12/06/21

Verdades em tempo de serem aceitas (8/8)

      “Os restantes se converterão ao Deus forte, sim, os restantes de Jacó. Porque ainda que o teu povo, ó Israel, seja como a areia do mar, só um remanescente dele se converterá; uma destruição está determinada, transbordando em justiça. Porque determinada já a destruição, o Senhor Deus dos Exércitos a executará no meio de toda esta terra.” Isaías 10.21-23

      O pecado não está na carne, mas no espírito, assim não origina-se no corpo ou da formação social, mas antes disso. Se não é assim que justiça há num Deus que cria alguns, com corpos e almas, com menos capacidades morais e físicas que outros? “Deus dá o frio conforme o cobertor”, dizem muitos, mas até que ponto isso não é só desculpa para não pensarmos seriamente no sofrimento de tantos, que padecem sem terem feito nada de errado nesta vida, assim como nas condições terríveis de outros, que não têm forças para vencerem vícios, criminalidade e outras fraquezas? Muitos passarão uma vida inteira e nunca terão condições, físicas, intelectuais e morais, para escolherem o Jesus das religiões cristãs, será que esses irão para o inferno por causa disso? Pensemos mais seriamente a respeito. 
      O perdão de Deus, por si só, não transforma, só dá a paz para começarmos a ser transformados, é só o primeiro passo. A fé nos coloca em comunhão com Deus para que, sabendo que temos do Pai maior o perdão, tenhamos forças para trabalhar. A mudança, demorada e difícil, vem, então, através de trabalho pessoal, perseverando nós na busca e vivência de virtudes, e no distanciamento de prazeres que satisfazem o corpo indiferentes ao egoísmo e às vaidades que prejudicam os outros. Deus nos perdoa, mas quem nos muda somos nós, e isso, ainda assim, para a glória de Deus, não nossa, eis um mistério. Isso não significa que uma oração de arrependimento feita no leito de morte não possa mudar alguém, mas isso é uma situação extrema e de exceção, só os muito duros de coração experimentam isso. 
      Não existe igreja oficial de Deus no mundo, nenhuma, Jesus nunca teve o propósito de fundar uma instituição religiosa. Católicos, evangélicos, protestantes, muçulmanos, budistas, hinduístas, espíritas e outros, a boa intenção de propagar o que nos faz bem é digna, mas não nos consideremos donos de nada, principalmente de verdades espirituais. O compromisso de Deus é com o indivíduo, esse tem a liberdade para conhecer as experiências religiosas de outros indivíduos, mas sabendo que todas as religiões têm verdades e “enganos”, ainda que enganos necessários às limitações humanas de cada tempo e cultura. Nascemos e morremos sozinhos, levaremos somente virtudes espirituais, o céu é individual e está diretamente relacionado a virtudes anexadas aos nossos espíritos no mundo.
      Deus não é um ancião de vestido, barba e longos cabelos brancos, sentado num longíquo trono, ele é espírito. Irmãos e irmãs, e com isso me refiro a todos os seres humanos, indiferente da religião que professam, entendamos de uma vez que as tradições religiosas baseiam-se em descrições divinas feitas por homens e para homens de centenas ou de milhares de anos atrás. Nossa inteligência evoluiu, assim como nossa capacidade de entender Deus, deixemos para lá uma ótica material e humana do Senhor e o vejamos como Ele é, Espírito. Imagens mentais são só portais que Deus nos permite utilizar para termos acesso ao mundo espiritual, mas são meios que nós criamos, não representam de fato a realidade espiritual, elas variam conforme os homens e Deus respeita todas elas. 
      Nosso mestre é o Espírito Santo, essa é uma palavra de Jesus, não líderes religiosos e teólogos, papas, bispos e doutores das escrituras e doutrinas, dentre outros. A Bíblia é construção humana, não divina, ainda que baseada em verdades divinas apresenta essas verdades sob óticas humanas e temporais. Ver um Deus que usa a evolução das espécies e que não criou tudo do nada em seis dias de vinte e quatro horas não é pecado, é ir além da letra morta e ser instruído pelo vivo e Santo Espírito. Um Deus espiritual se conhece com ferramentas espirituais para que ensinos espirituais nos ensinem a sermos espirituais para vivermos uma eternidade que será plenamente espiritual, livremo-nos pois da passageira ilusão material. Homens, livrem-se de homens, só assim poderão amá-los.  
      Quem pode entender de fato os mistérios de Deus? Poucos, ainda que Deus ame a todos e a todos atraia, com o seu amor revelado em Jesus, para sua luz mais alta, de onde o Espírito Santo emana verdade e justiça aos que creem com corações puros e mentes limpas. O cristianismo estabelecido na Terra ainda será confrontado por muitas verdades e será pego de surpresa, então, líderes serão desmascarados, e todo o poderio, de religiões, denominações e ministérios construídos sobre o falso cristianismo, desmoronará. Os humildes, entretanto, os simples de coração, que ainda que estivessem no meio das congregações nunca fizeram parte delas, mas eram genuíno povo de Deus, separados antes do início dos tempos, esses não serão envergonhados, serão poupados do pior, quem viver verá.

8ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

11/06/21

Do lado de Deus (7/8)

      “Antes de ser afligido andava errado; mas agora tenho guardado a tua palavra. Tu és bom e fazes bem; ensina-me os teus estatutos. Os soberbos forjaram mentiras contra mim; mas eu com todo o meu coração guardarei os teus preceitos.Salmos 119.67-69

      Vivemos um momento onde muitos estão focados em encaixotar pessoas e ideias em polos extremos, rotulando umas coisas como “diabos” e outras como “deuses”, cegos a qualquer tipo de centro, antes acusando os equilibrados de covardes. Nessa ótica maliciosa, e não sábia, muitas pessoas podem estar sendo manipuladas sem se darem conta disso. Os cristãos evangélicos e protestantes também têm caído nessa armadilha, muitos pensam que quem não está a favor deles está contra eles, sem entenderem que muitos não estão nem a favor e nem contra, na verdade não estão nem aí.
      Muitos cristãos tentam situar os acontecimentos atuais em sua agenda apocalíptica, dizendo que tudo já estava escrito, a leitura que eles faziam da Bíblia segue a mesma, sem que vejam que essa leitura não os levou a muita coisa, eles não são assim tão melhores que aqueles que não pensam como eles. É mais fácil adequar a realidade a suas ideias, cortando algumas coisas, adicionando outras, para não ter que sair da zona de conforto da religião tradicional, para não reavaliar tudo com honestidade e mudar de ideia. Cristãos precisam estar não em lados extremos, mas no lado de Deus. 
      Mudar de ideia não é pecado, Deus se revela aos poucos, conforme inteligência e fé dos homens, assim não temos que pensar como pensavam cristãos de séculos atrás e nem como nós mesmos pensávamos há vinte anos. Certas crenças foram usadas por Deus para abençoar as pessoas de tempos passados, mas não são mais suficientes para nós hoje, quantas vezes teremos que repetir isso?! Se fosse assim estaríamos até hoje tendo que seguir a religião de Moisés, ainda que na essência tanto Moisés quanto Cristo disseram o que precisamos saber, os que têm olhos espirituais para ver veem isso. 
      A mudança do homem se realiza à medida que ele se desliga da matéria e dirige-se para o espírito, assim uma humanidade materialista que cria num Deus na forma de seus reis físicos, que matavam seus inimigos e que demonstravam sua realeza com luxo e riqueza, agora começa a entender um Deus que ama todos e que não considera riquezas materiais como diferenciais. As ciências abriram espaço nas mentes dos homens para interpretações mais espirituais de Deus, mas Jesus homem já tinha inaugurado isso quando disse que não bastava ser religioso na aparência externa, mas no interior.
      Cristãos precisam reavaliar muitas crenças para de fato entenderem como funciona a justiça divina e o livre arbítrio. Deus revela tudo ao que o busca sem as algemas da religião, ao que quer de fato Deus, não só uma crença que o faça ter aprovação de homens, àquele que deseja crescer espiritualmente, ser santo e humilde. Deus se mostra ao que quer fazer diferença no mundo ajudando tantos que sofrem violência, intolerância e preconceitos, só temos que dar o primeiro passo para ficar do lado de Deus, não em polos. Povo de Deus, esteja do lado de Deus, nele não há confusão nem engano. 

7ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

10/06/21

Sofrimento com resignação correta (6/8)

      “Que nenhum de vós padeça como homicida, ou ladrão, ou malfeitor, ou como o que se entremete em negócios alheios; mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte.I Pedro 4.15-16

      Só evoluímos espiritualmente em direção a Deus com sofrimento resignado, que não usa nem a dor como moeda de vaidade, mas apenas como meio de servir ao próximo e ao Senhor, e quem ajuda os outros sempre se ajuda. Não gostamos de sofrer, mas sofrer do jeito certo é condição imprescindível para crescer. Por que sofremos? Todos os seres humanos na Terra sofrem por causa do orgulho, seja pelo próprio orgulho ou pelo orgulho dos outros, e não fazemos ideia de que tipo de sofrimentos as pessoas precisam vivenciar para abrir mão do orgulho. 
      Se tua religião ficou fácil de viver, talvez seja momento de algo mudar, se você não está pagando nenhum preço para ser melhor, se não está doendo, você não está caminhando em direção a Deus, talvez esteja sendo só um religioso regular. Alguns sofrem fazendo trabalhos pesados, outros sofrem fazendo trabalhos intelectuais, outros ainda sofrem por não poderem trabalhar, mas se há algo que de um jeito ou outro nos aperfeiçoa é o dever do trabalho no dia a dia, nos esforçarmos nos confronta com a realidade e nos faz crescer.
      Mas o sofrimento só vale como aprimoramento se for experimentado do jeito correto, o homem pode usar mesmo o sofrimento como crédito para exigir direitos e se postar como superior aos outros. Entenda certo, não estou aqui fazendo apologia ao masoquismo, certos sofrimentos devem ser evitados e confrontados. Contudo, muitos sofrimentos não são injustiças, mas meios, de alguma forma são justos e nos oferecem oportunidades para melhorarmos como seres humanos. A verdade é que nenhum sofrimento é criado por Deus, mas pelos homens.
      Os que dizem que isso é impossível, que é ignorância sofrer com resignação, desconhecem o amor de Deus, que não permite sofrimento que não possamos suportar e que a todos vê e ajuda. Não duvide nem da fé daquele mendigo, que muitas vezes vemos num canto do centro de nossas cidades e tentamos fazer de conta que não é um problema nosso, ele é criatura de Deus como nós, com chances de ter alento mesmo em suas desgraças, enquanto a nós é dada a oportunidade de o ajudarmos. Todos são problemas de todos, assim como todos podemos ser a solução. 
      Se teu sofrimento parece grande, existem sofrimentos bem maiores no mundo, assim nos libertemos do cômodo recinto da autocomiseração, que nos diz que não precisamos nos esforçar porque nosso problema é impossível de ser resolvido, e que isso já é motivo para não fazermos mais nada pelos outros. Essa não é a resignação que agrada a Deus e que te fará crescer espiritualmente, ela não conduz à vida, só à morte. A resignação que liberta se acha na humildade e o humilde é sempre feliz porque encontra paz na aprovação de Deus, não no julgamento humano. 

6ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

09/06/21

Pura intenção (5/8)

      Dizia, pois, João à multidão que saía para ser batizada por ele: Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão.” Lucas 3.7-8

      Um profundo temor a Deus, que nos faz olhar a religião com cuidado, considerar suas premissas com seriedade, para conhecer e viver a espiritualidade proposta com pureza de coração, não para ter aprovação humana, mas divina, eis o que deve estar nos corações de todos que se dizem seguidores de religiões, sejam elas quais forem, quem assim proceder sempre achará a verdadeira sabedoria e conseguirá pô-la em prática. Não se enganem, cristãos, todas as religiões, ou pelo menos a maioria delas, propõem regras, protocolos e interpretações da vontade de Deus para os homens, e todas elas pedem do homem sinceridade.
      A grande maioria das pessoas inicia-se numa religião desejando sinceramente Deus e o bem, mas elas seguem assim? Não muitas, e o número de insinceros aumenta à medida que as pessoas se “acostumam” com suas religiões e se envolvem com a vida social de suas comunidades religiosas. Com o tempo muitas pessoas esquecem-se de Deus, perdem a pureza em relacionarem-se com ele, passam a administrar suas religiões com uma atitude política, não com temor a Deus. Isso revela algo comum a muitos homens, eles querem agradar mais aos homens que veem que ao Deus invisível, simplesmente porque é mais fácil. 
      Talvez muitos evangélicos estejam achando esquisito este texto, onde o cristianismo é posto no mesmo nível das outras religiões, eles que se acostumaram a ouvir de púlpitos que sua religião é melhor que as outras, que ela tem propriedade exclusiva de uma verdade. Mas do que adianta ter uma religião que se diz melhor que as outras quando se é, no mínimo, igual aos outros religiosos, tendo o mesmo descuido de não levar a sério algo que se prontifica a religar o ser humano com o criador do universo? Cabe a muitos cristãos hoje a mesma exortação que João batista deu ao povo de sua época no texto bíblico inicial. 
      Não se enganem cristãos, qualquer homem em qualquer religião, mesmo pedras que creem em pedra, se tiver uma intenção pura para chegar a Deus, chegará! Deus conhece os sinceros do bem, a eles se revela sempre, ajuda com amor, responde em verdade. Entender ou não a relevância de Jesus nessa experiência é só questão de tempo para os puros de coração, e esses não serão só supersticiosos aceitando cegamente dogmas, mas terão uma experiência viva e renovadora com o ensino principal que Jesus revelou e viveu como homem, e deseja como Deus para todos. Jesus salvou toda a humanidade, isso independe de religião. 
      Queridos kardecistas, uma palavra a vocês: do que vale saberem “mais” sobre o mundo espiritual, explicar melhor coisas que sob o ponto de vista católico e protestante não se harmonizam com o amor de Deus, do que vale terem curso superior se se esquecem do primário, que revela Jesus como o único caminho para Deus? Não me refiro a ver Jesus como um espírito superior que deu o melhor exemplo de vida moral agradável a Deus, mas como posição espiritual exclusiva para salvar o homem. Saber mais não é ter a melhor intenção, às vezes é melhor saber menos, mas praticar em amor a pureza da verdade divina. 

5ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

08/06/21

O que você quer com Deus? (4/8)

      “Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me.Mateus 19.21

      De verdade, o que você quer com Deus? Essa talvez seja a pergunta mais feita aqui no “Como o ar que respiro”. A primeira coisa que temos que saber é que mantermos uma religião, por si só, nada significa, assistirmos cultos com frequência, educarmos filhos debaixo de uma doutrina, isso não nos faz melhores que ninguém. Ao contrário, sabermos mais pode nos fazer ainda mais culpados, caso não vivamos o que sabemos, de quem muito sabe, mais é cobrado. Isso tem que ser repetido à exaustão, pois só entendendo isso as pessoas poderão diferenciar Deus de religião. 
      A religião, por mais encantadora que seja a palavra, por mais animado que seja o louvor, por mais afetuosos que sejam os amigos que fazemos em templos confortáveis e organizados, um dia cansa. Paixão sempre acaba, mesmo paixão por igreja e religião, e quem se aprofunda na religião que se prontifica a crer e conhecer também achará nela enfado, se de fato o único e verdadeiro Deus não estiver sempre à frente, chamando e dando forças para se praticar o que ele ensina. Toda religião, incluindo as cristãs, não oferecem todo o caminho para se chegar a Deus, e eu disse religião, não Jesus. 
      Quem quiser verdadeiramente provar que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, um dia terá que tomar uma decisão, seguir em uma busca pessoal e solitária. Isso é para todos? É, mas nem todos estão preparados para isso ou pagam os preços para isso. Para muitos é melhor que permaneçam bem quietinhos dentro dos templos, religiosamente repetindo cultos, rituais e liturgias, cantando “belos” louvores, dando dízimos. Eles não serão totalmente felizes assim, mas correrão menos riscos, para muitos do estágio espiritual atual da humanidade, só a eternidade para entenderem certas coisas. 
      Uma grande maioria não vai além, não faz certos questionamentos, não duvida de certas tradições, porque tem medo, e alguns já se acham tão em falta não conseguindo obedecer o que a religião lhes orienta, que pensam que só piorariam suas situações duvidando do que padres, pastores e reverendos ensinam. Muitos desses, contudo, não percebem que não questionarem tradições ultrapassadas é o motivo pelo qual eles não conseguem praticar ensinos equivocados, assim o medo alimenta a mentira que mantém uma vida hipócrita e infeliz, conveniente só para líderes enganadores. 
      Mas não queira mudar os outros ou a religião quando na verdade é você que não quer mudar de vida. Se não pode ser fiel no pouco, muito menos o será no muito, se não quer praticar o evangelho básico de Jesus, nem queira saber mais sobre o mundo espiritual, termine o curso primário antes de fazer o superior. O Senhor é bondoso o suficiente para ensinar crianças como crianças, misericordioso o suficiente para tratar jovens como jovens, e sério o suficiente para conduzir adultos como adultos, tudo no tempo certo de cada indivíduo, ainda que o evangelho seja simples, amar a Deus e ao próximo. 

4ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

07/06/21

As coisas não são bem o que parecem ser (3/8)

      “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.I Coríntios 13.12

      Cristãos protestantes e evangélicos, um apocalipse com batalhas épicas é uma interpretação mitológica da Bíblia, não será assim, da mesma maneira como o mundo e o homem não foram criados em seis dias de vinte e quatro horas. Teólogos e líderes cristãos, onde foi que o cristianismo oficial conseguiu chegar no mundo, mantendo tradições de homens, que se tiveram uma utilidade adequada para Deus no passado já não têm mais e há algum tempo? Deus não mudou, mas o homem sim, e pode saber mais, se quiser, se parar de querer uma religião só para ser próspero no mundo. 
      Infelizmente, se o que Jesus ensinou, há quase dois mil anos, não foi entendido até hoje, e só isso já bastaria para conduzir o homem a Deus, quanto mais as revelações espirituais do final do século XIX, essas ainda são demonizadas por muitos e mistificadas por outros. Contudo, o que Jesus fez e ensinou basta para que qualquer ser humano, se de fato for bem intencionado, chegue a todos os mistérios de Deus, respondendo não só a questões intelectuais como também resolvendo-se moralmente. O evangelho original é para todos e sempre, ninguém se engane sobre isso. 
      Todavia, não se revoltem, cristãos, nem se alegrem, inimigos do cristianismo, o engano não está só nas igrejas que representam o cristianismo oficial, as outras religiões também caem na armadilha da arrogância, que leva todo ser humano a se achar, principalmente na área religiosa, melhor que os outros. Ainda que Jesus seja especial e único em relação a todas as religiões, e isso nunca negaremos, Deus também se revela nas outras religiões, em todas elas. Mas onde há o homem há o engano, e também há Deus, sempre amando pacientemente a todos. 
      Alguns creem e não vivem, outros vivem e não creem, alguns sabem e não falam, outros falam e não sabem, alguns sofrem e ainda assim têm semblantes serenos, outros usufruem tudo o que podem e se fazem de sofredores. Muitos são injustiçados e não reclamam, outros reclamam de barriga bem cheia, alguns têm paz mesmo sem terem nada que lhes garanta o porvir, outros têm uma falsa paz baseada no egoísmo. Em alguns Deus vê humildade mesmo sobre a rudeza, em outros a arrogância é clara ainda que sob comportamento erudito ou religioso.
      As coisas não são bem o que parecem ser, principalmente se nos basearmos no cômodo ensino da religião, que só quer manipular homens para manter poder no mundo. É preciso coragem para acharmos o que Deus tem, não para as religiões, mas para cada um de nós. Por isso a perda que Jesus ensinou, necessária para que o ganho melhor seja alcançado, hoje tem mais a ver com sair da cela das religiões e voarmos para a liberdade do Altíssimo, que nos abstermos de excessos de prazeres físicos. Talvez abrir mão do ego, hoje, não seja mais deixar o mundo e entrar numa igreja, mas deixar a igreja para estar com Deus... 

3ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osorio de Souza, 21/01/21

06/06/21

Peixes num aquário (2/8)

      “Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e inofensivos como as pombas.Mateus 10.16

      O “mal”, que muitos ainda não entenderam o que realmente é, achou novas maneiras de agir através de caminhos que o próprio homem criou, a tecnologia e a globalização, para invadir, conquistar e destruir. Isso ocorre a despeito de muitos, ainda que testemunhem uma nova era, continuarem achando que ainda estão vivendo no passado. Parece que o “mal” moderniza-se, evolui, enquanto o “bem” mantém-se atrasado, achando que manter tradições humanas faz dele mais forte, o “bem” não vê que lhe foi armada uma armadilha e ele caiu, como um peixe num aquário. 
      Mas não foi o bem que caiu numa armadilha, foi a arrogância humana, o bem verdadeiro não se engana, não se enfraquece jamais, não se aprisiona num aquário. E Deus com isso? Deus nada tem a ver com isso, ele permanece no mais alto lugar espiritual, emanando sua luz e atraindo os humildes. Pela ciência já entendemos que o ser humano mudou o suficiente para reavaliar suas crenças e ver além, não mais como criança, mas como adulto, a ciência contempla a matéria, mas o método científico, ferramenta usada para fazer ciência, pode ser usado também para as coisas do espírito. 
      O homem já aprendeu a ver além da aparência, a identificar inimigos além do mundo exterior, a entender o erro moral além de ações físicas, mas na íntima intenção emocional. A base disso não foi ensinada pela ciência, a partir do século XIX, mas pela espiritualidade de Jesus desde o século I. Pelo evangelho o homem entendeu que não basta uma religião de sacrifícios com morte e sangue para acessar a graça divina para obter uma vitória também com derramamento de sangue contra homens de carne e sangue iguais a ele. Jesus ensinou há quase dois mil anos que a guerra é espiritual. 
      O inimigo do homem é ele mesmo, a batalha se dá em seu interior, o mal não é algo físico e grande, mas pequeno, que pode ser alojado e disfarçado dentro do ser humano. Se é isso, se já temos condições intelectuais de entender isso, por que muitos cristãos ainda insistem em ler o mundo e a existência como liam os israelitas no antigo testamento? Por que evangélicos querem poder político no Brasil para ter uma nação cristã física, quando Jesus ensinou que seu reino é o dos céus, não na Terra? Essa é a armadilha que prende um peixe que entrou no aquário por vontade própria, não por coação.
      Por que crentes enchem templos e se entopem de fé para pedirem milagres materiais, não mudanças de caráter para serem humildes e caridosos? Por que continuam interpretando a Bíblia ao pé da letra, negando não só a ciência, mas o Espírito Santo que dentro deles pode ensinar muito mais que sabiam escritores bíblicos de milênios atrás? Por que protestantes que criticam tanto católicos, insistem em cometer os mesmos erros que esses, crendo num “Deus” que nada faz pelos que sofrem sem merecer? Dentro do aquário acha-se que não se pode ir além das paredes de vidro, que permitem ver, mas não permitem tocar. 

2ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osório de Souza, 21/01/21

05/06/21

Onde estão nossos inimigos? (1/8)

      “Apanhai-nos as raposas, as raposinhas, que fazem mal às vinhas, porque as nossas vinhas estão em flor.Cantares  2.15

      Século XXI, os computadores diminuíram de tamanho, baixaram de preço, estão presentes em aparelhos domésticos, TVs, telefones, carros, que ligados a uma rede mundial de comunicação muito rápida colocam o planeta numa relação íntima, pessoal e em tempo real. Hoje todos os seres humanos podem ser produtores e espectadores, música e outras artes, indiferentemente se as pessoas têm ou não talentos e experiências especiais nisso, são compartilhadas por qualquer um, tendo como protagonista ele mesmo. 
      O mundo moderno trouxe um novo conceito de deidades, de super heróis, de celebridades, todos têm direito a tudo sempre, para ser e ter basta querer, desde que se possua um pequeno aparelho na mão, o espírito foi substituído por um celular, que tem o poder de unir, desunir, trazer e levar, transformando solidão em festa, tristeza em prazer, vazio em qualquer coisa. Eis uma faceta do tempo em que vivemos, está disponível para todo mundo? Não, ainda existe necessidade do básico para muitos e desrespeito com grande parte da população.
      Guerras seculares persistem, extremismos religiosos ganham adeptos, em ideologias distintas, a união global possível se antagoniza a conflitos que antes nem existiam, a liberdade que as rodovias virtuais permitem só armam o ser humano de mais ferramentas para prender e matar, não só os corpos, mas ideias e reputações. O que sempre existiu mas estava escondido em famílias, cidades e países, agora é revelado em mensagens no Twitter, em imagens no Instagram e em vídeos no Youtube, a “porcaria” não foi inventada, só veio à tona.
      Como uma metáfora dessa nova realidade, um vírus, microscópico e que estava escondido como tantas pessoas na mediocridade de seus lares, antes de poderem se manifestar no Whatsapp, conquista mais espaços que aqueles conquistados por mísseis teleguiados ligados a satélites ao redor do globo terrestre. Especialistas dizem que o Sars-Cov-2 (o vírus Corona que causou a Covid 19) não é o primeiro vírus e não será o último, só inaugurou uma era de doenças que mudou o mundo, mutações desse assim com novos surgirão. 
      A despeito de outros inimigos exteriores e mais convencionais, o vírus destrói de dentro para fora, outra metáfora dos tempos modernos, semelhante aos celulares, um tipo de possessão individual que desconsidera fronteiras e ataca pessoas diretamente. Enquanto tantos temiam uma terceira grande guerra mundial, com exércitos e armas destruindo cidades e invadindo países, ocorre outra coisa, o indivíduo sendo subjugado, não por inimigos grandiosos e exteriores de nações, mas por pequenas entidades, um celular ou um vírus. 

1ª parte da reflexão 
“Reavaliemos nossas crenças: sempre!”
José Osório de Souza, 21/01/21

04/06/21

Paciência (2/2)

      “Na vossa paciência possuí as vossas almas.” Lucas 21.19

      Creio que só entendemos o que é paciência e sua real eficácia quando a vivenciamos não como um sofrimento, um preço a se pagar, por exemplo, para suportar uma pessoa que nos incomoda. Se é sofrida não é paciência, é só uma resiliência humana, que também tem sua utilidade, mas que é finita e inútil, visto que é criada e mantida só pelo homem, não por alguém com o espírito em comunhão com o Espírito de Deus. Ter esse entendimento é questão de vida real com Deus, de oração e confiança.
      Paciência é lapidação da alma que a princípio é bruta e cheia de irregularidades, por isso funciona mal, com dor e instabilidade, contudo, quando a alma adquire paciência se torna um globo perfeito, consegue funcionar com facilidade e estabilidade. Muitos funcionam, mas por não terem paciência sofrem desnecessariamente como fazem sofrer aqueles com os quais não têm paciência, e muitos, por não terem humildade para lapidarem a alma, dizem que o problema não é sua falta de paciência, mas os outros. 
      Deus nunca engana ninguém, principalmente aqueles que o buscam e entregam a ele suas vidas, esses sempre serão confrontados para que aprendam a ser pacientes, paciência é óleo puro e perfumado que cura. Assim, meu querido, entenda certo, se você deu autorização a Deus para que ele cuide de você, em algum momento você terá que passar pela matéria paciência e ser aprovado, senão perderá tempo, repetindo e repetindo a mesma matéria até que aprenda a ser paciente, consigo mesmo, com os outros e com Deus. 
      Paciência não é só mais uma virtude, é o retirar de uma venda que nos permite enxergar todas as outras virtudes. Sem paciência não amamos, não conseguimos perdoar, não conseguimos esperar a ação de Deus e nos apressamos, julgando e agindo conforme achamos melhor, fazendo justiça com as próprias mãos e impedindo Deus de agir. Mas ao mesmo tempo que ela é causa primal é efeito final, quando experimentamos as virtudes adquirimos mais paciência, pois aprendemos que vale a pena esperar em Deus. 
      Negar-se ser paciencioso, contudo, é algo muito sério, muitos conquistam muito na vida, valores materiais e morais, mas por não aprenderem a lição da paciência, que acima de tudo não deseja morte antes do tempo, terão que ser fisicamente e até psicologicamente imobilizados, por uma enfermidade, seja numa cadeira de rodas ou num leito de hospital, para que não partam antes de aprenderem a lição. Cuidado, aquele que se nega ser paciente, o universo tem seus meios e ninguém pode fugir de aprender a esperar. 

03/06/21

Paciência (1/2)

      “Sede vós também pacientes, fortalecei os vossos corações; porque já a vinda do Senhor está próxima.Tiago 5.8

      Adquirir paciência também é um trabalho espiritual, e talvez um dos mais difíceis, pois só se adquire paciência esperando, e muitas vezes esperando sem poder fazer nada. Como é mais fácil para o homem sentir-se bem quando tem algo para fazer, nessa situação ele louva a Deus ainda que no fundo de seu coração ache que tem prosperidade porque está trabalhando, e assim acha que isso é fruto de seu esforço físico pessoal, não de sua vigilância espiritual. Deus fica pequeno quando o homem se vê grande. 
      Muitos passam anos se enganando dessa maneira, se achando bons cidadãos, religiosos fiéis, mas na verdade estão longe de Deus, também pudera, podem trabalhar e receber os frutos disso, para que intimidade com o Senhor? Para que ter paciência com os outros? Aliás, quem está fazendo e fazendo se dá o direito de exigir do outro a mesma coisa, julgando quem não faz como ocioso e menos que ele, ainda que não conheça o motivo real do outro não fazer. Quando o homem se acha grande, se acha deus. 
      Eu tenho muita dificuldade para ser paciente, em minha vida isso causou muita dor, nascida de atitudes feitas na ansiedade, sem esperar o momento mais adequado. Se é difícil esperar fazendo, trabalhando dez horas por dia, nos relacionando com as pessoas, muito mais difícil é esperar tendo que fazer menos que o necessário, e nesses tempos de pandemia e de poucas oportunidades de emprego esperar com a virtude paciência é trabalho duro, mas necessário aos que querem crescer espiritualmente. 
      Sobre o texto inicial, abro parênteses para a ideia que os cristãos do primeiro século tinham sobre a segunda vinda de Jesus, achavam que estava próxima. Isso é um erro, não só temporal já que não está próxima nem de nós hoje, como de entendimento sobre como ou onde será essa segunda vinda, se no plano físico ou no plano espiritual, sim, porque muitos entendem que não será no mundo, mas só no céu. Mas isso é assunto para outra reflexão, a lição principal é estarmos sempre preparados, fecho parênteses. 
       A verdadeira paciência mantém uma vigilância espiritual constante e só temos forças para fazer essa vigilância quando amamos a Deus. Quem ama não quer desapontar, trair, desagradar, e faz isso não por medo, e em se tratando de Deus não por temer um juízo eterno, um inferno. O amor é justamente o oposto do medo, o medo afasta, o amor aproxima, e quem está protegido debaixo das asas do Altíssimo está imerso em amor, não está ansioso por nada e assim pode esperar do jeito certo, em paz. 

