Até a morte Deus usa

      “Foi, pois, e fez conforme a palavra do Senhor; porque foi, e habitou junto ao ribeiro de Querite, que está diante do Jordão. E os corvos lhe traziam pão e carne pela manhã; como também pão e carne à noite; e bebia do ribeiro. E sucedeu que, passados dias, o ribeiro se secou, porque não tinha havido chuva na terra. Então veio a ele a palavra do Senhor, dizendo: levanta-te, e vai para Sarepta, que é de Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei ali a uma mulher viúva que te sustente.” I Reis 17.5-9

      Na passagem acima um animal que vive da morte de outros animais. Corvos se alimentam de carniça, não caçam seres vivos, dependem que outros animais morram para que ele coma e se sustente. Também há uma viúva pobre e com um filho doente, portanto um ser humano com a morte batendo em sua porta, sem condições de se sustentar e sozinha no mundo. Quando Deus quer, usa mesmo a “morte” para sustentar aquele que chama para cumprir uma missão especial, assim foi a experiência de Elias depois que disse ao rei Acabe que não choveria em Israel por causa do pecado do rei e do povo. Só havia morte na terra, e Elias sofria, mesmo que como justo, a mesma disciplina que caia sobre os ímpios, e ainda mais, visto que se pôs como profeta da verdade. 

      Quem se rebela contra Deus um dia colherá as consequências disso, ainda que pareça viver por muito tempo em prosperidade, nenhuma felicidade resiste sem Deus. Mas uma coisa é sofrer o peso da mão direta de Deus, outra coisa é sofrer o peso das mãos dos rebeldes, que perseguem aquele que lhes trouxe a palavra da verdade do Altíssimo. Quando Deus fecha as portas para que a vida funcione de forma natural para os rebeldes, ele sustenta de maneira sobrenatural aquele que é seu amigo, que vive uma vida que lhe agrada. Não temam, “Elias” de Deus, até os corvos e a viúva pobre Deus usa para que não falte farinha e azeite para sustentar vocês, a Terra sofrerá a disciplina, e por algum tempo, mas vocês serão sustentados. 

Compaixão, nosso maior bem

      “De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro, pois nada trouxemos para este mundo e dele nada podemos levar; por isso, tendo o que comer e com que vestir-nos, estejamos com isso satisfeitos.” I Timóteo 6.6-8

      Compaixão pelo sofrimento alheio, eis uma definição para piedade que cabe na lição do texto bíblico inicial. Paulo diz que estarmos felizes por sermos piedosos é riqueza maior, e diferente de bens materiais e aprovações humanas é tesouro que poderemos levar deste mundo para o outro. O que mais temos orgulho em possuir, uma boa resistência, um carro luxuoso, roupas e restaurantes caros para usufruirmos, ou piedade? Será, que ainda que nos postemos como evangélicos, que sejamos assíduos em igrejas, que conheçamos a Bíblia e nos orgulhemos de ser cristãos, de fato damos mais importância a virtudes morais, principalmente aquelas que beneficiam os outros com total discrição nossa, que a vaidades, ainda que sejam religiosas?  

      Compaixão pelo sofrimento alheio, até que ponto somos empáticos com a dor do outro e isso nos dá felicidade maior, mesmo que ninguém veja? E não me refiro a termos compaixão de pessoas próximas, parentes, amigos, irmãos de igreja, mas de desconhecidos, distantes, mesmo os que se postam como nossos opositores, que sabemos que sofrem de alguma forma? Novamente caímos na base do evangelho, amor e principalmente amor pelos inimigos, ah, se católicos e protestantes soubessem o mistério que esse ensino possui. Amar o inimigo não é vencer o mal do outro com o nosso bem, mas é vencer o nosso próprio mal, não é favor feito ao outro, mas cura que damos a nós. Isso é que importa, o resto não deixará este mundo.

Nada é confiável

      “Não creiais no amigo, nem confieis no vosso guia; daquela que repousa no teu seio, guarda as portas da tua boca. Porque o filho despreza ao pai, a filha se levanta contra sua mãe, a nora contra sua sogra, os inimigos do homem são os da sua própria casa. Eu, porém, olharei para o Senhor; esperarei no Deus da minha salvação; o meu Deus me ouvirá.” Miqueias 7.5-7

      Neste mundo nada é cem por cento confiável, ainda que você tenha provas materiais de algo, não confie nem no que teus olhos veem. Plenamente confiável só Deus, nunca mentiu e nunca mentirá, já o homem, se não te desapontou, um dia te desapontará. Mas não seja tímido, covarde, desconfiado ou amargo por causa disso, você também desapontou e desapontará alguém, não ser confiável faz parte da natureza humana. Por que é assim? Porque no mundo estamos para errar, assumir responsabilidade pelo erro e tentar não errar mais. Para assumir a responsabilidade tem que se assumir que errou, não foi o outro, mas fui eu que errei. Depois disso é que nossa vida com Deus inicia-se, perseverando para não cometermos mais o mesmo erro. 

      Se todos tivessem essa humildade lúcida, conheceriam-se mais e consequentemente respeitariam mais os outros, quem reconhece que magoou alguém, não quer magoar de novo, mas também possui misericórdia com quem o magoa, entendendo que como deseja mudar, o outro também deseja. Confiança não é baseada em perfeição, mas em verdade, amor não é baseado no valor que o outro mostra ter, mas no valor que damos ao outro. Mas só podemos confiar, sermos verdadeiros e amarmos, amando primeiramente a Deus e tendo a segurança que nada poderá nos separar do amor de Deus. Depois disso temos capacidade para conviver com a desconfiança e a não confiabilidade do homem em paz, amor e com generosidade. 

Rótulos e definições

      “Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que desconheço!” Salmos 19.12

      Temos muita necessidade de rotular e definir pessoas e experiências, não basta nos relacionarmos e nos sentirmos bem, temos que colocar numa caixa, com dimensões bem estabelecidas. O lado bom disso é que coisas conhecidas podem ser usadas como referências, para experimentarmos as mesmas coisas com segurança. Esse é o lado racional humano fazendo ciência, e no plano material ciência é importante para administrar o planeta. Mas pode haver um lado ruim, o plano espiritual não pode ser entendido só pelo intelecto humano, muito menos pode ser rotulado e definido. Podemos senti-lo, então interpreta-lo em palavras, sons e imagens, mas isso é só uma aproximação subjetiva e pessoal do plano espiritual. 

