terça-feira, novembro 03, 2020

34. Espiritualidade e crítica

Espiritualidade Cristã (parte 34/64)

      Crítica, lidar com ela do jeito correto, seja recebendo-a ou fazendo-a, requer muita espiritualidade, e muitos tentam ser perfeitos, na área profissional e moral, justamente para não receberem críticas, por orgulho, não por amarem ao Deus que tudo vê e mede, e quem age assim também se acha no direito de criticar, de se colocar como um deus julgador. Mas o espiritual, ainda que procure agir corretamente, não se importa com crítica, isso é fácil de dizer, mas muito difícil de fazer, justamente porque nos importamos, assumindo ou não, demais com as opiniões dos homens. Interessante que podemos não dar a mesma importância àquilo que Deus pensa de nós, porque Deus não manifesta sua crítica publicamente, assim não nos envergonha, mas quem definirá nossa eternidade, os homens ou Deus? No texto que segue uma reflexão sobre “dislike”, aquele polegarzinho para baixo que podemos dar em postagens na internet, creio que pensar sobre isso tem uma grande relevância para quem quer ser espiritual no mundo atual. 

      “O homem sábio é forte, e o homem de conhecimento consolida a força. Com conselhos prudentes tu farás a guerra; e há vitória na multidão dos conselheiros.” Provérbios 24.5-6

     Quem posta vídeos no Youtube sabe que existe uma opção nas configurações onde pode-se desabilitar o “like” e o “dislike”, não permitir que publicamente seja visto o número de pessoas que curtiram ou não um vídeo. Eu não faço uso dessa opção em meu canal, assim todos podem manifestar se gostaram ou não, assim como podem ver se um vídeo, com uma performance musical, foi apreciado ou não. Nos últimos anos tenho promovido aplicativos musicais para iPad, softwares que fazem do dispositivo um instrumento musical, é um conceito com alguns anos, mas que se tornará a música do futuro, assim a grande maioria dos meus vídeos é demonstração de recursos desses produtos, não do músico que os demonstra. 
      Não que eu goste de receber “dislikes”, não gosto mesmo, ainda que eu tenha consciência de minhas limitações, principalmente quando faço o máximo para postar um trabalho bem feito, vídeos de três minutos que podem demorar horas para serem produzidos, desde o arranjo, a execução e gravação até a edição final e upload. Músico quer tocar o coração das pessoas de um jeito bom, não quer prejudicar ninguém, ainda que saiba que gosto artístico muda de pessoa para pessoa. Eu não dou “dislike” em vídeos no Youtube, se gosto dou “like” e se não gosto não faço nada, em se tratando de performance musical representa o trabalho de alguém, e trabalho, ainda que pessoalmente não me agrade, deve ser respeitado. 
      Algumas pessoas, contudo, fazem o contrário do que faço, se gostam, não se manifestam, e se não gostam são rápidas para clicar no polegarzinho para baixo, a verdade é que a grande maioria simplesmente não se manifesta, muitos são tímidos para aplaudir, ainda que carentes de aplausos. As pessoas precisam saber que músicos de verdade gostam de fazer música e ficam muito felizes com o aplauso, isso não é idolatrar o homem, ou fazer média, é dar honra a quem honra merece. Se parabenizamos um engenheiro, um médio, um vendedor ou um florista pelos trabalhos que realizam, aplaudamos os músicos, no Youtube isso é feito com “likes”, não custa nada e abençoa um trabalho honesto. 
      O início desta reflexão foi uma introdução com uma metáfora para algo mais profundo, ainda que seja um tema atual e relevante, ocorre é que muitas pessoas desabilitam o “dislike” de suas vidas e seguem, não querendo saber a verdade sobre elas mesmas e tentando se convencer que estão fazendo tudo certo. Como existem pessoas que simplesmente se fingem de mortas, não assumem responsabilidades e ainda exigem direitos, e isso ainda que sejam trabalhares esforçados e competentes. O elogio é importante, pais elogiem seus filhos, pastores elogiem suas ovelhas, ovelhas elogiem seus pastores, filhos elogiem seus pais, mas a crítica construtiva pode ser mais importante, e eu disse construtiva, o que é crítica construtiva? 
      É uma avaliação honesta feita com amor e manifestada com amor, e sendo assim usará as palavras melhores para dizer no tempo e no lugar certo algo que pode beneficiar alguém, crítica construtiva não é pecado. Nós, contudo, eu e você, estamos tão acostumados a achar que nossas críticas são válidas, mesmo não sendo construtivas porque não estão nos parâmetros que falei antes, feitas com amor e do jeito certo, que passamos a criticar tudo e todos assim como a denominar a crítica dos outros de não construtiva, isso para que tenhamos a última palavra numa discussão, visando nosso egocentrismo e não o benefício do outro. A verdade é que dificilmente conseguimos tecer uma crítica construtiva ou ouvir crítica dos outros. 
      Por isso, com medo de recebermos o que damos, desabilitamos o “dislike”, sempre julgamos os outros por nós, principalmente o lado ruim. É preciso muita humildade para ouvir uma crítica, seja construtiva ou não, é preciso muita maturidade para habilitar o “dislike” e tomar conhecimento do quanto nós não somos o que gostaríamos de ser e que tentamos mostrar que somos, pelo menos na aparência. Contudo, só ficaremos mais fortes quando nos confrontarmos com a realidade, é só depois disso que poderemos fazer escolhas. Algumas escolhas nos farão mudar para melhor, outras nos ajudarão a conviver com o que não podemos mudar, com isso crescemos, com a verdade, nunca com a mentira.
      Conseguimos receber críticas quando vemos os outros como amigos e não como inimigos, quando entendemos que não somos melhores que ninguém e que todos, de algum jeito, têm coisas a nos ensinar, para que isso ocorra temos que nos abrir. Quem se fecha quer se proteger, se protege quem está em guerra, na guerra vemos inimigos e de inimigos não esperamos ajuda, mas ataque, não crítica construtiva, mas destrutiva. Inimigos nos levam a ser agressivos ou escondidos, isso aprisiona, não liberta, só amigos são conselheiros e conselheiros nos ajudam a sermos melhores, abertos e livres. Dessa forma, se tivermos que lutar, será para termos vitória sobre inimigos reais, não sobre psicoses de mentes fechadas. 