02/06/21

A malícia e a retidão

      “Porque o Senhor Deus é um sol e escudo; o Senhor dará graça e glória; não retirará bem algum aos que andam na retidão.Salmos 84.11

      Algumas pessoas estão acostumadas a usar indiretas, têm sempre “papos tortos”, quando falam conosco têm sempre alguma crítica a alguém, e mesmo falando diretamente conosco, parecem esconder algo, querem aparentar que nos aprovam, mas estão sempre querendo confrontar nossas atitudes, nossas palavras, nossas intenções. É gente incrédula, que por ter parado de buscar a Deus (ou talvez por nunca ter de fato buscado), que por não estar resolvida no Senhor, duvida que muitos possam ter uma comunhão sincera com Deus. Quem não crê em Deus, não crê em si mesmo e não crê nos outros. Essas pessoas adquiriram na vida a malícia, não a sabedoria, e o mais triste é que muitas se acham cristãs. Filho de Deus de verdade não dá indiretas, ou fala sem receio e em amor o que pensa ou se cala com temor. 
      Os jovens usam o termo “papo reto”, esse termo tem um sentido semelhante ao termo reto citado na Bíblia, significa falar a verdade sem rodeios, mas falar com respeito, não sentir a necessidade de ser malicioso, usando afirmações dúbias, que parecem ter sempre um segundo e escondido sentido. Quando usamos de indiretas o fazemos por termos medo de dizer a verdade, e isso acontece ou porque aquilo que achamos ser verdade na verdade não é, antes é uma avaliação injusta, uma crítica destrutiva, ou porque ainda que seja uma verdade não temos amor e respeito suficientes de Deus para dizê-la sem machucar o outro. Ser espiritual não é só dizer e fazer a coisa certa, mas também dizer e fazer do jeito certo, no tempo certo, agir assim, por mais duro que seja, constrói, nunca destrói ou fere alguém. 
      Jesus falava muitas vezes por parábolas, mas sua intenção não era maliciosa, ao contrário, a simbologia tinha como objetivo tanto explicitar melhor um ensino, através de uma analogia, quanto proteger aqueles que ainda não estavam preparados para certos mistérios, Jesus era sábio, reto e muito amoroso. Com algumas pessoas às vezes Deus nos orienta a falar com simbologias, não sermos diretos, não para enganá-las ou criticá-las, mas para que a exortação entregue não seja de pronto descartada por elas, caso fosse mais explícita, ficando assim em suas mentes para que depois, sozinhas, elas possam refletir melhor e, quem sabe, mudarem de vida. O amor de Deus é sábio, não é malicioso, é educado, e sempre espera mudança de atitude para melhor, respeitando o livre arbítrio dos homens e seus tempos. 
      “A malícia matará o ímpio e os que odeiam o justo serão punidos” (Salmos 34.21), “as palavras da sua boca são malícia e engano, deixou de entender e de fazer o bem” (Salmos 36.3). A malícia cega justamente aquele que acha que tem mais visão que os outros, o malicioso é um sábio do mal, conhece as fraquezas do homem, mas não acredita que em Deus os homens possam mudar e serem bons. Malícia separa, não une, pois o malicioso, achando-se astuto, sempre desconfia, sempre vê no outro aquilo que há nele, malícia que quer levar vantagem. O malicioso é ladrão e homicida, rouba a honra e mata a reputação, ele sempre tem como inimigo aquele que é o oposto dele, o justo, que possui justamente aquilo que ele não tem, sabedoria genuína, por isso a voz do justo em seus ouvidos lhe deixa tão desconfortável. 
      “Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto” (Salmos 51.10), “seja reto o meu coração nos teus estatutos, para que não seja confundido” (Salmos 119.80). O reto teme a Deus, anda com Deus, ama a Deus, por isso tem a luz do Altíssimo sobre si, retidão é luz que protege da confusão, o reto sabe de onde veio, onde está e para onde vai, sabe quem foi e quem é, por isso é misericordioso e generoso com o próximo. O reto não se sente melhor que ninguém, não se acha sábio, pode até se achar menor, mas por se ver assim confia e se satisfaz no Senhor, por isso tem uma sabedoria simples e natural, manifestada até no silêncio. O malicioso querendo manter o que tem e ganhar mais perderá tudo, já o reto, que nada pensa ter além do Senhor, verá sua felicidade expandida, aqui e no céu. 

01/06/21

Palavras com amor

      “Ora, o fim do mandamento é o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida. Do que, desviando-se alguns, se entregaram a vãs contendas; querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam.I Timóteo 1.5-7

      Nem o “bem” na boca de quem tem o mal no coração é bem, mas é mal, não são as palavras que aliam a uma atitude o bem, mas a intenção interior e espiritual. Se alguém tiver amor no coração, até seu silêncio contribuirá para que o bem seja feito, e mesmo o de pouco conhecimento, com menos informações, que nem sabe falar direito ou tecer raciocínios mais elaborados, se tiver uma intenção embebida em amor, fará mais bem que o articulado, que conhece tudo e fala discursos relevantes.
      Num mundo atual, onde a humanidade acordou para o preconceito e a desigualdade, quando nos conscientizamos do preço que tem que ser pago, de alguma maneira, para descendentes de africanos escravos, toda ação e toda palavra importam. Contudo, é preciso que sejam ações e palavras para desconstruir o erro e construir o acerto, não simplesmente para destruir o errado, precisamos odiar o “pecado”, não o “pecador”, só assim construiremos união e não desunião.
      Se não tomarmos cuidado, ainda que tenhamos bons motivos e estejamos munidos de discursos relevantes (e como as pessoas atualmente sabem fazer belos discursos), estaremos fazendo guerras e exercendo violência, a mesma que mulheres, homossexuais (e outras sexualidades) e principalmente os negros sofreram e sofrem. Uma guerra não justifica outra, uma violência não justifica outra, o mal se vence com o bem e o bem está dentro de nós, não só nas palavras e nas ações. 
      Atitudes que promovem transformações que ficam são as que nascem de intenções espirituais puras. Por quê? Porque essas estão em sintonia, muito mais que com bandeiras e ideologias ou homens, com o Deus Altíssimo, pai de todos os espíritos. A melhor mudança é espiritual, e o espírito não tem cor, sexualidade ou raça, só virtudes que quanto maiores mais fazem do ser, servo de outro ser, não dono, e ser servo por amor não humilha nem cria ódio, mas honra e faz amigos. 
      No texto inicial, Paulo fala de um outro tempo e de um outro contexto, se refere a religiosos israelitas de sua época que sabiam falar, entendiam a teoria de suas doutrinas religiosas, mas não tinham a intenção correta em seus corações. Paulo diz que o amor de um coração puro, e de uma boa consciência, e de uma fé não fingida, é o que confere legitimidade às palavras, se não existir isso o discurso é só para gerar polêmica e criar contenda, é de ódio, ainda que com belas palavras. 

31/05/21

Palavra de Deus, vida por si só

      “A minha alma está pegada ao pó; vivifica-me segundo a tua palavra. Eu te contei os meus caminhos, e tu me ouviste; ensina-me os teus estatutos. Faze-me entender o caminho dos teus preceitos; assim falarei das tuas maravilhas. A minha alma consome-se de tristeza; fortalece-me segundo a tua palavra.Salmos 119.25-28

      Indiferente do que ela diga, ainda que traga uma sentença de morte, a palavra de Deus é vida, e quem a recebe é vivificado. A palavra de Deus é vida por si só, feliz o que a recebe diretamente do Espírito Santo em seu coração, será renovado de pronto e a levará consigo como lâmpada e escudo. Os homens fazem barulho e discursos, falam sem pensar direito no que falam, e mesmo com sinceridade podem matar com suas palavras, eles darão conta de toda palavra pronunciada ou pensada um dia a Deus. 
      Deus não joga conversa fora, sua palavra cria e destrói, mas sempre existe um efeito material ou espiritual dela, com uma intenção clara e para o bem, ainda que desconstruindo, Deus fala e acontece e nunca há dele arrependimento por isso. Por uma palavra Deus me feriu, com duas me curou, com três elevou-me até o mais alto céu e com quatro tirou o véu e me revelou mistérios, mas em seu silêncio minha alma esperou, calada e confiante. Quem pode suportar o silêncio do Senhor? Terrível é.
      Quando Deus fala o destino do homem se defini, se ele acata a palavra, ainda que sofra por um tempo será consolado depois, contudo, se a desacata, mesmo que siga próspero por um tempo, no final experimentará vergonha. Feliz o que recebe e obedece a tempo a palavra de Deus, para esse a palavra será abrigo, quanto ao que acha que sabe tudo, que o trabalho de suas mãos lhe basta para protegê-lo, que sua inteligência é suficiente para administrar a vida, será pego nu debaixo de uma tempestade.
      Em oração, depois de pôr a vida em ordem, reconhecer pecados, interceder por si e pelos outros, cale a alma em fé, se fizer isso ouvirá a palavra de Deus, aquela que você está mais necessitando para sair de um estado de confusão. Se estiver adequadamente na presença de Deus, fizer a pergunta correta e tiver os ouvidos espirituais abertos, você ouvirá Deus falar, uma frase, clara e objetiva, dando a solução. Poderá ser, não algo que você quer ouvir, mas certamente será o que você precisa ouvir para ser revivido.
      “A minha alma está pegada ao pó, vivifica-me segundo a tua palavra“, o salmista conhecia bem o poder da palavra de Deus, e com certeza a resposta rápida e simples que Deus dá em espírito àqueles que o buscam e que precisam de seu retorno urgente. Já provei mais de uma vez essa palavra, é a primeira que vem à mente após questionarmos o Senhor, não precisa de qualquer complicação para ser entendida, se estivermos com os ouvidos espirituais abertos nós a ouviremos e ela nos levantará do pó. 

30/05/21

Melhor ser aprovado que ser atendido

      “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva.II Coríntios 10.17-18

      Certa vez orei sobre algo importante, para o qual necessitava de uma resposta urgente e positiva, contudo, permanecia com o coração angustiado. A princípio achei que me sentia mal porque Deus tinha respondido com um não ou com um espere, mas na verdade Deus ainda não tinha respondido, me faltava estar na condição certa para receber a resposta. Deus não respondia, mas o problema não estava nele, nunca está, estava em mim. Quando insisti na oração entendi o que me faltava para orar certo, então, a resposta veio, não sua realização no mundo exterior, essa só aconteceria tempos depois, mas a resposta veio no meu interior enquanto eu orava. Recebi um sentimento forte e gostoso, como se algo invisível tivesse ricocheteado no Altíssimo e voltado para mim, enfim, eu tinha feito a oração que Deus queria ouvir. 
      Deus sempre deseja nos abençoar, Deus sempre quer nos dar o que pedimos, ele é pai e pai quer a felicidade do filho. Contudo, mais que nos mimar respondendo sempre sim ele quer que cresçamos espiritualmente, só isso nos dará as melhores coisas, aquelas que seguirão conosco depois que sairmos do plano físico e continuarão em nós pela eternidade. Para adquirirmos esses bens mais nobres precisamos nos conhecer, o que queremos de fato ter e ser, e nós seres humanos somos especialistas em tentarmos nos enganar, aos outros homens e mesmo a Deus. Uma comunhão profunda com Deus nos dá esse conhecimento, e quando o alcançamos Deus se alegra conosco e nos aprova, é essa aprovação que retorna como um sentimento bom e duradouro, se Deus responde sempre temos paz, seja qual for a resposta. 
      A melhor coisa que podemos receber de Deus é sua aprovação, ter o pedido de uma oração aprovado é melhor até que receber o que foi pedido, porque o que foi pedido pode acabar, pode ser só algo material, temporário, mas a aprovação nos informa que aprendemos a pedir coisas certas e do jeito certo, isso é para sempre. Ah, se entendêssemos que tantas coisas, para as quais damos tanta importância nesta vida, pelas quais sofremos tanto, são só desculpas que Deus usa para nos dar coisas mais importantes, para provar nossas intenções e aperfeiçoar nosso homem interior. Ah, se entendêssemos quanta dor construímos por coisas menores, por vaidades e orgulhos, seríamos felizes assim como faríamos os outros felizes mais fácil e rapidamente. Se isso acontecesse entenderíamos que orar não é pedir, mas viver. 
      Todavia, ocorre algo paradoxal quando atingimos um nível de intimidade com Deus, recebemos menos, mas isso ocorre porque também pedimos menos, e não fazemos isso porque temos menos fé, é o contrário. Muitos acham que ser espiritual é ter a fé que move montanhas, e por se ter isso pode-se ter prosperidade material, mas será que vemos isso no Cristo encarnado? Jesus tinha pouco porque pedia pouco, porque precisava de pouco, assim atingiu uma espiritualidade onde tudo o que pedia a Deus era aprovado, pois só pedia as coisas certas. O contrário disso é pedir um monte de coisas em todo o tempo, nunca estar satisfeito e ter muitos pedidos desaprovados, ainda que alguém vivendo assim ache que pede porque tem fé e é espiritual, na verdade é imaturo, não é espiritual e é bastante desaprovado por Deus. 
      O texto inicial é respeitado por muitos, muitos cristãos dizem que ele é a chave de uma vida realmente espiritual, contudo, muitos não o entendem certo. Negar a si mesmo e deixar que Deus apareça, isso não é uma maneira de viver fazendo-se de coitado, privando a carne com a carne, isso cria gente insana, ainda que disfarçada de religiosa, e não de fato seres humanos espirituais. Espiritualidade genuína traz vida que vence a carne, já a falsa mortifica a carne sem, contudo, vivificar o espírito. O aprovado por Deus não se vangloria pelo que recebe, mas pelo que dá, não tem sua paz baseada em pedidos atendidos, em ser servido, mas em servir, ele não age como criança que pensa que agrada o pai porque esse lhe dá tudo o que ele pede. Ele entendeu que ser aprovado no espiritual é melhor que ser atendido no material. 

29/05/21

Quatro respostas à oração

      “E apartou-se deles cerca de um tiro de pedra; e, pondo-se de joelhos, orava, dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. E apareceu-lhe um anjo do céu, que o fortalecia. E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até ao chão.Lucas 22.41-44

      Dizemos que existem três respostas para uma oração, sim, não e espere, mas nesta reflexão adicionaremos uma quarta resposta: nenhuma. Podemos fazer uma oração a Deus e não sentirmos dele qualquer uma das três respostas, mas uma quarta, resposta nenhuma, e nenhuma resposta também é resposta, que deve ser avaliada para que possamos entender a vontade de Deus para nós em um assunto. Penso que o sim e o não são respostas igualmente benéficas, pelo menos para o cristão maduro, e essas respostas podem ser sentidas quase que de maneira imediata, logo após fazermos o pedido a Deus. Quem aprendeu a orar e tem intimidade com o Senhor sabe discernir, muito mais por sentimentos que ouvindo palavras, Deus respondendo, esse sabe que Deus é vivo e nunca procrastina. 
      Aliás, é importante que frisemos esse ponto sobre a objetividade do Senhor. Deus é espirito, se relaciona com os homens neste mundo de forma espiritual, não são olhos, ouvidos e outros sentidos do corpo que o percebem, mas o espírito do homem. Aprender sobre essa comunicação pode ser difícil para os materialistas, mas o meio de realizá-la é um só, a fé, quem não crê não anda com Deus. Apesar do homem poder usar imaginação para fins diversos, recreação, arte, para criar situações mentais e emocionais, que muitas vezes nunca se realizarão na realidade, a imaginação é o início de uma experiência de fé. Visualizamos na mente e sentimos com o coração para depois levarmos à presença de Deus, declarando que precisamos de tal coisa, e que temos convicção que se ele quiser poderá nos dar. 
      A comunicação espiritual se realiza principalmente através desse mundo interior que o homem pode criar e que pode permanecer secreto de todos os outros homens, só conhecido por Deus e reconhecido por ele como possível de se tornar real. Torna-se real se for a “vontade” de Deus e sendo tal é sempre boa para o homem, mas essa comunicação deve ser devidamente estabelecida para Deus “responder”. Não basta que algo seja bom e seja vontade possível de Deus, mas deve ser solicitado de forma correta, com fé, a fé nos coloca em comunicação com Deus que reage de forma perceptível, retorna à alma humana como um sentimento poderoso que lhe dá consciência imediata que sua oração foi respondida. Foi isso que dizemos quando falamos que o sim e o não são sentidos quase que instantaneamente. 
      Mas entendamos uma coisa, Deus abençoa todos os seres humanos, ainda que alguém busque algo sem fé, mesmo sem acreditar nem que Deus exista e que responde orações, esses, se estiverem vivendo vidas justas, terão boas respostas em seus empreendimentos. A diferença é que esses não estabelecem comunhão espiritual com Deus e vivem só materialmente, na eternidade isso lhes será devidamente cobrado. Estabelecer comunhão com Deus implica não só em pedir e receber, mas em vivenciar as virtudes do Senhor, principalmente sua santidade. Ninguém que queira conhecer mais a Deus pode receber dele algo sem estar preparado para isso, com coração limpo e pronto para adorá-lo, isso não beneficia o homem só materialmente, mas espiritualmente, dando-lhe virtudes que o acompanharão eternamente. 
      Se estivermos preparados, se orarmos com fé e a resposta de Deus não for sim ou não, então ela pode ser espere, essa é a resposta mais difícil de se entender porque pode ser confundida com a quarta resposta, a resposta nenhuma. Quando Deus manda esperar podemos até parar de orar, mas certos que ele só realizará o pedido no plano físico no futuro, nisso temos paz, contudo, muitos acham que devem aguardar a resposta sim quando na verdade não entenderam que Deus ainda não lhes respondeu. Quando Deus fala ele é claro e objetivo, não fica dúvidas, e a consequência disso é que temos paz, ainda que seja um não e mesmo que seja um espere. Contudo, quando não sentimos nenhuma resposta permanecemos aflitos, nada é pior que não saber a vontade de Deus para nossas vidas, isso acontece quando nos falta santidade e fé. 
      O texto inicial é o registro, talvez, da oração mais difícil que já foi feita, e sabe qual foi a resposta de Deus a uma oração feita pelo próprio Cristo? Foi não, e mesmo o Cristo teve que insistir para aceitá-la. Se Jesus teve um pedido negado, que diríamos nós, mas estejamos tranquilos, de nenhum ser humano será pedida a prova que foi solicitada do Cristo, prova que ele teve que vencer, não por ele, mas por todos nós. Só entendemos de fato o que é a vida cristã quando recebemos um não de Deus e administramos isso da maneira certa, mas estejamos em paz também com isso, Deus sabe de nossa dor, e mesmo em seu não ele nos envia consolo. Contudo, é melhor um não de Deus que um sim do mundo, do nosso ego, dos ardilosos caminhos do mal, no não de Deus pode até haver dor no início, mas no final haverá honra.  

28/05/21

Tempo de silêncio (2/2)

      “Jesus, porém, guardava silêncio.” Mateus 26.63a

      O silêncio, de quem ouve e não responde, permite que quem falou pense melhor no que disse, leva esse a entender que quem o ouve não é seu inimigo, não está usando de armas semelhantes para responder, contudo, usando o silêncio como fruto do amor é preciso paciência. Não é fácil nos calarmos diante de alguém que depois que deixamos claro que pensamos diferentemente dele segue, muitas vezes baixando o nível da conversa, tentando nos destruir. Quando uma pessoa não consegue destruir os nossos argumentos, ela tenta destruir a nós, deixa para lá o motivo inicial da conversa e parte para procurar em nossas vidas pontos fracos, ou pontos que ela acha que sejam fracos, para nos diminuir. 
      O que busca a Deus sempre acha nele respostas claras e sensatas para tudo, ainda que elas sejam simplesmente “eu não sei sobre esse assunto”, ou “não tenho posicionamento a respeito disso”, e não tem nada de errado com essas respostas, ninguém precisa saber tudo. Contudo, não podemos nos sentir menores por termos os argumentos que temos, ainda que isso não seja motivo para estacionarmos já que devemos orar mais tanto quanto nos informar mais para saber como procedermos sabiamente num mundo moderno tão cheio de artimanhas de semânticas. Todavia, que tenhamos paz no que somos e no que sabemos, é isso que nos protege de entrar em polêmicas que podem acabar em violência. 
      Só conseguimos calar nossas bocas quando estamos em paz, quando já dissemos tudo o que tínhamos a dizer a Deus, quando achamos todas as respostas que precisávamos no Senhor, quando estamos satisfeitos espiritualmente. Caso contrário procuraremos nos homens o que não buscamos em Deus, defenderemos ideologias humanas, acharemos na política a e na religião bandeiras que deem sentido às nossas vidas e nos tornaremos discípulos, não de Jesus, mas do resto, das forças espirituais do mal, dos homens e de nós mesmos. Se calar assim não significa se alienar, mas significa entender a condição humana com equilíbrio, pondo Deus em primeiro lugar e sentindo-se  totalmente feliz nisso. 
      Sinto no Espírito Santo que o momento atual no mundo, e especialmente no Brasil, é de silêncio, é de calar, e vejam que isso vai contra não só ao que a mídia diz, como contra o que diz uma grande maioria de evangélicos e protestantes, que sentando-se na cadeira chamada “direita” política achou hoje um lugar confortável, para impor em nosso país aquilo que acha ser o cristianismo. Muitos cristãos, pensando que enfim podem levantar a voz e lutar pelo que acreditam, e ainda mais tendo um “presidente” a seu favor, não percebem que estão fazendo o jogo do mal, engajando-se numa guerra que não é deles e que até o momento só tinha um lado, mas para haver uma guerra é preciso dois lados beligerantes. 
      O Brasil passou décadas com uma voz forte arregimentando os pobres materialmente e os não pobres mas equivocados intelectualmente, essa voz é a da chamava “esquerda” política, quando uso termos entre aspas um dos motivos e o termo poder não ter atualmente o significado que teve, esquerda não significa, hoje, seguidores do marxismo, comunistas, a coisa não é mais bem assim. Há algum tempo, a tal da direita, com o passado da ditadura militar ainda fresco, se calava, sentindo-se culpada, mas nada melhor que o tempo para fazer do mau o bom e do bom o mal. O ser humano se esquece depressa ao mesmo tempo que se adapta, assim o tempo levantou uma direita adormecida e forneceu ao embate dois lados. 
      Essa não é uma guerra santa, Deus nada tem a ver com ela, está mais para uma jihadi, e penso que isso possa ser uma estratégia do mal (das últimas? depende do “ponto de vista”) para desviar cristãos de Cristo, usando como argumentos para convencê-los uma Bíblia mal interpretada. Quanto aos que estão buscando ao Senhor de todo o coração, nesse momento tão difícil, sigam em silêncio, que isso possa ajudar os que se desviam dentro de igrejas e seguindo pastores manipuladores e gananciosos a pensarem melhor em suas agendas de ódio. A guerra que o Senhor quer que lutemos se vence como Jesus venceu, calando e morrendo neste mundo como indivíduos, pois o reino de Deus nunca foi e nem será aqui.  