      Na arrogância condenamos alguém para sempre por um erro que esse alguém cometeu no passado e pode nem estar cometendo mais. Mas na ilusão confiamos cegamente no homem baseados em algo que nos agradou dele, achando que ele nunca nos desapontará. Somente o Espírito de Deus pode nos dar a visão correta das coisas, pois ele não fica preso ao tempo, no amor de Deus perdoamos e damos novas oportunidades ao que nos trai, e somos cuidadosos com todos. Rótulos e definições justos e verdadeiros só serão dados na eternidade e pela luz do Deus Altíssimo, que definirá céu e inferno de cada ser, até lá tudo é possível, inclusive nada. A nós cabe com humildade perseverar em crer, em nos consagrar e em amar. 

Guarde teus sonhos em Deus

      “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós.” I Pedro 5.6-7

      Por maior que seja a expectativa, por mais feliz que te fizer a possibilidade da realização de um sonho, tenha cuidado com quem o compartilha antes que ele de fato se realize. Não estou dizendo que isso desperta inveja, que suscita pensamento contrário, ainda que isso tudo seja verdade. Também não estou incentivando timidez que na verdade esconde orgulho, onde se é reservado ao extremo, não por sabedoria, mas por medo de mostrar aos outros suas necessidades. Estou dizendo que sermos cautelosos com promessas que estamos aguardando que se cumpram em Deus, com projetos sendo sonhados e construídos no Senhor, é sábio para darmos testemunho verdadeiro não só de Deus, mas também de nossa reputação. 

      O sonho é maravilhoso? Você está vendo que pelo andar da carruagem ele será realidade em breve? Espere mais um pouco, guarde-o em Deus e só compartilhe-o com quem pode realmente confiar. Pode ser que ainda não seja o momento melhor do Senhor, que o que está vivendo e fazendo seja uma oportunidade de crescimento, de aprendizado de melhores escolhas, que Deus usará para no futuro realizar teu sonho. Se você se apressar e testemunhar já como certo e não ocorrer, muitos não terão maturidade e humildade para entender, poderão zombar de você, ainda que silenciosamente, e poderão duvidar que Deus está contigo. Realização de sonho não é só necessidade humana suprida, é louvor a Deus, respeitemos nossos sonhos. 

Santo que baixa ou santo que sobe?

      “Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus.” Efésios 2.4-6

      Costuma-se dizer, em religiões espíritas, quando um “espírito” toma a mente (e o corpo) de um ser humano, que o “santo baixou”. Meu objetivo nesta reflexão não é fazer juízo de valor dessas religiões, mas dar uma outra interpretação ao termo, mudando-o para “o santo subiu”. Se entendermos o plano espiritual como níveis sobrepostos, veremos que espíritos malignos, que teimam em não se conectar com a melhor vontade de Deus, estão mais abaixo, portanto mais presos à Terra, ao plano dos encarnados, e ao lado ruim do mundo. Já os anjos ou espíritos de luz estão num nível moral e portando espiritual mais elevado, tendo Jesus no nível mais alto, por ser uma porta exclusiva para a humanidade chegar ao Deus Altíssimo.

      O perigo que há em nos sintonizarmos com o mundo espiritual é permitirmos que “demônio” se aposse de nós, por ser um espírito mais baixo, demônio de fato baixa sobre o homem e o prende às regiões morais inferiores. Contudo, quando entramos em sintonia com o Santo Espírito, não é esse que “baixa”, mas achando no homem um espírito limpo, arrebata-o a Deus. Pelo Espírito Santo de Deus nada baixa em nós, mas somos nós, santificados pelo nome de Jesus, que somos elevados. Quem já se permitiu ter um batismo no Espírito Santo e recebeu dons espirituais, sentiu como que um puxão, que enche nosso espírito de unção, que nos fortalece e ilumina-nos, que faz com que nos sintamos perto do trono do santíssimo Deus. 

Anexando virtudes morais

      “O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção” Romanos 2.6-7

      Se pormos um objeto pesado sobre a superfície de um plástico fino, quando tirarmos o objeto, o plástico estará marcado. Não podemos deixar o objeto por muito tempo, danificará o plástico. Contudo, algum tempo depois, o plástico voltará à sua condição antes de ter recebido o objeto, perderá a marca. Se isso for repetido diversas vezes o plástico ficará marcado por mais tempo, não com o exato formato do objeto, mas pelo menos com parte. Assim é nosso espírito neste mundo quando praticamos virtudes morais, no corpo é impossível mantermos espiritualidade em todo o tempo, a carne não suporta a excelência espiritual mais alta. Dessa forma o próprio Deus dá-nos descanso entre as experiências. 

      Mas a “marca” que fica é suficiente para nos fortalecer para vigiarmos e estarmos em harmonia com Deus por um tempo, até o buscarmos novamente. Neste mundo nos aproximamos e nos afastamos das virtudes, da intimidade do Senhor, do melhor de Deus para nós, se fizermos isso com perseverança, ainda que não ininterruptamente, mas muitas vezes, nosso espírito ficará impressionado com a espiritualidade. Na eternidade o que será avaliado em nós será essa “marca”, sua dimensão será preenchida com virtude moral que ficará anexada ao nosso espírito para sempre. A extensão e exatidão do espaço preenchido, de acordo com a virtude que recebeu no mundo, definirá a qualidade do nosso céu. 

Fé vence o tempo

      “Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé. Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” I João 5.4-5

     Por que Deus pede tanto que exerçamos fé enquanto vivemos neste mundo? Para aprendermos sobre o mundo espiritual, entendendo que nossa vida aqui é passageira, a vida no além é que é eterna, assim muita coisa importante aqui não será lá, e ainda aqui temos que acumular o que levaremos para lá. Só sentimos o passar do tempo no plano material, ou melhor, só sofremos com o tempo sendo materialistas, por isso mesmo espíritos experimentam infernos no plano espiritual (“demônios” e “diabos”), porque estão presos ao mundo e não sobem para o Altíssimo. Vencemos o tempo quando vencemos o mal, só a fé vence o mal, porque vence o tempo que faz sofrer e morrer a matéria e entrega vida eterna ao espírito. 

