têm o desejo implícito, ainda que muitas vezes não assumido ou mesmo ainda não reconhecido, de voltar para esse pai. Mas essa jornada não é solitária, vai muito além das pessoas que estão fisicamente próximas a nós neste mundo. 
      Não fazemos ideia da complexidade de conexões que existem no universo, entre seres encarnados e os puramente espirituais, entre homens bem e mal intencionados, entre cônjuges, país e filhos, irmãos e amigos, e entre estranhos por completo. Alguns não colhem efeitos diretos e imediatos de nossas escolhas, mas colherão em algum momento. Todos nós somos anjos e demônios dos outros, servos e acusadores, companheiros em cargas pesadas e orgulhosos, tornando a carga dos outros mais pesada. Tudo está ligado, todos estão, você não é só, faz parte do todo. 
      Contudo, só entendemos essa verdade no Espírito Santo. Isso é mais que praticar o cristianismo de forma intelectual, ou distante, e longe não de igrejas e da Bíblia, mas do vivo Espírito. Quem nos une é esse Espírito, que expande nossa percepção mental e emocional da vida e das pessoas. Essa visão, que posso chamar de iluminação, muda nossa maneira de praticar o cristianismo, nos faz entender tudo e todos como Jesus homem entendia. Mas essa visão é unção, força espiritual maior que precisamos para vencer pecado, vaidade, egoísmo, culpa e dor de existirmos aqui. 
      Nessa iluminação não vemos inimigos, ainda que muitos se coloquem assim em relação a nós. Ainda que nos afastemos de alguns, não por escolha nossa, mas de alguns, que insistem em não nos perdoar, que não querem chegar a um entendimento conosco, que não se entendem como parte de todos, assim também de nós, mas como soldados numa batalha contra inimigos, ainda assim sabemos que nosso desleixo na vigilância moral, que nossa falta de misericórdia e paciência, prejudica outros, inclusive inimigos. No Espírito amamos, e no amor nos importamos com todos.

2. Direito de fazer

      “Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.” Tiago 1.17

      “João respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.” João 3.27

      “Respondeu Jesus: nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.” João 19.11

      “Quem faz recebeu direito para fazer”, eis um outro princípio que dentro do cristianismo protestante podemos ter dificuldade para entender. Mas existem textos bíblicos que podem embasar esse princípio, como os acima. O terceiro texto bíblico inicial é o mais relevante para esta reflexão, Jesus diz a Pilatos que o fato dele estar mantendo-o preso era um direito que Deus estava lhe dando, portanto, Jesus afirma que seu sofrimento era autorizado por Deus. Mas era autorizado porque Jesus merecia? Acreditamos que não, mas aí está a relevância da obra do Cristo, suportar sofrimento injusto em paz e com humildade.
