domingo, março 03, 2019

A existência é mental

      “Não julgueis, para que não sejais julgados.” 
Mateus 7.1

      “Portanto, nada julgueis antes de tempo, até que o Senhor venha, o qual também trará à luz as coisas ocultas das trevas, e manifestará os desígnios dos corações; e então cada um receberá de Deus o louvor.” 
I Coríntios 4.5

      “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido. Porque, quem conheceu a mente do Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo.
I Coríntios 2.14-16

      Não existe realidade de fato, a maior parte daquilo com que interagimos na vida, das coisas que entendemos, sentimos e com que reagimos, se passa em nossas cabeças, assim nunca é real de fato, não inteiramente, não para o “homem natural”. Agora imagine a quantidade de variedades de irrealidades que existe quando mundos subjetivos interagem com mundos subjetivos, que ocorre quando simples e comuns seres humanos tentam viver em sociedade. Nós não temos problemas com as pessoas, mas com aquilo que as pessoas são em nossas cabeças, dessa forma convivemos com a mentira muito mais que achamos. Todo o nosso mundo é baseado em mentiras, que muitas vezes nem temos consciência que é falso, que não é real, que é apenas aquilo que inventamos, por um motivo ou por, sobre nós e sobre os outros dentro de nós. Assim, tenhamos a mínima clareza de saber que muitas pessoas não são tão más quanto pensamos, não nos odeiam tanto quanto sentimos, e principalmente, não são tão diferentes de nós como tentamos nos convencer que são, ao contrário, os que mais nos incomodam são sempre aqueles que mais se assemelham a nós, que mais coisas em comum têm conosco. 
      Nos incomodam justamente por tentarem ser a mesma coisa que nos tentamos ser, por desejarem a mesma atenção e valorização que nós queremos, por que então nos incomodam? Talvez por serem nossos concorrentes, ou por acharmos que eles acham que têm mais direitos que nós, sendo que são iguais a nós. O ponto, todavia, é: a vida é mental, a “realidade” é a mental! Se não fosse assim seríamos só animais irracionais, é assim e sempre será, mas repito, precisamos ter cuidado com nossas interpretações, elas são sempre irreais (ou surreais). Dessa forma, se temos dificuldades para lidar com alguém, não é necessariamente com a pessoa “real”, física, mas com aquela ideação que fazemos dela em nossos pensamentos e sentimentos, eu eu disse ideação não idealização, já que nesse caso não criamos um ser mental igual ou melhor, mas pior, e é agora que chego aos textos postados inicialmente.
      Confesso que durante muito tempo não entendi a promessa que advém de não julgarmos os outros, “não julgueis, para que não sejais julgados”, que se assim agirmos em resposta não seremos julgados pelos mesmos. Sim, sempre aceitei a sabedoria de não condenar os outros, e disse condenar porque julgar mal é condenar, sem conhecer a pessoa de fato, esse mal julgamento, essa condenação é mais uma adivinhação diabólica, uma concepção preconceituosa e incrédula que interpreta o outro como algo sempre pior do que é (ou poderia ser). Mas a princípio eu achava que deveria haver algum mistério que nos fazia réu de julgamento alheio ruim, caso agíssemos da mesma forma, mas isso não é verdade, podemos julgar mal sem recebermos do outro a mesma injustiça. Então o Espírito Santo me ensinou: quando vivemos com uma disposição obsessiva de condenar os outros, de depreciar as pessoas mesmo antes de conhecê-las de fato, mantemos em nós mesmos uma alma doente que se sentirá igualmente julgada, assim, quando julgamos os outros nós nos enfraquecemos e também nos sentimos julgados, condenados, culpados. Mas o que é causa e o que é efeito?
      Quando entendemos que a batalha se passa em nossas mentes e não no mundo físico, sabemos que nossa luta pode não ser contra as pessoas, mas contra as concepções que fazemos das pessoas em nossas cabeças, assim a luta maior é contra nós mesmos, não contra os outros. Esse entendimento traz consolo porque nos mostra um inimigo menor, que é uma ideia pessoal, subjetiva, não um ser objetivo, com corpo, alma e espírito. Por outro lado, pessoas podem ser anuladas mais facilmente, ideias são mais difíceis, assim mesmo que nos afastemos de quem nos incomoda, a ideia que temos sobre a pessoa levamos conosco, para todos os lugares e tempos. Contudo, o mal original não vem dos outros, não necessariamente, mas de nós mesmos, nós somos nossos principais inimigos e nossa atitude errada com os outros é só reflexo da atitude errada que temos com nós mesmos. O mal julgamento que fazemos de nós mesmos é a causa do julgamento errado que fazemos dos outros. Assim se nos compreendemos melhor e nos respeitarmos mais, isso mudará a maneira como nos relacionamos com os outros, só um bem mental pode anular um mal mental. Se nos curarmos, curaremos a maneira doentia de nossos relacionamentos com os outros. 
      O texto de Paulo em I Coríntios 4.5 traz mais luz aos registros do evangelho com relação a julgar os outros, acrescenta “nada julgueis antes do tempo”, entendemos que podemos, sim, ter opiniões sobre as pessoas, depois de conhecê-las, mas mesmo assim não devemos condenar ninguém a ser alguém errado, a fazer coisas erradas, só porque tal pessoa foi e fez errado em determinado momento de sua vida. As pessoas mudam, podem mudar, e os cristãos devem mudar, para melhor, dessa forma só no final saberemos de fato quem é quem. A tal subjetividade que refleti no início, é humana e pessoal, contudo, o cristão deve aprender a deixar que a subjetividade de Deus tenha prioridade em seu homem interior, essa subjetividade tem os novos nascidos em Cristo através do Espírito Santo, que é a mente de Deus. Essa conclusão está em I Coríntios 2.16, “mas nós temos a mente de Cristo”, isso nos torna espirituais e capacitados a olharmos e interpretarmos a nós mesmos e aos outros de maneira mais justa, misericordiosa, generosa, sem mal julgamento, antes esperando sempre o melhor dos outros. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário