11/07/21

Se o outro não é razoável, seja espiritual (2/2)

      “Então me disse: Não temas, Daniel, porque desde o primeiro dia em que aplicaste o teu coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, são ouvidas as tuas palavras; e eu vim por causa das tuas palavras.” Daniel 10.12      

      “Então disse eu: Ai de mim! Pois estou perdido; porque sou um homem de lábios impuros, e habito no meio de um povo de impuros lábios; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” Isaías 6.5      

      “Este era o aspecto da semelhança da glória do Senhor; e, vendo isto, caí sobre o meu rosto, e ouvi a voz de quem falava. E disse-me: Filho do homem, põe-te em pé, e falarei contigo.” Ezequiel 1.28b, 2.1      

      Seguindo com a reflexão “Se o outro não é razoável, seja espiritual”, algumas coisas sobre o plano espiritual e nossa relação com ele. A primeira coisa é a consciência de que não temos que orar por todas as pessoas, podemos sentir claramente Deus dizendo, “essa pessoa já está em minhas mãos, não ore mais por ela”, e isso pode ser final. Contudo, isso às vezes pode não ser um não definitivo de Deus, mas apenas uma primeira impressão nossa, em outras palavras Deus pode estar dizendo: “cuidado, esse assunto é mais sério que você acha que é, se quiser interceder por essa pessoa terá que se comprometer mais espiritualmente”. Deus é responsável, não nos chama para algo além de nossos limites e orar por uma causa pode nos colocar numa guerra espiritual séria, se for o caso nos dará sensibilidade do que isso envolve (Daniel 10).
      A segunda coisa é sobre o medo que uma experiência espiritual mais profunda pode nos fazer sentir. Quando adquirimos intimidade com Deus e depois com o plano espiritual, e correm sérios riscos quem se atreve a “entrar” no mundo espiritual sem autorização e proteção do Altíssimo, aprendemos que sentir medo nem sempre signifiva estarmos próximos do mal ou de algo perigoso para nós. A proximidade de Deus e de seus anjos de luz também causa medo, mas nesse caso não é terror, opressão, mas temor, que exige de nós respeito por nos aproximarmos de algo santo e poderoso. Isaías teve essa experiência (Isaías 6), Ezequiel teve (Ezequiel 1), profetas de Deus se sentiram desfalecidos quando o céu se abriu para eles e seres santíssimos se manifestaram, terrível é a presença dos servos do mais alto escalão do Onipotente. 
      Sobre o título desta reflexão, devemos ser sempre espirituais, com ou sem razoabilidade alheia, mas muitas vezes basta-nos calma para dialogarmos quando negociamos com alguém sensato. Com outros, contudo, é preciso discernimento para não entrarmos em polêmicas, e se houver um assunto importante para nós em jogo a oposição pode, sim, ter apoio espiritual do mal, e por isso deve ser confrontada no mesmo nível e com as mesmas armas. Uma das estratégias do mal é nos levar a lutar com ele no campo de batalha dele, escolhido por ele. Como amigos de Deus não precisamos nos rebaixar a isso, não devemos ser arrogantes, mas discernirmos quando isso está para acontecer para nos retirarmos e buscarmos a Deus, autorizando o Senhor a lutar por nós, com armas espirituais numa batalha igualmente espiritual. 
      Outra coisa sobre os seres espirituais do mal: eles não têm poder sobre o mundo físico, pelo menos não com facilidade, quando têm é em eventos menores e com autorização de homens, como as ocorrências fantasmagóricas, movimento de objetos, barulhos etc, onde se exige que homens autorizem “espíritos” para agirem. Na maioria das vezes seres das trevas só influenciam os seres humanos em seus pensamentos e sentimentos, os que vivem na luz de Deus sentirão desconforto nisso e porão o diabo para correr, o mal não prevalece sobre os filhos da luz. Contudo, aqueles que se entregam ao mal neste mundo, mantêm na mente raciocínios e intenções ruins, não buscam cura emocional e seguem doentes no espírito, esses dão legalidade aos espíritos maus, pois acham em suas influências empatia para suas maldades e vaidades.
      Nós evangélicos nos acostumamos com um estereótipo de pessoa endemoniada que pode não condizer com um tipo de obsessão do mal muito comum nos dias atuais, são pessoas que se você colocar a mão na cabeça e orar nada vai acontecer, ao contrário, elas poderão zombar de você e te porem para correr. Precisamos ser mais sábios nos dias de hoje, muitos cristãos continuam vivendo um cristianismo ultrapassado, muitas coisas não são hoje e não serão no futuro da maneira física e ao pé da letra como eles interpretam a Bíblia. O ser humano evoluiu intelectualmente e em sua relação com a espiritualidade, assim o mal não age e se manifesta de maneira tão simples e explícita. Nem todo “satanista” perde o controle de sua consciência e fica endemoniado, lançando-se ao chão e falando sacrilégios só com a visão da cruz. 
      É preciso oração em santidade e com a autoridade de Jesus para “expulsar demônios”, isso nunca vai mudar (Marcos 9.28-29), mas mesmo essa expulsão pode ser só temporária, para mudanças definitivas os “endemoniados” precisam escolher mudar. Numa libertação temporária as pessoas terão chance de decidir com mais clareza e justiça sobre uma causa que tem a ver com as nossas vidas, mas não é definitiva porque apesar de podermos afastar a influência espiritual das trevas, se depois as pessoas quiserem atrairão essa influência novamente para elas, no mundo espiritual semelhantes se atraem. Assim, se precisarmos novamente que as pessoas não nos prejudiquem, ou oramos o tempo todo por elas, ou tentamos aconselhá-las a mudarem de vida (Mateus 5.25), dessa forma serão melhores e não poderão mais nos fazer mal. 
      Entendamos corretamente esse assunto, do mal estamos protegidos sempre que andamos certo com Deus, assim não é porque temos um colega de trabalho, de escola ou um parente, que tem ligações mais fechadas com demônios, que estamos o tempo todo em perigo. O mundo espiritual tem espaços geográficos bem delimitados por Deus e os “seres espirituais” respeitam isso, desde que não invadamos seus limites. Mas o ponto dessa reflexão foi sermos orientados a fazer uma “oposição espiritual” contra uma pessoa com quem temos um assunto a resolver, assim, de algum jeito nosso “espaço” cruzou o “espaço” dessa pessoa, há interesses, ainda que materiais, em comum. O sábio é depois de resolvido o assunto, dando-nos Deus vitória em nossa causa, se a pessoa não se converteu a Deus, mantermos distância segura. 
      A verdade é que certas pessoas não dão abertura para diálogo razoável, por isso precisamos orar por elas à distância. A melhor espiritualidade é realizada em segredo, principalmente para interceder por pessoas que insistem em se colocarem como nossas opositoras, quem não entender isso será esbofeteado várias vezes, humilhado e injustiçado, sem forças para reagir. Por quê? Porque com certas pessoas não tem papo, e se acharmos que é possível, que como cristãos podemos resolver o problema com uma boa conversa, só estaremos alimentando ansiedade e até construindo doenças dentro de nós. Com certas pessoas não devemos ter mais boas expectativas, devemos ser educados e mantermos distância, ainda que em nossos momentos de oração lutemos por elas em amor esperando que elas escolham mudar. 

Leia na postagem de ontem
a 1ª parte desta reflexão
José Osório de Souza, 19/02/21

10/07/21

Se o outro não é razoável, seja espiritual (1/2)

      “Em ti me alegrarei e saltarei de prazer; cantarei louvores ao teu nome, ó Altíssimo. Porquanto os meus inimigos retornaram, caíram e pereceram diante da tua face. Pois tu tens sustentado o meu direito e a minha causa; tu te assentaste no tribunal, julgando justamenteSalmos 9.2-4

      “Deus não revogará a sua ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores soberbos. Quanto menos lhe responderia eu, ou escolheria diante dele as minhas palavras! Porque, ainda que eu fosse justo, não lhe responderia; antes ao meu Juiz pediria misericórdia.Jó 9.13-15

      “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.Efésios 6.12

      Com muitas pessoas podemos chegar a um entendimento conversando, às vezes não é uma negociação fácil, mas é possível, e isso em áreas diversas, seja profissional, afetiva ou outra. Com outras pessoas não é necessário nem trabalho de negociação, há uma concordância fácil e justa para ambos os lados. Contudo, com algumas o diálogo é impossível, as pessoas parecem falar uma língua diferente da nossa, e por mais que tentemos conduzir as coisas para um campo de paz, elas são beligerantes, parece que se sentem sempre lesadas de alguma maneira por nós, sendo que isso não reflete de maneira alguma nossas intenções. Quando um lado não pode ser razoável é preciso que o outro seja mais que hábil, e em termos cristãos, seja espiritual, é preciso colocar o negócio nas mãos de Deus e pedir sua ação. 
      Em toda questão difícil, conforme a ótica espiritual do evangelho (e não da justiça material e ao pé da letra do antigo testamento) precisamos considerar dois entendimentos, um sob o nosso ponto de vista e um segundo sob o ponto de vista do outro. Por mais difícil que possa parecer, como cristãos temos que analisar o ponto de vista do outro avaliando a possibilidade do outro estar sendo duro conosco por causa de um erro nosso, não dele. O espiritual não vê um conflito como uma guerra, onde ele é a vítima inocente que precisa que Deus aja com seu poder a seu favor, dando ao outro o papel de inimigo, ele entende que todos somos em alguma instância opressores e oprimidos, como sempre falamos aqui, todos precisam da misericórdia de Deus e podem ser ajudados pelo amor do Altíssimo (Mateus 5.44). 
      Se nos sentimos oprimidos por alguém, olhemos antes para nós mesmos e nos avaliemos, verifiquemos se há algum motivo para merecermos tal opressão. Façamos isso antes de pedirmos mão pesada de Deus sobre os outros, entendamos o que precisamos mudar, onde devemos ser melhores para não recebermos opressão como efeito de atitude errada nossa. Isso é nos aproximarmos de Deus com humildade, sem nos acharmos com mais direitos que os outros por sermos vítimas ou mais ”chegados” do Senhor (e Deus quer ser amigo de todos, não só de nós). Mas mesmo que nos avaliemos como justos, não peçamos vingança, mas misericórdia do Senhor para os outros. Se estivermos errados, sejamos humildes, mas se estivermos certos, sejamos ainda mais humildes, sejamos sempre espirituais, só assim venceremos. 
      Esse posicionamento espiritual inicial sério é de suma importância para que ajamos de forma correta com os desarrazoados. Se o homem não pode contra o homem, Deus pode agir contra forças espirituais que podem estar influenciando o homem, e não contra o homem, já que nem Deus vai contra o livre arbítrio humano. Deus, contudo, só age em prol dos que chegam a ele do jeito certo. A ação de Deus é em sua origem espiritual e como consequência tem efeitos no plano material, toda ação espiritual interfere no material, seja benigna ou maligna. Quando pedimos uma interferência de Deus estamos entregando uma causa nas mãos dele para que ele aja de forma espiritual sobre agentes espirituais, que nós, seres encarnados, não temos como agir contra. Mas por que o conflito tem que ser levado a esse nível? 
      Nem todos que vivem vidas longe de Deus se colocam diretamente de forma injusta contra os outros. Quem não tem um nível moral adequado atrai para si seres espirituais que prejudicam sua vida privada, o prendem a vícios, mas esses seres não farão, necessariamente, mal aos outros, assim quem vive dessa forma pode precisar de oração por sua vida, mas não por prejudicar os outros. Mas existem pessoas que fazem o contrário, têm vidas morais adequadas, não são escravas de vícios, são boas cidadãs, mas alimentam dentro de si ódios, invejas, rancores, que atraem espíritos maléficos que potencializam assuntos internos não resolvidos e projetam isso nos outros, um desconforto espiritual pessoal que acaba descontando nos outros injustiças e intransigências. São por esses que podemos ser levados a lutar espiritualmente. 
      Quando alguém se coloca contra quem está com a vida em harmonia com Deus e cria um embate que não pode ser resolvido de forma racional, essa pessoa pode estar sob influência de espíritos malignos, que podem estar acentuando sua falta de razoabilidade, oprimindo seus sentimentos e convencendo sua mente sobre determinado posicionamento. Muitas vezes não temos ideia de quantas mentiras alguém que se afasta de Deus pode manter em sua alma, eis um ambiente perfeito para a atuação de “demônios”. Por essas pessoas podemos ser levados a fazer guerra espiritual, não contra elas, mas contra o mal que as oprime e que elas mesmas atraíram. Isso pode exigir de nós consagração e oração diferenciadas, para entendermos como alguém pode estar amarrado no fundo de um poço sob o peso de seres espirituais das trevas. 
      Nosso trabalho nessa guerra é clamar para que a luz mais alta e poderosa de Deus destrua as trevas e toque a consciência da pessoa, levando-a a sair de sua irrazoabilidade, isso não é algo fácil e rápido. Guerra espiritual se faz com santidade, autorização de Deus, mas também com amor, afinal de contas tem uma vida humana envolvida e sofrendo, não a de quem está lutando, mas a daquele por quem se está lutando. Se o homem não pedir Deus não age? Exato, Deus não age. Não basta dizermos que nossas vidas estão entregues nas mãos do Senhor, de forma protocolar e religiosa, é preciso um envolvimento maior nosso, e é assim não só para que uma questão material seja resolvida a nosso favor, mas para que cresçamos espiritualmente e alguém, justamente quem se colocou como nosso inimigo, seja libertado. 
      O problema não é o problema, mas a maneira como interagimos com ele, a solução não é algo posterior manifestado no plano físico, mas um posicionamento anterior no plano espiritual. A vontade de Deus talvez nem seja quebrar o coração de um teimoso para nos abençoar, mas abençoar o teimoso, levando-nos a lutar por ele. Parece uma “piada cósmica”, quem se coloca como nosso inimigo ter em nós o único amigo que lutará por ele, mas não é piada não, são os maravilhosos caminhos do Senhor usando-nos para abençoar os outros. Não pense que a recompensa será um aumento de salário, mas a vida de seu chefe libertada do mal, e como consequência seu coração estará quebrantado o suficiente para aumentar teu salário. Qual foi o maior ganho nesse exemplo, dinheiro ou um amigo? Lutemos por amigos e não nos faltará nada. 

Leia na postagem de amanhã
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 19/02/21

09/07/21

Não é fácil ser bom

      “Mas, sobretudo, tende ardente amor uns para com os outros; porque o amor cobrirá a multidão de pecados. Sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurações, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus.I Pedro 4.8-10

       Não sei você, mas para mim não é fácil ser bom, eu preciso estar numa vigilância constante, me esforçar muito, para ser principalmente paciente, e consequentemente, amoroso, não conseguimos amar sem estarmos em paz e ter paz é não se incomodar com o mundo externo. Entretanto, se precisamos nos esforçar tanto para amar o outro, será que o problema está no outro ou em nós? Em nós, com certeza, mas como pode ser difícil nos controlarmos para sermos bons e não seres em conflito que perdem a paz por qualquer coisa. Sei que estou enganado, mas olhando de fora para algumas pessoas, elas me parecem tão controladas, tão benignas, demonstram tranquilidade com tanta facilidade, parece que nada, ou muito pouco, as desestabilizam, olhando de fora chego a invejá-las. 
      Mas como eu disse, sei que estou enganado, todos têm grandes conflitos internos, ninguém é perfeito, senão não estariam neste mundo em expiação, a diferença é que alguns escondem seus conflitos mais facilmente. Será que essa facilidade melhora as coisas? Talvez não, quem esconde melhor o problema tem a tendência de manter o problema sem solução por mais tempo, já que se os outros não sabem, parece que está tudo bem, nos preocupamos mais com aparência externa que com a verdade no interior. Não sei você, o ponto, contudo, é que eu enfrento uma batalha diária para deixar Deus brilhar em mim, para não ser estúpido com os outros, para não julgar mal, para ter paciência, para estar em paz e amar sempre com o amor sacrificial de Jesus, e essa luta me faz sofrer muito, meu Deus sabe. 
      Talvez, sentir que se está perdendo constantemente uma batalha tenha um lado bom, significa que continuamos combatendo, que não desistimos, já que muitos não perdem mais batalhas porque simplesmente pararam de lutar, perderam tantas vezes que concluíram que não valia mais a pena. Muitos, cansados de se humilharem e pedirem perdão, assumiram para si que o problema está nos outros, não neles, que se eles não têm paciência com os outros é porque os outros são insuportáveis, não são eles que são estúpidos. Isso parece estranho? Mas digamos a verdade, não é assim que na prática e com o tempo, nós e muita gente age, no meio familiar, com os irmãos na igreja, com os colegas de trabalho, no trânsito? Nos dias atuais, quando vivemos em constante pressão, paciência parece ser um luxo. 
      Como sabemos se isso ocorre conosco? Simples, respondendo a uma pergunta: há quanto tempo eu não peço perdão para alguém? Ou pelo menos, há quanto tempo eu não peço perdão a Deus pela falta de paciência que tenho com os outros? Isso é assumir que fomos deficientes no amor. Não basta pedir perdão a Deus por pecados mais explícitos e que cometemos sozinhos, em segredo, muitas vezes até nossa oração e assunções de pecados são feitas por orgulho, para nos sentirmos com a consciência tranquila, enquanto o principal que o evangelho manda, amar o próximo, não fazemos. Sim, é preciso uma batalha constante, não só por santidade moral e por disposição de justiça na área material, é preciso que lutemos pelo amor, ele será exaltado acima da fé na eternidade, ele cobre multidão de pecados. 
      Como nos ensina Pedro no texto inicial, cada um administre aos outros o dom como o recebeu, todos podemos ser úteis aos outros de alguma maneira. Nem todos temos uma amabilidade fácil e leve no jeito de ser, a vida fez muitos de nós duros e mesmo um pouco frios, muitos de nós tivemos que achar um jeito para vivermos com o passado, com a dor e com a solidão. Mas o que tem o Espírito Santo com liberdade dentro de si, achará um jeito de servir, um jeito de ser bom, mesmo que seja escrevendo textos para pessoas que nunca vai conhecer (pelo menos neste mundo), como é o caso deste que vos escreve, ou orando nas madrugadas por pessoas que não fazem a mínima ideia do quanto são importantes para nós, do quanto nós as amamos e queremos para elas tudo o que há de melhor em Deus. 

08/07/21

Sofrimento merecido (?)

      “O estrangeiro, que está no meio de ti, se elevará muito sobre ti, e tu mais baixo descerás; ele te emprestará a ti, porém tu não emprestarás a ele; ele será por cabeça, e tu serás por cauda. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do Senhor teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenadoDeuteronômio 28.43-45

      Você admite os sofrimentos e injustiças que recebe como merecidos, que por conta de escolhas erradas e atitudes sem amor você merece o tratamento deselegante de muitos e as oportunidades ruins ou ausentes que você experimenta, por exemplo, em tua vida profissional? Em primeiro lugar, antes de refletirmos mais nessa questão e em sua resposta, vamos entender melhor sobre a que nos referimos com “merecer”. Este mundo é injusto, as pessoas são egoístas, e nisso estamos incluído, assim também somos injustos e egoístas, contudo, existem, sim, coisas que sofremos sem merecer. 
      Tem muita gente que sofre por causa da ganância e de preconceitos dos outros, que só pensam em si mesmos, que só querem receber e não querem dar ou servir os outros. Isso é verdade, assim muitas coisas não devemos simplesmente aceitar como coisas que merecemos ou que não podemos modificar, temos que reagir e superar, a partir de uma atitude honesta, corajosa e crédula que muitas realidades podem ser mudadas para melhor. Como sempre falo aqui, principalmente em relações afetivas, casamentos, namoros, famílias, violação e exploração não devem ser aceitas! 
      Contudo, a pergunta inicial se refere a algo mais profundo, que vai além do mal que os outros fazem a nós, se refere ao mal que nós mesmos fazemos, contra os outros e contra nós mesmos. Temos consciência que também somos maus, que também somos injustos, que também escolhemos mal? Ou em nome de nosso prazer achamos desculpas para fazermos qualquer coisa e pensamos que isso é legítimo porque temos direito à liberdade e a usufrutos? Um ser humano maduro avalia os outros mas também se avalia, é exigente com afeto recebido mas também é correto com o que dá aos outros.
      Digo agora algo aos mais velhos, aos que já tiveram oportunidades de errar e de acertar, aos que sabem discernir o mal dos outros do mal de si mesmos. Avaliar a vida de maneira geral no tempo, entender a grande maioria das dores que experimentamos como consequências de erros nossos e portanto merecidos, não erros dos outros, ainda que tenham sido erros que cometemos quando nos permitimos viver sob relações injustas e violentas, é atitude de profunda humildade espiritual, de assumirmos nossa parte na existência e de não jogarmos a culpa nos outros, na vida ou mesmo em Deus. 
      Procuramos sempre que possível analisar um tema sobre todas as perspectivas, assim enquanto é sábio verificarmos até que ponto não somos vítimas, mas merecedores do que recebemos neste mundo, também não é sábio dizermos que alguém sofre porque merece sofrer. Não julguemos porque não temos amor suficiente para sermos justos juizes, e porque não sabemos como cada um administra seu sofrimento ainda que merecido. Às vezes alguém que sofre por merecimento é mais feliz que alguém que agiu corretamente e por isso nos parece não ser merecedor de nenhum sofrimento ou injustiça. 
       Não gostamos, em sã consciência, de textos bíblicos como o inicial, que diz serei cauda e meu inimigo será cabeça, gostamos de ler o oposto, mas a verdade é que passamos grande parte de nossas vidas reais sendo mandados e oprimidos pelos outros, todos nós, de alguma maneira. Deve ser assim para que aprendamos o caminho da humildade, para sermos provados e então aprovados, e não estamos neste mundo por outro motivo. “Eu mereço grande parte das injustiças que sofro, se não pelo que fiz neste mundo por motivos que Deus sabe, e eu humildemente aceito isso, até o fim”.
      A palavra desta reflexão, assim como as últimas desta semana, são duras, mas palavras duras ditas pelo Senhor são orientações em amor. Elas não têm o objetivo de nos humilhar, mas de nos ensinar a viver corretamente, conhecendo a Deus e seguindo-o. Assim, sejamos humildes, aceitemos certas realidades, mas confiantes, Deus protege de maneira especial os humildes. “Melhor é ser humilde de espírito com os mansos, do que repartir o despojo com os soberbos. O que atenta prudentemente para o assunto achará o bem, e o que confia no Senhor será bem-aventurado” (Provérbios 16.19-20). 

