domingo, maio 23, 2021

Não deixe a alma morrer

      “E ninguém seja devasso, ou profano, como Esaú, que por uma refeição vendeu o seu direito de primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que com lágrimas o buscou.Hebreus 12.16-17

      Muitos pensam que sentirem-se culpados é fraqueza, existe até um ditado que diz, “arrependo-me do que não fiz, não do que fiz”, o mundo atual tem sido doutrinado por novas ideologias que dizem que todos têm direito a tudo pelo prazer e que nesse estilo de vida não há espaço para remorsos. É claro que existem limites mesmo para essas ideologias, violência, intolerância e preconceitos não são permitidos, mas isso muitas vezes pode ser só um álibi para dar alguma legitimidade às liberalidades, já que principalmente os jovens têm sido incentivados a fazerem o que querem, e se algo ruim acontecer, não é a falta de limites deles que leva a culpa, mas a falta de limites dos outros. O homem atual tem sido levado a achar prazer em fazer uma verdadeira roleta-russa, se sofrer algo nesse jogo estúpido a culpa é do revólver ou da bala, não dele ter puxado o gatilho, isso pode parecer exagero, mas não é.
      O ponto é que existem regras morais no universo, válidas para todos, mesmo com as diferenças culturais o certo e o errado são leis gravadas na alma humana, quem as desobedece não se sentirá bem, não a princípio. Elas são mais que regras religiosas ou civis, são espirituais, creiam nisso ou não aqueles que tentam se convencer que o ser humano é só corpo físico e não tem um espírito. Buscar uma vida em comunhão com Deus nos confronta com uma referência de certo errado superior, e isso não é para que o homem seja condenado, mas para que cresça e busque os melhores valores morais, assim aprendemos que se pecamos desagradamos a Deus e nos sentimos culpados. Deus, por sua vez, em Cristo, perdoa o que assume o erro e busca perdão, e como efeito espiritual o ser humano pode achar a paz, a anulação da culpa, isso dá a ele forças para converter seu arrependimento em obras. 
      Se pecamos, arrependamo-nos, não deixemos que o tempo esfrie nossa alma, mas principalmente se for um erro repetido façamos isso mesmo sem exigir do nosso coração o bom sentimento do arrependimento, com o tempo podemos demorar para o sentirmos. Não tentemos dar justificativas a Deus de porque erramos, com o tempo isso também pode nem ser mais o caso, só tratemos racionalmente o pecado com a seriedade que ele tem, ainda que nossos sentimentos estejam machucados. Um banho basta para lavar o corpo, mas a alma às vezes nem com lágrimas a lavamos, e com o tempo até lágrimas secam, assim, assumamos e esperemos. A criança desobedece e volta correndo para o pai, mais por medo que por sentir-se culpada, mas o adulto sente vergonha, assim precisa agir como tal, mostrar, não com palavras e lágrimas, mas por ações, que de fato se arrependeu e não quer mais errar. 
      Terrível, contudo, foi a condição que chegou Esaú, conforme o texto inicial, que ainda que tentasse e com lágrimas não conseguiu achar “lugar de arrependimento”. Esse “lugar” não é a presença de Deus, Deus nunca nega perdão, mas é o coração humano, esse pode se endurecer de tal forma que ainda que chore não acha sinceridade nisso, são lágrimas falsas, de remorso, sim, mas não de arrependimento. Por isso, enquanto há tempo, sintamos profundamente o nosso erro, o avaliemos de forma racional e depois, com seriedade, entendamos o quanto ele nos afasta de Deus, o quanto ele nos faz perder tempo. Não cheguemos ao ponto que Esaú chegou, e isso só acontece quando erramos insistentemente em algo sem nos arrependermos por várias vezes seguidas, aí não há coração que suporte, de tanto doer, morre e morto fica frio, nada mais sente, só o gosto amargo da segunda morte.

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