03/11/20

34. Espiritualidade e crítica

Espiritualidade Cristã (parte 34/64)

      Crítica, lidar com ela do jeito correto, seja recebendo-a ou fazendo-a, requer muita espiritualidade, e muitos tentam ser perfeitos, na área profissional e moral, justamente para não receberem críticas, por orgulho, não por amarem ao Deus que tudo vê e mede, e quem age assim também se acha no direito de criticar, de se colocar como um deus julgador. Mas o espiritual, ainda que procure agir corretamente, não se importa com crítica, isso é fácil de dizer, mas muito difícil de fazer, justamente porque nos importamos, assumindo ou não, demais com as opiniões dos homens. Interessante que podemos não dar a mesma importância àquilo que Deus pensa de nós, porque Deus não manifesta sua crítica publicamente, assim não nos envergonha, mas quem definirá nossa eternidade, os homens ou Deus? No texto que segue uma reflexão sobre “dislike”, aquele polegarzinho para baixo que podemos dar em postagens na internet, creio que pensar sobre isso tem uma grande relevância para quem quer ser espiritual no mundo atual. 

      “O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força. Com conselhos prudentes tu farás a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros.” Provérbios 24.5-6

     Quem posta vídeos no Youtube sabe que existe uma opção nas configurações onde pode-se desabilitar o “like” e o “dislike”, não permitir que publicamente seja visto o número de pessoas que curtiram ou não um vídeo. Eu não faço uso dessa opção em meu canal, assim todos podem manifestar se gostaram ou não, assim como podem ver se um vídeo, com uma performance musical, foi apreciado ou não. Nos últimos anos tenho promovido aplicativos musicais para iPad, softwares que fazem do dispositivo um instrumento musical, é um conceito com alguns anos, mas que se tornará a música do futuro, assim a grande maioria dos meus vídeos é demonstração de recursos desses produtos, não do músico que os demonstra. 
      Não que eu goste de receber “dislikes”, não gosto mesmo, ainda que eu tenha consciência de minhas limitações, principalmente quando faço o máximo para postar um trabalho bem feito, vídeos de três minutos que podem demorar horas para serem produzidos, desde o arranjo, a execução e gravação até a edição final e upload. Músico quer tocar o coração das pessoas de um jeito bom, não quer prejudicar ninguém, ainda que saiba que gosto artístico muda de pessoa para pessoa. Eu não dou “dislike” em vídeos no Youtube, se gosto dou “like” e se não gosto não faço nada, em se tratando de performance musical representa o trabalho de alguém, e trabalho, ainda que pessoalmente não me agrade, deve ser respeitado. 
      Algumas pessoas, contudo, fazem o contrário do que faço, se gostam, não se manifestam, e se não gostam são rápidas para clicar no polegarzinho para baixo, a verdade é que a grande maioria simplesmente não se manifesta, muitos são tímidos para aplaudir, ainda que carentes de aplausos. As pessoas precisam saber que músicos de verdade gostam de fazer música e ficam muito felizes com o aplauso, isso não é idolatrar o homem, ou fazer média, é dar honra a quem honra merece. Se parabenizamos um engenheiro, um médio, um vendedor ou um florista pelos trabalhos que realizam, aplaudamos os músicos, no Youtube isso é feito com “likes”, não custa nada e abençoa um trabalho honesto. 
      O início desta reflexão foi uma introdução com uma metáfora para algo mais profundo, ainda que seja um tema atual e relevante, ocorre é que muitas pessoas desabilitam o “dislike” de suas vidas e seguem, não querendo saber a verdade sobre elas mesmas e tentando se convencer que estão fazendo tudo certo. Como existem pessoas que simplesmente se fingem de mortas, não assumem responsabilidades e ainda exigem direitos, e isso ainda que sejam trabalhares esforçados e competentes. O elogio é importante, pais elogiem seus filhos, pastores elogiem suas ovelhas, ovelhas elogiem seus pastores, filhos elogiem seus pais, mas a crítica construtiva pode ser mais importante, e eu disse construtiva, o que é crítica construtiva? 
      É uma avaliação honesta feita com amor e manifestada com amor, e sendo assim usará as palavras melhores para dizer no tempo e no lugar certo algo que pode beneficiar alguém, crítica construtiva não é pecado. Nós, contudo, eu e você, estamos tão acostumados a achar que nossas críticas são válidas, mesmo não sendo construtivas porque não estão nos parâmetros que falei antes, feitas com amor e do jeito certo, que passamos a criticar tudo e todos assim como a denominar a crítica dos outros de não construtiva, isso para que tenhamos a última palavra numa discussão, visando nosso egocentrismo e não o benefício do outro. A verdade é que dificilmente conseguimos tecer uma crítica construtiva ou ouvir crítica dos outros. 
      Por isso, com medo de recebermos o que damos, desabilitamos o “dislike”, sempre julgamos os outros por nós, principalmente o lado ruim. É preciso muita humildade para ouvir uma crítica, seja construtiva ou não, é preciso muita maturidade para habilitar o “dislike” e tomar conhecimento do quanto nós não somos o que gostaríamos de ser e que tentamos mostrar que somos, pelo menos na aparência. Contudo, só ficaremos mais fortes quando nos confrontarmos com a realidade, é só depois disso que poderemos fazer escolhas. Algumas escolhas nos farão mudar para melhor, outras nos ajudarão a conviver com o que não podemos mudar, com isso crescemos, com a verdade, nunca com a mentira.
      Conseguimos receber críticas quando vemos os outros como amigos e não como inimigos, quando entendemos que não somos melhores que ninguém e que todos, de algum jeito, têm coisas a nos ensinar, para que isso ocorra temos que nos abrir. Quem se fecha quer se proteger, se protege quem está em guerra, na guerra vemos inimigos e de inimigos não esperamos ajuda, mas ataque, não crítica construtiva, mas destrutiva. Inimigos nos levam a ser agressivos ou escondidos, isso aprisiona, não liberta, só amigos são conselheiros e conselheiros nos ajudam a sermos melhores, abertos e livres. Dessa forma, se tivermos que lutar, será para termos vitória sobre inimigos reais, não sobre psicoses de mentes fechadas. 