      Vida na Terra é estágio para aprendermos a viver no céu, se não aprendemos, morremos, primeiro na Terra, depois no céu. Quando entendemos o mistério da fé vemos que a vida não é crer em algo que ainda não foi manifestado e esperar para que se manifeste, todas as coisas já estão manifestadas em Deus, indiferente do tempo que temos que esperar na matéria para vê-las. Se é assim não há motivo para ansiedades ou temores, não há tempo, só uma vida num presente eterno. Quem entende o mistério da fé não sofre aguardando, mas agradece pelo que já tem. Sintamo-nos felizes por termos que viver pela fé, não desistamos desse desafio, isso é o que prepara nosso espírito eterno para a eternidade além.

Sempre será por fé

      “E chamou Moisés a todo o Israel, e disse-lhes: Tendes visto tudo quanto o Senhor fez perante vossos olhos, na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra; as grandes provas que os teus olhos têm visto, aqueles sinais e grandes maravilhas; porém não vos tem dado o Senhor um coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje.” Deuteronômio 29.2-4

      Ou creia ou não creia, mas não peça a Deus que manifeste sinais físicos para que prove o que te falou pelo seu Espírito! Não crer não significa negar com extremidade a Deus e ao mundo espiritual, mas pode ser só pôr um limite em tua fé, e isso pode não desagradar a Deus. Se há algo que o Senhor procura em nós é verdade, boa sinceridade, que se conhece e não se compromete com Deus com algo que não pode fazer. Assim, crer menos e ser fiel nisso é melhor que tentar crer muito e se perder ou não chegar a algum lugar. Mas entendamos certo o que é não pedir sinais a Deus, não é uma limitação, não tem mais fé quem recebe o sinal que pediu. O maduro não precisa de sinais, tem mais fé quem crê sem ter que pedir provas.

      Nossa vida com Deus aqui sempre é pela fé, ainda que após uma aprovação vejamos manifestadas no mundo material comprovações que Deus está conosco e se agrada de nós, a vida segue. Novas provas nos são postas, e o conhecimento que adquirimos na última prova, não será suficiente para sermos aprovados na próxima prova. Não é porque o estudante foi aprovado no segundo grau que será aprovado no nível superior, para isso terá que voltar à sala de aula e se preparar para a prova do nível superior. O “estudo” em nossa jornada por anexar virtudes morais ao nosso espírito, que constrói o céu em nós, é feito com fé e obras, até o final de nossas vidas aqui seremos desafiados por Deus a ter fé maior e mais pura. 

Podemos pedir provas a Deus?

      “E disse Gideão a Deus: Se hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste, eis que eu porei um velo de lã na eira; se o orvalho estiver somente no velo, e toda a terra ficar seca, então conhecerei que hás de livrar a Israel por minha mão, como disseste. E assim sucedeu; porque no outro dia se levantou de madrugada, e apertou o velo; e do orvalho que espremeu do velo, encheu uma taça de água. 

      E disse Gideão a Deus: Não se acenda contra mim a tua ira, se ainda falar só esta vez; rogo-te que só esta vez faça a prova com o velo; rogo-te que só o velo fique seco, e em toda a terra haja o orvalho. E Deus assim fez naquela noite; pois só o velo ficou seco, e sobre toda a terra havia orvalho.” 

Juízes 6.36-40

      Tenho um princípio pessoal, não devo generalizar dizendo que ele deve ser para todos, mas para mim serve bem: não peço provas físicas a Deus. Quem pede uma prova não se satisfaz com uma, o “Tomé” da vida sempre precisará de um segundo ou de mais sinais para crer. Gideão é um bom exemplo bíblico disso, não que Deus não tivesse atendido seus pedidos incrédulos, não só pelos sinais do velo de lã que solicitou, como diminuindo o exército pelo qual daria vitória a Israel sobre os midianitas. Talvez peçamos provas a Deus porque vemos Deus e o mundo espiritual com a ótica do cristianismo tradicional, que põe Deus como alguém sempre disponível para atender nossas vontades, ainda que Deus nos responda sempre. Isso é uma ótica espiritual infantil. 

      Suponhamos que no plano espiritual, auxiliando Deus para ouvir e atender os seres no plano físico, estejam seres espirituais, podemos chamar de anjos ou santos, que ainda que com excelência espiritual que lhes permita essa posição, sejam semelhantes a nós, será que não ficariam desapontados com nossos pedidos mimados e céticos? A resposta está em outra pergunta: como você se sente quando diz a uma pessoa amada que a ama e vai cuidar dela, e ela duvida de você e pede sinais que provem teu amor? Esses assistentes poderiam sentir-se mal quando duvidamos deles tanto como nos sentimos quando duvidam de nós. Mas com Deus não é questão de melindres, é ele nos ensinando sobre a relevância da fé, maturidade está em crer, não em receber provas dos céus. 

Que hoje seja o melhor tempo de Deus (7/7)

      “Cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa, retenhamos firmes a confissão da nossa esperança; porque fiel é o que prometeu.” Hebreus 10.22-23

      Quando jovens não tememos decepções, queremos que o melhor aconteça e nos lançamos na vida sem medo. Contudo, à medida que envelhecemos, tentamos amadurecer, e isso é se precaver de decepções. Fazemos isso não colocando todas as fichas emocionais na mesma jogada, não tendo a expectativa cega da realização de algo totalmente satisfatório e sempre. Mas não tem jeito, somos seres apaixonáveis, e na paixão sempre se abre possibilidade de decepção. O sábio é orar da seguinte forma: “Senhor, espero que aconteça e depressa o teu melhor para mim, que suprirá minha necessidade e permanecerá, não se mostrará armadilha ou engano, mas se não for desta vez, ajude-me a esperar consolado, sem amargar decepção”. 