07/07/21

Para onde a hipocrisia nos leva?

      “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca.Apocalipse 3.15-16

      Quem convive por um tempo em igrejas cristãs, se for honesto, constatará hipocrisia, mas se for sincero verá que essa não existe só nas vidas dos outros, mas na dele também. Hipocrisia é dizer, mas não viver, mesmo crer e pregar a teoria, mas não conseguir pô-la em prática. A palavra de Deus que sai da boca de Deus por Jesus e chega a nós pelo Espírito Santo, sempre pode ser praticada, a não ser que não queiramos, já palavras de homens, mesmo contendo Bíblia e ditas de púlpitos, até podem ser vividas, mas só até um ponto. 
      Quem não vive não sabe e não deveria ensinar, e quem ouve esses falsos mestres fatalmente cairá na hipocrisia. A hipocrisia é o segundo de dois pecados, o primeiro é dar ouvidos a palavras erradas, o segundo é não assumir que essas palavras são erradas. O hipócrita, acima de tudo, quer agradar a homens mais que a Deus, quer aprovação de pessoas que são importantes para ele, morre de medo de ir contra a religião, e não pode admitir que não está conseguindo praticar aquilo que ela diz ser a vontade de Deus para sua vida. 
      Mas num determinado momento vemos que não somos só nós que não praticamos e mentimos a respeito disso, os outros também fazem o mesmo, nesse momento podemos nos revoltar, ver cair por terra um mundo no qual vivíamos e acreditávamos. Quando isso ocorre podemos ir para um de dois lados: ou largamos a fé mais pura e criamos um cristianismo conveniente, baseado em mágoa e ceticismo, ou então buscamos a Deus para saber o que ele de fato quer de nós. Ambas as escolhas nos colocarão em oposição à religião. 
      Existe uma terceira opção, que a maioria escolhe, é dizer que as coisas são assim mesmo, que ninguém é perfeito, que temos que aceitar as coisas dessa forma e que errados são os que se afastam das igrejas porque prestam mais atenção nas vidas alheias. Essa terceira opção na verdade é o álibi que muitos acham para serem hipócritas e viverem bem com hipócritas, eles não entendem que essa não é a vontade de Deus para ninguém. Esses não são sábios ou equilibrados, como podem se achar, mas os mornos do texto bíblico inicial. 
      Vencemos a hipocrisia com dois conhecimentos: primeiro desligando religião de Deus, segundo crendo que Deus tem mais para nós que a religião. O primeiro conhecimento é muito difícil de ser assimilado, principalmente na religião cristã com sede no Vaticano onde achamos pessoas que temem mais o papa que a Deus, só pensar que o que eles ouvem nos templos não é de Deus os faz sentir nas pernas as labaredas do inferno. Mas protestantes e evangélicos também têm esse terror, por isso muitos seguem hipócritas e infelizes. 
      O segundo conhecimento é o que separa meninos de homens, amigos de Deus de religiosos, ele é o fim da hipocrisia e o início de uma jornada rumo ao Altíssimo, onde a intimidade do Senhor é conhecida. O verdadeiro conhecimento de Deus é vida e na vida há prática de amor e santidade que religião não pode dar porque é conhecimento de homem, ainda que sobre Deus. Hipocrisia é inevitável, mas escolher o que seremos depois de constatá-la não é. O que escolhemos ser: hipócritas que temem a religião ou amigos do Altíssimo? 

06/07/21

Não traia um amigo

      “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura: O Espírito que em nós habita tem ciúmes?Tiago 4.4-5

      Quando pecamos, principalmente aqueles pecados mais secretos, que na maioria das vezes ninguém fica sabendo e que diretamente não prejudica a ninguém a não ser a nós mesmos, traímos um amigo, e isso, sim, de maneira objetiva e profunda, qual amigo é esse? O Espírito Santo. Sempre reafirmamos aqui que Deus, o Esprito Santo e Jesus (esse após ressurreição e ascensão), são espíritos, não homens físicos, e possuem qualidade morais superiores às dos homens. Dessa forma o Espírito Santo não se machuca, não se ira, não se afasta, mas nós, seres humanos encarnados, temos a percepção, em nossas almas limitadas pelos corpos físicos, que traímos o Espírito Santo quanto pecamos. Nos sentimos machucados, frios, distantes, e podemos até achar, como até escritores bíblicos acharam, que é Deus quem está ressentido conosco. 
      Isso nem tem tanta importância, o importante é sabermos que pecado tem um preço e que precisamos pagar esse preço. O preço não é algum tipo de trabalho para nos dar crédito para recebermos perdão, não, perdão é gratuito e o temos no momento em que o pedimos, o preço é adquirirmos e mantermos nossa sensibilidade moral. Morte espiritual nada mais é que frieza, insensibilidade afetiva, moral e espiritual, e muitos, ainda que bons cidadãos e mesmo bons cristãos, estão mortos. Mortos não fazemos amizades positivas, a não ser ligações com pares, outros mortos, insensíveis, escarnecedores das virtudes, maliciosos que não acreditam no perdão e em perdoados porque não pedem mais perdão e seguem não perdoados. Mortos não se importam em “machucar” o melhor amigo que podemos ter, o Espírito Santo de Deus. 
      Muda bastante nossa relação com Deus quando entendemos que o pecado não é algo que nos torna filhos piores, maridos piores, religiosos piores, não só isso, mas amigos piores, e não de qualquer ser, de Deus. Amizade é superior à relação entre patrão e empregado, entre general e soldado, entre senhor e servo, porque ela é uma relação entre iguais. Não, não somos iguais a Deus, ainda bem, ele é muito superior, em amor, santidade, poder e fidelidade, mas o Espírito Santo se coloca como nosso amigo, sempre disponível para nos aconselhar e consolar, então, quando pecamos, ele está ao nosso lado, assistindo-nos pecar. Se não sentimos vergonha fazendo algo errado na frente de alguém que nos ama e zela pela nossa saúde moral, então, algo muito errado está acontecendo conosco. Sejamos sensíveis e não traiamos um amigo. 

05/07/21

Nós confiamos em Deus!

      “Uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus. Uns encurvam-se e caem, mas nós nos levantamos e estamos de pé.Salmos 20.7-8

      O salmista usa o argumento confiar em carros e cavalos num contexto de guerra física, onde esses veículos e esses animais conferem poder armamentista contra inimigos físicos. De fato carruagens de guerra e cavalos eram os equipamentos que permitam velocidade e proteção em conflitos de mil e quinhentos anos atrás, tê-los em quantidade com homens peritos em usá-los podia definir a vitória numa guerra. Contudo, o salmista, ciente disso, diz que confiar em Deus é melhor que confiar em carros e cavalos, ser autorizado por Deus para uma guerra, tendo Deus ao seu lado, confere mais capacidade de vitória que outros recursos, mesmos os mais atuais e tecnológicos.
      E nós, hoje em dia, em que guerras estamos envolvidos, e se estamos, quais são os instrumentos que os homens confiam para serem vitoriosos nessas guerras? Somos como qualquer homem, ainda que crendo em Deus, confiamos nas forças materiais, nas capacidades e ferramentas que os olhos podem ver, que as mãos podem construir e usar, que a ciência entrega? Ou de fato sabemos que um Deus espiritual e invisível é mais poderoso que qualquer coisa ou ser no universo? Os que não confiam em Deus encurvam-se e caem, ainda que bem preparados e mesmo bem intencionados, mas os que fazem menção do nome do Senhor se levantam, permanecem de pé e são vitoriosos para a glória de Deus. 
      Pode ter certeza que o rei Davi ia a guerras com ótimos carros, cavalos e cavaleiros, ele não desprezava a tecnologia de seu tempo, da mesma maneira nós hoje temos que ser sábios e esforçados, trabalharmos com a ciência do lado. Contudo, ainda que fazendo a nossa parte e com muita diligência, confiando a vitória no nome do Senhor, não no que temos ou fazemos, mesmo fazendo o melhor e tendo tudo que nos é possível. Ninguém seja insensato com a realidade física, com estudo, com trabalho, com ciência, mas também não seja cético com o mundo espiritual. Cavalos, carros, computadores, dinheiro, estudo, ciência, determinação física, tudo isso passará, Deus é espírito e é para sempre. 

04/07/21

Carne e espírito (2/2)

      “E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.” Atos 2.44-47

      Antes de seguirmos com a segunda parte da reflexão sobre carne e espírito, uma nota sobre a igreja primitiva de Atos. Muitos de nós, quando lemos o texto acima, pensamos achar o ideal máximo de vida cristã no mundo, concluindo os primeiros relatos do livro de Atos sobre a descida do Espírito Santo, a primeira pregação, os primeiros convertidos, enfim, a inauguração da igreja no mundo. Naquele momento, achar que uma vida comunitária, sem apegos materiais, dando prioridade ao espírito, fosse o final da vontade de Deus para os seus no mundo, podia ser algo até natural, afinal ninguém nasce adulto, passa-se por infância. O tempo registrado nos primeiros capítulos de Atos é justamente isso, a infância da igreja.
      Esse ideal, quase comunista, que recentemente provamos (anos 1960 e 1970), quando o movimento hippie de contracultura influenciou até o cristianismo, pode parecer um ápice espiritual cristão, mas é só infantilidade, parte de muitos equívocos que os primeiros cristãos tinham, incluindo a crença que a segunda vinda de Cristo era próxima (vede exortações de Paulo em II Tessalonicenses 2). Inocência tem seu tempo, mas mantida indefinidamente é prejudicial, todo o modo de vida descrito em Atos 2.44-47, principalmente as relações com bens materiais, não constitui caminho de espiritualidade mais alta para nós hoje, e crendo que é, seitas são criadas enganando muitos e alguns até à morte (vede Ramo Davidiano e Jim Jones).
      Existem dois tipos de meio termo entre os extremos da carne e do espírito, um é o das pessoas em conflito. Essas pessoas são materialistas, mas sentem-se culpadas por isso, o senso comum cristão as chama de carnais, mas elas podem até buscar espiritualidade em religião, ainda que experimentem constante guerra contra o pecado. Nesse meio termo se acha grande parte das pessoas atuais, gente que precisa viver a realidade, trabalhar para ganhar a vida, assim não podem se dar ao luxo de serem monges em retiro, e não são essa espécie de religioso simplesmente porque são pessoas normais e sadias, que querem ter relacionamentos afetivos, casarem-se, terem filhos, e nisso também, por si só, não há nada de errado. 
      O outro tipo de meio termo é o de pessoas equilibradas, que é o meio termo mais correto porque não nega a realidade deste mundo ao mesmo tempo que se prepara para a realidade do outro mundo. Alguns podem achar que é mais fácil ser espiritual se isolando, pode até ser, se isso for vontade de Deus, e a vontade de Deus para cada ser só Deus e o ser sabem, não podemos julgar ninguém. Contudo, se é difícil controlar certas coisas podendo usufruir delas, quanto mais tentando se abster totalmente delas, sendo mais claro, se é difícil, por exemplo, ao casado ser fiel, quanto mais ao solteiro. Mas a satisfação não está em ser solteiro ou ser casado, mas em estar em paz em Deus, e nisso é preciso equilíbrio entre corpo e alma. 
     Alimentar conflitos gasta energia, viver em guerra enfraquece ambos os lados, o segredo é deixar que dois lados distintos vivam, mas cada um no seu tempo e no seu lugar, sem que um lado guerreie contra o outro, mesmo porque em se tratando de corpo e espírito um lado só se livrará do outro após a morte. Ser guiado pelo espírito não é matar a carne, mas respeitá-la, e assim usar o corpo como templo do espírito, não como seu caixão mortuário. Um corpo debilitado não será instrumento eficiente para que o espírito brilhe, quanto mais vivo e mais limpo o corpo, mais forte é o fogo do espírito neste mundo. Viemos a este mundo justamente para achar o equilíbrio entre os dois princípios, não para que um anule o outro. 
      Neste mundo, a vitória do espírito não está na morte da carne, assim como a vitória da carne não está na morte do espírito, existem pessoas desenvolvendo espiritualidade, tendo comunhão com o mundo espiritual e ainda assim sendo pessoas carnais, por outro lado tem muitos tentando matar as inclinações da carne e ainda assim não sendo espirituais. Neste mundo, repito, a carne está no desequilíbrio, tanto pendendo para um como para outro extremo, o espírito não anula ninguém, convive com tudo em harmonia pois respeita o momento do homem encarnado. Cuidado com quem vive o tempo todo em igrejas tanto quanto com quem não sai de bares, esses estilos de vida podem ser aparentemente diferentes, mas são ambos prejudiciais. 

Leia na postagem de ontem 
a 1ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 17/02/2021

03/07/21

Carne e espírito (1/2)

      “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.Gálatas 5.16-18

      O ensino inicial de Paulo é correto, porém, pode ser mal interpretado, muitos entendem por ele que existe uma guerra, de igual por igual, entre os apetites do corpo e as virtudes espirituais, mas não é bem assim, não para quem tem alguma lucidez moral. O que ocorre não é bem uma batalha, mas a tentativa de dois sistemas distintos viverem ao mesmo tempo, o material e o espiritual, e neste mundo ambos possuem direitos de existirem. Deus foi cruel colocando na Terra sistemas antagônicos em um único ser? Não, não fez isso por crueldade, os desígnios divinos são bem mais altos, mas resumindo, esse é o único jeito que o ser humano tem para evoluir, tanto como organismos físicos, como espíritos eternos. 
      Algumas óticas religiosas propõem extremismos, a negação de todo desejo do corpo como único meio de atingir a espiritualidade mais alta, assim há monges e outros religiosos no hinduísmo, no budismo, no catolicismo, e mesmo em seitas evangélicas, onde castidade, regimes alimentares, jejuns constantes, exercícios físicos, abstinência de bens, uso de hábitos comuns ou mesmo de quase nenhuma roupa, enfim, o desligamento completo de vaidades para se ter vidas dedicadas exclusivamente a servir os necessitados, ou mais, viver em constante meditação, em exílio em locais retirados. Isso, contudo, não representa necessariamente a espiritualidade mais alta de Deus, pelo menos não é uma regra geral, para todos. 
      Os materialistas mais extremados, por sua vez, que não são aqueles que muitos cristãos chamam de carnais, já que não são seres humanos perdidos nos prazeres do corpo, ao contrário, podem ter vidas tão disciplinadas como as dos monges, não se ocupam em crer e conhecer aquilo que se refere à espiritualidade. Eles objetivam o mundo físico, a conservação do planeta, a boa qualidade de vida, suas causas estão em moda no mundo atual e constróem muito da agenda da chamada esquerda nova, e são esquerda mais por se oporem aos preconceitos e misticismos da tradição judaica-cristã que por serem marxistas ortodoxos. Eles têm como guia supremo a ciência, e nisso, em si, também nada tem de errado. 
      Se todos os seres humanos vivessem o ideal de espiritualidade que alguns creem ser o mais correto, o mundo não desenvolveria, os espaços não seriam povoados, a ciência, como consequência do crescimento populacional, não evoluiria para controlar o meio ambiente e produzir alimentos e outros recursos com mais eficiência. Isso é importante só para o corpo? Não, a preocupação da ciência em criar e manter um planeta melhor para as gerações futuras, faz com que avós e pais abençoem filhos e netos, já que isso cria condições para uma vida com menos preocupações com sobrevivência do corpo e injustiças sociais, o que permite sobrar tempo para ocupar-se com lazer, com artes e principalmente, com espiritualidade. 
      É importante que entendamos que o termo carne na Bíblia não se refere necessariamente ao corpo físico, apesar da inteligência moral e intelectual dos tempos bíblicos achar que se referia. Carne é tudo aquilo que nos afasta de um Deus Altíssimo que é puramente espiritual, assim os espíritos do mal, apesar de serem espirituais em suas constituições, são carnais em suas índoles. Já o homem neste mundo, ainda que encarnado, como Jesus foi, pode dar prioridade às virtudes morais superiores que o aproximam do Deus espiritual, e assim, ainda que num corpo físico, administrando necessidades físicas, ser espiritual. A carne não está necessariamente no corpo, nem a espiritualidade obrigatoriamente no espírito. 
      “Se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei”, a lei é a primeira aliança que Deus fez com o homem através de Moisés, e ela é simples, quem obedece vive e quem não obedece morre, não necessariamente no corpo, mas no espírito, a segunda morte, visto colocar o ser distante de Deus. Mas quem consegue ser espiritual sozinho, sem a ajuda do Espírito Santo? Ninguém, por isso entendemos hoje que a lei evidencia a morte, mas não entrega vida. Temos vida por Jesus que nos dá de seu Espírito, esse nos atrai a Deus, se nos deixarmos ser guiados por ele, guia que se faz por uma voz mansa e clara em nossos corações, que nos conduz em vitória sobre a passageira carne e rumo à vida espiritual eterna. 

Leia na postagem de amanhã 
a 2ª parte desta reflexão 
José Osório de Souza, 17/02/2021

02/07/21

Paranoia, não! Sabedoria, sim

      “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos meus lábios.Salmos 141.3

      Muitas vezes agimos por conveniência, achamos que algo é melhor só porque apoia nossas atitudes. O tímido, que fala menos, buscará em textos bíblicos, que aprovam falar pouco, aprovação para seu temperamento, já os falantes e que tomam iniciativa, acharão no ensino que incentiva a voluntariedade e a sinceridade aprovação para o seu jeito. Quem está certo? Quem obedece a Deus em cada assunto específico, não usando uma conveniência para se proteger, nem uma lei para agir sempre de um jeito sem se dar ao trabalho de buscar discernimento na razão e na oração
      Meu jeito natural de ser é falar muito e ser impulsivo, muitas vezes sem pensar muito antes, pago um preço caro por isso. O lado bom disso é que como sou rápido para tolices também o sou para obedecer a Deus, enfim, não sou insensível, mas tenho uma sensibilidade que precisa ser bem administrada. Nesse meu modo de ser tenho a tendência de achar que as coisas precisam ser ditas para serem resolvidas, que as bênçãos devem ser compartilhadas para que Deus receba o louvor, que a revelação, mesmo de problemas pessoais, pode ajudar outros com problemas semelhantes.
      Perdoe-me por ser pessoal nesta reflexão, mas se eu não fosse assim esse blog não existiria, e tomara que ele esteja abençoando de alguma forma alguém. Contudo, tenho mudado meu jeito nos últimos tempos, e eis o ponto deste texto, tenho entendido que é melhor falar menos, mesmo quando tenho razão ou que seja sobre uma coisa boa, e isso, não por qualquer tipo de paranoia, mas por sabedoria. O sábio não teme as trevas, por não poder ver onde está, ele está na luz, pode ver tudo com clareza e por isso toma cuidado com o que fala, faz e para onde anda, ele não tem malícia mas sabedoria. 
       Se para coisas ruins, erros, tropeços, é bem recomendado que depois de assumidos e perdoados fiquem só entre nós e Deus, já que as pessoas tendem a ter uma opinião fixa sobre nós, muitas vezes usando o nosso pior como referência, não acreditando que podemos mudar e para melhor, para coisas boas, bênçãos recebidas, vícios vencidos, também pode ser mais guardar segredo. Que os outros saibam quem somos por nossas ações no dia a dia, não por revelações verbais, entretanto, tem um motivo mais sério de porque é sábio mantermos certas coisas só entre nós e Deus. 
      “O cão é sujo”, você já deve ter ouvido essa frase, não gosto muito de usá-la pois não gosto de ficar pondo culpa de tudo no diabo, contudo, muitos seres, humanos e espirituais, podem fazer o papel do “cão”. O “diabo” em nossas vidas são todos os que se colocam como acusadores, julgadores e condenadores, e esses não veem nossa fé em Jesus e nossas boas obras no caminho da redenção, eles apenas querem achar motivos, sejam eles quais forem, para nos caluniar e prejudicar. Cuidado, paranoia não é sabedoria, não confundamos as coisas, mas que esse tipo de “diabo” existe, existe.
      Somos, contudo, vítimas de armadilhas que nós mesmos fazemos, na carência de querermos atenção, de recebermos aprovação das pessoas, de construirmos alianças, para não estarmos sozinhos e sermos parte de algo maior que nos proteja, podemos confiar em pessoas erradas, falar demais e entregarmos nossos tesouros a falsos amigos (veja sobre Ezequias em Isaías 39). Não tenho dúvida que se nossa intenção for pura e em Deus estamos livres e nada precisamos temer, mas estejamos vigilantes, nossa maior alegria é sermos agradáveis a Deus, ainda que ninguém saiba mais nada sobre nós. 

01/07/21

Quem cobra do homem não recebe de Deus

      “Guardai-vos de fazer a vossa esmola diante dos homens, para serdes vistos por eles; aliás, não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus. Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.Mateus 6.1-2

      Não basta fazer o bem, é preciso esperar recompensa por isso só de Deus, não daquele para o qual se fez o bem. Quem faz o bem para alguém, mas depois cobra desse alguém o bem feito, não receberá recompensa de Deus, e pode até receber de homens, mas será um pagamento amargo, fruto do que se fez sem amor. Esse é o ensino contido no texto inicial, tenho certeza que você já sabe dele, mas dentro desse assunto gostaria de chamar a atenção para algo mais fundo, que muitas vezes acontece em nossas vidas e nós não nos damos conta. Ser espiritual é entender a vida no mundo como oportunidades para crescer, para ir além da obrigação, para ir além de nós mesmos, para servirmos o próximo e agradarmos a Deus.
      Isso requer sacrifícios, não com dor, mas com gratidão, numa satisfação madura e de fato espiritual, quem adquire essa alegria, mesmo numa situação de esforço a mais, cresce espiritualmente. Você já teve experiência de ter que fazer algo que sabia que não precisava fazer porque não era obrigação sua,  mas tinha que fazer porque uma terceira pessoa, que tinha obrigação de fazer, não estava fazendo? Em algo assim a gente acaba fazendo, mas se sentindo mal, dizendo que o outro é um folgado, que por não nos ajudar fez nossa cruz ser mais pesada. Quando isso ocorre, fazemos, mas podemos ficar aguardando o momento certo para nos vingarmos, para exigir da terceira pessoa nosso esforço a mais. 
      Que honra há em fazer algo que não nos custe nada? E se fazemos algo contrariados é, para nós, o mesmo que não fazer, ainda que outros sejam beneficiados. Contudo, num sacrifício feito com amor e humildade, encontramos uma honra que Deus quer nos dar, aproveitando uma oportunidade criada pelo Senhor em nossas vidas para crescermos. Se Deus quer nos dar uma honra é porque precisamos dela, isso nada tem a ver com quem desfruta do que fazemos, nem com o que deixou de nos ajudar a fazer, isso tem a ver conosco. Não somos melhores por ajudarmos um necessitado, nem por trabalharmos por um folgado, mas porque obedecemos a Deus, se é que para Deus e em Deus nós de fato vivemos e nos alegramos.

30/06/21

Temor a Deus: o bem maior

      “Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve escolher. A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra. O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança. Os meus olhos estão continuamente no Senhor, pois ele tirará os meus pés da rede.Salmos 25.12-15

      Quatro versículos, muitas lições, numa passagem bíblica que não nos cansamos de ler, nem de sermos fortalecidos por seus ensinos. O que teme a Deus sabe quais são as melhores escolhas e tem forças para fazê-las. Escolhe mal quem não teme a Deus, ainda que tenha informações técnicas e conheça as orientações de cientistas e de homens experientes, sejam nas áreas que forem. Ouçamos os homens, principalmente aqueles com vivências práticas, mas temamos a Deus e só tomemos a decisão final baseados na palavra final do Senhor. 
      Temer a Deus é temer as consequências de nossas escolhas, não fazer só porque é conveniente no presente sem se preocupar com os efeitos disso no futuro. Temer a Deus é respeitar todas as pessoas, incluindo pecadores e inimigos, novamente porque não sabemos o tempo de cada um e se no futuro pecadores escolherão o caminho da justiça e inimigos restabelecerão alianças conosco. Temer a Deus é viver o presente dando cada passo ciente que Deus sabe, vê e avalia tudo, temer a Deus é confiar que Deus tem tudo sob seu controle sempre. 
      Muitos buscam prosperidade material, estabilidade econômica, conforto e honra para a família, mas isso tudo é consequência de quem teme a Deus. Dessa forma, ainda que tenhamos errado e construído menos, se com humildade temermos a Deus, o Senhor cuidará de nós até o fim, e dará a nossos filhos honras maiores que aquelas que nós mesmos provamos. Deus faz uma aliança com os que o temem, um concerto, um casamento, não baseado no que fomos, mas no que somos em quebrantamento e fé. Que bem é maior que uma aliança com Deus?
      Contudo, mais que provisão material e paz espiritual, Deus revela segredos aos que o temem, antes que o mal aconteça Deus mostra no coração dos tementes a ele que algo ruim pode ocorrer. Dessa forma, os que temem a Deus não são pegos de surpresa, não caem em armadilhas de homens, pois são avisados antes e a tempo de se prepararem e tomarem outro caminho, caso isso seja necessário. Saber o segredo do Senhor nos dá o direito de usar a mais poderosa das armas, a oração, que anula as setas do mal e destrói toda ferramenta diabólica levantada contra nós. 

29/06/21

Homens: acusadores e acusáveis

      “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.” 
Gênesis 3.7-8

      “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.” 
Mateus 25.31-33

      Para entenderem melhor esta reflexão é importante que muitos evangélicos assumam aquilo que na prática creem quando interpretam Deus como juiz, e isso tem muito a ver com a figura descrita na passagem acima de Mateus e outras. Eu disse “assumam” porque muitos cristãos dizem que creem em certas coisas, mas não param para avaliar os detalhes dessas coisas, não casam essas coisas com outros ensinos bíblicos, e assim não percebem os contrassensos e impossibilidades existentes. A Igreja Católica, da qual o protestantismo na verdade nunca saiu, é culpada por aprisionar homens em interpretações infantis das verdades reveladas aos judeus e aos cristãos, e faz isso para controlar homens e ter poder no mundo. 
     Como o Deus, que os próprios cristãos creem como sendo onipresente, onisciente, onipotente e eterno, portanto, qualidades de um ser espiritual e não material, pode também ser um ancião de vestidos brancos, com longos cabelos e barbas brancos, sentado num trono para julgar a humanidade? Isso é uma metáfora, assim, ou cremos que toda a Bíblia deve ser interpretada ao pé da letra ou que é toda registrada em figuras. O que ocorre é que é mais fácil confiar nas tradições, afinal de contas elas abrigam contra conhecimentos que não se quer ter (por não se estar preparado para ter), assim seguem muitos cristãos crendo em histórias da carochinha, alimentando ainda mais a incredulidade dos que não querem seguir em direção a Deus. 
      Deus não acusa, não julga e não condena ninguém, os acusadores, os juízes e os condenadores são os homens no mundo e os seres espirituais do mal no plano espiritual. Diante dessas afirmações muitos podem usar textos bíblicos para contra-argumentar, como o citado acima de Mateus, contudo, lembro que a Bíblia precisa ser revista em muitos textos, que ainda que contenham na essência verdades divinas eternas foram escritos por homens e para homens de no mínimo dois mil anos atrás. Isso é o que dizemos aqui quando nos referimos à igualdade entre homem e mulher no casamento, à condição do homoafetivo não ser pecador só por ser homoafetivo, e sobre a não criação da Terra e do homem em seis dias de vinte e quatro horas.
      Nisso não negamos a tradição judaica-cristã, só incentivamos a reavaliação do que essa tradição construiu e se ainda é válida para o homem atual, Deus não muda, o homem, sim, e a ciência é o principal agente de mudança mental. Calma, aquele que crê nas doutrinas tradicionais do cristianismo, sob sua ótica, na prática, nada muda, continua existindo na eternidade a divisão de todos os seres humanos em dois grupos, quando são determinadas penas, seja para um céu, seja para um inferno. Não estou negando uma das bases da teologia cristã, não é o ponto de vista desta reflexão, mas estou sendo coerente com as virtudes de Deus que a própria Bíblia ensina, confrontando pena eterna de um juiz divino com amor divino eterno.
      Quando o homem está errado, em pecado, sente-se culpado, isso ficou claro desde o pecado original descrito em Gênesis, dessa forma sua consciência e os homens maus o acusam, além dos espíritos maus no plano espiritual, que normalmente a todos acusam, mas que acham no acusável legitimidade para suas acusações. Culpado o homem se afasta de Deus, o impuro não consegue permanecer na presença do santíssimo, pelo menos se tiver a mínima lucidez, e se não tiver se aproximará, não de Deus, mas de falsos deuses, para saciar sua fome do espiritual ainda que não queira pagar o preço para se aproximar de Deus. O preço é o arrependimento, senão continuará acusável, julgável e condenável pela própria consciência. 

28/06/21

Quem tenho, senão a ti?

      “Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti. A minha carne e o meu coração desfalecem; mas Deus é a fortaleza do meu coração, e a minha porção para sempre. Pois eis que os que se alongam de ti, perecerão; tu tens destruído todos aqueles que se desviam de ti. Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor Deus, para anunciar todas as tuas obras.Salmos 73.25-28

      Em termos morais e consequentemente espirituais, se há obediência a Deus, há força, se há desobediência, há enfraquecimento, se há comunhão com Deus, há vitória, se há distanciamento de Deus, há derrota. Quando estamos em Deus, fazendo sua vontade, naturalmente somos fortalecidos e temos capacidade para vencer os apetites da carne, o egoísmo, a vaidade, a ira, porém, quando, por um motivo ou outro, não conseguimos nos colocar em Deus, não conseguimos obedecê-lo, ficamos vazios e vazios enfraquecemos. Quem mais força experimentou mais fraco poderá ser, se não vigiar no que conquistou. 
      Quem experimenta uma luta diária para conhecer, entender e fazer a vontade do Senhor, começando por orar para depois agir, sabe que nem sempre nos parece fácil achar a presença mais íntima de Deus. Muitas vezes, por mais que tentemos, que nos quebrantemos, mesmo que choremos e imploremos, parece, e eu friso, parece, que o Senhor foge de nós. Nisso, às vezes após uma busca esforçada para achar a Deus podemos cair numa frustração tão grande que nos leva a pecar desmedidamente, tentando achar prazer para encher nosso coração vazio e entristecido. Deus permite isso, para que aprendamos a persistir na busca. 
      A chave para achar a Deus está, não no esforço humano, mas no descanso no divino, achar a Deus em última instância depende de menos, não de mais, no silêncio, não nas palavras, e uma oração errada pode nos levar justamente a um cansaço mental que nos enfraquece. Uma busca errada, ainda que sincera, pode ser nossa carne tentando achar a Deus, não nosso espírito harmonizado com o Esprito Santo. A chave é deixar-se levar pelo Santo Espírito, é esse quem nos conduz ao Altíssimo, não que nisso não haja trabalho, mas é trabalho espiritual de se deixar navegar nas águas espirituais, não só esforço mental para crer.
      Entendo, que por mais que eu tente descrever a experiência, como toda busca espiritual, não pode ser formulada, só os que a experimentam através de uma vivência pessoal poderão entendê-la, mas sei que vida de oração é uma aventura infinita, a melhor de todas as aventuras que podemos ter. É ela que nos dá forças para vivermos os ideais morais que Jesus ensinou no sermão das bem-aventuranças. “Quem tenho eu no céu senão a ti? e na terra não há quem eu deseje além de ti, a minha carne e o meu coração desfalecem, mas Deus é a fortaleza do meu coração e a minha porção para sempre”. Que seja esse, o anseio de todos nós.

27/06/21

“Ismos” ou indivíduos?

       “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo. Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. E eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.João 17.22-26