      Quando nos achamos no direito de ter algo bom e que não prejudica ninguém, o princípio é aceito sem dificuldades, mas o ponto que faz a teologia cristã, de modo geral, criar mirabolantes ou superficiais argumentações, é com relação a quem faz algo que claramente vemos como mau para nós. Na verdade, de maneira geral, o cristianismo tem dificuldades para interagir com o sofrimento, por isso lhe importa tanto a manutenção de uma grande vítima, o Cristo que morreu na cruz. Com esse álibi é mais fácil ter alguém para jogar a culpa, o diabo, e alguém para receber o castigo, Jesus, eximindo-nos de culpa e castigo. 
      Como um assassino tem o direito de ser assassino? Ou como uma criança inocente tem o dever de sofrer crueldade? Pois é, explique isso teologia cristã. É mais fácil responder, “Deus sabe, o assassino terá o inferno como castigo e a criança o céu como recompensa”. Da mesma forma nossa luta diária, se queremos algo de Deus, mas temos “culpa no cartório”, assumimos que fé no Cristo perdoa-nos os pecados e nos deixa com créditos para recebermos algo de Deus. Agora, se o que se pede a Deus demorar, bem, “a culpa é do diabo que é ladrão”. De fato, a teologia cristã torna a vida simples com respostas simplistas. 
      Isso foi útil, durante séculos, para um povo intelectual, moral, social e espiritualmente mais simples. Mas será que essas respostas bastam hoje? Sob meu ponto de vista, infelizmente, ainda bastam para muitos, muitos que usam a maior parte de suas vidas para trabalhar pelo alimento material básico. Contudo, também bastam para gente com mais poder aquisitivo e com melhor formação acadêmica, mas que se acomoda à religião, com o álibi, “creio no que a Bíblia aprova, o que passa disso é diabólico”. Novamente voltamos ao mesmo ponto: a Bíblia é construção humana, ainda que com experiências reais de homens com o Deus verdadeiro. 
      Voltemos ao tema desta reflexão, que podemos chamar também de iluminação: quem faz algo recebeu direito para fazê-lo. Mas recebeu tal direito quando? Se nossa existência inicia-se quando nascemos fisicamente neste mundo, como ensina a doutrina cristã, implica que de forma aleatória alguns recebem o direito de serem agressores, outros, o dever de serem vítimas, sem nenhuma razão específica, alguns nascem para sofrer e outros para fazer sofrer. A cada ser humano cabe aceitar seu “destino”, que pode ser mudado se ele crer em Jesus como salvador. Uma jornada por esse mundo não dá tempo para mais nada. 
      Se quiser poderá entender a quê os questionamentos feitos aqui tentam conduzir. Vendo minha jornada neste mundo e sendo atraído pelo Espírito, busquei aprovação de Deus para entendimentos que vão além da teologia protestante. Demorei muito para ser melhor, magoei muitos, ainda que pela misericórdia de Deus tenha sido protegido de mim mesmo para não deixar consequências mais sérias de meus erros. Mas aos sessenta e três anos provo paz em muitas áreas, e entendi que o direito que tenho nesta vida é de não ser exaltado, assim aceito certas oposições, não como injustiças, mas como necessárias para eu ser humilde.

3. Prontos para a verdade?

      “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção.” Gênesis 12.1-2

      A maior vaidade humana, que por isso pode ser o maior equívoco humano, é o ser humano se achar, não só dono da verdade, mas ter exclusividade sobre ela, verdade que outros não têm, por isso o dono pode considerar-se sinceramente melhor que os outros. Materialistas e céticos, carnais e ateus, civilizados ou não, por não entenderem a existência mais que aquela que sobrevive num corpo físico no plano material, cujas regras podem ser entendidas só pela ciência, se acham proprietários da verdade, e por isso melhores que religiosos e os que baseiam suas existências aqui e no além em fé no sobre-humano e espiritual. 
      Religiosos, ainda que muitos não neguem a ciência para administrar o plano físico, também se acham melhores que veneradores da deusa ciência, mas há agravantes nos religiosos. Enquanto cientificistas são unidos pela ciência, religiosos se dividem e lutam entre si, também por se considerarem mais donos da verdade que outros religiosos. Assim cristianismo saiu do judaísmo, catolicismo saiu do cristianismo original, protestantismo saiu do catolicismo, pentecostalismo saiu do protestantismo. Ciência fria une mais as pessoas que fé religiosa num Deus único e de amor, por triste que seja e incrível que pareça. 
      Cientificistas puristas dizem que ciência atéia salva vidas enquanto religião já matou muitos em nome de Deus. Mas isso não é verdade. Primeiro porque dificilmente há ciência pura, quem financiou e financia a ciência foram impérios e são empresas. Impérios queriam conhecimento para ter poder no mundo, conquistarem e manterem terras e povos. Empresas querem lucro, assim financiam o que dá-lhes retorno financeiro maior e mais fácil, e relevam o que não dá, ainda que seja em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e remédios, por exemplo, que podem salvar de forma mais rápida e barata muita gente. 
      Tudo que está debaixo do ser humano, pelo menos até o momento atual, é corrompido pelo egoísmo, pela cobiça e pela vaidade, de ignorância a conhecimento, de ciência à fé, de universidades a denominações religiosas. Não estamos prontos para a verdade, e me refiro à verdade existencial maior, à iluminação espiritual mais alta. Até estamos, pelos menos muitos e já há algum tempo. Contudo, limitando a ferramenta o que se obtém com ela é menos, ciência e cristianismo são manipulados. O que não podemos é idolatrar coisas manipuladas, corrompidas, e acharmos que nisso estão razão ou espiritualidade puras.
      Cientificistas, manipulados muitas vezes sem saberem ou sem admitirem, consideram os que confiam na fé e não no conhecimento, ignorantes. Cristãos, também manipulados por religiões e textos “sagrados” construídos por homens corruptos, acham que cientistas ou outros religiosos são diabólicos. A verdade não está disponível em qualquer esquina, real ou virtual, de graça e pura, para que qualquer um possa adquirir. A verdade sabe quem se dá ao trabalho de garimpar o ouro puro no meio de sujeira, lixo e simulacros do ouro real. Ela tem um preço? Tem, mas não aquele que homens dão, tem o preço da perseverança moral. 
      Se terminarmos a vida olhando-a igual, dentro da mesma religião, com os mesmos pontos de vista, não conheceremos a verdade. O preço maior pagamos quando entendemos que o que pensamos e cremos não está nos fazendo seres humanos melhores, ainda que tenha nos ajudado até então. Muitos nesse ponto, ou se revoltam com Deus, e muitas vezes o fazem sem admitirem a ninguém, ou seguem hipócritas, tentando achar satisfação no apoio humano que têm dentro dos grupos sociais em que viveram por tanto tempo. Coragem para mudar é o que dá, tanto forças para ser alguém melhor, quanto conhecimento da verdade. 