      Peça e com fé, coloque todas as tuas necessidades diante do Senhor, não faça uma escolha, nem tome uma decisão sem colocar Deus na frente. Sonhe com o melhor, dê forma à tua esperança, mas entregue isso nas mãos do Senhor, procure não segurar nada em você. Quando se entrega, se abre mão, não se sente mais preso a algo, entende-se que a coisa entregue já não nos pertence. Desse modo o sonho já não é mais nosso, é de Deus, sendo assim confiamos que ele fará realizar-se quando e da maneira que ele achar melhor. Nisso não há decepção, mas humildade que sabe que nada acontece sem a aprovação do Senhor, sejam coisas ruins, sejam coisas boas. Então, aguardemos que o melhor de Deus, não menos que isso, aconteça. 

O Deus grande faz grandes coisas (6/7)

      “Quando o Senhor trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então se dizia entre os gentios: Grandes coisas fez o Senhor a estes. Grandes coisas fez o Senhor por nós, pelas quais estamos alegres.” Salmos 126.1-3

      Espere grandes coisas de um Deus grande! Amamos ouvir essa afirmação, principalmente se temos uma necessidade material grande, mas será que grandes coisas na área material são o melhor de Deus para todas as pessoas? Todas as coisas são de Deus e em Deus, tanto as que consideramos pequenas, quanto as que vemos como grandes, coisas grandes podem acontecer para todos, mas nem tudo funcionará como melhor do Senhor para todos. Muitos querem tanto uma coisa, um casamento, um emprego, um bem, uma posição, que acabam adquirindo tal coisa. O universo, criado e administrado por Deus, permite-lhes conquistar o que desejaram, mas só será o melhor de Deus se gerar em suas vidas virtudes morais que permanecem. 

      Recebe coisas grandes de Deus, porque não só creu que Deus faz grandes coisas na área material, mas também porque se preparou espiritualmente para receber e administrar essas coisas, o amigo de Deus, que busca em primeiro lugar o reino de Deus, que constrói o céu em seu homem interior em santidade, humildade e amor. Todos podem crer que Deus faz grandes coisas, na verdade a fé é a parte fácil do processo, mesmo loucos, gananciosos e egoístas podem exercer fé que move montanhas, mas isso é metade da coisa, a outra metade é prática de obras morais. Assim, quando espera grandes coisas de Deus verifique se de fato você merece o melhor de Deus para sua vida, e o melhor sempre será grande para o humilde. 

Clama que Deus te ouve (5/7)

      “Os justos clamam, e o Senhor os ouve, e os livra de todas as suas angústias.” Salmos 34:17 

      Incontáveis as vezes que estando agoniado busquei a Deus, fiquei em paz e um tempo depois vi minha oração respondida. O texto bíblico inicial é uma realidade, mas nos atentemos ao começo dele, “os justos clamam”, somos justos ou ímpios? A igreja católica mistificou o termo santo, parecendo para muitos cristãos que essa condição é excessão, impossibilidade mesmo para bons religiosos. Santidade, contudo, é a condição em que qualquer ser humano pode se achar, logo após se arrepender, pedir perdão e tomar posse de uma comunhão pura, reta e direta com Deus por Cristo. Pelo novo testamento não há pessoas numa condição inexorável de justiça, nem outras numa também implacável condição de impiedade.

      Deus não diz sempre sim aos amigos, nem diz sempre não aos “inimigos”, isso é entendimento do velho testamento. Pelo evangelho qualquer um pode ser justificado por Cristo e ser ouvido por Deus. Mas o justificado tem todas as suas preces respondidas com sim? Nem sempre, mas os que andam com o Senhor por anos, plantando uma amizade íntima, sabem o que pedir, assim o que pedem tem resposta positiva. Seja qual for a resposta de Deus, seja humilde e confie em sua decisão, ainda que seja difícil, é o não que nos amadurece. No amadurecimento terá uma conexão com o Altíssimo onde sempre entenderá sua resposta como eficiente para te livrar da angústia, a resposta de Deus, seja qual for, sempre entrega paz. 

Conexão espiritual (4/7)

      “Nunca mais te servirá o sol para luz do dia nem com o seu resplendor a lua te iluminará; mas o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus a tua glória. Nunca mais se porá o teu sol, nem a tua lua minguará; porque o Senhor será a tua luz perpétua, e os dias do teu luto findarão.” Isaías 60.19-20

      Como cristãos entendemos que variações em nossa moralidade interferem em nossa relação com Deus. Deus é santo e pede dos seres humanos santidade para poder se comunicar com eles e abençoá-los, ainda que em sua misericórdia não exija a mesma qualidade, na verdade basta um pouco de boa intenção para sermos ligados a Deus. Se fosse diferente, se Deus só fosse santo, mas não nos amasse como somos, ainda que tivesse um plano de amor para nós, estaríamos separados do Senhor enquanto não nos purificássemos totalmente, e tendo que fazer isso sozinhos seria bem difícil, senão impossível. Mas Deus caminha nove passos em nossa direção quando damos um em sua, assim nos assiste em nossas fraquezas e nos atrai a ele. 

      Algo que muitos cristãos não entendem, é que a ligação que fazem com Deus, quando estão num estado moral aceitável, é mais que obedecer uma lista de certo e errado. Quando agradamos a Deus uma conexão espiritual entre nosso espírito e o Altíssimo, estabelecida pelo Espírito Santo até as regiões espirituais mais elevadas em Cristo, é feita de forma objetiva. Se a ciência do nosso século fosse desenvolvida o suficiente, mostraria que isso é “físico”, ou melhor, energético, não é só fábula religiosa, somos como celulares recebendo ondas enviadas por uma estação através de uma poderosa antena. Essa conexão é tão sensível quanto é a pureza da “onda”, por isso um pequeno mal que retemos desliga-nos de Deus e tira-nos a paz.

Oração que não funciona (3/7)

      “E, porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai.” Gálatas 4.6

      “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos.” Romanos 8.26-27

      Nossa conexão com Deus, quando ocorre, é na velocidade da luz espiritual. Mas se a oração parece cansar, tirar de nós esforço que não temos, ser interminável, não devolvendo-nos forças, é porque oramos do jeito errado, esse jeito não funciona, a oração não vai além de nossas próprias mentes. Mas entenda certo, isso não significa que não tenhamos que vencer uma indisposição emocional e física para orar, mas isso deve ser só algo inicial. Se nos pomos em comunhão espiritual real com Deus, o Espírito Santo nos assiste, nos diz o que orar e nos dá capacitação sentimental e mental para nos ligarmos ao Altíssimo. No final, o esforço inicial que fizemos, será recompensado com uma unção que nos encherá de paz e alegria. 