     O cristianismo ou o cristão? O espiritismo ou o espírita? O budismo ou o budista? O islamismo ou o muçulmano? O socialismo ou o socialista? O homossexualismo ou o homossexual? Há diferença entre as duas coisas. O sufixo ismo adicionado a uma palavra pode significar não um indivíduo, mas uma religião, uma ideologia, uma causa, uma bandeira, um movimento (dentre outros significados, confira no link). Tomando esse sentido, principalmente quando se refere a religiões, sistemas políticos e ideologias, tenho certo cuidado em dizer que algo me representa. Digo que sou cristão, mas não defendo irrestritamente o cristianismo, defendo o homoafetivo, mas não muitas bandeiras do homossexualismo, respeito o espírita, mas tenho com esse o mesmo cuidado que tenho com religiões e instituições do protestantismo e do catolicismo. 
      Penso que Deus não autoriza nenhum ismo neste mundo como sua causa oficial, tenha a importância que pareça ter para os homens, mas com certeza ele ama todos os homens, sejam budistas, muçulmanos, socialistas e outros. Na área política, por exemplo, muitos movimentos que começaram com indivíduos sinceros em prol de causas necessárias, acabaram em bandeiras estúpidas, que usaram de violência para fazer prevalecer suas visões de mundo sobre os outros, e a mesma coisa ocorre na área religiosa, como tanto falamos aqui. Mesmo no meio das militâncias atuais por direitos humanos, por igualdade entre expressões sexuais e raças, a necessidade e o sofrimento do indivíduo são manipulados por grupos, que se começaram bem acabaram usando temas sociais importantes como armas para destruir quem pensa diferente. 
      Uma virtude não pode ser usada como arma, justiça e liberdade são direitos de todos, não só dos opressores por se verem mais fortes, como também não só dos oprimidos por acharem que têm direito à vingança, e se analisarmos sob um ponto de vista mais profundo, todos em alguma instância são opressores e oprimidos. Não estou com isso desculpando a civilização por ter escravizado africanos, isso foi e é uma opressão terrível que precisa ser paga. Infelizmente chegamos a uma triste conclusão, não existe igualdade no mundo sem que exista Deus nos corações dos homens, o que existe a longo prazo é só uma troca de poderes, tem sido assim em toda história da humanidade. Isso é para sempre? Creio que não, isso vai mudar, tão certo como existe um Deus que a todos atrai para sua luz mais alta, mas ainda vai demorar um pouco. 
      Nem as palavras mais sábias do universo na boca de quem tem um coração cheio de ódio tem legitimidade, e curar coração machucado só em Deus e sob autorização do homem. O mais correto seria, antes de defenderem movimentos coletivos, as pessoas executarem um movimento individual para serem tratadas e melhoradas, senão serão só belas bandeiras nas mãos de homens ruins, podem até começar bem, pela relevância do movimento, mas não darão em nada realmente de bom para a sociedade. É perigoso gente orgulhosa e não resolvida se esconder atrás de militâncias, grandes causas impõem respeito por si próprias, vê-se o coletivo e esquece-se do indivíduo que fica perdido nas fileiras, mas Deus vê o indivíduo, o universo conhece o plantio de cada um, e mesmo do campo mais belo não brota bom fruto sendo ruim a semente.
      Na verdade Deus não se importa com ismos, ele se importa com indivíduos, a causa de cada pessoa é importante para ele, e se entendermos isso veremos que a bandeira mais adequada é a do individualismo, ninguém é igual a ninguém, todos são importantes ainda que diferentes, nenhuma dor é maior que a outra, e todos têm direito à felicidade. Individualismo não é necessariamente egocentrismo, ao contrário, quem de fato se respeita, aos outros respeita, quem conhece a si mesmo e assume os próprios erros reconhecerá a causa do outro e dos erros desse terá misericórdia. Os ismos tentam justamente matar o individualismo, tratando as pessoas como manadas, ainda que com a autorização delas, mas viemos da eternidade sozinhos e sozinhos voltaremos para ela, Deus nos fez indivíduos que só podem achar coletivo construtivo em seu amor. 
      O único ismo que está em Deus é aquele que une os homens pelo Espírito Santo, não pelos homens, e toda religião no mundo foi criada e é mantida por homens, ninguém se engane sobre isso. Existem seres humanos que têm comunhão com o Deus único e verdadeiro através do Espírito Santo em lugares diferentes, não se iludam católicos e protestantes sobre isso também. A “igreja” que será salva é a que tem o selo desse Espírito, não carteirinha de membro oficial dessa ou daquela religião. A denominada oração sacerdotal de Jesus, que ele fez em seus últimos dias encarnado, registrada em João 17, ensina sobre isso, uma união possível entre homens pelo Espírito Santo e no amor de Deus, união que não milita por um ismo como melhor que outro, mas que glorifica a Deus e conduz todos a ele, eis uma causa digna pela qual viver. 

26/06/21

Só um lugar para chorar

       “Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos! A minha alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do Senhor; o meu coração e a minha carne clamam pelo Deus vivo. Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, onde ponha seus filhos, até mesmo nos teus altares, Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meu.Salmos 84.1-3

     Por muitas vezes tenho levantado aqui críticas à religião, principalmente quando são só ferramentas de homens para manipular homens para obterem poder no mundo, nesse aspecto nenhuma religião está isenta. A verdade só é pura quando é lançada do céu por Deus e enquanto está caindo, mas como uma gota de chuva no momento que toca a terra, mistura-se a muitos elementos e já não é mais água, mas outra coisa, assim é com o princípio original de boas religiões. Não tem jeito de ser diferente, Deus não faz nada para mudar isso, principalmente por respeitar o livre arbítrio humano, mas isso não significa que os homens não tenham acesso à verdade e por isso percam a oportunidade de conhecerem a Deus. 
      Deus conta com nossos erros, só assim nosso orgulho e nosso egoísmo são confrontados e aprendemos a ser humildes, se recebêssemos tudo o que precisamos depressa e de uma vez não faríamos esforços, não valorizaríamos o que recebemos e fatalmente desprezaríamos as verdades mais preciosas pouco depois de as recebermos. Se a gota pura que vem do alto se suja com as impurezas da terra é para que, depois que Deus fez sua parte liberando a verdade, nós façamos a nossa separando água de outros elementos. Não basta recebermos algo que achamos ser uma verdade, temos que trabalhar nisso, nos esforçarmos, no final o que nos faz crescer não é colher a gota de água, mas purificá-la com o nosso trabalho. 
      Assim, as religiões, as igrejas, ainda que contaminadas pelas humanidades, têm seus lugares no plano maior de Deus, e nesse aspecto sempre são bênçãos do Altíssimo, pois são os lugares mais adequados neste mundo para recebermos as verdades e trabalharmos nelas. Por isso, eu não desprezo aquela pequena igreja, talvez dirigida por homens limitados intelectualmente, crentes em teologias que podem até serem partes de heresias, homens preocupados em sustentarem suas vidas com dízimos de gente simples, verdadeiras viúvas pobres de Mateus 12.42-44, mas gente sincera em seu culto, necessitada do amor de Jesus como qualquer outra pessoa no mundo, o trabalho de separar água de terra também lhe cabe. 

      Quando uma pessoa sofre, vendo que é difícil ganhar o pão de cada dia, sentindo que o egoísmo dos outros só quer tirar proveito do mais fraco, quando uma mulher abandonada por um homem é deixada sozinha para criar os filhos, quando um homem honesto e trabalhador que perdeu emprego que lhe dá um pequeno salário vê que políticos roubam milhões para terem muito mais que precisam, quando uma alma injustiçada, ao meio-dia de uma quarta-feira passa por um templo católico aberto e sem atividades, no centro de uma cidade, entra, Deus lá está. Sentada num dos últimos bancos, uma pessoa com uma alma em dores não se importa com o nome da religião, ela só quer um lugar quieto para chorar.
Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consoladosMateus 5.4

      Somos mesquinhos demais, queremos ser donos da verdade, julgar as pessoas e ainda usar uma verdade de Deus (ou que achamos que seja) como álibi para isso, cremos que nossa religião é melhor que as outras, que a nossa leva ao céu e as outras ao inferno. Não tenho dúvidas que se entendermos e praticarmos o que Jesus ensinou nos encaminharemos, neste mundo e na eternidade, para Deus de uma forma especial, mas daí a dizer que o fato de eu ser batista, presbiteriano, assembleiano, católico ou de outra denominação cristã, me faz um ser humano com mais direitos a Deus que espíritas, religiosos orientais ou de outras religiões, é um engano. Jesus não ensinou isso, ensinou sobre amor e pureza de coração. 
      Não existe nenhuma injustiça da parte de Deus permitindo que as religiões, principalmente as cristãs, sejam o que sempre foram, sabe por quê? Porque não faz diferença, a salvação é individual, quem quer a Deus o acha, e Deus acha todos em qualquer lugar. O que as pessoas precisam é só de um lugar para se acalmarem e avaliarem suas escolhas, não importa onde seja, desde que evoque Deus e não seres espirituais do mal, rebeldes ao amor e à luz do Altíssimo (e mesmo isso precisa ser avaliado sem preconceitos). Depois disso o homem terá direito a outras escolhas para exercer seu livre arbítrio e se seguir querendo Deus dele continuará se aproximando, também, nesta ou naquela religião. 
      Meu querido, não se engane, os átrios do Senhor são a presença espiritual do Deus altíssimo, esse lugar não é delimitado ou exclusivo a um templo físico de uma religião específica, assim, se está sofrendo, ache um lugar, que dentro de teu entendimento seja um lugar agradável a Deus, ou que pelo menos não te atrapalhe de alguma forma, e busque. Faça isso o mais rapidamente possível, não espere mais para buscar a Deus, o mundo muda, nossos sentimentos mudam, a pouca força que hoje temos para achar a Deus pode não existir amanhã, e se hoje teu coração anseia pelo Senhor tua força basta. Deus é amor, sabe exatamente o que você precisa, você só tem que autorizá-lo a te abençoar, isso só você pode fazer.  

      “Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; e não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão.Mateus 3.8-9

25/06/21

Livres para seguirmos um Deus vivo

      “Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne; para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.” Romanos 8.1-4

      Quem acompanha o “Como o ar que respiro” já leu aqui todo tipo de reflexão. Em uma o ponto foi ter coragem e lutar, em outra o conselho foi abaixar a cabeça e se desviar da oposição, num texto a orientação era estar firme em suas convicções, em outro a recomendação era saber quando mudar de opinião, numa reflexão o melhor caminho era trabalhar e muito, em outra o caminho mais sábio era esperar e não fazer nada. Se queremos a posição cômoda da lei não entenderemos pontos antagônicos, buscaremos uma regra geral para tudo, isso nos impede de pensar, de orar, de avaliar e entender qual a posição que devemos tomar em cada situação específica, isso faz da religião algo morto e retrocedido, não vivo e progressista. 
      Deus já orientou os homens com leis, os dez mandamentos são até hoje usados por muitos, que não conhecem o evangelho verdadeiro, como as melhores regras para orientar a religião. Entretanto, leis foram para o tempo da infância da humanidade, quando os homens não tinham inteligência intelectual e moral para achar equilíbrios, quando as ordens tinham que ser extremas e genéricas. Jesus ensinou que espiritualidade pode ser experimentada no interior do homem, a vitória não se obtém com armas materiais contra inimigos físicos, a lei de talião foi substituída pelo amor que perdoa os inimigos, e ainda que causa e efeito existam, não é o homem que deve cobrar o homem, mas o universo, ao cristão cabe confiar em Deus.
      Quem não quer viver o cristianismo através de diálogo constante com Deus pelo Espírito Santo, lutando todo dia em oração, se quebrantando, clamando, tirando do fundo da alma a melhor oração, aquela que é o reflexo da vontade de Deus, que é conhecida quando há busca fervorosa e sincera, não vive o cristianismo. Esse pode até viver uma religião, e se for assim procurará leis e regras para obedecer, fixas, dogmatizadas em algum livro de doutrinas. Contudo, o máximo que conseguirá é uma aparência de espiritualidade, não espiritualidade real, e aparência não vence o pecado, não consegue amar quem o incomoda, não tem forças para perdoar quem o machuca. O Espírito Santo é o evangelho verdadeiro e ele é vivo o tempo todo. 
      Essa espiritualidade viva e dependente do Santo Espírito exige dos que querem vivê-la paciência, quando somos confrontados não basta termos uma lei na ponta da língua, um versículo, um dogma, temos que perguntar a Deus o que é que ele pensa a respeito. Jesus encarnado tinha essa atitude, por isso muitas vezes não dizia nada e em grande parte de seu tempo ele orava. Quem quiser viver um cristianismo que usa uma lei como quem saca uma arma, pronta para ser disparada para anular um opositor, seja esse um tentador ou um inimigo em alguma instância, será no máximo um religioso e como tal possivelmente será um hipócrita. A lei não dá forças para ser obedecida, só condena os que não a obedecem (Gálatas 3.10).
       Infelizmente existem cristãos, já com anos de conversão e que em algum momento de suas vidas foram dependentes sinceros do Senhor, que atualmente morreram espiritualmente, passaram a confiar em si mesmos, no conhecimento de Bíblia e teologia que acumularam. Conhecem a religião cristã, mas substituíram leis mosáicas por leis evangélicas e seguem agora como escravos, não como livres. Seus corações já não experimentam uma comunhão viva com Deus pelo Espírito Santo, são desviados dentro de igrejas, não são transformados pois no fundo, ainda que não admitam, acham que já são bons o suficiente. Temo que muitos cristãos, com certeza do céu, provarão na eternidade, para surpresa deles, algo diferente. 

