“Toda a boa dádiva e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação.”
Tiago 1.17
“João respondeu, e disse: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.”
João 3.27
“Respondeu Jesus: nenhum poder terias contra mim, se de cima não te fosse dado; mas aquele que me entregou a ti maior pecado tem.”
João 19.11
“Quem faz recebeu direito para fazer”, eis um outro princípio que dentro do cristianismo protestante podemos ter dificuldade para entender. Mas existem textos bíblicos que podem embasar esse princípio, como os acima. O terceiro texto bíblico inicial é o mais relevante para esta reflexão, Jesus diz a Pilatos que o fato dele estar mantendo-o preso era um direito que Deus estava lhe dando, portanto, Jesus afirma que seu sofrimento era autorizado por Deus. Mas era autorizado porque Jesus merecia? Acreditamos que não, mas aí está a relevância da obra do Cristo, suportar sofrimento injusto em paz e com humildade.
Quando nos achamos no direito de ter algo bom e que não prejudica ninguém, o princípio é aceito sem dificuldades, mas o ponto que faz a teologia cristã, de modo geral, criar mirabolantes ou superficiais argumentações, é com relação a quem faz algo que claramente vemos como mau para nós. Na verdade, de maneira geral, o cristianismo tem dificuldades para interagir com o sofrimento, por isso lhe importa tanto a manutenção de uma grande vítima, o Cristo que morreu na cruz. Com esse álibi é mais fácil ter alguém para jogar a culpa, o diabo, e alguém para receber o castigo, Jesus, eximindo-nos de culpa e castigo.
Como um assassino tem o direito de ser assassino? Ou como uma criança inocente tem o dever de sofrer crueldade? Pois é, explique isso teologia cristã. É mais fácil responder, “Deus sabe, o assassino terá o inferno como castigo e a criança o céu como recompensa”. Da mesma forma nossa luta diária, se queremos algo de Deus, mas temos “culpa no cartório”, assumimos que fé no Cristo perdoa-nos os pecados e nos deixa com créditos para recebermos algo de Deus. Agora, se o que se pede a Deus demorar, bem, “a culpa é do diabo que é ladrão”. De fato, a teologia cristã torna a vida simples com respostas simplistas.
Isso foi útil, durante séculos, para um povo intelectual, moral, social e espiritualmente mais simples. Mas será que essas respostas bastam hoje? Sob meu ponto de vista, infelizmente, ainda bastam para muitos, muitos que usam a maior parte de suas vidas para trabalhar pelo alimento material básico. Contudo, também bastam para gente com mais poder aquisitivo e com melhor formação acadêmica, mas que se acomoda à religião, com o álibi, “creio no que a Bíblia aprova, o que passa disso é diabólico”. Novamente voltamos ao mesmo ponto: a Bíblia é construção humana, ainda que com experiências reais de homens com o Deus verdadeiro.
Voltemos ao tema desta reflexão, que podemos chamar também de iluminação: quem faz algo recebeu direito para fazê-lo. Mas recebeu tal direito quando? Se nossa existência inicia-se quando nascemos fisicamente neste mundo, como ensina a doutrina cristã, implica que de forma aleatória alguns recebem o direito de serem agressores, outros, o dever de serem vítimas, sem nenhuma razão específica, alguns nascem para sofrer e outros para fazer sofrer. A cada ser humano cabe aceitar seu “destino”, que pode ser mudado se ele crer em Jesus como salvador. Uma jornada por esse mundo não dá tempo para mais nada.
Se quiser poderá entender a quê os questionamentos feitos aqui tentam conduzir. Vendo minha jornada neste mundo e sendo atraído pelo Espírito, busquei aprovação de Deus para entendimentos que vão além da teologia protestante. Demorei muito para ser melhor, magoei muitos, ainda que pela misericórdia de Deus tenha sido protegido de mim mesmo para não deixar consequências mais sérias de meus erros. Mas aos sessenta e três anos provo paz em muitas áreas, e entendi que o direito que tenho nesta vida é de não ser exaltado, assim aceito certas oposições, não como injustiças, mas como necessárias para eu ser humilde.
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