      Deus ouve a todos, ninguém se engane sobre isso, principalmente os que não possuem outra forma de buscá-lo que não seja aquela que usaram por anos em suas religiosidades, sejam elas quais forem. Contudo, os que quiserem e estiverem preparados, podem ser desafiados por Deus para experimentar uma ligação mais íntima com ele. O Senhor sabe quando alguém o busca através de rezas repetitivas e frias porque não tem outro jeito ou porque está acomodado a uma religiosidade que o próprio Deus já mostrou que pode ser aprofundada. Sabemos disso quando percebemos que nossa “reza”, que mesmo protestantes podem fazer, nos cansa e não leva-nos a uma paz satisfatória, de quem entendeu que Deus o ouviu e o responderá. 

Na velocidade da luz (2/7)

      “E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que por muito falarem serão ouvidos, não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.” Mateus 6.7-8

      Uma oração não precisa ser extensa em palavras para ter potência espiritual. A luz é o elemento que se move mais rapidamente, a luz espiritual se move mais depressa ainda, dessa forma basta um instante para a oração certa refletir a luz do Altíssimo e cumprir seu propósito. Nossa luz espiritual se intensifica à medida que somos mais limpos para refletir a luz de Deus, assim, por mais bem intencionados e esforçados que sejamos, não possuímos luz própria se nos pormos sozinhos, desligados do Senhor. Nossa vocação maior e eterna é nos aproximarmos de quem nos criou. À medida que isso ocorre, a luz do Altíssimo vai mais e mais refletindo em nós, evoluindo-nos e fazendo-nos úteis aos melhores propósitos da providência divina. 

      Se há definição melhor para “diabo”, além da que o liga ao mal, e isso é mais efeito que causa, é a que o põe como anjo que tenta brilhar desligado de Deus. Não somos maus, a princípio, por fazermos o mal, mas por querermos fazer mesmo o bem desconectados de Deus, negar a Deus como origem e manutenção do bem eterno é ser ”diabo”. Nem boas obras bastam, devem ser feitas em Deus, para serem úteis para Deus. Não temos ideia do quão rápido nossa prece chega a Deus e é por ele atendida, muitas vezes levamos um tempo para orar do jeito certo, já que se orássemos certo na primeira vez já seria suficiente. Quando aprendemos isso andamos em Espírito, como Jesus andava, fazendo a coisa certa no momento melhor. 

Oração que funciona (1/7)

      “E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus.” Mateus 16.19

      Não é a primeira vez, nem será a última, que toco neste assunto: não é toda oração que funciona. Vale mais poucas palavras, e muitas vezes até nenhuma, mas com sentimento e convicção, que discursos frios em alto som. Oração que funciona é a “quente”, a apaixonada, e não é assim tudo na vida, em nossas relações com pessoas e em nossos empreendimentos? Não é a paixão que nos dá forças para iniciar e manter algo? Por que não seria com as coisas espirituais? Não estou dizendo que nossa conexão com Deus tem o mesmo nível da nossa ligação com as pessoas, mas quem estabelece ambas são nossas almas, e essas são ativadas com foco emocional e mental, independente se conectam-se a seres humanos ou espirituais. 

      Se não sentirmos, do fundo do nosso coração, e se não tiver forma e foco em nossas mentes, não sai de nós mesmos para alcançar o plano espiritual. Muitos, que tentam interpretar o evangelho só com o intelecto, ainda que de forma “cientificamente” minuciosa, teimam em não entender isso, por isso, ainda que conheçam profundamente a Bíblia, não provam a única ferramenta que nos permite viver de fato o evangelho, o Espírito Santo. O manuseio da ferramenta espiritual só pode ser feito com a força mais pura e plena de nossos corações e mentes, isso não é fantasia, é fato. Para um pedido sair de uma residência deste planeta e alcançar as regiões espirituais mais elevadas deve haver sentimento do homem e fé por Cristo. 

Não podemos proteger pessoas de provas

      “E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados, e embranquecidos, e provados; mas os ímpios procederão impiamente, e nenhum dos ímpios entenderá, mas os sábios entenderão.” Daniel 12.9-10

      Você acha que conhece as pessoas, mesmo aquelas mais próximas de você, sua esposa, seu esposo, seus filhos, seus pais? Pois não conhece, nem eu, nem ninguém conhece, aliás, não conhecemos nem a nós mesmos. Contudo, amamos muitas pessoas, nesse amor queremos proteger da dor, principalmente daquela dor causada por problemas que já tivemos, e se aprendemos o caminho das pedras queremos ensiná-lo aos nossos amados. Mas não é assim que funciona com Deus, com seu maior propósito nas vidas das pessoas, quando as coloca no mundo para serem provadas, aprovadas e aperfeiçoadas. As pessoas precisam passar por essas provas, de um jeito ou de outro, ninguém pode impedir isso, nem que nas provas elas sofram. 

      Podemos caminhar perto, principalmente de cônjuges e filhos, aconselhar, mas muitas vezes mais para ouvir que para falar. Como nós, os outros também não gostam de ser controlados, ninguém quer ter sua vida delimitada por outros, acredite nisso. Assim o ser humano só aprende cometendo seus próprios erros, sofrendo e depois fazendo diferente, infelizmente por mais que amemos alguns, não podemos protegê-los, não da dor, e essa é só efeito, a causa são as provas que o Senhor põe em seus caminhos. Mas sempre podemos orar, e creiam, oração muitas vezes é mais eficiente que conselhos, a oração que espiritualmente ilumina de forma poderosa as mentes para que as pessoas façam escolhas melhores e sofram menos. 

Gostar, sentir e entender diferente

      “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.” I Coríntios 12.4-6

      Gostamos do que sentimos, sentimos o que entendemos. Nem todos entendem tudo, assim pessoas diferentes sentem coisas diferentes, o que pode impressionar o sentimento de um pode não impressionar de outro, desse modo cada um também gosta ou desgosta de coisas diferentes. As variáveis existem porque as pessoas são um conjunto de variáveis, de educações afetivas e intelectuais diferentes, de formações sociais, culturais e religiosas diferentes. Como Deus, o absoluto, interage com pessoas tão diferentes? Ele não pode falar do mesmo jeito com todos. Deus interage com amor e o amor sempre acha um jeito para beneficiar o objeto amado. Isso deveria ensinar-nos como devemos respeitar as diferenças, antes de tudo, com amor. 