24/06/21

Forte para prosseguir

      “Qual é o homem que teme ao Senhor? Ele o ensinará no caminho que deve escolher. A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra. O segredo do Senhor é com aqueles que o temem; e ele lhes mostrará a sua aliança. Os meus olhos estão continuamente no Senhor, pois ele tirará os meus pés da rede.Salmos 25.12-15

      Viver no plano material é essencialmente uma interação com o tempo, somos seres relativos, não absoluto e atemporal como Deus é, portanto somos seres em perpétua mutação. A noção do tempo, contudo, não afeta só nossos corpos e os eventos nos quais temos que agir e com os quais temos que reagir, é mais que algo físico, temos em nossas mentes verdadeiras máquinas do tempo. Contudo, o tempo que se passa em nossas cabeças não casa necessariamente com a linha de tempo do mundo material, e esse assincronismo é causa de sérios problemas humanos. Já refletimos aqui sobre a existência ser mental (leia por exemplo “A existência é mental”), mas dessa vez quero focar na dificuldade que temos de largar o passado e prosseguir.
      Precisamos ser fortes para seguir em frente do jeito certo, apesar do que fizemos de errado e do que os outros fizeram de errado conosco, fazer isso é um dos principais segredos de felicidade. Não é fácil esquecer o mal, lembranças sujas e violentas grudam na gente, pecados que cometemos e que hoje tanta vergonha nos causam, mas existem também aquelas palavras, que alguém lançou contra nós como facas, que se transformaram em mais que injúrias de homens, mas em setas espirituais de espíritos malignos. Mas não pense que lembranças ruins ficam em nós porque tiveram causas fortes, o problema não é a força do mal dos outros, mas a força do bem que não retemos em nós, não é mérito do acusador, mas desmérito de quem se torna acusável. 
      Passado é rede que prende nossos pés e nos amarra, passado ruim encarcera na incredulidade, o bom iludi pela desesperança que algo melhor possa vir a ocorrer, ambos podem impossibilitar-nos de nos aventurarmos pela fé em Deus para que descubramos que no desconhecido pode haver algo mais excelente. O que liberta do passado? O segredo do Senhor, os que o recebem acharão forças para darem ao tempo seu devido valor, sabendo que maior é Deus, Senhor do tempo. Mas cuidado, não tente sozinho, ainda que numa disposição santa, libertar-se do passado, não tente simplesmente se convencer de forma racional que ele não é importante, não tente despreza-lo, fazer de conta que ele não existiu, ele pode ser bem vivo dentro de nós.
      O passado ruim pode seguir existindo bem forte em nossas mentes, se não buscarmos em Deus algo maior que retenha em nós a luz e a paz, só um crescimento espiritual constante, ainda que muitas vezes lento, pode segurar o bem. Deus se revela gradativamente aos homens, e tudo o que podemos saber e ser só conheceremos após nosso último instante neste mundo. É preciso ser forte para prosseguir, a vida pode parecer rápida, mas é longa, muitas vezes não temos ideia do quanto ela pode mudar, o mundo dá voltas e as posições podem se inverter, só Deus é sempre fiel e bom. O que teme ao Senhor, contudo, pousará no bem e a sua semente herdará a terra, isso significa tempo de descanso justo na velhice enquanto se vê filhos honrados em Deus. 

23/06/21

Forte para pedir perdão

      “Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta.Mateus 5.23-24

      Se nos achamos esforçados, trabalhadores, seja no mundo, nas causas sociais ou nas igrejas, mas não temos coragem de admitir um erro e pedir perdão a alguém, desculpem-me, mas não somos fortes, mas as mais fracas e covardes das criaturas. Não pense que devemos pedir perdão só quando cometemos um erro claro, que nos envergonhou diante dos outros, que pode colocar em risco alguma posição social importante para nós, muitas vezes só por política e conveniência para que continuemos aprovados por gente que consideramos importante e poderosa. 
      Um pedido de desculpas pode ser necessário só para não deixarmos uma indisposição entre nós e alguém, indisposição que pode ter sido criada nem por um erro claro nosso, mas muitas vezes só por um assunto que não foi bem entendido. Mas talvez esse seja o tipo de perdão mais importante, que é feito por amor, só em nome da paz, ele demonstra humildade, assumimos a consciência de que não somos melhores que ninguém e que não podemos fechar portas para ninguém. Contudo, se nosso orgulho for maior que essa necessidade de paz, quão fracos somos. 
      Muitos pedidos de perdão devemos fazer por obrigação, afinal de contas estamos errados, temos consciência disso, assim tenhamos a mínima sensatez de verbalizar isso, mas outros podemos fazer por escolha de amor. Não somos nós que estamos magoados com alguém, temos consciência de que não fizemos nada de errado, mas ainda assim sabemos que alguém está magoado conosco. Como sempre, ore antes e tenha sabedoria, ser humilde não é ser tolo, nem jogar pérolas aos porcos, mas se o Senhor orientar peça desculpas, ainda que não esteja errado.
      Já vi homens e mulheres capazes de qualquer sacrifício para terem uma vida digna e mesmo para servirem em igrejas, gente madura como ser humano, mesmo líderes, contudo, com uma dificuldade enorme para pedir perdão, parece que chegaram num ponto onde não cometem mais erros, ou pelo menos não os admitem mais para si mesmos. Construíram dentro de si mecanismos que sempre acham justificativas para seus tropeços, de modo que errados estejam sempre os outros, assim essas pessoas não se sentem mais na obrigação de pedirem perdão.
      Os que não pedem mais perdão, sem serem pessoas que vivem assumidamente longe de Deus e buscando só agradar apetites do corpo, se acham cristãos e de qualidade, dizem, “só me humilho diante de Deus, de mais ninguém”. Vivem um evangelho estranho, num individualismo equivocado, pensam que basta fé em Deus, não entendem que estamos no mundo para praticarmos espiritualidade no meio de semelhantes, só assim crescemos. Insulamento forçado não é a vontade de Deus para nós, ele pode nos enlouquecer pois impede-nos de conhecermos referências externas. 
      Por mais difícil que possa parecer, não tenha medo, peça perdão, e na humildade, sem inventar justificativas, verbalize e se cale, depois siga a vida desejando sinceramente o bem do outro. Deus se agrada especialmente dos que sabem pedir perdão, dos que lutam pela paz. Se ainda assim o outro não aceitar o perdão, se cale do mesmo jeito, entregue o assunto nas mãos de Deus e tente não pensar mais nele, não permita que um problema não resolvido do outro, ache em você um sócio. Quem nega perdão, a Deus nega, e passa a ser proprietário exclusivo do problema. 

22/06/21

Forte para não lutar

      “Nesta batalha não tereis que pelejar; postai-vos, ficai parados, e vede a salvação do Senhor para convosco, ó Judá e Jerusalém. Não temais, nem vos assusteis; amanhã saí-lhes ao encontro, porque o Senhor será convosco.II Crônicas 20.17

      Estejamos fortes o suficiente para não lutarmos, para podermos resistir à oposição do agressor injusto com serenidade. Por isso tinha Jesus uma vida de constante oração, não para estar forte numa batalha e vencer, mas para resistir a ela, calado e humilde. Ah, como somos seres enganados, queremos ser fortes para prevalecer, queremos estar no melhor de nossas formas, em todas as áreas, para sermos soldados superiores no ataque. Não entendemos que só estarmos de pé, no lugar e no momento certo, basta, não para lutarmos, mas para permitirmos que Deus lute por nós. 
      Nessa força não precisamos fazer nada? Precisamos, sim, lutar contra nossos principais inimigos, nós mesmos, resistindo ao egoísmo, à insegurança, à vingança e à autocomiseração, que podem nos fazer reagir do jeito errado, seja com agressividade ou com covardia. Quem acha que não é preciso ser forte para não fazer nada, engana-se, é, principalmente para não fazer nada do jeito certo. Para isso é preciso força adquirida num caminhar próximo a Deus, isso nos permite permanecer inabaláveis ainda que tenhamos que parecer, pelo menos a princípio, passivos diante de homens.
      Enfrentamos uma grande tentação quando estamos fortes, a de querermos exibir essa potência para os outros, principalmente quando é uma capacidade adquirida com esforço pessoal, por isso o evangelho diz que é mais difícil para o rico entrar no reino de Deus e mais fácil para o pobre. Entendamos o termo rico não só como o que tem mais bens materiais, mas também como aquele com capacidade intelectual, emocional e mesmo espiritual superior, esse será tentado pela vaidade para se impor diante do mais fraco e consequentemente exibir a si mesmo, não a Deus. 
      Mas quem é mais vencedor, o que vence os outros com suas forças e capacidades ou o que vence a si mesmo, principalmente a dor de ser mais fraco, mais limitado e mais pecador, não ainda em pecado, mas perdoado? O perdoado entendeu que se tem uma vida de paz e honra no presente é porque teve seu passado perdoado, principalmente por Deus e por ele mesmo, assim tem a obrigação moral de exaltar a potência do Senhor, não a sua. Cruel, contudo, é o que humilha um perdoado em Cristo, cruel e perigoso, esse não luta contra o pecador, mas contra aquele que o perdoou.
      Por isso bem-aventurado é aquele que teve seus pecados perdoados, isso significa que ele assumiu seus erros e confiou em Deus para começar uma vida diferente, esse tem em sua essência a consciência de que o homem nada é e de que Deus é tudo. Esse não humilhará ninguém, não entrará em batalhas para se exaltar, não dependerá da aprovação e da honra do homem no mundo por suas vitórias e capacidades. Esse descobriu o segredo da espiritualidade eterna, estar em Deus para seguir para Deus e a Deus exaltar, esse é forte o suficiente para não lutar e deixar Deus brilhar. 