      “Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência,” Deuteronômio 30.19

      Já citei mais de uma vez aqui no “Como o ar que respiro” a passagem de Marcos 9.47, “e, se o teu olho te escandalizar, lança-o fora, melhor é para ti entrares no reino de Deus com um só olho do que, tendo dois olhos, seres lançado no fogo do inferno”, ela nos diz que em algumas situações é preciso desabilitar, sim, o “dislike”, e quanto cito essa passagem me refiro principalmente às nossas interações em redes sociais na internet. Se elas estão fazendo mais mal que bem, se ouvir opinião alheia nos leva a dar a nossa e isso não for contribuir para a paz, mas só para polêmicas, é preferível nem darmos e nem ouvirmos opinião, principalmente nos dias atuais onde política virou um campo de batalhas sangrentas.
      É preciso sabedoria, equilíbrio, o melhor nunca está num extremo, Deus não está num extremo, ainda que muitos achem que está. Se fosse assim ele é o “diabo” teriam poderes iguais só que em lados diferentes, essa guerra com forças iguais para agir só existe na cabeça dos homens por causa do livre arbítrio, como tantas vezes já pensamos aqui. Nos universos, contudo, físico e espiritual, Deus domina sozinho sobre tudo, e o diabo é só parte dos seres espirituais rebeldes, criaturas de Deus, não deuses, e que só agem com autorização de Deus. Mas voltando ao “dislike”, o próprio Deus tem o seu habilitado, desde o início quando colocou a árvore do conhecimento do bem e mal no Éden.  
      Se Deus fosse prepotente, um juiz que manda para o inferno quem não lhe presta culto, ele não daria livre arbítrio ao homem, o homem só viverá um inferno na eternidade se desobedecer as regras do universo, que, sim, foi criado por Deus, mas são regras que estabelecem a diferença entre vida e morte, luz e trevas, construção e destruição, evolução e estagnação. Essa regra está dentro do homem, não fora dele, é parte intrínseca de seu espírito, sua identidade eterna, quando o homem constrói um inferno desobedece a si mesmo, e por isso se afasta da luz mais alta onde o melhor de Deus está. Não é Deus quem se afasta, mas o homem e isso é Deus permitindo que seja dado um “dislike” para o céu. 
      Alguns podem dizer, “mas não é isso que é pregado nas igrejas evangélicas”, sim, eu concordo, nem é isso que a igreja católica pregou por séculos, mas isso está na Bíblia, e poderão entender assim os que a lerem com olhos do Espírito Santo. Deus não exige nada de ninguém e permite que qualquer um não goste dele, se o primeiro homem e a primeira mulher não gostaram, por que podemos achar que Deus em algum momento esteve interessado em  receber só “likes”? Você nunca pensou como é interessante que o pecado original tenha sido comedido justamente pelo homem original, por que não houve algumas gerações na Terra, vivendo em harmonia com Deus, para só depois haver a queda?
      O homem é um projeto que nasceu para dar errado (e não por culpa do arquiteto), de cara deu “dislike” em seu criador e num modo de vida de absoluto conforto físico e pleno conhecimento espiritual, por quê? Porque achou que isso não era o suficiente, ele queria “ser igual a Deus”. Hoje podemos achar isso uma completa estupidez, mas nós também cometemos estupidez semelhante, o tempo todo, pecamos porque achamos que o que vamos ganhar é melhor que o que temos, ainda que isso nos tire da comunhão com Deus. Achamos o fruto da árvore do conhecimento do bem e mal mais aprazível que o Espírito Santo dia a dia, um fruto muitas vezes oferecido pela serpente dentro de igrejas.
      As imperfeições só são vistas na luz, no escuro tudo é igual e nada tem defeito, assim habilitar nosso “dislike” é acima de tudo nos apresentarmos a Deus sem ressalvas, sem máscaras e por inteiros. Quando fazemos isso de verdade dói, e muito, sentimos vergonha, culpa, mas a luz de Deus não só mostra o erro como também o corrige, só Deus pode fazer uma crítica plenamente construtiva de nossas vidas, porque ele não age com amor, é bem mais que isso, ele é o próprio amor, a luz e a cura. Quando a luz de Deus nos ilumina a vida muda de sentido, críticas e mágoas perdem o valor, o passado não tem mais peso, nem o futuro causa medo, mas tudo se torna um presente eterno de Deus. 
      Quando estabeleceu uma aliança, Deus deu à nação de Israel uma escolha (Deuteronômio 30.19), que também podemos entender, como cristãos, como dada a nós, o Senhor deixa-nos livres para escolher, para dar “like” ou “dislike” em sua vontade. Se a vivermos, teremos a vida, senão a morte, é muito importante que entendamos isso, que o que nos acontece não é por culpa ou por responsabilidade de outros, mas nossa, somos nós que escolhemos quem queremos ser, e todos nós, de algum jeito, sempre temos escolha. Que sejamos sábios, lúcidos, humildes, para reconhecermos a luz, o bem, a justiça e o amor, e nos agradarmos disso, honrarmos a Deus por isso, darmos “like” no plano dele para nossas vidas. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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