4. Deus não é homem 

      “Deus não é homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa; porventura diria ele, e não o faria? Ou falaria, e não o confirmaria? Eis que recebi mandado de abençoar; pois ele tem abençoado, e eu não o posso revogar.” Números 23.19-20

      O senso comum cristão usa a afirmação “Deus não é homem”, mas de forma conveniente à teologia tradicional protestante. É útil dizer que Deus não é homem por ter qualidades morais e poderes materiais e espirituais superiores aos dos seres humanos, porém quando se trata de características negativas, como ira, tristeza, vingança, o senso comum não segue o princípio do texto bíblico inicial. Deus não está de fato e por inteiro no mesmo nível moral, material ou espiritual de qualquer ser humano! Em qualquer área! Deus não mente, mas também não se ira, Deus não se arrepende, mas também não se entristece, Deus não volta atrás com sua palavra, não a descumpre, mas também não se vinga. 
      Homens, mulheres, héteros ou homoafetivos, enfim, todos, têm muita dificuldade para entender Deus sem usar a si mesmos como referências. Julgamos os outros por nós, de preferência pondo-nos como melhores e os outros como piores. Entendemos Deus como semelhante, ainda que num nível máximo de excelência, mas com as mesmas características. Não há trevas na luz, não há ausência de amor no Altíssimo, Deus nunca deixa sua posição elevada de virtudes morais, ainda assim nos entende, nos ajuda, se compartilha conosco. Por isso Jesus e sua obra redentora como exemplo de vida, por isso o Espírito Santo e sua missão consoladora e didática. 
      Se pecamos e temos dificuldade para sentir o poder de Deus é porque sujamos o templo, que precisa de tempo para ser restabelecido como local da presença excelsa de Deus. Isso não significa que não podemos ter paz um instante após confessarmos nosso pecado e mostrarmos desejo sincero de não mais cometê-lo. A demora não é porque Deus se entristeceu, se zangou, e está de alguma forma nos punindo e se vingando. A demora em sermos restabelecidos após o pecado é para aprendermos sobre a seriedade do pecado e a necessidade de perseverante vigilância em santidade e amor. Deus não age com dubiedade ou melindre, é sempre consistente e construtivo. 
      Entender a constância benigna e imutável de Deus é uma iluminação espiritual, que muitos não buscam e não se preparam para receber. Para muitos é mais fácil antropomorfizar Deus, vê-lo como um ancião de longos e brancos cabelos e barbas, sentado num trono, rodeado de seres celestiais de luz e entregando penas e recompensas eternas e irrevogáveis. Muitos acham que isso é o fim da mais alta espiritualidade, mas ainda que o conceito por trás disso seja verdadeiro e útil, é apenas o início, por isso homens do passado podiam ter essa noção do divino. Eis um mistério, que nem todos compreendem, conhecimento espiritual se constrói com elementos mentais. 
      Um argumento que ateus e cientificistas gostam de usar é que Deus não criou o homem, foi o homem que criou Deus. Na verdade eles confundem os meios de se colher água com a água. Podemos usar as mãos, canecas ou construir sofisticados sistemas de encanamento, isso são as ferramentas humanas e podem variar, mas a água é a mesma e inalterável. Compreendemos mais o plano espiritual, o sobre-humano, Deus, se nossas ferramentas mentais forem mais sofisticadas, aperfeiçoamos essas ferramentas com oração no Espírito Santo, mas também abrindo a mente para entendimentos espirituais que vão além da doutrina protestante tradicional. 
      Muitos cristãos usam, ainda que de forma implícita, a famosa frase, “não li e não gostei”. Julgam textos de outras religiões como diabólicos sem nunca terem lido. Mas mais que ler os textos, muitos cristãos deveriam conhecer profundamente a prática de vida, não só religiosa, mas social de muitos que condenam como seguidores de satanás, ficariam surpresos a constatarem que muitos desses praticam mais obras de amor e justiça que eles. Mas que cristão quer, ainda que seja só ler, um texto que a doutrina tradicional de sua igreja diz que é de origem demoníaca e que leva ao inferno quem o segue? Sem coragem, não veremos além de um Deus-homem. 