      “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,” Deuteronômio 30.19

      Já citei mais de uma vez aqui no “Como o ar que respiro” a passagem de Marcos 9.47, “e, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora, melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno”, ela nos diz que em algumas situações é preciso desabilitar, sim, o “dislike”, e quanto cito essa passagem me refiro principalmente às nossas interações em redes sociais na internet. Se elas estão fazendo mais mal que bem, se ouvir opinião alheia nos leva a dar a nossa e isso não for contribuir para a paz, mas só para polêmicas, é preferível nem darmos e nem ouvirmos opinião, principalmente nos dias atuais onde política virou um campo de batalhas sangrentas.
      É preciso sabedoria, equilíbrio, o melhor nunca está num extremo, Deus não está num extremo, ainda que muitos achem que está. Se fosse assim ele é o “diabo” teriam poderes iguais só que em lados diferentes, essa guerra com forças iguais para agir só existe na cabeça dos homens por causa do livre arbítrio, como tantas vezes já pensamos aqui. Nos universos, contudo, físico e espiritual, Deus domina sozinho sobre tudo, e o diabo é só parte dos seres espirituais rebeldes, criaturas de Deus, não deuses, e que só agem com autorização de Deus. Mas voltando ao “dislike”, o próprio Deus tem o seu habilitado, desde o início quando colocou a árvore do conhecimento do bem e mal no Éden.  
      Se Deus fosse prepotente, um juiz que manda para o inferno quem não lhe presta culto, ele não daria livre arbítrio ao homem, o homem só viverá um inferno na eternidade se desobedecer as regras do universo, que, sim, foi criado por Deus, mas são regras que estabelecem a diferença entre vida e morte, luz e trevas, construção e destruição, evolução e estagnação. Essa regra está dentro do homem, não fora dele, é parte intrínseca de seu espírito, sua identidade eterna, quando o homem constrói um inferno desobedece a si mesmo, e por isso se afasta da luz mais alta onde o melhor de Deus está. Não é Deus quem se afasta, mas o homem e isso é Deus permitindo que seja dado um “dislike” para o céu. 
      Alguns podem dizer, “mas não é isso que é pregado nas igrejas evangélicas”, sim, eu concordo, nem é isso que a igreja católica pregou por séculos, mas isso está na Bíblia, e poderão entender assim os que a lerem com olhos do Espírito Santo. Deus não exige nada de ninguém e permite que qualquer um não goste dele, se o primeiro homem e a primeira mulher não gostaram, por que podemos achar que Deus em algum momento esteve interessado em  receber só “likes”? Você nunca pensou como é interessante que o pecado original tenha sido comedido justamente pelo homem original, por que não houve algumas gerações na Terra, vivendo em harmonia com Deus, para só depois haver a queda?
      O homem é um projeto que nasceu para dar errado (e não por culpa do arquiteto), de cara deu “dislike” em seu criador e num modo de vida de absoluto conforto físico e pleno conhecimento espiritual, por quê? Porque achou que isso não era o suficiente, ele queria “ser igual a Deus”. Hoje podemos achar isso uma completa estupidez, mas nós também cometemos estupidez semelhante, o tempo todo, pecamos porque achamos que o que vamos ganhar é melhor que o que temos, ainda que isso nos tire da comunhão com Deus. Achamos o fruto da árvore do conhecimento do bem e mal mais aprazível que o Espírito Santo dia a dia, um fruto muitas vezes oferecido pela serpente dentro de igrejas.
      As imperfeições só são vistas na luz, no escuro tudo é igual e nada tem defeito, assim habilitar nosso “dislike” é acima de tudo nos apresentarmos a Deus sem ressalvas, sem máscaras e por inteiros. Quando fazemos isso de verdade dói, e muito, sentimos vergonha, culpa, mas a luz de Deus não só mostra o erro como também o corrige, só Deus pode fazer uma crítica plenamente construtiva de nossas vidas, porque ele não age com amor, é bem mais que isso, ele é o próprio amor, a luz e a cura. Quando a luz de Deus nos ilumina a vida muda de sentido, críticas e mágoas perdem o valor, o passado não tem mais peso, nem o futuro causa medo, mas tudo se torna um presente eterno de Deus. 
      Quando estabeleceu uma aliança, Deus deu à nação de Israel uma escolha (Deuteronômio 30.19), que também podemos entender, como cristãos, como dada a nós, o Senhor deixa-nos livres para escolher, para dar “like” ou “dislike” em sua vontade. Se a vivermos, teremos a vida, senão a morte, é muito importante que entendamos isso, que o que nos acontece não é por culpa ou por responsabilidade de outros, mas nossa, somos nós que escolhemos quem queremos ser, e todos nós, de algum jeito, sempre temos escolha. Que sejamos sábios, lúcidos, humildes, para reconhecermos a luz, o bem, a justiça e o amor, e nos agradarmos disso, honrarmos a Deus por isso, darmos “like” no plano dele para nossas vidas. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

02/11/20

33. Espiritualidade e vitimismo

Espiritualidade Cristã (parte 33/64)

      “Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca.Isaías 53.5-7

      Vivemos um momento quando a humanidade desperta para enxergar como existem vítimas no mundo, gente que sofre por preconceito, como inocente ou incapaz, ou sem qualquer outra condição de reagir à altura a agressores, das mais variadas espécies. Vivemos um momento em que o mundo desperta para uma justiça que dá a todos os mesmos direitos. Vamos refletir sobre vítimas e pensarmos sobre a relação disso com espiritualidade. Vitimismo é tendência a se vitimizar, a se fazer de vítima, vítima pode ter vários significados, pode ser um ser sacrificado em algum rito, um ser ferido ou assassinado por outro, um ser afetado por acidente ou outro dano, ou ainda, um ser sujeito à violência, opressão, maus-tratos etc. O papel de vítima coloca um ser numa isenção de responsabilidade por um mal feito, já que algo ruim foi feito a ele sem sua autorização, mas põe outro ser na posição de agressor, com toda a responsabilidade pelo mal. 
      Ser vítima inverte a justiça de causa e efeito, que normalmente é interpretada como boa colheita de bom plantio, já que alguém adquire direitos não por ter feito algo bom, mas por ter sofrido algo ruim. É certo que ninguém, com sanidade normal, quer adquirir direitos desse jeito, já que o trauma pode ser tão grande que por vergonha vítimas podem mesmo desejar esconder o mal que receberam. Por isso, são os outros que devem vigiar, para que vítimas não sejam feitas, vítimas em potencial devem ser protegidas, já que quem recebe um mal como vítima é justamente quem não estava pronto para se defender, sendo violentado por alguém que em determinado momento detinha uma posição que lhe dava poder para cometer o mal. Se é vítima sempre de alguém egoísta que quer usufruir um direito ou prazer à força e que portanto não lhe é justo possuir, agressão é roubo e todo ladrão deve ser punido.   
      Nenhum homem, contudo, merece o mal, disciplina e correção, sim, e isso se fizer por merecer, mas de uma maneira humana, e principalmente tendo oportunidade para adquirir consciência de porque está sendo penalizado, assim só pessoas com boa sanidade mental podem ser corrigidas, para que possam ter a chance de mudança de comportamento. Os doentes mentais, ainda que cometam grandes males, devem ser tratados como doentes, não disciplinados, mas curados, e se isso não for possível devem ser isolados. Esses podem ser terríveis agressores, que podem fazer muitas vítimas, mas também são vítimas, deles mesmos, não é fácil viver com memórias de agressões que se fez aos outros, não se houver ou for possível adquirir alguma consciência. Novamente cabem aos outros perceberem o doente mental, isola-lo, com humanidade, e tratá-lo, antes que façam vítimas.
      Ocorre com muita frequência de agressores se tornarem assim por terem sido agredidos, vítimas fazem vítimas. Por que alguns mesmo tendo sofrido muita violência não se tornam agressores e outros, que sofreram até menos, se tornam agressores? É complicado dizer, mas penso que o fator livre arbítrio sempre é possível aos seres humanos, pelo menos em algum momento de suas vidas, dessa forma sempre se tem uma escolha. Contudo, se passar do momento as pessoas podem escolher serem o mal por não conseguirem mais ser outra coisa, busca de identidade é o que impede as pessoas de se matarem, e na falta de uma identidade melhor, serve mesmo a mais ruim. Já foi dito que toda forma de violência é sexual, e isso não têm a ver só com o mais óbvio, um homem hétero forçando uma mulher hétera a conceder-lhe favores sexuais, uso de sexualidade como arma é algo bem mais complexo.
       Mulheres podem usar dotes sexuais para de alguma maneira obterem favores, e não só chegando as vias de fato, mas postando-se mais “agressivamente” através de suas sexualidades, entretanto isso não acontece só com mulheres, mas também com homens e com outros gêneros. Isso não é, como diz a mídia, ser poderosa ou poderoso, é desequilíbrio, não somos seres definidos só pela sexualidade, mas pela inteligência intelectual, pela inteligência emocional, e principalmente, pela espiritualidade. Violência é arma num jogo de poder? Sim, e sob esse ponto de vista é só uma maneira errada de posse de espaço no mundo, que mesmo na área sexual não precisa ser para obter prazer sexual, mas simplesmente para se impor como mais forte. O estuprador não quer prazer sexual, ele não pagaria preço tão alto por algo que poderia ter sem violência, se fosse equilibrado, ele quer subjugar alguém, e não existe maior prepotência que a que rouba aquilo de mais íntimo que alguém possui. 
      Por isso tantos idiotas que se dizem machos gostam de sair à noite em grupos, depois de encherem a cara, chingando e afrontando transsexuais, para que isso se não para atuto-afirmarem uma segurança que não sentem, um poder que não possuem, uma heterossexualidade que talvez não tenham? Odiamos nos outros aquilo que eles são e assumem ser e que nós somos e não assumimos ser, odiamos quem tem mais coragem que nós, e para continuarmos covardes tentamos tirar da coragem alheia sua legitimidade. Também é por isso que outros, na privacidade de seus lares, à noite, enquanto a família dorme, acha prazer em vídeos de pedofilia, ainda que disfarçados de outros fetiches (como adultos vestidos de crianças), ainda que no dia a dia se portem como homens “normais”, porque têm violências não curadas dentro deles, que ainda exigem deles prevalecer sobre mais fracos para terem algum prazer, algum espaço no mundo. 

      Atualmente a humanidade está revendo uma vítima verdadeira da civilização nos últimos quinhentos anos, os africanos. Trazidos à força de seu continente de origem, vendidos por irmãos que com o tráfico europeu começaram a ter lucros com um costume que já tinham, já que os próprios africanos tinham escravos africanos na África, membros das tribos perdedoras em batalhas regionais. Como escravos africanos foram levados a muitas partes do mundo como o Brasil, onde foram mão de obra importante na lavoura e enriqueceram muitos portugueses. Mas se isso era um problema ficou pior quando esse sistema econômico, que via seres humanos como coisas, sem direitos e sem dignidade, acabou deixando milhares de seres humanos num país que não era o deles, dominados por uma religião que não era a deles, sem direito à cultura, à identidade, à liberdade, por que o que adianta ser livre se não se tem direito a ter uma vida digna como os outros? 
      Não vou aqui levantar todos os pontos que temos visto diariamente na mídia, dando voz aos descendentes de africanos que agora são brasileiros e que só querem isso, serem brasileiros livres para serem o que querem ser, na profissão, na sociedade, na cultura, na religião. Contudo, o problema no Brasil hoje não são os descendentes de africanos, mas os pobres, e entre esses existem descendentes de imigrantes de várias nações, incluindo de indígenas que já habitavam o Brasil antes de portugueses chegarem. Esses imigrantes e indígenas se misturaram com os portugueses, assim o Brasil não é um país de brancos, como não é de negros amarelos ou outras cores de pela, mas de miscigenados, e grande parte desses são pobres mal administrados por políticos e outros poderosos. Descendentes de africanos têm motivos para se assumirem como vítimas? Claro que têm, mas quem não é de alguma maneira, no Brasil atual, descendente ou que tenha alguma ligação familiar com descendentes de africanos? Talvez uma minoria bem pequena.
      Daqui a algum tempo todos seremos pardos, é uma tenência mundial, mistura geral de raças, e talvez daqui a uns séculos, o que hoje é considerado exceção não será, mas regra, e preconceitos, de um jeito ou outro não existirão mais, acreditem nisso, o que vivemos hoje é só uma fase, como foi a idade média e outras eras. Nós, seres humanos, somos seduzidos por complôs apocalípticos, e os cristãos, baseados numa interpretação equivocada da Bíblia, mais ainda, mas o tema desta reflexão é vítima e vitimismo, falamos de vítimas legítimas, contudo, existe um problema sério no falso vitimismo, que pode manipular mesmo vítimas reais. Na verdade, no sentido mais puro, só existiu uma vítima real neste mundo, Jesus, só ele de fato não fez nada de errado, em nenhuma instância, e ainda assim foi preso, torturado e morto, tinha que ser assim, Deus ser sacrificado como homem sem pecado, para poder dar à humanidade salvação. 
      Em Cristo há proteção contra todo tipo de agressor, há cura para toda dor que agressores causam, assim como há um meio transformador que arranca o preconceito e agressão dos seres mais cruéis, não de nações ou governos, mas de indivíduos. Jesus não veio para ser Senhor de nações, seja do Brasil, dos E.U.A. ou de outro país, mas para ser Senhor de indivíduos, de mim, de você e de todos que permitirem. Os descendentes de africanos devem lutar por seus direitos? Os pobres devem lutar por seus direitos? Mas lutem em Cristo, por Cristo, não sozinhos e contra os cristãos. Sim, afro-brasileiros têm direito mesmo às religiões trazidas da África ou recriadas aqui, como Umbanda e Candomblé, e como cidadãos os cristãos devem lutar por isso, contudo, como cristãos, em amor e com sabedoria, podem dizer aos religiosas da Umbanda, do Candomblé e de outras religiões, só Cristo salva! 
      Acreditamos na sinceridade e na bondade daqueles que frequentam terreiros e casas de religiões afro-espiritas, mas só Jesus é o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, e cristãos, repito, digam isso com muito amor e com sabedoria, sem preconceitos. O mundo passa por um momento importante onde causas legítimas estão sendo levantadas e muitos, como nunca antes, as estão entendendo e por elas estão lutando, que bom que é assim, mas entendam isso do jeito certo, evangélicos e protestantes, isso não é a vitória do mal, mas justiça, e Deus é justiça. Não se apressem condenando ao inferno, ainda há tempo, querem dar testemunho de espiritualidade cristã? Lutem junto do afro-brasileiros, independente se eles são evangélicos ou espíritas. Querem dar testemunho de luz e paz? Alimentem os pobres, ajudem os órfãos e as viúvas, façam bem a quem precisa agora. Separem luta por um mundo melhor por opção por uma eternidade melhor, Deus dá livre arbítrio a todos e nós, evangélicos, temos que respeitar isso.
      O que adianta assiduidade em cultos, cantos e dízimos, uma vida religiosa dentro das quatro paredes dos templos, se a injustiça anda solta na Terra? Tenham certeza, se viverem e lutarem pela justiça, não apoiando políticos ou sendo políticos, mas sendo cristãos, seus testemunhos falarão alto, muito mais que suas palavras, e o nome de Jesus será de fato pregado e honrado. É tempo de mudança, é tempo de repensarmos espiritualidade cristã, não como algo que separa e afasta, mas que une e atrai, não como palavra dita no púlpito para convertidos, mas no mundo, para todos. Para que isso seja eficiente é preciso sermos cristãos com espiritualidade, liderados pelo Espírito vivo não por palavra morta. Não se esconde a luz debaixo da cama e se olha para ela à meia-noite, como se pudesse fazer alguma magia secreta, mas a luz é levada para o centro da cidade, ao meio da multidão, e se for luz de Deus brilhará forte mesmo sob o Sol quente do meio-dia, e não como uma mensagem panfletária e rasa, mas como prática de vida de amor, de misericórdia, de paciência e de justiça. Isso é espiritualidade cristã no mundo! 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

01/11/20

32. Espiritualidade de Cristo

Espiritualidade Cristã (parte 32/64)

      “E aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo. E, tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. E, advertindo-o severamente, logo o despediu. E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.” Marcos 1.40-45 

      Jesus como homem viveu com certeza a espiritualidade mais adequada e possível ao homem neste mundo, possível ainda que inalcançável, penso eu. Essa espiritualidade tinha uma característica, que a diferencia da espiritualidade de outros personagens religiosos, sejam bíblicos ou de outras religiões. Se essa característica é de fato o diferencial da vida de Cristo ou é aquilo que os homens que viveram com ele ou que relataram sua vida no novo testamento acharam que era, isso não sabemos. Os teólogos tradicionais, em defesa da Bíblia, podem argumentar que se é isso que entendemos nos evangelhos e nas cartas é o que Deus planejou nos ensinar, assim essa característica é de fato o diferencial da vida de Jesus. Eu prefiro acreditar que Deus nos mostra seu melhor não só com a Bíblia, mas apesar da Bíblia, e mesmo assim pode ser só por ela se a lermos com os olhos do Espírito Santo. Que característica é essa? Discrição. Jesus não dava relevância para exibir sua espiritualidade diante dos homens, em vários aspectos vivia a vida simples de um homem  judeu comum de seu tempo. Um mestre? Um rabi, pois ensinava as escrituras sagradas.
      Alguém, todavia, pode argumentar, “mas Cristo não fez milagres?”, fez, e esses são coisas que fizeram do ministério de Cristo tudo, menos discreto, contudo, penso que fez mais por amor e pela incredulidade dos homens que por ser de fato uma prioridade em seu ministério. Em exibir espiritualidade me refiro a práticas de religiosos, que ainda que não queiram sinceramente serem vistos como pessoas diferentes e ligadas a busca de espiritualidade e negação das vaidades do corpo, acabam em suas atitudes aparentando isso. Por exemplo, monges, principalmente de religiões orientais, que fazem suas meditações nas cidades, em meio ao povo, ou que se vestem de maneira diferenciada, ou que mesmo que se isolem vão a mosteiros reconhecidos como locais de busca de espiritualidade. Jesus não se portava assim, Cristo não era dono de nada, nem de sua privacidade, frequentemente roubada pelos outros, Cristo não fazia questão de aparentar, mesmo porque espírito não é algo visível. 
      A passagem de Marcos 1 nos revela atitudes de Jesus que nos ensina muito sobre sua discrição. Em primeiro lugar foi o leproso quem o procurou e que disse que acreditava que ele podia cura-lo, isso significa que Jesus não tinha um lugar específico onde ele se prontifica a fazer curas, e a receber alguma coisa por isso, contudo, sua boa fama o precedia, o homem o achou já crendo em seu poder porque já tinha ouvido falar dele. O segundo ponto é algo que Marcos deixa bem claro no texto, “movido de grande compaixão“, o que motivava Jesus era o amor, não existia qualquer vaidade nele de exibir seu poder, ainda que fosse para que os homens cressem que ele era o Cristo que vinha ao mundo para salvá-lo. “Estendeu a mão e tocou-o e disse-lhe, quero, sê limpo”, vejo pela fé nesse gesto um carinho profundo de Jesus pelo homem, tocar alguém que trazia na pele um estigma terrível, que devia afastar as pessoas, quanto mais as aproximarem para toca-lo, quem ama não teme e age com compaixão. 
      Mas o que segue no texto revela-nos muito mais sobre o caráter de Jesus, “advertindo-o severamente, logo o despediu, e disse-lhe, olha, não digas nada a ninguém, porém vai, mostra-te ao sacerdote“. Jesus dá duas orientações nessas palavras, a primeira diz respeito ao homem e a ele, que em outras palavras era, “não exiba tua experiência com Deus por aí, seja discreto”, isso era um conselho de espiritualidade para o homem, para que pensasse no que tinha experimentando de modo que a experiência mudasse não só sua vida física, sua vida social, já que a cura da lepra mudaria sua existência na sociedade. Mas era uma orientação que também beneficiaria seu ministério, ele sabia que muita propaganda de seu poder suscitaria a ira dos líderes religiosos judeus que poderiam apressar seu fim. A segunda orientação diz respeito à religião judaica, mostrando o respeito que Jesus tinha por ela, ainda que soubesse que estabeleceria uma religião superior, mas também ensinando que devemos honrar quem honra merece, no caso, as leis da religião que apesar de ser aquela que no final o mandaria à morte, era a religião do povo naquele momento.
      O leproso curado foi desobediente, como nós também somos tantas vezes, saiu a contar a todos, como resultado de sua desobediência o ministério de Jesus foi prejudicado, “de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos”, mas ainda assim “de todas as partes iam ter com ele“. Eu não tenho dúvida que fazer milagres para multidões não era o plano original para o ministério de Cristo, se fosse ele chegaria às cidades, se colocaria no lugar de mais fácil acesso para todos e começaria a fazer curas e prodígios, e se fosse assim talvez teria sido crucificado após seis meses de ministério, deixando de fazer, ou não fazendo com eficiência, aquilo que era sua missão em vida, uma missão importante mas secundária, preparar doze apóstolos para pregarem o evangelho. Sua missão primária era morrer sem pecado e ressuscitar, isso não curaria só os corpos de pessoas dos lugares por onde andou, mas os espíritos da humanidade de todos os tempos. Jesus era espiritual porque conhecia as prioridades que o pai tinha para ele e as seguia, indiferente do que os homens pensavam ou diziam. 
      Espiritualidade é algo espiritual, parece óbvio mas muita gente não entende isso, enquanto no plano físico o espírito humano é invisível, fica escondido dentro do corpo, e isso tem um motivo. O motivo é a revelação de um mistério, espírito não se mostra, não se expõe, mas se protege, se valoriza, e se permite que suas virtudes sejam exteriorizadas no mundo através de nossos pensamentos, sentimentos, palavras e gestos, mas com discrição. Por isso, evangélicos, não deem valor a títulos, e como vemos jovens em igrejas, sinceros e esforçados, mas ansiosos por receberem títulos, evangelista, pregador, ministro, presbítero, diácono, e alguns, depois de receberem algum título, se os tratamos com alguma formalidade, ainda que tenham idade para serem nossos filhos, se sentem desrespeitados, quanta vaidade, quanta falsa espiritualidade. O segredo é existir como Jesus existiu quando homem, certos que o nosso fim pode ser perder a vida para obedecer ao pai, se algo diferente ocorrer agradeceremos a Deus, mas como graça a mais, não como uma honra que merecemos receber, quem acha que merece nunca receberá, não de Deus. 
      Por misericórdia o Senhor não permite que atualmente a grande maioria de nós tenha que dar a própria vida pelo que crê, mas muitos de nós podem ter que abrir mão de coisas bem caras, como orgulho próprio e honra dos homens, se quisermos ser espirituais, quem não estiver pronto para perder nunca alcançará espiritualidade. A história de muita gente que tenta caminhar com Cristo é justamente essa, Deus pede algo, e a pessoa não dá, e continua, caminhando como se nada tivesse acontecido, como se fosse cristã em perfeita harmonia com a vontade do pai. Essas pessoas não perderão a salvação, mas serão sempre crianças espirituais, ainda que conheçam a Bíblia de trás para a frente, que tenham cargos em igrejas e mesmo que sejam pastores. Jesus mostrou a espiritualidade mais alta andando no mundo, com os pés no chão, ciente de sua trágica realidade final, não era pobre nem sem cultura, mas nunca ansiou pelos valores desse plano, são ilusões. Tenham certeza, Jesus revelou aos homens muitos menos que sabia, e entendeu a razão mais importante de passarmos por esse mundo, obedecer a voz de Deus para de fato alcançar espiritualidade. 

      “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, acha-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.Mateus 16.24-27

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

31/10/20

31. Espiritualidade é mudança

Espiritualidade Cristã (parte 31/64)

      “Quando vejo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que preparaste: que é o homem mortal para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste.Salmos 8.3-5

      “Mas tu és o que me tiraste do ventre; fizeste-me confiar, estando aos seios de minha mãe. Sobre ti fui lançado desde a madre; tu és o meu Deus desde o ventre de minha mãe.Salmos 22.9-10

      “Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias.Salmos 23.6

      Em algum momento de nossas vidas podemos dizer que somos de fato espirituais? Sim, não tão altos como Deus, mas no máxima que podemos atingir no plano físico. Essa espiritualidade é individual, e nem sempre será aquela que gostaríamos de ter ou que achamos que temos, e isso pode ser para menos ou para mais. Sonhos, erros, desilusões, dores, mas também paixões e amores, em trajetórias solitárias, coletivas, no mundo, nas igrejas, convertendo-se, desviando-se, voltando ao cristianismo, e às vezes ainda continuando desviados, enfim, a verdade pessoal de cada um sempre vence no final da vida, se mostra sem pudor e não se esconde mais. Ou é isso ou é o suicídio, que muitas vezes nem precisa dar cabo do corpo físico para existir, e como existem zumbis neste mundo. 
      No final da vida muitos se acharão no topo da espiritualidade, mas só fizeram manter o que eram no início, nunca de fato cresceram, ainda que se achem melhores que outros por verem em suas vidas uma curva sempre reta. Esses representam muitos religiosos, principalmente no cristianismo, gente com status social em suas comunidades, que nunca perderam uma batalha porque nunca entraram em uma. Venceram a guerra? Não, sequer dela participaram, foram só espectadores. Quem nada faz e só olha sempre tem mais tempo para criticar as vidas alheias, principalmente daqueles que se expõem e perdem muitas batalhas para ganharem a guerra final. Os medrosos especializam-se em chamar coragem de irresponsabilidade, e mesmo busca de felicidade verdadeira de fraqueza e vaidade. 
      É preciso coragem para perder, os orgulhosos, contudo, que não querem expor suas humanidades, acovardam-se, por nada lutam para nada perderem, mas assim também nada ganham, esses estão bem retratados na parábola dos talentos (Mateus 25.14-30). Muitos não entendem que o que mais identifica o ser humano são suas fragilidades, são elas que farão as escolham, já que quem está forte e satisfeito não precisa fazer nada, mas o sedento e faminto sai à procura de água e comida e enquanto não acha não descansa. Quem nega ou quer esconder seus limites nega a si mesmo como aquele que pode alimentar, não só o corpo, mas o espírito, o Santo Espírito de Deus, esse nunca se posicionará na espiritualidade do Altíssimo, esse não quer mudar, no fundo já se acha espiritual o suficiente. 
      Uma vez, ainda em minha juventude como cristão assíduo e trabalhador no ministério de uma igreja batista, ouvi alguém dizer, “as pessoas não mudam”, aquela afirmação vinha de alguém mais novo que eu, mas apesar de eu discordar, e discordo até hoje, e mesmo que eu não tenha entendido de forma consciente tudo que isso diz, me pareceu algo maduro, vindo de uma alma velha, que já tinha vivido muito e sabia das coisas dos homens mais do que eu. Até hoje eu insisto que as pessoas podem mudar, sim, e para melhor, e não devem desistir disso enquanto estiverem neste mundo, é essa persistência que nos dará direito à melhor eternidade de Deus. É o próprio Espírito Santo que nos empurra nisso, o tempo todo, isso é o que de fato significa estar vivo, querer evoluir, não se acomodar. 
      Vejo algo em minha vida hoje, vejo coisas, coisas que nunca mudaram, coisas que nem sempre me eram conscientes, mas que sempre estiveram dentro de mim. Entendo que o meu melhor já me habitava antes, quando eu era criança, adolescente, lutando dentro de mim, é esse melhor, que existe em todos nós, que Deus busca trazer à tona confrontando-nos com os homens, com o mundo e com o tempo. Nossa história tem o formato de uma onda senoidal que se inicia no alto, inclina-se até atingir seu ponto mais baixo e depois torna a subir até o ponto mais alto. Início e fim parecem iguais, mas não são, o que os diferencia? É a consciência. No início não temos consciência, assim o que muda não são nossos valores morais e entendimento espiritual, mas só a consciência do que de fato somos no espírito.
      O momento em nossas vidas em que mais perto estamos de Deus não é em nossa morte, ou próximos a ela, mas logo após nosso nascimento, nesse tempo estamos o mais perto da melhor eternidade de Deus, acabamos de nascer e em nós ainda habita inocência espiritual. A vida nos permite escolhas, e mesmo que sejam em áreas diferentes, profissional, afetiva, ministerial, todas colocam à prova uma escolha maior: estarmos ou não em Deus. Eu não disse sermos ou não religiosos, nem mesmo sermos ou não cristãos, mas estarmos ou não em Deus, em Deus só se pode estar através de Jesus. Viver é ter a chance de conhecer e permanecer em Cristo, e quem está no filho, está no pai, isso é ser espiritual e nisso está nosso melhor como seres humanos. Estar é Cristo é se arrepender do erro. 
      Arrepender-se não é mudar, mas aquele que de fato se arrepende quer mudança, ele sente profundamente a dor que é efeito de seu erro e resolve que não quer errar mais, para não ferir as pessoas, para não machucar a si mesmo, para não desagradar a Deus. Já o que se arrepende só superficialmente, se arrependerá algumas vezes e tornará a errar, o mesmo erro, então não se arrependerá mais, e para seguir com alguma integridade, ainda que enganosa, achará bons motivos para errar, assim como dará outros nomes para seus erros, que não pecados. Esses expuseram suas essências espirituais ao mundo, aos homens e ao tempo, e não tiveram coragem de amar mais ao Deus espiritual, preferiram adorar os seres espirituais rebeldes que estão por trás de todo ídolo, vaidade e ateísmo. 
      Quer uma definição (mais uma) para espiritualidade? Constante desejo de mudar para melhor. O espiritual não se contenta com um degrau, não dorme nele para desfrutar uma vitória, mas tem consciência que o topo é Deus, e que é preciso subir muito para alcançá-lo. Mas será que não é isso que dá graça à existência, o entendimento que sempre há algo novo para aprender e melhorar? Tenhamos cuidado, pois foi o desejo de alcançar o lugar mais alto depressa demais que foi usado pelo diabo para tentar o homem, quando lhe falou sobre o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal no Éden. Não podemos ser Deus, mas podemos estar nele, por Jesus e através do Espírito Santo, esse é o caminho para uma transformação genuína que nos conduz à verdadeira espiritualidade.

      “Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.” Filipenses 2.10-11  

      “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.” II Coríntios 5.17

      As pessoas não mudam? Suas essências espirituais não, essas apenas têm a oportunidade de serem reveladas. No final de nossas vidas abrimos mão de concessões e máscaras e nos mostramos, pudera, não existem mais forças físicas em nós para mantermos personagens, a verdade é colocada na mesa, agrade a quem agradar. Quem sou eu de fato? O que resistirá em mim no final? Talvez Deus não cobre de ninguém altura espiritual, não aquela que coloca um mais alto ou mais baixo que outro, Deus não nos julga pelos outros, mas por nós mesmos, o quanto olhamos para ele para sermos nossos melhores. Deus julga pela coerência? Sim, mas não pela coerência que temos com religiões ou com os homens, mas com nós mesmos, com nossa cota de fé, nossa dose de iluminação.
       Nascemos com nossas virtudes espirituais, e ninguém pode tirá-las de nós, só nós mesmos, nós fazemos isso quando trocamos as virtudes por vaidades e prazeres com os mercadores de ilusões. Quem são esses mercadores? Os homens maus e os espíritos rebeldes, esses querem impedir que nasçamos espiritualmente, esse nascimento ocorre quando adquirimos consciência de nossas essências, que são divinas, que são da luz, que são do bem, que são do Deus altíssimo. Há muitos meios de se adquirir consciência espiritual, cristão, não se engane com relação a isso, mas em Jesus existe o meio mais direto e eficiente, queridos e sinceros amigos (e irmãos) de outras religiões, não se enganem em relação a isso. Por isso o novo nascimento é tão enfatizado no evangelho, não a reencarnação.
      Do que adianta reencarnar e reencarnar (se é que isso é possível) e não conhecer a Jesus como único salvador? É só prolongar a morte, é só eternizar o inferno, é só adorar os espíritos rebeldes, ainda que fazendo boas obras, levando justiça ao mundo e conservação ao planeta, mas não é ser um com o pai, o Deus altíssimo. Nele há céu, há eternidade de espiritualidade mais alta, há o objetivo mais elevado de todo ser criado à imagem de Deus, entender isso é adquirir a consciência mais iluminada, é achar o real sentido de nossas temporárias passagens por este mundo. Quem entende isso, no final de sua vida, atingiu a espiritualidade mais alta, entendeu o motivo de estar neste mundo. Infelizmente, muitos, andam e andam por esta terra e não libertam seus espíritos, porque não querem pagar os preços.
      É patético ver pessoas que tiveram as melhores oportunidades de adquirir consciência envelhecerem arrogantes, ainda que se achando cheias de conhecimentos, ainda que se vendo como quem enfim está pensando “fora da caixinha”, quando na verdade só buscaram motivos para se afastarem de Deus. Quem se afasta de Deus se afasta de si mesmo e dos outros, pelo menos dos homens realmente de bem, mas quem se afasta de Deus se aproxima da mentira. O que é a mentira? É tudo que nega, de alguma maneira, Deus. Pode ser explicitamente o diabo, pode ser o ateísmo materialista, podem ser objetivos morais e sociais altos, podem ser bandeiras ideológicas, e também pode ser acreditar em algum sectarismo cristão, a mentira também está dentro do que é denominado cristianismo. 
      Mas por que algumas pessoas parece que de fato não mudam? Porque usaram do direito ao livre arbítrio e preferiram não adquirir consciência, isso só é possível quando se amordaça o Espírito Santo, e meus caros e minhas caras, é preciso ser muito forte para isso. Quem pode lutar com Deus e vencer? Só o homem duro de coração. Por isso o céu é para os fracos, fracos não por cederem ao pecado, mas por se humilharem diante do Deus altíssimo, e isso nem é uma fraqueza, mas uma virtude, a lucidez de quem abre os olhos e enxerga as coisas espirituais como realmente são. Contudo, todos nós, todos, temos a arrogância equivocada de em algum momento de nossas vidas tentarmos lutar com Deus e prevalecer, e é o próprio Deus quem permite um confronto assim.
      Você já lutou com Deus? Isso a princípio não é algo ruim, é apenas o confronto honesto de nossas verdades com a verdade maior do Altíssimo, é preciso assumir algumas coisas para se colocar nesse confronto, ter certas convicções, se conhecer ao menos um pouco. Mas só isso já é ter alguma consciência que só será espiritualmente e plenamente adquirida se Deus vencer o confronto. Repito, só na verdade maior de Deus é que enxergamos nossas verdades, assim, infelizmente, quem “vence” Deus sai derrotado, enganado pela ideia de que sua maneira de ver e administrar a vida é melhor que a maneira de Deus. Mas algo pior pode acontecer, o derrotado pode crer na heresia de achar que sua maneira é a de Deus, quem luta com Deus e “vence” se torna um pequeno “Lúcifer”, um falso deus. 
      Por isso não julguemos mal a ninguém, e mesmo um bom julgamento deve ser feito com sabedoria, não sabemos em que ponto da curva alguém está, e obras muitas vezes podem não revelar espiritualidade, nem as boas e nem mesmo as outras. Aqui no plano físico somos todos escravos do tempo, assim tenhamos paciência com os outros, como Deus tem conosco, talvez alguém que nos parece enganado e duro na queda esteja só no último round de sua batalha para entender sua verdade pessoal, talvez falte pouco para que consciência espiritual seja adquirida, para que olhos e ouvidos sejam abertos, e a pessoa entenda o que é em Deus. Talvez as pessoas nunca mudem, e nem precisem mudar, mas só entender que são especiais, desde os seus nascimentos, e que só em Deus suas singularidades serão libertadas. 

Espiritualidade Cristã
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

30/10/20

30. Espiritualidade para os olhos de Deus

Espiritualidade Cristã (parte 30/64)

      “Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.I Samuel 16.7

      Somos seres que querem ser vistos, e se já era assim antes, muito mais agora que podemos compartilhar fotos e vídeos no Instagram, Whatsapp e outros espaços da internet, todos querem ser famosos, celebridades, ao menos nas fotos carregadas de filtros. Chegamos ao ridículo de que registrar uma festa é mais importante que a própria festa, assim quando vamos a uma ao invés de vermos gente usufruindo do momento estão todos tirando selfies e acompanhando as vidas alheias nas redes. Nunca parecer foi tão mais importante que ser, nunca aparência externa valeu mais que as virtudes interiores do coração, o diabo está conquistando o mundo, mas não matando cristãos e bem antes de mandar não cristãos para o inferno. O mal tem encarcerando todos numa vida artificial, a vida falsa da internet, isso pode ser o engodo mais eficiente do diabo para desviar o ser humano da espiritualidade. 
      Quando Deus mandou o profeta Samuel escolher um rei para Israel ele foi até Jesse que lhe apresentou sete filhos, ele deve ter feito isso de acordo com um critério dele de qual seria o filho melhor, assim começou por Eliabe. Foi para esse que Deus deu a Samuel a resposta do versículo inicial, mas ela servia para todos os sete filhos que Jesse apresentou, quando achou que esses eram seus melhores filhos. Davi nem estava nessa lista inicial, para Jesse talvez não fosse grande coisa, mas ele também estava ocupado, enquanto que ao que parece os outros sete irmãos não estavam. Mas ainda que seu pai não lhe desse valor, ainda que ele não estivesse no lugar certo fazendo a coisa certa (e com coisa errada me refiro a estar indisponível para a escolha, não por estar fazendo algo errado), ainda que não tivesse as características que podiam elenca-lo como um rei, ele foi escolhido. 
      Por quê? Porque “o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração”. Quando Deus tem algo pra nós, o homem pode gritar, fazer-se prevalecer, estar presente no lugar certo e melhor apresentado para algo, pode mesmo nos criticar, diminuir-nos, dizendo mentiras sobre nós, mas também revelando a muitos nossos erros, nosso passado, tentando roubar de nós nossa honra. Mas tudo isso não importa, Deus olha o coração, conhece o sincero do bem, o que não busca honra própria mas a dele, o que de fato está pronto para obedecer, seja qual for a dificuldade, o que já abriu mão de tudo pela verdade. Não tema o homem, os belos e poderosos Sauls, Deus usa os Davis, que podem ter muitos defeitos e limites, mas possuem um coração que agrada a Deus, e se os homens  não veem isso, Deus vê, confie em Deus. 
      Toda a lição da escolha de Davi que está em I Samuel 16 sem resume numa coisa, confiarmos no que Deus sabe sobre nós, não no que os homens sabem e veem. Isso é algo que exige de nós intimidade com Deus e fé, caso contrário desenvolveremos mágoas achando que Deus não liga para nós, não vê nosso esforço e nossa intenção, e que o homem, por sua vez, aparece mais que a gente, é mais visto. Pensamos assim quando damos valor a coisas que podem ser só aparências, e aparências que outros homens valorizam, assim a mágoa nasce quando damos valor para os olhos físicos dos homens, e não para os espirituais de Deus. Deus vê tudo, e mais, vê o que de fato interessa, ele não se deixa enganar com os teatros, com as exibições pirotécnicas, que nos dias atuais podem ser mostrados para todos os olhos e em tempo real nas redes sociais, vivemos um momento em que é fácil ser visto.
      “E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam, mas Maria guardava todas estas coisas, conferindo-as em seu coração“ (Lucas 2.18-19), Maria era discreta porque sabia que a vida de seu filho deveria ser discreta, o mais importante ele faria em sua morte, e isso era algo que teria um preço alto. Quem confia nos olhos do Senhor sabe que a vida não é fácil e deve ser levada com sabedoria, nunca confiando nos homens. O próprio Jesus pediu mais de uma vez a seus discípulos discrição sobre seu ministério, para que as coisas não acontecessem antes do tempo certo, e no seu caso, sua morte, “e, descendo eles do monte, ordenou-lhes que a ninguém contassem o que tinham visto, até que o Filho do homem ressuscitasse dentre os mortos“ (Marcos 9.9), Jesus não confiava nos olhos humanos, “mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia“ (João 2.24).
      Quem nós queremos que veja nossa vida, nosso trabalho, nosso melhor, nossas virtudes? Os homens ou Deus? Queremos plateia, aplausos, holofotes, fama, tudo para aplacar alguma carência não resolvida? Ou queremos fazer a vontade de Deus? Só quem faz a vontade de Deus é feliz e abençoa os outros, quem quer os olhos dos homens sobre si poderá até fazer boas obras, ajudar os outros, escrever livros de auto ajuda, até ser famoso, mas só beneficiará a si mesmo, não os outros. Benefícios egoístas são sacos sem fundo, por mais que sejam cheios nunca será o suficiente, parecerão sempre vazios, confiemos nos olhos de Deus, que registra tudo que fazemos, para ele nada fica perdido ou esquecido, e no tempo certo nos recompensa. Para quem confia nos olhos de Deus fazer o bem é um fim em si mesmo, se é feliz pelo simples fato de se fazer, indiferente de reconhecimento ou fama. 
      Interessante que o mesmo homem que confiava nos olhos de Deus acabou cometendo seu pior pecado quando usou mal os próprios olhos (II Samuel 11). A história de Davi também nos ensina que onde se encontra nossa maior força está também nossa maior fraqueza, a ferramenta é uma só e é eficiente tanto para construir quanto para destruir. Sensibilidade espiritual natural pode ser um talento que alguns nascem com ela, se tiverem temor a Deus serão cristãos ungidos e cheios de dons espirituais, mas se não tiverem poderão procurar em outras religiões respostas para seus questionamentos espirituais, se tornando médiuns ou magos. Espiritualidade é algo sério, uma grande benção, mas também algo perigoso, produz um desejo profundo de seu ter comunhão com o mundo espiritual, mas nele não existem só Deus e anjos, seres espirituais rebeldes estão por lá, atentos aos curiosos descuidados. 
      Quem estuda o mal é estudado pelo mal, mas quem olha para Deus é protegido pelos olhos do altíssimo, seja como for não se sai ileso de uma experiência profundamente espiritual, conhecemos e somos conhecidos, e se for na luz do Senhor, crescemos e recebemos a verdadeira iluminação. “Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido“ (I Coríntios 13.9-12), Paulo, sempre Paulo, nos fala por mistérios em muitos de seus textos, que tem olhos espirituais pode entender verdades profundas neles.
      Solidão, algo intrínseco em todo ser humano, por isso ele quer ser visto, isso lhe dá atenção, a sensação que está acompanhado, mas só uma vida realmente espiritual pode satisfazer essa solidão, porque a principal solidão que temos não é a que precisa da companhia de uma companheira, de um companheiro, de um amigo, de um pai, de um irmão, mas de Deus, é uma solidão espiritual, não só emocional ou social, necessidades espirituais se resolvem com soluções espirituais e com nada mais. Os olhos de Deus fazem de todos nós reis, como Davi? Mais que isso, como Jesus, um rei que veio para servir e não ser servido, e aí está o mistério, quem a todos serve acaba sendo servido pelo maior de todos, o próprio Deus. Assim, liberte-se dos outros homens, e também de todos os outros seres espirituais, olhe diretamente para o Deus Altíssimo e confie nele, ele nos basta e nunca nos desaponta. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

29/10/20

29. Humildade: condição para libertação

Espiritualidade Cristã (parte 29/64)

      “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, Mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.Filipenses 2.5-11