      O texto inicial ensina que há unidade e harmonia na diferença quando o Espírito é o mesmo. Alguns são atraídos por formas físicas, objetivas, mensuráveis, outros se encantam com a essência, com algo escondido dentro das coisas, com a subjetividade das coisas. Alguns querem tocar para sentir, para outros basta ouvir, alguns se contentam com a primeira visão, outros procuram uma perspectiva oculta. Não cabe ao ser julgar e muito menos condenar o ser, relativizar para amar mais ou menos, não sabemos tudo e nos equivocamos com nossos olhos egoístas e vaidosos. Mas cada um tem o direito de entender, para gostar e então sentir, Deus se revela a cada um conforme cada um pode entendê-lo, aceitemos isso, aceitemos as diferenças.

Céu se constrói aqui (2/2)

      “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.” I Coríntios 3.11-15

      Na eternidade, não seremos o alvo que Deus coloca para cada um de nós alcançar no mundo, mas o mais próximo que chegamos do alvo e por mais tempo permanecemos, por isso é importante persistirmos até nosso último instante de vida aqui. O alvo é diferente para cada ser humano, não nos enganemos sobre isso, por isso a salvação não é obtida por todos da mesma forma. No mundo as pessoas nascem debaixo de nações, religiões, culturas e moralidades diferentes, assim o alvo de um pode não ser o do outro, mas todos têm algo em comum, servir o outro. Deus nos atrai a ele para compartilhar conosco seu ministério, amar e ajudar os seres humanos, Deus não busca servos ou soldados, ainda que possa nos usar assim, mas amigos. 

      Muitos trabalham e muito para terem vidas dignas no mundo, Deus é justo, recompensará todo esforço. Mas ninguém espere que o céu será lugar só de descanso, haverá paz para quem fez sua parte no mundo, mas não para ficar ocioso, para ser útil para os misteriosos e eternos propósitos de Deus. O que você mais gostaria de ser no mundo para alcançar o alvo que Deus tem para você? Se de fato você conhece e aceita a vocação que o Senhor te deu, deseja servir e não ser servido. Mas se não estiver bem resolvido em Deus, pode até estar trabalhando e muito, mas com rancor e por vaidade, cultivando uma mentira aqui que será manifestada lá. Se não tiver o céu em você aqui, o céu não será manifestado em você lá, simples assim.

Cidadão do céu (1/2)

      “Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo.” Mateus 24.13

      O cristianismo tradicional acredita que quando morrerem neste mundo os seres humanos, terão um de dois únicos e irreversíveis destinos, o céu e o inferno. Não vou avaliar essa crença, não desta vez, só vou fazer uma pergunta: que características achamos como protestantes que terão aqueles que forem cidadãos eternos do céu? A resposta é simples, ainda que muitos não aceitem, seremos lá o melhor persistente que fomos aqui, nem mais, nem menos. Nossos espíritos serão libertados de matéria, espaço e tempo, mas o caráter moral deles não será diferente da moralidade melhor que insistimos em pôr em prática no plano material. Entenda que foi usado o termo “insistimos”, assim perseverança é de suma importância. 

      A transformação que o novo testamento diz que haverá, será na substância dos corpos, de material para espiritual, mas a qualidade moral, repito, será aquela que se conseguiu viver por mais tempo no mundo. Deus não fará uma mágica que transformará egoístas em amorosos ou promíscuos em santos. É importante que entendamos uma coisa, a grandíssima maioria dos seres humanos, que viveu e vive no planeta Terra, é imperfeita. Jesus e abaixo dele outros poucos, conseguiram alcançar um nível de excelência moral, mas a maioria pode apenas perseverar em ser melhor. Até nosso último instante no mundo lutaremos contra limites, mas no céu manifestar-se-á nossa verdade, nosso melhor que por mais tempo vivemos aqui. 

O sentido das coisas simples

      “Determinarás tu algum negócio, e ser-te-á firme, e a luz brilhará em teus caminhos. Quando te abaterem, então tu dirás: Haja exaltação! E Deus salvará ao humilde. E livrará até ao que não é inocente; porque será libertado pela pureza de tuas mãos.” Jó 22.28-30

      Muitas vezes queremos achar sentido para a vida em coisas complicadas, grandes, na verdade queremos só anular a dor de feridas não curadas, essas, sim, são complicadas e grandes. Quando com humildade buscamos em Deus autoconhecimento, assunção desse conhecimento em paz e cura para culpas, mágoas e medos, fica de pé a nossa verdade, essa não precisa de coisas complicadas e grandes para ser útil na vida. Só acha a felicidade mais verdadeira e duradoura quem é quebrado até as últimas consequências, e aprende que a vaidade e a aprovação dos homens não fazem a vida fazer sentido. Quando nos colocamos como seres humanos simples, coisas simples bastam para que nossas vidas tenham sentido.

      Isso é tudo que Deus pede de nós, parece pouco para quem foge de Deus, de si mesmo e endurece o coração, que ainda não teve humildade para ser curado de culpas, mágoas e medos, mas não é para quem achou o verdadeiro sentido da vida. Esse está em coisas simples, que muitas vezes poucos veem e sabem, mas que são suficientes para abençoarem de forma decisiva outras vidas. Você não precisa escrever um livro, se tornar best seller e ser conhecido por milhares de pessoas, você não precisa ser premiado em uma área profissional e adquirir respeito de empresas e academia, basta fazer aquilo que Deus te pede e te capacita para fazer com humildade, santidade e amor, a honra disso será exclusiva e eterna.

O mais difícil de esperar

      “Para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo” Efésios 4.14-15

      Esperar é sempre difícil, ter paciência é nosso maior desafio, mas a coisa mais difícil de ser esperada é nada. Muitas vezes temos que esperar nada justamente porque de nada precisamos, sabemos que temos tudo que necessitamos para termos vidas dignas. Mas será que o propósito maior de Deus não é isso mesmo, nos levar a entender que o que mais devemos buscar não são coisas materiais, mas espirituais? A expectativa por coisas materiais, ainda que seja ilusão, de coisas passageiras e que não levaremos à eternidade, pode conferir sentido às nossas existências no mundo, por isso quando não se tem mais essa expectativa um sentimento de vazio e morte pode dominar-nos. 

      O rebelde e arrogante acaba só e vazio, ainda que cercado de luxos, quando nada mais deseja, morre em vida. Mas isso ocorre quando não entendemos o motivo da vida, não estamos aqui para usufruirmos prazeres, comprarmos e trabalharmos para pagarmos coisas, mesmo termos cargos em empresas e igrejas, o motivo é espiritual. Assim, se você sente-se vazio por não achar mais prazer na vida para pedir a Deus e esperar, isso é bom, entendeu metade do propósito de Deus em tua jornada. A outra metade é começar a trabalhar e esperar por virtudes morais, para ser mais santo, humilde e amoroso, isso independe de bens físicos e aprovações humanas aqui, depende do que você faz para viver com Deus lá.

Paciência para viver

      “Na vossa paciência possuí as vossas almas.” Lucas 21.19

      Paciência, eis uma virtude que tem se tornado prioridade para mim no momento de vida em que estou, sobre todas as outras. Sem paciência não se vive, não se ama, não se crê, não se é feliz, não se conhece o melhor de Deus. Isso não significa que não haja urgência, a vida tem necessidades que não podem esperar, mas paciência verdadeira é interior, espiritual, praticada ainda que o corpo esteja se esforçando muito para sobreviver no mundo material. Exercer paciência é lutar contra o maior antagonismo que o ser tem no mundo, vivenciar o esprito eterno, assim perseguir virtudes morais, ainda num corpo físico passageiro, preso a dores e sempre querendo fugir para prazeres fáceis e rápidos para ter alguma paz. 

      Paz de verdade só há na paciência, não é relaxamento após êxtase, isso é tranquilidade passageira e até enganosa, paz independe de prazer ou de dor. Ter paz dá trabalho, o trabalho da paciência, que ensina o corpo a ouvir o espírito conectado ao Santo Espírito, assim vencendo os tempos. O corpo tem passado e futuro, rancores e medos, ansiedades pelo que fez e pelo que fará, o espírito é eterno presente. Se não há tempo não precisamos viver tudo aqui e agora, mas também não precisamos viver de passado ou deixar tudo para o futuro, na paciência se vive o melhor sempre, respeitando os tempos. O paciente sabe que amanhã o mesmo Sol nascerá, a mesma Lua subirá, que a vida é rápida, mas que não é curta. 

Como ser espiritual sem o Ser espiritual?

      “O minha alma, espera somente em Deus, porque dele vem a minha esperança. Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei abalado. Em Deus está a minha salvação e a minha glória; a rocha da minha fortaleza, e o meu refúgio estão em Deus. Confiai nele, ó povo, em todos os tempos; derramai perante ele o vosso coração. Deus é o nosso refúgio.” Salmos 62.5-8

      É triste ver pessoas posicionando-se como ateias, crendo só na ciência, no que ela pode solucionar e provar, e em si mesmas, na hora que mais precisarem isso não poderá ajudá-las. Mesmo havendo boa intenção para ser bom, força de vontade para praticar caridade, benignidade e compaixão verdadeiras, isentos de segundas intenções e vaidades, só existe espírito em Deus. Como ser espiritual sem o Ser espiritual? O Ser espiritual é Deus e dele espiritualidade emana para todos os outros seres, que dele vieram e para ele anseiam voltar. Não são religiosos que cobram de ateus, não é a fé que esses negam, mas a si mesmos, sua essência mais profunda, verdadeira e eterna, seus espíritos cobram-lhes Deus. 

      É com muito respeito que digo aos ateus, vocês não precisam aceitar as religiões, são todas construções humanas e deste mundo, e como tais, imperfeitas, mesmo malignas, mas não fechem ouvidos e olhos para Deus, ele ama e entende vocês. Usem a lucidez e a crítica que vocês dizem ter, não para se afastarem de Deus, mas para aprenderem dele mesmo em religiões imperfeitas e com pessoas imperfeitas, isso é humildade. Estejam à vontade para usarem os filtros que acharem melhor, na verdade muitos que creem cegamente em religiões precisam de seus filtros, mas que isso lhes proporcione uma experiência real e mais pura com Deus. Quando mais precisarem, ele ajudará vocês, não será a ciência nem a religião. 

Deus é sempre o mesmo

      “Mas eu sou pobre e necessitado; contudo o Senhor cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó meu Deus.” Salmos 40.17

      Nossa vida muda, o tempo passa, novos desafios e novos problemas surgem, mas Deus é sempre o mesmo, nele podemos sempre confiar. Tememos o desconhecido? Que bom, sinal que somos humildes, conhecemos nossas limitações, que mesmo todo o poder deste mundo nunca será suficiente para vencermos tudo e sempre. Isso é plano de Deus, separar-nos num pequenino pedaço de tempo para que existamos presos à matéria, para aprendermos a seguir para ele. Enquanto isso administramos o planeta com ciência e com justiça? Sim, temos que conservar o lugar onde descendentes e outros  também serão postos por Deus para evoluir, mas o propósito maior é sempre seguir em harmonia com as virtudes do Altíssimo. 

      Quando me dei conta que estava envelhecendo, que dificuldades físicas seriam implacáveis, e que nada que eu fizesse poderia mudar isso, eu temi, muito. Sendo um brasileiro como tantos, com poucas posses e poucos recursos para uma aposentadoria totalmente satisfatória, pensei em ficar doente e não poder pagar médicos, remédios e hospital, pensei em ser problema para quem mais amo. Mas Deus me disse, “tudo pode mudar, menos eu, o mesmo Deus que cuidou de você até aqui cuidará até o fim, de você, de tua esposa e de tuas filhas”. Siga crendo e consagrando-se, com humildade e amor, ainda que teu corpo possa menos, teu espírito pode ser útil, orando e testemunhando, isso basta para Deus cuidar de você.