5. A glória do anonimato 

      “E depois disto Jesus andava pela Galiléia, e já não queria andar pela Judéia, pois os judeus procuravam matá-lo. E estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos. Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.” João 7.1-5

      O título desta reflexão é “A glória do anonimato”, mas há glória no anonimato? O que muitas pessoas mais querem atualmente, de posse de um celular e de contas em redes sociais e no Youtube, é não serem anônimas, é serem conhecidas pelo maior número de pessoas possível por serem especiais de alguma forma. É certo que há uma enorme contradição nesse desejo, querem ser diferentes à medida que se encaixam em referências reconhecidas como de pessoas importantes, assim querem ser iguais. O ser humano é amante de contradições, consegue funcionar nelas como se elas não existissem, por isso tantos fugindo da lucidez, abraçando a insanidade e amando ser anormalmente normais. 
      Jesus é o melhor exemplo de ser anônimo, aquele que é não por ser medíocre, por não ter auto-estima, por não desempenhar qualquer função notável na sociedade, mas por ser altamente espiritual. Jesus em vida não fundou religião, não reuniu milhares em templos, escolheu só doze, e se milhares queriam ouvir sua palavra e receber seus milagres não era por intenção direta dele, ainda que servisse a esses pelo amor mais puro e desinteressado. Vemos nos evangelhos um Cristo aconselhando aqueles que recebiam dele uma cura, que guardassem segredo (Marcos 1.41-45), também o vemos evitando algumas regiões em sua peregrinação. Jesus não queria fama porque sabia o fim de seres humanos bons que se tornam famosos. 
      Eis uma altíssima iluminação espiritual, entender que há glória no anonimato. Jesus também era pragmático, sabia que sua qualidade espiritual incomodava a liderança religiosa de sua época, e que isso suscitaria inveja e vingança. Jesus não queria apressar as coisas, mas ele também sabia que uma grande maioria de pessoas, mesmos entre os muitos que provavam de seus favores e dos poucos que gozavam de sua intimidade, não estava preparada para a verdade que ele vivia aqui e seria lá. Jesus não vendia o cristianismo barato, nem caro, sabia que só no tempo certo as pessoas aceitam a graça de Deus. Mas Jesus era feliz no anonimato, creiam nisso, não achava que estava sacrificando-se nele.
      Católicos e protestantes não entendem a glória do anonimato, ainda que de formas distintas. A cultura católica doutrina o homem numa disposição de morte à vaidade, nela as ordens de padres, freiras, irmãs, freis e de outros, são a celebração de uma religiosidade que acha haver espiritualidade na pobreza, na abstinência, no isolamento e na ignorância. Mas a contradição existe quando eles querem buscar isso, não numa pequena igreja, ligada a alguma denominação protestante desconhecida, mas sob as asas da poderosa Igreja Romana, com sede num Vaticano repleto de catedrais e outras construções luxuosas. O papa é o exemplo maior de glória no mundo, ainda que fale uma coisa, vive outra diferente.
      Já protestantes, ainda que tenham na fundação de sua seita uma igreja cristã mais simples, nega isso nos últimos dias. Grandes denominações têm sido formadas, principalmente no meio pentecostal e neo-pentecostal, com templos-sedes que deixam católicos em suas catedrais seculares com inveja. Mas tem sido ainda pior, querem o reino de Deus no mundo, querem o novo Israel no Brasil, nos E.U.A., querem ser a religião oficial, demonizando tudo e todos que a esse propósito, que pensam ter aprovação de Deus, se opõem. Não, grande parte de auto-denominados cristãos atualmente, não quer a glória do anonimato, por isso não está preparada para a iluminação da verdade espiritual mais elevada. 
      É buscando glória de homens e neste mundo que muitos cristãos não mudam de ideia e não conhecem a verdade, apesar de verem que suas religiões os levaram a um beco sem saída, foram bênçãos no início, mas no final de suas vidas já não os fazem mais seres humanos melhores. Contudo, sem coragem, trocam vitória íntima por aprovação social, trocam o anonimato requerido de todo que é iluminado, vence o pecado e recebe conhecimento do Espírito Santo, por fama. É esse orgulho que tem levado tantos evangélicos a apoiarem uma direita política estúpida. Não sei se está entendendo esta palavra, mas quando tiver tua espiritualidade baseada numa conexão íntima com Deus, não em religião, entenderá. 