21/06/21

Perto está o Senhor

      “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras. Perto está o Senhor de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade. Ele cumprirá o desejo dos que o temem; ouvirá o seu clamor, e os salvará.Salmos 145.17-19

      Algumas vezes dizemos, “parece que Deus está longe de mim, eu o procuro, mas não o encontro, por que isso”? Deus está sempre próximo daqueles que querem obedecer seu propósito, não porque ele seja prepotente e egoísta, mas porque ele é bom, sabe o que é melhor para nós e deseja que façamos isso para que sejamos felizes. Por isso, algumas vezes olhamos para um lado, não vemos Deus e nos desesperamos, mas não percebemos que ele está muito próximo, mas do lado oposto, não é Deus quem se afasta, somos nós que olhamos para o lugar errado. 
      Olhamos para o lugar errado porque de alguma maneira, por alguma razão, procuramos lá aquilo que achamos ser a coisa melhor a ser feita, isso por vários motivos. Podemos preferir fazer algo porque é mais fácil, porque será visto pelos homens, porque é algo que já fizemos e Deus aprovou, mas o Senhor pode estar querendo que façamos algo novo, que a princípio não será tão fácil de fazer e que muitas vezes não terá nenhuma aprovação ou ajuda humana. Novidade de vida em Deus é constante, e implica diretamente em encararmos o desconhecido para nós.
      Mas não se assuste, isso não é necessariamente algo complicado, muitas vezes aquilo que não estamos querendo aceitar é algo óbvio, que Deus já estava nos preparando para que nós fizéssemos há algum tempo, pode ser só algo que nossa humanidade não enxerga, ainda que esteja na nossa cara. Isso pode parecer difícil no momento que está acontecendo, mas depois acharemos até engraçado, como não vimos algo tão claro? Isso é só para nos lembrarmos quanto é importante termos uma visão espiritual e pela fé da existência, não só material e racional. 
      Aquele que anda constantemente com temor a Deus, em humildade, aberto para a manifestação espiritual de uma vontade do Senhor ampla e irrestrita, não terá dificuldades para fazer seu trabalho, seja aquele pela sobrevivência diária material, seja o espiritual para se ajudar e aos outros no amor de Deus, como diz o texto inicial, Deus “cumprirá o desejo dos que o temem”. Meus queridos, Deus está sempre muito perto de nós, sempre, se não o vemos é porque estamos olhando para longe, para os mundos, físico e espiritual, e não para dentro de nós.

20/06/21

Faça porque é o certo a fazer

      “Quanto a mim, Daniel, o meu espírito foi abatido dentro do corpo, e as visões da minha cabeça me perturbaram. Cheguei-me a um dos que estavam perto, e pedi-lhe a verdade acerca de tudo isto. E ele me disse, e fez-me saber a interpretação das coisas.Daniel 7.15-16

      Nossa jornada com Deus é simples e sempre será, não precisamos de provas, os que pedem uma prova sempre pedirão uma outra, precisamos de uma oportunidade para entregarmos nossas vidas e as de nossos próximos nas mãos de Deus e seguirmos em paz. Caminhe com o Deus que te trouxe até onde você está, com uma fé sincera e um coração limpo, lave-se no seu perdão e procure, com toda a alma, manter-se santo. Deus se agrada dos que se quebrantam diante dele e que amam sua santidade, Deus cuida dos que não fazem exigências e só querem ser acolhidos pelo seu amor.
      O homem é mal, o mundo, tenebroso, os tempos são estranhos, lá longe no horizonte uma tempestade cinza se forma, já ouvimos os trovões, nós ficamos mais velhos e mais frágeis a cada dia, a morte é certa para todos, ninguém se engane. Mas ao que persiste em buscar ao Senhor, a vida eterna o abraça, e nela há consolo e esperança, Deus é bom, em todo o tempo, resiste aos soberbos e sorri para os que reconhecem suas fraquezas e esperam nele. Fique em paz, Deus se agrada de ti e vê tua luta, sabe de teus limites e faz por você aquilo que você não pode fazer se você deixar. 
      Nada falta para os que buscam fazer o bem pelo simples motivo disso ser o que é certo fazer, por nenhuma outra razão e mesmo sem esperar recompensa ou honra, a esses basta a paz que cai suavemente como chuva fresca no solo de seus corações sedentos por justiça. Bom é nos aproximarmos de Deus, em todo o tempo, ter nas madrugadas, sozinhos no escuro de nossos lares, enquanto nossas famílias repousam, encontros com o pai de amor. O Senhor está sempre com os braços estendidos e abertos, prontos para nos receberem, o Senhor é sempre paciente e misericordioso. 
      Não dependa de estar em paz para buscar a Deus, mas busque a paz sempre, não se acostume com menos, e creia, o Senhor sempre pode nos dar a paz, mesmo em meio ao vendaval, mesmo debaixo de relâmpagos. O vale da sombra da morte muitas vezes não pode ser evitado, mas não é por isso que devemos ficar nele, vales da sombra da morte são para serem ultrapassados, deixados para trás enquanto rumamos ao monte onde o Altíssimo habita. No cume do monte entenderemos o porquê da angústia, e saberemos que a dor do vale é infinitamente menor que a alegria do monte.  

19/06/21

“Endemoniado” e “louco”

      “E, quando os seus ouviram isto, saíram para o prender; porque diziam: Está fora de si. E os escribas, que tinham descido de Jerusalém, diziam: Tem Belzebu, e pelo príncipe dos demônios expulsa os demônios.” “Chegaram, então, seus irmãos e sua mãe; e, estando fora, mandaram-no chamar.” Marcos 3.21-22, 31 (por favor, leia todo o capítulo três para melhor entendimento)

      É senso comum que o que confere legitimidade a alguém é o apoio da maioria, e se for da minoria terá que ser a considerada mais sábia ou poderosa, mas isso pode não ser verdade. Por outro lado, o bom senso diz que é adequado ouvir conselhos, buscar referências externas e não confiarmos só em nossos pontos de vistas, não somos Deus e podemos nos enganar redondamente sobre as coisas. Infelizmente, nos dias atuais, as pessoas acham que os outros são privilegiados por poderem desfrutar de suas opiniões, elas querem ser “cristos”, mas não aceitam o preço que Jesus pagou para sê-lo. 
      Jesus não tinha apoio de ninguém. A liderança religiosa de sua época o considerava endemoniado, “tem Belzebu”, sua família talvez achasse que ele tivesse perdido a sanidade, “está fora de si”, mas ele obedecia autoridade superior e tinha segurança, de forma a não se importar com o que os outros diziam. É triste como aqueles que muitas vezes mais deveriam entender e apoiar nossa experiência com Deus, serem justamente os que mais nos desaprovam, e mais que isso, entendem de maneira oposta nossas vidas, tomando por mal, o bem, por insano, o lúcido, por inútil, o fiel. 
      Tenhamos, contudo, calma na generalização desse ensino, devemos, sim, ouvir a opinião dos outros, principalmente de cristãos, de pais e de irmãos, esses, mais provavelmente, podem ser os que mais nos amam e mais querem nos ajudar, enxergando, talvez, coisas que nem nós estamos conseguindo ver em nossas vidas. Principalmente quando se refere a problemas mentais, referências externas ao doente são de suma importância, já que enfermos psicológicos perdem referências, assim como oprimidos espiritualmente não podem entender com clareza, visto estarem cegos por um mal exterior. 
      Depois de nos lembrarmos desse porém de sensatez, saibamos, então, que se estivermos bem de saúde e sem influência de espírito ruim, estando nós em nosso perfeito juízo, e se isso for de fato a vontade específica de Deus para nossas vidas, podemos ser levados, não por nós, mas pela nossa vocação, a receber séria oposição, mesmo de cristãos e de família. Numa situação assim, onde sabemos pelos frutos que estamos obedecendo a Deus, e quem está em Deus sempre tem paz e produz bons frutos, precisamos não temer os homens assim como não tentar convencê-los sobre quem somos. 
      Cristo não tinha apoio da minoria, talvez mais importante para ele, mas ele tinha apoio da maioria? Durante um tempo pareceu ter, mas no final, não, se tivesse o povo teria feito algo para impedir sua morte, “e, respondendo todo o povo, disse: O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos” (Mateus 27.25). Cuidado, os que confiam em apoios populares, a história já mostrou que eles existem por motivos fúteis e egoístas, dê pão e circo e o povo dará apoio, mas basta que o pão e o circo acabem, ou que outro dê um pão e um circo mais conveniente, e o apoio da maioria cessará. 
      Esta reflexão nos remete a outro tema, comum nos dias atuais, a polarização política. Muitas pessoas nos demonizam quando não concordam conosco, não aceitando que possa haver um ponto de vista diferente e talvez igualmente legítimo. Quando não podem destruir nossos argumentos tentam nos destruir. Que Jesus tivesse uma ótica religiosa diferente da religião oficial e um estilo de vida diferente daquele de sua família, tudo bem, mas que por isso ele estivesse a mando do diabo ou fosse louco são extremismos, usados por quem não tinha argumentos contra pontos de vista diferentes do seu.

18/06/21

Semelhantes se atraem

      “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem” João 10.27

      Semelhantes se atraem e diferentes se repelem. Mas ocorre algo interessante com muitas pessoas que têm em comum conosco os defeitos, elas nos criticam, não aceitam nos outros o que não aceitam nelas mesmas. Se tais pessoas fossem melhores, seriam diferentes, assim não nos condenariam, não promoveriam nossas fraquezas. Por que elas nos criticam, se tem os mesmos defeitos que nós? Porque jogando holofotes em nossos tropeços deixam na escuridão os delas, exibindo-nos, se escondem, colocando-nos como errados, se postam como corretas. Atraímos não só bons semelhantes, mas também os maus. 
      Entendamos uma coisa, aquela pessoa que mais nos incomoda é justamente aquela que é mais parecida conosco, pelo menos em nossas fraquezas e defeitos, assim, quando criticamos de maneira destrutiva alguém, é sobre nós mesmos que estamos falando. Projetamos nos outros os nossos erros, quando não queremos consertar esses erros, contudo, o inverso também ocorre quando nos assumimos e nos acertamos. Nesse caso, aprendemos que errar causa sofrimento, a nós e a outros, e assim queremos mudar e desejamos que as pessoas entendam essa nossa nova consciência, clamamos profundamente por misericórdia. 
      Crítica destrutiva está diretamente ligada à pessoa não resolvida, já quem se resolve prova misericórdia e assim quer ser misericordioso com os outros. Resolvidos procuramos semelhanças boas nos outros, seremos atraídos pelo bem, não pelo mal, para construir algo junto, não para destruir, buscamos por pontes, não por muros, desejamos fazer alianças que fortaleçam todos, elogiando, incentivando, amando, e esse bom plantio sempre colhe consideração igual de benignidade. Quem te atrai? Quem ocupa mais espaço mental em tua vida? Sente-se satisfeito em achar o lado bom do outro ou prazer tóxico no seu pior lado? 
      Todos temos qualidades e defeitos, coisas resolvidas e outras nem tanto, mas nossa atração maior revela nossa intenção mais profunda, se boa para o bem, se má, para o mal. Semelhantes se atraem, mas todos somos parecidos com todos em alguma instância. O caminho melhor é buscar a luz, achar prazer na luz e contribuir para que o próximo também esteja na luz. Isso não é um caminho fácil, nossa maior batalha é contra nossas trevas interiores, de maneira que os “demônios” não achem em nós frequências simpáticas com suas baixas vibrações, antes, sejamos limpas moradas para o Santo Espírito do Altíssimo.
      Quem anda com Jesus, com Jesus quer se parecer, quem tem vida profunda de oração, que dialoga com o Senhor pelo Espírito, apreende a maneira de Deus agir e reagir, a suavidade grave de sua fala, o fogo santo de seu olhar, a calma revigorante de seus pensamentos, o amor que o move sempre para nos acolher, ainda que sejamos crianças mimadas e teimosas, infiéis e desanimadas, que perdem a fé diante de qualquer ventinho de engano. Não adianta falar de Deus, escrever sobre Deus, estudar a respeito de Deus, tem que se ter intimidade com o Senhor, respondendo sim à sua atração para sermos semelhantes a ele.