23/08/25

A glória do anonimato (5/7)

      “E depois disto Jesus andava pela Galiléia, e já não queria andar pela Judéia, pois os judeus procuravam matá-lo. E estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos. Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui, e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele.João 7.1-5

      O título desta reflexão é “A glória do anonimato”, mas há glória no anonimato? O que muitas pessoas mais querem atualmente, de posse de um celular e de contas em redes sociais e no Youtube, é não serem anônimas, é serem conhecidas pelo maior número de pessoas possível por serem especiais de alguma forma. É certo que há uma enorme contradição nesse desejo, querem ser diferentes à medida que se encaixam em referências reconhecidas como de pessoas importantes, assim querem ser iguais. O ser humano é amante de contradições, consegue funcionar nelas como se elas não existissem, por isso tantos fugindo da lucidez, abraçando a insanidade e amando ser anormalmente normais. 
      Jesus é o melhor exemplo de ser anônimo, aquele que é não por ser medíocre, por não ter auto-estima, por não desempenhar qualquer função notável na sociedade, mas por ser altamente espiritual. Jesus em vida não fundou religião, não reuniu milhares em templos, escolheu só doze, e se milhares queriam ouvir sua palavra e receber seus milagres não era por intenção direta dele, ainda que servisse a esses pelo amor mais puro e desinteressado. Vemos nos evangelhos um Cristo aconselhando aqueles que recebiam dele uma cura, que guardassem segredo (Marcos 1.41-45), também o vemos evitando algumas regiões em sua peregrinação. Jesus não queria fama porque sabia o fim de seres humanos bons que se tornam famosos. 
      Eis uma altíssima iluminação espiritual, entender que há glória no anonimato. Jesus também era pragmático, sabia que sua qualidade espiritual incomodava a liderança religiosa de sua época, e que isso suscitaria inveja e vingança. Jesus não queria apressar as coisas, mas ele também sabia que uma grande maioria de pessoas, mesmos entre os muitos que provavam de seus favores e dos poucos que gozavam de sua intimidade, não estava preparada para a verdade que ele vivia aqui e seria lá. Jesus não vendia o cristianismo barato, nem caro, sabia que só no tempo certo as pessoas aceitam a graça de Deus. Mas Jesus era feliz no anonimato, creiam nisso, não achava que estava sacrificando-se nele.
      Católicos e protestantes não entendem a glória do anonimato, ainda que de formas distintas. A cultura católica doutrina o homem numa disposição de morte à vaidade, nela as ordens de padres, freiras, irmãs, freis e de outros, são a celebração de uma religiosidade que acha haver espiritualidade na pobreza, na abstinência, no isolamento e na ignorância. Mas a contradição existe quando eles querem buscar isso, não numa pequena igreja, ligada a alguma denominação protestante desconhecida, mas sob as asas da poderosa Igreja Romana, com sede num Vaticano repleto de catedrais e outras construções luxuosas. O papa é o exemplo maior de glória no mundo, ainda que fale uma coisa, vive outra diferente.
      Já protestantes, ainda que tenham na fundação de sua seita uma igreja cristã mais simples, nega isso nos últimos dias. Grandes denominações têm sido formadas, principalmente no meio pentecostal e neo-pentecostal, com templos-sedes que deixam católicos em suas catedrais seculares com inveja. Mas tem sido ainda pior, querem o reino de Deus no mundo, querem o novo Israel no Brasil, nos E.U.A., querem ser a religião oficial, demonizando tudo e todos que a esse propósito, que pensam ter aprovação de Deus, se opõem. Não, grande parte de auto-denominados cristãos atualmente, não quer a glória do anonimato, por isso não está preparada para a iluminação da verdade espiritual mais elevada. 
      É buscando glória de homens e neste mundo que muitos cristãos não mudam de ideia e não conhecem a verdade, apesar de verem que suas religiões os levaram a um beco sem saída, foram bênçãos no início, mas no final de suas vidas já não os fazem mais seres humanos melhores. Contudo, sem coragem, trocam vitória íntima por aprovação social, trocam o anonimato requerido de todo que é iluminado, vence o pecado e recebe conhecimento do Espírito Santo, por fama. É esse orgulho que tem levado tantos evangélicos a apoiarem uma direita política estúpida. Não sei se está entendendo esta palavra, mas quando tiver tua espiritualidade baseada numa conexão íntima com Deus, não em religião, entenderá. 

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