6. Jornada de iluminações 

      “Olharam para ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficaram confundidos.” Salmos 34.5 

      Se nada é dito ou é porque tudo foi dito, ou porque nada pode ser dito, pelo menos no nível atual do ouvinte. Conhecemos as coisas espirituais mais altas relacionando-nos com Deus, num diálogo onde se fala e se ouve. Mas o aprendizado desse diálogo não tem objetivo único de passar informações para satisfazer curiosidade intelectual, aliás, a tradição judaico-cristã nunca se prestou a isso. Seja pela obediência à lei mosaica, seja pela fé no Cristo, o objetivo é fazer o ser humano melhor moralmente, de modo a receber ajuda de Deus neste mundo e descanso no outro. Dialogar com Deus permite conhecimento de sua viva palavra pelo seu Espírito, é mais que informação, é força para se vencer o pecado e aproximar-se de Deus.
      A palavra de Deus é vida eterna! Quando o Senhor dialoga conosco ele compartilha sua essência com a nossa, o que nos atrai para o alto, às virtudes morais mais elevadas. É claro que enquanto no mundo físico, presos a corpos materiais, a vida recebida não fica conosco para sempre, como água que mata a sede acaba assim que é consumida. Por isso a necessidade de uma busca constante e perseverante, que só anexará a nossos espíritos um nível superior quando morrermos no mundo e formos avaliados no juízo. Lá seremos o que fomos por mais tempo aqui, se santos, humildes e amorosos, cidadãos de um céu, se sujos, orgulhosos e egoístas, prisioneiros do inferno. Enfim, estamos aqui para nos aproximarmos da luz divina. 
      Convertermo-nos ao evangelho, nascermos de novo no espírito, crermos em Jesus e recebermos pela fé o perdão de Deus, eis a iluminação inicial, que nos conecta a Deus pelo seu Espírito. Experimentarmos os dons do Espírito, liberando nossa mente e nosso emocional para discernirmos as coisas espirituais por ferramentas espirituais, eis uma segunda iluminação. Contudo, diferente do que muitos cristãos acham, isso não é o fim, mas só o princípio. Bem-aventurado aquele que entra na grande casa espiritual pela porta principal, o Espírito Santo enviado por Jesus, esse ficará, ceará e será satisfeito. A tentativa de entrar por outros meios, não será bem sucedida, quem entra pela janela é ladrão, não filho do proprietário da casa. 
      Caminhar para Deus é trabalho a dois, nos movemos à medida que somos atraídos, temos que avançar, mas só quando estivermos preparados, consequentemente quando estivermos capacitados para seguir. Saber quando ir e quando esperar, quando perguntar e quando ouvir, discernir se o silêncio é porque não nos preparamos ou porque já ouvimos o suficiente, tudo isso é conhecido numa íntima conexão com Deus. Nessa conexão podemos ouvir a voz de Deus nos púlpitos, pela Bíblia, exercendo atividades seculares, mas o jeito mais eficiente e direto é orando no Espírito Santo, exercendo dons espirituais para falar, ouvir, ver e sentir mistérios espirituais. Isso é iluminação, a obra principal que temos que realizar no mundo.
      Ensinando-me sobre a jornada de iluminações espirituais, o Espírito Santo me passou a ideia que essa jornada é um caminho que passa por múltiplas salas com múltiplas portas. Ninguém começa a andar com Deus e chega direto à última sala, as portas a princípio estão fechadas. Para abrir cada porta é preciso aperfeiçoamento moral, nisso seguir ensinos e a exemplo do Cristo aprova-nos para usar chaves. Ocultistas, bruxos e satanistas têm conhecimento semelhante, a diferença é que muitos deles não caminham com temor a Deus, obedecendo o melhor plano de Deus para suas vidas, e principalmente, para serem seres humanos parecidos com Jesus. Ainda que respeitem o plano espiritual, muitos querem manipula-lo com objetivos egoístas e materiais. 
      “Se estiver preparado uma força te atrairá”. Há uma organização espiritualista que usa frase semelhante, não fazendo juízo de valor dessa organização, sinto verdade nessa frase, aliás como há verdade em tantas frases usadas por igrejas evangélicas não tão bem intencionadas. Humildade para esperar e saber a vontade de Deus, fé e diligência para obedecer a vontade de Deus, santidade e amor para permanecer na vontade de Deus, assim somos conduzidos, porta a porta para entrar em sala após sala. Em cada porta é preciso fé para abrir, diante delas Deus nos deixará cientes da seriedade que há em receber uma nova iluminação. Mas à medida que progredirmos na jornada seremos melhores e anônimos, discretos com o conhecimento obtido. 

