Tenho
duas filhas, a mais velha, eu tentei orientá-la para fazer aulas de piano bem
cedo, seguindo meu exemplo, mas ela não quis. Bem, com doze anos ela pegou um
violão que tínhamos em casa, e com a ajuda da internet, aprendeu, sozinha, o
chamado violão popular, ou violão de acompanhamento, uma utilização simples do
instrumento, mas bastante útil. Percebendo o talento e a disposição dela, nós a
colocamos para fazer aulas, ela preferiu guitarra, ao invés de violão clássico.
Hoje
com quinze anos ela está me surpreendendo, assimila rapidamente as aulas,
dedica tempo ao estudo, e em um ano e meio de estudo sério do instrumento, teve
o rendimento que outros alunos só teriam no dobro do tempo. Na verdade minhas
filhas gostam de estudar, com pai músico e mãe professora (de matemática), não
temos dificuldades para orientá-las nesse aspecto.
Bem,
comecei esta reflexão compartilhando um pouco de minha vida pessoal porque o
conselho que darei agora é o mesmo que dou as minhas filhas. O que responder a
um jovem cheio de sonhos e de encantos pela música que chega e nos diz que quer
ser músico profissional? Como sempre digo, pegue a opinião que darei aqui, junte
à de outros e a tua, ore a Deus e veja o que é mais sensato.
A
primeira sugestão que dou aos pais que querem orientar jovens na música é que
invistam um pouco, caso isso seja possível, encontrem e paguem um curso sério
de música. Tempo usado, principalmente na adolescência, com estudo musical, é
tempo que não é usado para outros fins, errados ou simplesmente inúteis, que nenhum
bem trarão ao jovem. Uso descontrolado da internet, de videogames, assim como experiências
afetivas e sexuais apressadas, são consequências de mentes vazias com tempo de
sobra.
A música
leva o jovem a finalidades mais nobres no uso de seu tempo, um tempo que ele não
terá com tanta disponibilidade mais tarde, além do que auxilia na assimilação
de outras matérias, como a matemática, o que já foi comprovado pela pedagogia. Mas
insisto, que se possível, o jovem deve ter um ensino sério de música. Isso, além
de ser um investimento correto de dinheiro, permite um aprendizado de qualidade
num tempo menor. É de suma importância, todavia, que o aprendizado musical não
atrapalhe o currículo escolar normal.
Se
o jovem manifestar o desejo de seguir na música profissionalmente, é importante
que se informe a ele o que é ser profissional da área musical. Serei bem prático
nesta questão, baseado em minha experiência pessoal sobre o assunto:
1º Ser
profissional de música, como em qualquer outra área, significa ganhar a vida
com a atividade, ter independência financeira como músico, sustentar-se e à família.
O jovem precisa ter consciência disso, apesar do prazer que a música dá, e da
proeminência que ela permite colocando as pessoas no palco e debaixo de
holofotes, como em qualquer outra profissão, o músico terá que ter disciplina,
horários e compromissos, tudo isso se realmente desejar ser um profissional.
2º Várias
atividades podem ser desempenhadas como profissional na área musical (vou citar
algumas na área secular, na área cristã veremos depois):
a. tocar o instrumento
(ou cantar) em formações instrumentais: no caso de instrumentos de orquestra
(violino, cello, flauta, clarinete, etc), algumas cidades possuem bandas
marciais e orquestras, e mediante concursos aceitam ingresso de músicos, essa área
apesar de mais limitada, permitem uma estabilidade no emprego; para
instrumentos ditos “populares” (guitarra, teclado, bateria, etc), bares,
clubes, hotéis, etc, empregam bandas e mesmo solistas; a área de cerimônias (casamentos,
formaturas, etc), empregam tanto instrumentos de orquestra quanto populares;
b. lecionar: esta é a
segunda atividade de emprego para a maioria das áreas profissionais; ao músico
permite uma atividade diurna, que pode ser levada junto da performance musical noturna
que garante um ganho mais estável;
c. estúdio: produção,
execução, gravação, de áudio, é uma atividade de menor frequência, mas com a
possibilidade de um ganho maior;
d. é preciso que se
diga, que na maior parte das vezes, o músico profissional deve estar preparado para
tocar todo o tipo de música, o sonho de se tocar somente o que se gosta, e
principalmente de ter um trabalho autoral, é para poucos, e muitos vezes não é
simples consequência de talento, mas de outros fatores, muitos não tão éticos,
mas essa é a realidade, portanto se seu filho disser que quer ganhar a vida
tocando suas composições, é bom confrontá-lo com a realidade.