Leia na postagem de ontem 
a primeira parte desta reflexão.

27/05/21

Tempo de silêncio (1/2)

      “Mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração.Lucas 2.19

      Dentro do princípio de que a melhor pessoa para ajudar uma pessoa é a própria pessoa, é preciso entender como funciona o eco das palavras que dizemos e que volta para nós. Jesus era equilibrado, vivia num pleno autocontrole constante, assim sabia quando dizer e quando calar, e quando dizia não era para compensar alguma autoestima baixa, uma insegurança ou qualquer necessidade de vaidade para se impor sobre os homens. Jesus entendia a importância de colocar Deus em seu devido lugar, esperando dele uma ordem, obedecendo essa ordem em amor, dependendo só da aprovação dele para essa atitude, de maneira que o nome de Deus fosse louvado como origem, meio e fim de tudo que fazia. 
      Isso, contudo, não ocorre conosco, falamos demais por orgulho, nos calamos muito por medo, exigimos dos outros o que nós não vivemos, queremos que as pessoas pensem como nós pensamos só para termos seus apoios para nossas tolas opiniões. Não percebemos que muito do que dizemos para os outros não é para os outros, mas para nós mesmos, que toda a argumentação que construímos e despejamos sobre outros não é porque acreditamos em algo como sendo bom e queremos beneficiar os outros com isso, é outra coisa. Mal resolvidos em Deus e consequentemente em nós mesmos, falamos porque não estamos convencidos do que falamos, e quem queremos convencer somos nós mesmos. 
      Cientes disso precisamos nos resolver em Deus e pararmos de ser profetas de ideologias humanas, de posições políticas de homens, de religiões terrenas, de teorias da conspiração que nada mais são que enganos, não nasceram na sabedoria e na providência do Senhor e não concorrerão para que o melhor seja feito no mundo e abençoem os homens. A política, a economia, os governos, e mesmo a ciência, não podem fazer justiça no planeta, não sem que se equilibrem com as verdades espirituais divinas, e essas, repito, não estão ligadas necessariamente a instituições religiosas, assim todo discurso em prol dessas bandeiras, se Deus não estiver no lugar certo, é inútil e só honra homens diante de homens.  
      O que fazer diante de tantas opiniões nas bocas das pessoas e nas redes sociais da internet, legitimadas atualmente pelo doutrinamento da mídia que tenta fazer de cada indivíduo um deus, negando o único e verdadeiro Deus? Nada, deixemos as pessoas falarem, aos que negam a ciência, deixemos que neguem, aos que se acham cavaleiros do apocalipse, deixemos que sejam, aos que se consideram donos de uma lucidez baseadas em fatos, ainda que achem seus fatos só nos lugares que lhes convém, deixemos que se achem melhores e donos da verdade. Que suas palavras batam em nós, ecoem de volta para esses que tanto falam, sem alteração em seus conteúdos originais, e que depois fiquem neles. 
      Se nós respondermos, e às vezes pegos de surpresa podemos responder errado, o que vai ficar nas cabeças dos tolos são as nossas respostas, isso lhes dará mais munição para seguirem argumentando e consequentemente pensando como pensam. Guerras intelectuais não se ganha com contra-argumentação, pelo menos não se ganha quando a retórica que nos lançaram deixou de ser diálogo e se tornou arma de guerra tentando mudar o que pensamos. Quando não há concordância pelo menos um lado deve se calar. O ideal seria ambos os lados se calarem, entenderem que estão diante de pontos de vista diferentes, que isso não pode ser mudado e que para que haja amizade o assunto deve ser posto de lado.  
      Precisamos saber quando parar e respeitar o que o outro pensa, ainda que seja o oposto do que pensamos, isso é sábio para todos os seres humanos que querem viver de maneira civilizada e em harmonia com os demais. Contudo, para os cristãos, essa orientação é ainda mais seria, já que eles dizem ter suas vidas entregues nas mãos de Deus, dizem seguir ao mestre Jesus, dizem ter dentro deles o Esprito Santo, assim eles dizem viver debaixo de uma verdade maior, que não é a deles, mas do Altíssimo. Bem, Deus não precisa de advogados, mas pode usar os pequenos e simples como testemunhas de sua sabedoria e bondade, desde que esses não tomem o seu lugar, querendo vencer embates ideológicos com os tolos. 

Leia na postagem de amanhã 
a segunda parte desta reflexão.

26/05/21

Ansiedade: mundo mental X mundo real

      “Pois, se nem ainda podeis as coisas mínimas, por que estais ansiosos pelas outras?Lucas 12.26

      Alguns dizem, “estou ansioso porque estou esperando o fim de algo ruim que está acontecendo”, outros dizem, “estou ansioso porque aguardo algo bom para acontecer”, outros ainda podem dizer, “estou ansioso pois nada acontece”. Ansiedade é um mal em si mesmo, independe de acontecer ou de não acontecer algo, muitas pessoas estando numa situação confortável e sem problemas maiores ainda assim estão ansiosas, pelo quê? Nem elas sabem direito, assim, o que tem um problema e fica ansioso adiciona a um problema outro, a ansiedade. Podemos ter várias provas que nos levem ao crescimento espiritual, mas muitas vezes, depois de termos sido aprovados tantas vezes, ainda nos resta ansiedades a vencer. 
      A ansiedade é causa de grande parte de enfermidades, sejam físicas ou emocionais, cria um grande número de consumidores para farmácias assim como para restaurantes e bares, já que para tentar anulá-la muitos se entopem de remédios, comidas e bebidas. Nosso organismo até suporta os excessos por um tempo, mas na velhice é quando o ultrapassar de limites pode nos levar ao sofrimento de tantas doenças e finalmente a mortes antes do tempo. Por que tanta dor, tanta angústia? Porque as pessoas não vencem da maneira correta a ansiedade, que muitas vezes não nasce no corpo, como deficiência no funcionamento de algum órgão, o que pode ser corrigido com orientação médica, mas nasce na alma.
      O ansioso não lida com o tempo de forma correta, amarra o passado, adianta o futuro, sem ser feliz no presente, é “viajante do tempo” que não acha satisfação em sua realidade, voador mental que não consegue por os pés no chão e caminhar. A alma se cura com paz que vem de autocontrole, autocontrole se adquire com meditação, com uma mudança mental de comportamento. A mente nos coloca em contato com o mundo espiritual e quem tem essa porta aberta sem controle é influenciado por “forças” e “intenções” de vários níveis, e nem todas são benignas. Só a voz de Deus em nossas almas pode de fato nos dar a paz que precisamos para seguir com a vida sob controle, vencendo ansiedade ou apesar dela. 
      O ansioso alimenta uma incoerência dentro de si, à medida que se preocupa demais com coisas que ele não tem controle e que gastam seu tempo e sua energia, assim não vive as coisas que realmente importam, que ele pode controlar, que ele pode fazer de forma proativa dentro de seus limites. Nossa mente é poderosa, ansiedade é um trabalho mental e pode dar a enganosa impressão de que fazemos algo produtivo, mas é uma mentira. Ansiedade nos tende à alienação, nosso mundo mental não é necessariamente o nosso mundo real, e se esses forem muito diferentes e por muito tempo, se não se harmonizarem, produziremos ansiedade que pode levar-nos à insanidade, impedindo-nos de separar fantasia de realidade. 
      Não há nada de errado em sofrermos com o passado, desde que esse sofrimento nos leve a assumir humildemente nossos erros, para depois tomarmos posse de perdão, principalmente de Deus e de nós mesmos. Também não existe nada de errado em nos preocuparmos com o futuro, desde que a preocupação nos leve a fazer o que podemos no presente, em obras, para construirmos um futuro melhor, e o que não podemos entregarmos nas mãos de Deus e nele confiarmos. A ansiedade pode ser início de algo bom, mas deve ter fim com atitudes realistas e práticas e com confiança em Deus, o que não podemos é nos acostumarmos com ela, mantendo-a viva como um bicho de estimação dentro de nós. 

25/05/21

Vitória contra a intenção maligna

      “Toda a ferramenta preparada contra ti não prosperará, e toda a língua que se levantar contra ti em juízo tu a condenarás; esta é a herança dos servos do Senhor, e a sua justiça que de mim procede, diz o Senhor.Isaías 54.17

      Quando nos sentimos inferiorizados, atacados, acuados, usamos nossas armas para contra-atacar, o que faz de algo uma arma não é a coisa em si, mas a intenção de como ela é usada. Se dermos uma maçã para um esfomeado, a maçã será um alimento, mas se mesmo para alguém faminto jogarmos a maçã com força, ela será usada como arma, poderá machucar o esfomeado, assim não será algo bom, mas ruim. O problema, nesse exemplo, não está na maçã, mas na intenção de quem a lançou, dessa forma muitas coisas podem ser usadas por aquele que se sente em desvantagem, ainda que não exista um perigo real, mas só uma paranoia em sua cabeça e falta de confiança em Deus. 
      Uma pessoa sem instrução, com a mente doente e com o coração cheio de violência, pode usar uma faca, um revólver, ou qualquer objeto, mesmo o carro que estiver dirigindo, como arma para machucar alguém, basta que se sinta em algum tipo de desvantagem. Contudo, um doutor, com títulos acadêmicos, com muito conhecimento e cultura, se se sentir inferiorizado e por orgulho não tiver humildade suficiente para aceitar isso em paz, poderá usar sua posição profissional, mesmo palavras, não de baixo calão mas sofisticadas, para criar uma argumentação que de alguma maneira, não fisicamente mas verbalmente, ataque e fira aquele que ele sente que o acuou. 
      Se o mal é um só, muitas podem ser as armas que ele utiliza, algumas bem sutis, outras mesmo repletas de conceitos religiosos, morais, cristãos, não são as palavras, as ideologias, nem as “teologias”, mas as intenções do coração. Se não houver amor, haverá o intuito de agredir alguém, de destruir, de humilhar alguém, com ódio, com violência, e isso bastará para que algo seja ferramenta do mal, não instrumento do bem. Por isso o silêncio é, não a arma, mas o escudo mais poderoso, além de não usarmos em vão coisas, palavras ou atitudes que deveríamos usar só para o bem, em nosso silêncio autorizamos Deus a agir por nós. Quando Deus age toda arma é anulada. 
      Temos que tomar cuidado, pois algumas vezes, mesmo sem a intenção, podemos tocar pontos nevrálgicos das pessoas, podemos colocar o dedo em feridas abertas e recebermos um ataque de surpresa. Numa situação assim as pessoas não resolvidas em Deus podem usar qualquer coisa como armas, e em seus descontroles elas podem ser ouvidos fáceis de acusadores espirituais, esses são especialistas em saber quais são nossos pontos fracos, nossas feridas. Assim, o que começou numa certa inocência de nossa parte pode acabar em “guerra campal”, nesse caso somos nós que temos que ter a humildade de não contra-atacarmos, mas esperarmos em silêncio em Deus. 

24/05/21

Vitória merecida

      “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nomeFilipenses 2.5-9

      A vitória não está em vencer um conflito, mas em merecer ser vencedor. Muitos vencem porque se colocam de forma injusta sobre oponentes mais fracos que eles, e assim têm vitórias fáceis, alguns, ainda que sejam mais fracos, vencem por possuírem algum tipo de merecimento, outros, contudo, nem precisam lutar para terem vitórias, eles as merecem por confiarem não em si mesmos, mas em Deus. Que tipo de vencedores somos nós? Em que espécie de embates nos envolvemos? Quem são nossos oponentes? Merecemos as vitórias que temos? Dar a palavra final numa discussão é vitória?
      Existem vários tipos de violência, mas a mais cruel é aquela que é feita contra alguém mais fraco, não só fisicamente, mas também intelectualmente. Estupros contra vulneráveis são crimes hediondos, existe um embate, existe uma vitória, mas do mal e cruel contra alguém que é submetido a algo a despeito de sua vontade contrária. Mas também existem violências intelectuais, humilhar alguém com argumentos e ideologias, principalmente se o humilhado não tiver o mesmo nível de conhecimento, isso é obter um tipo de prevalecimento injusto, não é uma vitória honrosa, portanto não é merecida. 
      Como sempre, Jesus nos dá o exemplo da maior vitória de todas, e justamente essa ele não obteve ordenando que milhares de anjos destruíssem seus inimigos, mas a teve entregando-se à morte, calado e humilde. Mas durante toda sua jornada, ainda que sempre conhecesse os melhores argumentos, ele nunca humilhou alguém com palavras, em situações bem sérias ele preferiu calar-se que diminuir alguém. A mulher adúltera pega em pecado e trazida a ele por religiosos (João 8.1-11) é o exemplo mais lindo disso, ainda que tivesse a lei a seu favor não a usou para se prevalecer diante de homens. 
      Muitos entram em conflitos e se perguntarmos a eles por que entraram, eles responderão, “entrei porque podia, era o mais forte, tinha os argumentos melhores”, isso são valores humanos que obtém vitórias em embates humanos, Deus não trabalha assim. Aqueles que confiam em Deus e a ele querem agradar, vencem sempre, não lutando, não por serem os mais fortes, mas porque Deus luta por eles. Isso não significa que quem teme a Deus é omisso, covarde ou vagabundo, ao contrário, eles desempenham muitos trabalhos, e o principal deles é o de crerem em Deus, sim, manter a fé é trabalho honrado. 

23/05/21

Não deixe a alma morrer

      “E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.Hebreus 12.16-17

      Muitos pensam que sentirem-se culpados é fraqueza, existe até um ditado que diz, “arrependo-me do que não fiz, não do que fiz”, o mundo atual tem sido doutrinado por novas ideologias que dizem que todos têm direito a tudo pelo prazer e que nesse estilo de vida não há espaço para remorsos. É claro que existem limites mesmo para essas ideologias, violência, intolerância e preconceitos não são permitidos, mas isso muitas vezes pode ser só um álibi para dar alguma legitimidade às liberalidades, já que principalmente os jovens têm sido incentivados a fazerem o que querem, e se algo ruim acontecer, não é a falta de limites deles que leva a culpa, mas a falta de limites dos outros. O homem atual tem sido levado a achar prazer em fazer uma verdadeira roleta-russa, se sofrer algo nesse jogo estúpido a culpa é do revólver ou da bala, não dele ter puxado o gatilho, isso pode parecer exagero, mas não é.
      O ponto é que existem regras morais no universo, válidas para todos, mesmo com as diferenças culturais o certo e o errado são leis gravadas na alma humana, quem as desobedece não se sentirá bem, não a princípio. Elas são mais que regras religiosas ou civis, são espirituais, creiam nisso ou não aqueles que tentam se convencer que o ser humano é só corpo físico e não tem um espírito. Buscar uma vida em comunhão com Deus nos confronta com uma referência de certo errado superior, e isso não é para que o homem seja condenado, mas para que cresça e busque os melhores valores morais, assim aprendemos que se pecamos desagradamos a Deus e nos sentimos culpados. Deus, por sua vez, em Cristo, perdoa o que assume o erro e busca perdão, e como efeito espiritual o ser humano pode achar a paz, a anulação da culpa, isso dá a ele forças para converter seu arrependimento em obras. 
      Se pecamos, arrependamo-nos, não deixemos que o tempo esfrie nossa alma, mas principalmente se for um erro repetido façamos isso mesmo sem exigir do nosso coração o bom sentimento do arrependimento, com o tempo podemos demorar para o sentirmos. Não tentemos dar justificativas a Deus de porque erramos, com o tempo isso também pode nem ser mais o caso, só tratemos racionalmente o pecado com a seriedade que ele tem, ainda que nossos sentimentos estejam machucados. Um banho basta para lavar o corpo, mas a alma às vezes nem com lágrimas a lavamos, e com o tempo até lágrimas secam, assim, assumamos e esperemos. A criança desobedece e volta correndo para o pai, mais por medo que por sentir-se culpada, mas o adulto sente vergonha, assim precisa agir como tal, mostrar, não com palavras e lágrimas, mas por ações, que de fato se arrependeu e não quer mais errar. 
      Terrível, contudo, foi a condição que chegou Esaú, conforme o texto inicial, que ainda que tentasse e com lágrimas não conseguiu achar “lugar de arrependimento”. Esse “lugar” não é a presença de Deus, Deus nunca nega perdão, mas é o coração humano, esse pode se endurecer de tal forma que ainda que chore não acha sinceridade nisso, são lágrimas falsas, de remorso, sim, mas não de arrependimento. Por isso, enquanto há tempo, sintamos profundamente o nosso erro, o avaliemos de forma racional e depois, com seriedade, entendamos o quanto ele nos afasta de Deus, o quanto ele nos faz perder tempo. Não cheguemos ao ponto que Esaú chegou, e isso só acontece quando erramos insistentemente em algo sem nos arrependermos por várias vezes seguidas, aí não há coração que suporte, de tanto doer, morre e morto fica frio, nada mais sente, só o gosto amargo da segunda morte.