7. Iluminação não é opção 

      “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito.” Provérbios 4.18

      Queridos, queridas e demais, existe um motivo pelo qual insisto tanto em dizer que Deus tem para nós algo mais que aquilo que a teologia tradicional protestante nos ensina em igrejas evangélicas. O motivo é que há muitos perdendo a batalha para o pecado, porque tentam combatê-lo como crianças, não como adultos. Repito o que já disse outras vezes, não demonizo aqui religião ou igrejas, nenhuma, cristianismos católico, protestante e pentecostal são úteis nas mãos de Deus para ensinar Jesus, entregar perdão e paz, e com efeito, permitir um caminhar de vitória neste mundo e no outro. Se você quer conhecer o Cristo, participe de reuniões em igrejas cristãs, seja fiel no que aprende, Deus tem muito para você nesses lugares. 
     O ponto é que religiões estabelecidas, cristãs ou não, não podem ser eficientes em toda a nossa trajetória no mundo, porque ainda que não admitamos, nossas almas amadurecem, assim precisam mais que experiências dos outros. Só experiências em primeira mão com Deus nos levarão até o final em paz e vitória. Por isso, num determinado momento, quando a ilusão de religiões construídas por homens acabar, quando nos cansarmos de dizer a nós mesmos que nenhuma igreja é perfeita e que não devemos olhar para homens, mas para Deus, temos que iniciar uma jornada pessoal, não só pela verdade mais alta e mais pura, mas pela nossa saúde moral, espiritual e mesmo física e mental, isso se de fato queremos melhorar. 
      Nesta reflexão em sete partes, pensamos iluminação espiritual sob vários aspectos. O termo iluminação, usado em óticas espiritualistas, também está na Bíblia, como em Salmos 34.5, mas Jesus é a maior iluminação que a humanidade recebeu. Não pense o termo iluminação como saber de algum conhecimento ocultista, portanto, diabólico, mas como a recepção de uma emanação de luz do Deus Altíssimo, onde há abertura dos sentidos espirituais para que sejamos libertados, não só de vícios e doenças morais, que acham no uso desenfreado do corpo físico a fuga em prazeres passageiros e destrutivos, mas libertados de superstições e misticismos religiosos, que nos prendem a um entendimento menor de Deus e do plano espiritual. 
      Todos chegam num ponto onde receber iluminação não é mais questão de escolha, mas obrigação por necessidade. Quando nos abrimos para a luz do Altíssimo nos sentimos como vendo um ambiente mais definido pela primeira vez, ambiente no qual habitamos por tanto tempo com pouca luz, onde achávamos que os esboços que víamos era toda a verdade. Quem anda em Jesus não está em trevas, mas só recebe luz mais forte se quiser, estiver preparado, e consequentemente, estiver necessitado, visto que não pode mais seguir em paz e vitória sem luz mais forte. Contudo, sei que muitas palavras do “Como o ar que respiro” não são para todos, assim, não se escandalize nem se desvie, se estiver de fato bem como está fique firme.
      Uma iluminação espiritual genuína não nega Jesus, Bíblia ou cristianismo, mas ilumina entendimentos que temos disso e nos faz ver além. Nunca deixo de citar versículos aqui, amo a Bíblia, mas não tenho medo de criticar certos registros antigos, e mais, certas interpretações ultrapassadas que muitos fazem da Bíblia, não porque Deus tenha mudado, mas porque o homem mudou e está pronto para ser iluminado. Acredito num cristianismo progressista, não conservador, porque creio num Deus progressista. Deus se revela aos poucos, arrogantes os que acham que tudo que precisam saber já foi revelado. A crianças o pai fala de forma infantil, ainda que ensinando princípios básicos e imutáveis, mas crianças devem crescer. 
      Todavia, seres humanos vaidosos, covardes, e consequentemente presos a preconceitos e ao pecado, querem manter como referência máxima de iluminação as sombras nas quais os homens viveram por tanto tempo. Manter adultos como crianças facilita o controle, impede iniciativas de avaliações pessoais e mudança de opinião. Isso inibe o livre pensar que permite que se deixe a tutela de outros e se caminhe sozinho, fazendo escolhas próprias. Infelizmente muitos temem mais papa, falsos apóstolos, padres, pastores, teólogos, instituições religiosas e tradições, que a Deus. Adultos podem reavaliar tudo, inclusive os próprios pais, para então conhecer melhor o Pai superior de todas as almas, o Deus da luz mais elevada.

Conclusão 

      "Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor." Lamentações 3.26

      Amo o versículo acima e nos últimos anos tenho amado-o mais. Há algum tempo deixei redes sociais, e há mais tempo as usava, mas só como ferramentas de compartilhamento de música e tecnologia musical, minha área profissional. Hoje, além do "Como o er que respiro", só mantenho meu canal no YouTube, também para promover minha atividade profissional. No momento tenho postagens programadas para até junho de 2033, quando cessará, se algo não me mover ao contrário, o blog. Tenha ficado feliz em constatar o quanto tenho me tornado desapegado com aprovação pública, e por outro lado, o quanto tem me bastado o que Deus pensa, sabe e faz por mim. 
      Coisa boa demais quando a alma cala, quando as vozes, todas elas, silenciam-se, quando só o Altíssimo Deus, nas regiões espirituais mais elevadas, fala, essa voz é sempre de paz, nunca de condenação ou cobrança. Quem se coloca e permanece nessa posição foi iluminado. Uma informação: um verdadeiramente iluminado não declara exatamente o que encontrou, só incentiva a busca e testemunha que o que achou é maravilhoso. Há dois motivos para isso, o primeiro é que o que cada um precisa achar e que seu espírito realmente deseja, ainda que o ser negue por muito tempo, é algo específico e pessoal. O outro motivo é que iluminação espiritual é algo precioso demais para ser verbalizada para qualquer um, assim: 

      "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á." Mateus 7.7 

José Osório de Souza