3º Como em todas as
áreas, o profissional para se destacar precisa de formação acadêmica. Agora não
me refiro mais àquele estudo inicial, mas formação superior ou de conservatório
(assim como cursos livres de música que são bem sérios). Portanto, é preciso
pensar até que ponto é interessante investir alguns anos importantes da vida
numa atividade que terá as possibilidades profissionais que citei no item 2. Obviamente,
existem casos e casos, um músico genial, acima da média, deixa bem claro desde
novo que música é o seu ofício. Este tem que ser incentivado e apoiado a seguir
a profissão de músico. É preciso sensatez e coragem dos pais para orientar esse
jovem.
4º Dentro da Igreja
de Cristo, o músico também pode ser profissional, sustentando-se
financeiramente através de um ministério de levita em tempo integral, sem precisar
tocar música secular:
a. As igrejas
protestantes tradicionais têm tradição na música de coral. Essas empregam
regentes profissionais com formação teológica e musical para trabalho integral
com a igreja.
b. As igrejas também têm
empregado, principalmente nos últimos anos em nosso país, instrumentistas e cantores
na ministração da adoração, mas isso ainda é exceção.
c. Fora do Brasil é
comum organistas e pianistas ganharem como músicos em tempo integral dentro da
igreja.
Chego
então a um ponto polêmico, que ainda é tabu para muitos cristãos. Muitos não
aceitam que músicos que tocam e cantam nas igrejas toquem e cantem no mundo. O equívoco
ocorre em duas instâncias:
1º as
pessoas não respeitam a área musical como profissão, acham que é apenas um “hobby”,
vamos dizer assim, aquilo que alguns desempenham dentro da igreja
acompanhamento e liderando a adoração; como profissão, acham elas, os músicos
da igreja devem trabalhar, como todo mundo, em outra área profissional (muitas pessoas
nem pensam que músicos devam ser remunerados pelo trabalho levita feito dentro
da igreja, com exceção dos regentes de coral e orquestra);
2º muitos
julgam como carnais aqueles cristãos quem usam seu talento para execução de música
secular, tirando a legitimidade da atuação do músico cristão como profissional
de música em áreas seculares; esse conceito, graças a Deus, tem mudado, ele já
foi pensamento de uma maioria há tempos atrás.
Os mais
radicais dizem que música só pode ser usada para adoração a Deus, esses pregam
que música secular deve ser sequer ouvida, quanto mais tocada e tocada
profissionalmente. Não, Deus não pede isso de ninguém, se alguém sente de fazer
tal sacrifício, e o faz com humildade e na intimidade, tenho certeza de que
Deus recebe e se agrada, mas isso não deve ser exigido de todos, como uma
regra.
Boa
arte seja ela música, literatura, poesia, cinema, teatro, pintura, etc, pode e
deve ser consumida, como expressão honesta e preciosa da complexidade humana. O
espiritual, contudo, sabe que a Bíblia tem os mais sábios de todos os textos,
que a adoração, é a mais bela de todas as artes, não substituirá essas expressões
por nada, como alimento básico para sua alma.
A
experiência que tenho como músico profissional é a seguinte:
1º Sonhe
em Deus e ore pela possibilidade maravilhosa de ganhar profissionalmente como músico
levita de tempo integral, esse deve ser o objetivo de todo músico cristão com chamada para o ministério.
2º Se
puder, faça outra faculdade, tenha um emprego fora da área musical, a realidade
de músico profissional no mundo e principalmente no Brasil, é dura, coisa boa é
poder ter dinheiro para investir em bons instrumentos para uso no ministério,
sem precisar depender de ninguém.
3º Se
não tiver outro jeito, e isso acontece com muitos músicos (já que quando o são,
não conseguem ser outra coisa, não podem ser produtivos a não ser fazendo música), seja um cristão consagrado e ore sempre para
que, precisando desempenhar sua profissão no mundo como músico, Deus te abra as
melhores portas, nos melhores ambientes, tocando a melhor música secular, para
um público secionado, educado, de bom gosto. Deus honra, sim, aqueles que o
buscam, o livra do mal, o poupa das armadilhas, conserva-os limpos e santos no
meio de uma geração corrupta.