      Humildade, realmente espiritual, não outra, que não pode ser substituída por nenhuma virtude, eis a chave para que tenhamos de fato libertação e paz, reflitamos nessa afirmação de seu fim para seu início. Libertação, todos nós precisamos de libertação de algum tipo de prisão, que nos tortura e não faz buscar algum tipo de vício para amenizar nossa dor. O que nos aprisiona? O mal que fizemos e que nos traz culpa, o mal que nos fizeram e que nos traz mágoa, o mal que imaginamos que poderá nos afligir e que nos traz ansiedade, o mal que pensamos que poderão nos fazer e que nos traz medo. Culpa, mágoa, ansiedade e medo, tudo isso nos deixa inseguros, inseguros ficamos fracos e somos aprisionados, aprisionados perdemos a liberdade de seguir em frente, construir, crescer e ter paz, à medida que buscamos prazeres falsos que nos satisfaçam, e que acabam se tornando vícios. 
      Nos transformamos em medos ambulantes, quem tem medo não ama e vê inimigos em todos, para anular isso até podemos tentar ser melhores pois nos sentimos mal, em dívida, assim procuramos largar os vícios da carne, sermos bons cidadãos, ajudar aqueles que estão em situação pior que a nossa. Podemos nos tornar caridosos assíduos em serviços sociais e religiosos, religiosos assíduos em cultos e trabalhos, crentes assíduos em jejuns e consagrações, mas ainda assim podemos não achar libertação e nem paz. Por quê? Porque podemos estar só tentando fugir do principal, substituir humildade espiritual por outras virtudes, e não é qualquer humildade, já que diante de homens podemos até parecer humildes, mas se somos ou não espiritualmente humildes só Deus sabe. Deus só nos liberta quando de fato somos humildes, e humildes não só na aparência, mas espiritualmente. 
      O que é humildade espiritual? É dobrar os joelhos para o nome de Jesus, como diz o texto inicial, e o mais maravilhoso é que aquele para o qual todos devem se dobrar ganhou essa posição porque deu o exemplo e se humilhou, assim recebe honra quem honra dá, recebe respeito, quem respeito dá. Quem tenta substituir humildade por outras virtudes o faz por vaidade, porque na verdade o que quer é receber aprovação de homens, e até de Deus ainda que do jeito errado, tentar receber algo que não se deu é impossível. Contudo, quem se humilha diante de Deus será honrado simplesmente porque não tem mais necessidade de honra, dessa forma mesmo na solidão e na clandestinidade se sentirá honrado e satisfeito. Para saciar a alma não basta tentar achar um alimento adequado, isso é impossível, primeiro porque a fome principal é espiritual, a solução é anular a fome.
      Só Jesus pode curar nossa necessidade de justiça própria que ainda que nos leve a ser bons religiosos nunca nos fará provar a verdadeira espiritualidade, só em Cristo somos humildes porque aceitá-lo como salvador implica em nos assumirmos como pecadores, sem direitos, que aceitam segui-lo sem exigências. O espiritualmente humilde em Cristo não se importa em ganhar porque já ganhou tudo, nem em perder porque sabe que nada tem valor, a não ser comunhão com o Altíssimo através de Jesus e pelo Espírito Santo. Essa é a cura para a fome principal de nossos seres. Somente humildes somos de fato espirituais em Deus, de outra forma poderemos até ter experiências espiritualistas e bem profundas, mas não com Deus e nem para a glória dele. Sigamos o exemplo de Cristo que se humilhou e recebeu de Deus a única honra que importa, que levaremos à eternidade e que nos fará de fato espirituais. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

28/10/20

28. Humildade: único jeito de crescer

Espiritualidade Cristã (parte 28/64)

      “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céusMateus 5.3

      Sábio é querermos melhorar, não nos acomodarmos, mudarmos por dentro e não confiarmos na aparência, aparência pode ser enganadora. Aproveitemos bem nosso tempo neste plano físico, a vida encarnada é uma existência muito especial, uma oportunidade de mostrarmos nossa melhor essência e de construir a porta para a eternidade. Na verdade quem muda é humilde, não importando em que nível começou, os que tratam os pecadores com arrogância, que não lhes dão a chance de serem melhores, que os julgam pelo passado, além de descrerem do poder do perdão que há em Jesus, nunca experimentaram mudança em suas vidas, ainda que nunca tenham escandalizado ninguém. Esses não provam espiritualidade, mas só a carne, mesmo que ostentem aparências de virtudes. 
      Muitos, talvez, só tivessem que fazer uma escolha em suas vidas e não fizeram, escolherem ser humildes, eles nasceram com melhores possibilidades, com mais atenção, pelo menos mais que outros que tanto mal colheram e plantaram, mas ainda assim continuaram orgulhosos. Por medo de perder o que tinham não investiram em nada, foram tímidos, foram covardes, e timidez é só um outro nome para arrogância, não é virtude. A eternidade, contudo, revelará o nível de espiritualidade real que cada um de nós alcançou, não no início de nossas vidas, muitas vezes nem na maior parte delas, mas no final. Temos até o último instante aqui neste plano para mudarmos, os orgulhosos, contudo, poderão passar seus dias finais em UTIs, só para entenderem isso, só para escolherem ser espirituais. 
      A vida passa muito depressa, não deixemos para depois o que é mais importante. O mais importante para cada um de nós, que é algo pessoal e específico, sempre nos conduz à humildade, pois nos leva a pagar preços, a perder para ganhar, quem de fato foi atrás de sua verdade, de ser feliz teve que mudar, e quem mudou para melhor é humilde. Os que não querem pagar preços, que não querem perder, que são escravos dos outros, que se sentem obrigados a mostrar para os outros coerência e justiça dos outros, nunca serão quebrados para que precisem se reconstruir, assim nunca mudarão e não se sentirão na obrigação de serem humildes. Dentro de um coração arrogante tem um escravo, que por ser escravo agrada a muita gente, pode até ser honrado por muitos, mas é um escravo infeliz. 
      Uma pergunta precisamos fazer a nós mesmos: que tipo de pessoa eu sou? Eu sei, sou do tipo que errou muito, muitos ainda me julgam pelo meu passado. Mas como devo reagir a isso, levantar minha voz e dizer que Jesus me perdoou e ninguém tem o direito de me acusar? Não, devo ser humilde, e isso não é fácil, mas preciso confiar que quem me salvou e me perdoou também pode me defender, ele não precisa de meus argumentos. Esteja certo de uma coisa, causa deixada nas mãos de Deus com fé e em humildade Deus toma, e faz o melhor, ninguém duvide ou zombe disso. Terrível é cair nas mãos do Deus altíssimo, os acusadores dos lavados pelo sangue do cordeiro caem nesse juízo, sejam demônios ou homens.
      O texto inicial diz algo muito importante sobre humildade, os cidadãos do céu, um reino que começa na terra, nos corações dos homens, são humildes. A versão NVI desse texto, contudo, diz “bem-aventurados os pobres em espírito”, assim pode não ser tão fácil entender o que o escritor quis dizer com pobres nesse contexto, mas nesse caso pobre não é ter menos virtude espiritual, mas é ter mais à medida que não se dá importância a valores materiais. Todavia, o fato de termos menos condições econômicas não faz de nós, necessariamente, pessoas humildes, o que faz é nossa atitude de não confiar nessas condições para nos posicionarmos como melhores. O que nos faz melhores são as virtudes espirituais que aperfeiçoam nossa moralidade, quem tem essas virtudes não se coloca como superior aos outros. 
      O pobre de ou em espírito é humilde, abre mão de tudo aquilo que pode lhe dar aprovação humana ou status social através de valores de aparência externa, ele não se importa com essas medidas e pode achar felicidade e paz diretamente em Deus. Esse pobre não precisa provar nada a ninguém, se defender e muito menos acusar, a ele basta saber o que Deus pensa dele, fez e faz por ele. Em Deus ele sabe que não é pobre, que está perdoado, é cidadão do reino dos céus e é riquíssimo, isso é suficiente para que ele caminhe firme e de pé, sem orgulho, mas também sem medo, protegido contra as setas dos acusadores, protegido contra seu próprio passado ruim. Bom é ser humilde, ainda que por obrigação, mas todos os que provam a Deus de verdade se sentem obrigados, não por força, mas pelo Espírito, a serem humildes.

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.