Se puder, dispa-se de excessos

      “Na vereda da justiça está a vida, e no caminho da sua carreira não há morte.” Provérbios 12.28

      Muitos ouvem a voz de Deus, a obedecem e pelos seus esforços chegam onde Deus quer que eles cheguem, mas chegam cansados demais. Usam “roupas pesadas”, assim se desgastam mais tendo que suportar e levar as “roupas”, que fazendo as coisas que Deus de fato pede deles à medida que caminham. Essas “pesadas roupas” são as tradições, doutrinas e costumes exteriores das religiões, nada disso é prioritário, bastaria fé, santidade, amor e humildade. Mas quem já entendeu que pode usar “vestimentas leves”, não desconsidere quem ainda está preso às “vestes pesadas”, Deus não os preza menos por isso, aliás pode até honra-los mais. Deus não vê como vê o homem, ainda que conduza todos ao seu melhor. 

      Caminhe conforme tua fé, não julgue o outro, siga em tua vocação até o fim, se a vida já mostrou que essa te conduz em vitória que permanece é porque segue vocação divina. Todos precisam de identidade, “roupas” conferem identidade, dão sentido de pertencimento e aprovação social. Para muitos “roupas pesadas” são úteis, ainda não aprenderam a conectarem-se a Deus sem preços e ameaças, mas melhor chegar a Deus por excessos que se afastar por faltas. Esforços a mais são relevados, mas a menos fazem falta, a mais desgastam-nos mas entregam utilidade, a menos deixam-nos ociosos. Por um motivo ou outro ninguém seja arrogante, mas se puder, dispa-se de excessos, terá mais tempo e energia para o principal.

Não tema a verdade

      “E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos; eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.” Lucas 5.31-32

      Proteger-se demais é não se mostrar como é, quando não há verdade não há assunção do que precisa ser consertado, sem conserto não há melhoria. Muitos até fazem muito, mas mais para esconderem seus problemas, seus defeitos, que para arrumarem suas vidas, assim aperfeiçoam a aparência que os homens veem, valorizam e honram, e não evoluem o espírito. Muitos dizem, “não fico falando dos meus erros, dos meus defeitos, acredito em mim e sigo construindo minha vitória”. Pode até parecer uma disposição moderna, positiva, forte, mas é vida baseada em mentira, e pior, perda de tempo e de oportunidade para cumprir o propósito maior que temos neste mundo, tratamento e evolução. Não é fácil, mas não podemos temer verdades. 

      Este mundo não é pódio, é pista, não é salão de festa, é quarto de hospital, não é palco, é sala de aula. Corre, é tratado, aprende, quem assume que não alcançou para ser premiado, mas que dispõe-se a correr até o fim, quem não está de posse de todas as suas capacidades para ser aplaudido, mas que permite ser tratado, quem não sabe tudo para ser mestre, mas que esmera-se em aprender, muito e de todos. Isso não significa que não temos momentos de honra, mas se os momentos de tratamento e prova devem ser encarados com humildade, mais ainda os de vã glória, glória maior só na eternidade. De que verdade temos fugido, encerrando a jornada e nos achando sãos e mestres antes do tempo e não por avaliação final de Deus? 

Dois desafios

      “Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a edificação de uns para com os outros.” Romanos 14.19

      Quatro homens foram desafiados a sairem de um ponto, percorrerem uma distância, e chegarem a um segundo pondo. O primeiro disse, vou pela água, pegarei um barco e remarei até o destino. O segundo disse, vou pelo ar, pegarei uma asa-delta e me lançarei de um monte, chegarei mais rápido. O terceiro disse, vou por terra, mas usarei uma bicicleta, assim poderei descansar nas descidas. O quarto disse, vou a pé, é mais cansativo, demorarei mais, mas não dependerei de nada, a não ser de minhas próprias forças. Qual dos quatro homens cumpriu melhor o desafio que lhe foi colocado? Os quatro cumpriram igualmente o desafio, não importa o meio que cada um usou, importa chegar ao final.

      Na verdade dois desafios, não um, foram feitos aos homens, chegarem ao final e vencerem a vaidade de achar que o meio escolhido é melhor que os meios que os outros escolheram, aceitar as diferenças e não se achar superior por fazer escolha distinta. Há mais vantagem ir pelo ar que a pé por terra? Há. De bicicleta cansa menos que de barco? Talvez. Mas achar-se melhor pela escolha feita descumpre parte do desafio. Deus desafia a cada um numa prova, a prova é diferente para cada um, não pelo objetivo, mas pelo meio que cada um escolhe para ser aprovado. Todos somos atraídos ao Altíssimo por seu amor, mas não devemos julgar mal quem alcança o objetivo de um jeito diferente do nosso. 

Lembraremos de tudo

      “E vi um grande trono branco, e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu; e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.” Apocalipse 20.11-12

      Nosso conhecimento sobre como seremos após a morte acha mais base nos aparecimentos de Jesus após sua ressurreição. Não podemos generalizar suas capacidades espirituais para todos, visto que Cristo ressuscitou perfeito, nós, ainda que perdoados nele, não teremos a mesma perfeição, ou teremos? Nisso já temos uma primeira conjectura. A visão cristã tradicional separa a eternidade em dois grupos, céu e inferno, nessa ótica os que estarão no inferno não serão como foi Jesus logo após sua ressurreição. Contudo, podemos levantar outras conjecturas, uma delas e que nossa memória será perfeita no além, nos lembraremos de tudo, mesmo do que no presente nossa memória não se recorda ou teima em esquecer. 

      Livros que lemos, todo estudo que fizemos, toda informação que adquirimos, assim como todas as situações morais que sentimos e vivemos, amores, paixões, ódios, invejas, rancores, prazeres e dores, tudo será claro em nossas mentes liberadas espiritualmente. Hoje não é assim, graças a Deus por isso, muitas coisas é melhor esquecermos ou escondermos debaixo do tapete. Mas se as coisas ruins não forem devidamente resolvidas em Deus, com humildade e perseverante santidade, poderão ter valor relevante em nossa avaliação no além e definirão nosso céu e nosso inferno. Por isso é de suma importância autoconhecimento, autocrítica e principalmente iluminação de Deus, que nos purifica e nos aperfeiçoa.