22/05/21

Justiça, amor e misericórdia de Deus

      “Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça.Isaías 41.10

      Buscando de Deus um consolo sobre uma questão, me veio o versículo acima, me senti confortado, mas a última palavra, justiça, pesou sobre mim de forma distinta, segue o que o Espírito Santo me ensinou a respeito. O amor do Senhor, creia sempre nele, sua misericórdia, solicite-a com muita humildade, contudo, tenha muito cuidado em evocar a justiça de Deus. Fazer isso é a mesma coisa que dizer a Deus, “quero colher conforme plantei, e que aqueles, pelos quais oro, que também colham, conforme plantaram”. Evocar a justiça de Deus é requerer dádiva ou exigir “cobrança”? Nós evangélicos nos acostumamos tanto ao “evangeliques”, à Bíblia, aos versículos, às qualidades divinas, às narrativas dos púlpitos, que muitas vezes não nos atentamos ao significado das palavras. Os termos amor, misericórdia e justiça, são tão sérios quanto diferentes, e precisam ser usados com temor a Deus, principalmente quando se referem não a homens, mas ao Senhor. O amor de Deus, a misericórdia do Senhor, a justiça de Deus, reflitamos nessas três maravilhosas virtudes divinas e porque justiça tem uma relevância diferenciada. 
      Deus ama a todos os seres humanos, que viveram, vivem e viverão no mundo, isso não é só um sentimento, é uma intenção proativa, a prova principal disso é a existência redentora do Cristo. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16), eis o ensino mais claro sobre o amor de Deus revelado ao homem em Jesus. Mas esse ensino deve ser completado com o de João 16.12-13, “ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora, mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade”. A obra de Jesus só é completada com a obra do Espírito Santo, que é divina e muito mais importante que as obras das instituições religiosas e mesma da construção e divulgação do cânone bíblico, ainda que muitos não aceitem isso já que isso tiraria deles o poder de manipular os homens por religiões e leis. O amor de Deus é o que permite, em todo o tempo, que o homem se aproxime mais e mais dele, exercendo o livre arbítrio para assumir erros e trabalhar para não errar mais.  
      A misericórdia talvez seja a qualidade do Senhor que mais evocamos, pois ela nos permite rogar por uma ação milagrosa de Deus, ainda que não tenhamos direito a ela, ainda que tenhamos exercido mal o livre arbítrio numa escolha errada, numa ausência de bom plantio ou no plantio de algo ruim. Mesmo que a lei de causa e efeito seja universal e eterna, pela misericórdia do Senhor podemos provar uma ação extraordinária de Deus, que aos nossos limitados olhos pode até parecer ser um não cumprimento dessa lei, como se Deus nos concedesse colher algo de bom que não plantamos antes. Mas será que isso é possível ou apenas chamamos de misericórdia do Senhor ações de um Deus onisciente que não entendemos? O cristão de intenção pura e humildade de espírito prova dessa misericórdia, ainda que ela seja um mistério para ele, um dom não de um Deus juiz, mas de um pai de amor. Ah, se não fossem as misericórdias do Senhor em nossas vidas, “as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim, novas são cada manhã, grande é a tua fidelidade” (Lamentações 3.22-23). 
      A justiça é a característica divina mais enfatizada na velha aliança, na religião de Israel registrada no antigo testamento, e ela é simples, “a alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho, a justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele” (Ezequiel 18.20). Ela ensina que nada fica sem recompensa, que para toda causa há um efeito, para os judeus do primeiro século Jesus foi interpretado como um cordeiro perfeito e suficiente, que substituiria os cordeiros imperfeitos, em Cristo um homem, mas puro, sem pecado, substituiria muitos animais, que ainda que perfeitos como animais eram imperfeitos como sacrifico para anular o pecado espiritual de todos os homens. A igreja católica e o protestantismo compraram essa teologia e a ensinam até hoje, entretanto, não basta crer em Jesus, isso só nos coloca em comunhão com Deus e nos dá a paz, é preciso usar a força que essa paz nos concede para transformarmos a nós mesmos. Assim, pela justiça de Deus, mesmo com a paz que o perdão do Cristo concede, precisamos trabalhar para anular nossos pecados, o efeito de uma obra ruim só é anulado com uma nova e boa obra. 
      Meu irmão cristão, não estou dizendo aqui nada que não esteja na Bíblia, veja o que diz Tiago 2.20-24: “Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura o nosso pai Abraão não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras, e que pelas obras a fé foi aperfeiçoada. E cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes então que o homem é justificado pelas obras, e não somente pela fé.”. Ocorre que a tradição cristã muitas vezes insiste em dar aos homens um ensino primário, não se aprofundando, assim muitos são levados a acreditar que lhes basta fé no nome de Jesus, como se isso fosse algo mágico em si só, e que o homem não precisasse fazer mais nada. Tenho refletido profundamente nesse ensino, e é com segurança em Deus que escrevo, crentes, precisamos nos esforçar mais para merecermos o “céu”, “mas aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mateus 24.13), isso implica em muitas obras, não só num único ato de fé, acordemos para que a eternidade não nos seja uma surpresa aquém de expectativas baseadas só em mistificações. 
       No início desta reflexão foi levantada a questão sobre a seriedade de evocar a justiça de Deus, que é diferente de evocar o amor e a misericórdia, mas essas três virtudes do Senhor estão relacionadas. Talvez, justamente por muitos cristãos terem uma visão limitada do amor e mimada da misericórdia, é que tantos evocam a justiça do Senhor equivocadamente. Muitos cristãos até pedem a justiça de Deus, mas muitas vezes só por conveniência pessoal, a favor deles, e em relação a eles mesmos, não tendo como referência a perfeição de Deus, que atrai todos os homens ao trabalho de purificação que os evolui. Justiça de Deus tem a ver com paz, honra e vitória, aos que fizeram por merecer isso, mas também tem a ver com dor, vergonha e derrota, aos que fizeram escolhas erradas. Evocar a justiça do Senhor é conhecer isso e disso não ter medo, assumindo responsabilidades pessoais, sabendo o quanto essa assunção pode ser difícil, e consequentemente tendo muito cuidado em pedir isso para os outros. Só o que provou a misericórdia de Deus conhece o amor do Senhor e só esse pode evocar a justiça de Deus, reclamá-la, com muito temor, pois sabe que quando o Senhor pesa a destra de sua justiça nenhum poder ou ego resiste.

21/05/21

Só permanece o que começa sobre a verdade

      “Qualquer que vem a mim e ouve as minhas palavras, e as observa, eu vos mostrarei a quem é semelhante: é semelhante ao homem que edificou uma casa, e cavou, e abriu bem fundo, e pós os alicerces sobre a rocha; e, vindo a enchente, bateu com ímpeto a corrente naquela casa, e não a pôde abalar, porque estava fundada sobre a rocha.Lucas 6.47-48

      Podemos até nos esforçar, tentarmos convencer muitos que somos trabalhadores honestos, procurarmos esquecer o passado, fazermos de conta que algo que fizemos no início não tem tanta importância, dizermos que as pessoas não sabem e que por isso podemos seguir, construindo nossas vidas, contudo, se estivermos usando como base para a construção a mentira, em algum momento o que erguemos ruirá. Não permanece de pé, não para sempre, algo posto sobre uma falsa ilusão, sobre sonhos sinceros, sim, mas uma falsa ilusão é um mal, não veio de Deus, nem para ele pode retornar como louvor, construção sobre mentira um dia desmorona, levando o que tentou esconder a mentira à vergonha diante de muitos. 
      Meus queridos, todos nós temos dificuldades na vida, principalmente no início, quando somos jovens e inexperientes, muitos de nós sem noção de certas coisas, carentes de referências, de objetivos mais nobres, e tantas vezes sem alguém para confiarmos que nos dê o melhor conselho, não do jeito que realmente precisamos. Todos nós podemos iniciar projetos sobre mentiras, sejam profissões, relacionamentos afetivos e mesmo alianças com igrejas. Deus nunca revela a verdade maior de uma vez para nós, mas aos poucos, para que possamos entender conforme nossa maturidade, nossas inteligências, sejam intelectuais, morais ou emocionais, assim só aprendemos vivendo, reavaliando a vida e persistindo na verdade.
      Dessa forma mudar de ideia é preciso, assumir erros é imprescindível, reconhecer escolhas erradas é caminhar para a luz, e trazer à tona toda mentira é amadurecer, firmar os pés em rocha firme para então dar início à construção de nossas vidas aqui. Só permanece de pé no tempo o que começa sobre a verdade, e mesmo que seja uma construção que precise de troca de materiais ou de reformas, mesmo que se gaste com o tempo, não perderá sua estrutura principal, que lhe confere integridade, estilo, segurança. Aliás, podemos substituir quase tudo na vida, menos as bases de justiça e amor que nos levaram a andar com Deus, a sermos felizes e a fazermos outros felizes, quem começa verdadeiramente em Deus terá no final a paz. 

20/05/21

Nem altivez, nem autocomiseração

      “Todo caminho do homem é reto aos seus olhos, mas o Senhor sonda os corações.Provérbios 21.2
      “Nota o homem sincero, e considera o reto, porque o fim desse homem é a paz.Salmos 37.37

      Equilíbrio, eis o segredo da mais alta espiritualidade, por isso vivemos num mundo material, para acharmos o equilíbrio entre dois extremos, o corpo físico temporário e nosso espírito eterno. Se contemplarmos a matéria, nossos limites com vícios e enfermidades, sentiremos dó de nós mesmos e geraremos mais fugas e doenças. Por outro lado se nos colocarmos como deuses, maiores que os demais, seja por motivos materiais, intelectuais ou mesmo espirituais, seremos arrogantes. Mas tanto a autocomiseração quanto a altivez podem ser discretas, o orgulhoso pode ser uma pessoa socialmente educada, mesmo um cristão fiel à sua religião, mas ainda assim não reto. A inferioridade e a superioridade humanas, que têm como referências o homem, e não Deus, se nota no olhar, a porta da alma. 
      Não precisamos ver o poder aquisitivo de alguém, suas roupa, seu carro, sua casa, sua conta bancária, nem a caridade que exerce com os mais necessitados ou seus títulos acadêmicos, basta vermos seu olhar, para sabermos se alguém tem culpas e rancores não resolvidos ou vaidades entronizadas. O realmente espiritual, que vive a espiritualidade de Deus, tem um olhar reto, quando age ou reage aos outros homens não se diminui, mas também não se exalta, tem a paz daquele que se humilhou diante de Deus e colocou sua vida em harmonia com ele. Só podemos ser retos com os homens quando o somos com o Senhor, a aparência que mostramos aos semelhantes é só fruto de nossa verdadeira intimidade com Deus, e cuidado, nos fazermos de coitados é tão errado quanto nos postarmos altivamente, ainda que só no coração. 
      O reto tem a paz melhor pois não apoia sua identidade em referências humanas, seja na referência dos outros para se diminuir, ou na referência de si mesmo para se exaltar, o reto olha para Deus e na sua luz se conhece e a tudo o mais. Os desequilibrados são seres confusos, vivem em trevas, veem inimigos onde não há, e fazem alianças com falsos amigos, por isso têm olhares diagonais, refletindo almas torturadas, que sempre se acham em faltas, sempre exigem de si mesmos e dos outros mais do que o necessário. Deus nos torna equilibrados, assim podemos olhar os outros com paciência e a nós mesmos com esperança, no equilíbrio há retidão, as coisas são medidas com pesos certos, de maneira que não esperamos dessa vida mais que o que ela pode dar, enquanto construímos retos valores que levaremos à eternidade.

19/05/21

À vista ou a crédito, a conta sempre chega

      “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna.Gálatas 6.7-8

      Alguns fazem compras à vista, esses têm que pagar na hora da compra, mas outros pagam compras com cartão de crédito, não pagam no momento da compra, mas depois, um mês, parceladas em muitos meses, e até em anos. Aquele que anda assumidamente longe de Deus pode colher a consequência de uma escolha ruim imediatamente, outros, contudo, que já andaram com Deus, mas que depois por algum motivo se afastaram dele, ou que por algum tipo de ignorância fizeram escolhas erradas, podem demorar um pouco para receber as más colheitas de seus plantios ruins. Deus é misericordioso e sempre aguarda que o homem se arrependa, principalmente aqueles homens que uma vez fizeram alianças com ele. 
       Todavia, Deus não pode retardar a disciplina para sempre, se fizesse isso estaria enganando alguém com relação à justiça, assim quem faz escolhas erradas um dia receberá a cobrança, para pagar o que fez sem aprovação divina. Cuidado, mesmo esses que se arriscam em escolhas perigosas alegando terem fé, que dizem não terem medo de morrer e estarem protegidos por Deus, muitos agem em nome de Deus, mas na carne, não no Espírito. Pode ter dado certo até agora porque Deus teve misericórdia da tolice, mas uma hora a conta chega, e pode fazer com que esses sejam humilhados, a princípio, desnecessariamente, já que tinham mínimos conhecimentos para não agirem como agiram, não serão tratados como inocentes.  
      Infelizmente temos visto nesta pandemia muitos cristãos agindo de maneira irresponsável, e entendam bem, não me refiro a uma grande maioria de brasileiros que precisa trabalhar e tem que sair de casa mesmo com risco de vida. Deus cuida dos humildes que o temem, e se há alguém tendo que se arriscar frente a uma urgência que não pode aguardar, o Senhor o protege, entretanto, essa pandemia não pode de maneira alguma ser generalizada. Essa doença é um juízo de Deus para os seres humanos de maneira geral, tendo o sério objetivo de acordar as pessoas para certas realidades. O mais sábio é que cada cristão busque profundamente ao Senhor para saber como agir, mas que ninguém faça dívidas, pois a conta sempre chega.