terça-feira, junho 29, 2021

Homens: acusadores e acusáveis

      “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais. E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela viração do dia; e esconderam-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim.” 
Gênesis 3.7-8

      “E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; e porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda.” 
Mateus 25.31-33

      Para entenderem melhor esta reflexão é importante que muitos evangélicos assumam aquilo que na prática creem quando interpretam Deus como juiz, e isso tem muito a ver com a figura descrita na passagem acima de Mateus e outras. Eu disse “assumam” porque muitos cristãos dizem que creem em certas coisas, mas não param para avaliar os detalhes dessas coisas, não casam essas coisas com outros ensinos bíblicos, e assim não percebem os contrassensos e impossibilidades existentes. A Igreja Católica, da qual o protestantismo na verdade nunca saiu, é culpada por aprisionar homens em interpretações infantis das verdades reveladas aos judeus e aos cristãos, e faz isso para controlar homens e ter poder no mundo. 
     Como o Deus, que os próprios cristãos creem como sendo onipresente, onisciente, onipotente e eterno, portanto, qualidades de um ser espiritual e não material, pode também ser um ancião de vestidos brancos, com longos cabelos e barbas brancos, sentado num trono para julgar a humanidade? Isso é uma metáfora, assim, ou cremos que toda a Bíblia deve ser interpretada ao pé da letra ou que é toda registrada em figuras. O que ocorre é que é mais fácil confiar nas tradições, afinal de contas elas abrigam contra conhecimentos que não se quer ter (por não se estar preparado para ter), assim seguem muitos cristãos crendo em histórias da carochinha, alimentando ainda mais a incredulidade dos que não querem seguir em direção a Deus. 
      Deus não acusa, não julga e não condena ninguém, os acusadores, os juízes e os condenadores são os homens no mundo e os seres espirituais do mal no plano espiritual. Diante dessas afirmações muitos podem usar textos bíblicos para contra-argumentar, como o citado acima de Mateus, contudo, lembro que a Bíblia precisa ser revista em muitos textos, que ainda que contenham na essência verdades divinas eternas foram escritos por homens e para homens de no mínimo dois mil anos atrás. Isso é o que dizemos aqui quando nos referimos à igualdade entre homem e mulher no casamento, à condição do homoafetivo não ser pecador só por ser homoafetivo, e sobre a não criação da Terra e do homem em seis dias de vinte e quatro horas.
      Nisso não negamos a tradição judaica-cristã, só incentivamos a reavaliação do que essa tradição construiu e se ainda é válida para o homem atual, Deus não muda, o homem, sim, e a ciência é o principal agente de mudança mental. Calma, aquele que crê nas doutrinas tradicionais do cristianismo, sob sua ótica, na prática, nada muda, continua existindo na eternidade a divisão de todos os seres humanos em dois grupos, quando são determinadas penas, seja para um céu, seja para um inferno. Não estou negando uma das bases da teologia cristã, não é o ponto de vista desta reflexão, mas estou sendo coerente com as virtudes de Deus que a própria Bíblia ensina, confrontando pena eterna de um juiz divino com amor divino eterno.
      Quando o homem está errado, em pecado, sente-se culpado, isso ficou claro desde o pecado original descrito em Gênesis, dessa forma sua consciência e os homens maus o acusam, além dos espíritos maus no plano espiritual, que normalmente a todos acusam, mas que acham no acusável legitimidade para suas acusações. Culpado o homem se afasta de Deus, o impuro não consegue permanecer na presença do santíssimo, pelo menos se tiver a mínima lucidez, e se não tiver se aproximará, não de Deus, mas de falsos deuses, para saciar sua fome do espiritual ainda que não queira pagar o preço para se aproximar de Deus. O preço é o arrependimento, senão continuará acusável, julgável e condenável pela própria consciência. 

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