domingo, novembro 01, 2020

32. Espiritualidade de Cristo

Espiritualidade Cristã (parte 32/64)

      “E aproximou-se dele um leproso que, rogando-lhe, e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo. E, tendo ele dito isto, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. E, advertindo-o severamente, logo o despediu. E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas, e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.” Marcos 1.40-45 

      Jesus como homem viveu com certeza a espiritualidade mais adequada e possível ao homem neste mundo, possível ainda que inalcançável, penso eu. Essa espiritualidade tinha uma característica, que a diferencia da espiritualidade de outros personagens religiosos, sejam bíblicos ou de outras religiões. Se essa característica é de fato o diferencial da vida de Cristo ou é aquilo que os homens que viveram com ele ou que relataram sua vida no novo testamento acharam que era, isso não sabemos. Os teólogos tradicionais, em defesa da Bíblia, podem argumentar que se é isso que entendemos nos evangelhos e nas cartas é o que Deus planejou nos ensinar, assim essa característica é de fato o diferencial da vida de Jesus. Eu prefiro acreditar que Deus nos mostra seu melhor não só com a Bíblia, mas apesar da Bíblia, e mesmo assim pode ser só por ela se a lermos com os olhos do Espírito Santo. Que característica é essa? Discrição. Jesus não dava relevância para exibir sua espiritualidade diante dos homens, em vários aspectos vivia a vida simples de um homem  judeu comum de seu tempo. Um mestre? Um rabi, pois ensinava as escrituras sagradas.
      Alguém, todavia, pode argumentar, “mas Cristo não fez milagres?”, fez, e esses são coisas que fizeram do ministério de Cristo tudo, menos discreto, contudo, penso que fez mais por amor e pela incredulidade dos homens que por ser de fato uma prioridade em seu ministério. Em exibir espiritualidade me refiro a práticas de religiosos, que ainda que não queiram sinceramente serem vistos como pessoas diferentes e ligadas a busca de espiritualidade e negação das vaidades do corpo, acabam em suas atitudes aparentando isso. Por exemplo, monges, principalmente de religiões orientais, que fazem suas meditações nas cidades, em meio ao povo, ou que se vestem de maneira diferenciada, ou que mesmo que se isolem vão a mosteiros reconhecidos como locais de busca de espiritualidade. Jesus não se portava assim, Cristo não era dono de nada, nem de sua privacidade, frequentemente roubada pelos outros, Cristo não fazia questão de aparentar, mesmo porque espírito não é algo visível. 
      A passagem de Marcos 1 nos revela atitudes de Jesus que nos ensina muito sobre sua discrição. Em primeiro lugar foi o leproso quem o procurou e que disse que acreditava que ele podia cura-lo, isso significa que Jesus não tinha um lugar específico onde ele se prontifica a fazer curas, e a receber alguma coisa por isso, contudo, sua boa fama o precedia, o homem o achou já crendo em seu poder porque já tinha ouvido falar dele. O segundo ponto é algo que Marcos deixa bem claro no texto, “movido de grande compaixão“, o que motivava Jesus era o amor, não existia qualquer vaidade nele de exibir seu poder, ainda que fosse para que os homens cressem que ele era o Cristo que vinha ao mundo para salvá-lo. “Estendeu a mão e tocou-o e disse-lhe, quero, sê limpo”, vejo pela fé nesse gesto um carinho profundo de Jesus pelo homem, tocar alguém que trazia na pele um estigma terrível, que devia afastar as pessoas, quanto mais as aproximarem para toca-lo, quem ama não teme e age com compaixão. 
      Mas o que segue no texto revela-nos muito mais sobre o caráter de Jesus, “advertindo-o severamente, logo o despediu, e disse-lhe, olha, não digas nada a ninguém, porém vai, mostra-te ao sacerdote“. Jesus dá duas orientações nessas palavras, a primeira diz respeito ao homem e a ele, que em outras palavras era, “não exiba tua experiência com Deus por aí, seja discreto”, isso era um conselho de espiritualidade para o homem, para que pensasse no que tinha experimentando de modo que a experiência mudasse não só sua vida física, sua vida social, já que a cura da lepra mudaria sua existência na sociedade. Mas era uma orientação que também beneficiaria seu ministério, ele sabia que muita propaganda de seu poder suscitaria a ira dos líderes religiosos judeus que poderiam apressar seu fim. A segunda orientação diz respeito à religião judaica, mostrando o respeito que Jesus tinha por ela, ainda que soubesse que estabeleceria uma religião superior, mas também ensinando que devemos honrar quem honra merece, no caso, as leis da religião que apesar de ser aquela que no final o mandaria à morte, era a religião do povo naquele momento.
      O leproso curado foi desobediente, como nós também somos tantas vezes, saiu a contar a todos, como resultado de sua desobediência o ministério de Jesus foi prejudicado, “de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos”, mas ainda assim “de todas as partes iam ter com ele“. Eu não tenho dúvida que fazer milagres para multidões não era o plano original para o ministério de Cristo, se fosse ele chegaria às cidades, se colocaria no lugar de mais fácil acesso para todos e começaria a fazer curas e prodígios, e se fosse assim talvez teria sido crucificado após seis meses de ministério, deixando de fazer, ou não fazendo com eficiência, aquilo que era sua missão em vida, uma missão importante mas secundária, preparar doze apóstolos para pregarem o evangelho. Sua missão primária era morrer sem pecado e ressuscitar, isso não curaria só os corpos de pessoas dos lugares por onde andou, mas os espíritos da humanidade de todos os tempos. Jesus era espiritual porque conhecia as prioridades que o pai tinha para ele e as seguia, indiferente do que os homens pensavam ou diziam. 
      Espiritualidade é algo espiritual, parece óbvio mas muita gente não entende isso, enquanto no plano físico o espírito humano é invisível, fica escondido dentro do corpo, e isso tem um motivo. O motivo é a revelação de um mistério, espírito não se mostra, não se expõe, mas se protege, se valoriza, e se permite que suas virtudes sejam exteriorizadas no mundo através de nossos pensamentos, sentimentos, palavras e gestos, mas com discrição. Por isso, evangélicos, não deem valor a títulos, e como vemos jovens em igrejas, sinceros e esforçados, mas ansiosos por receberem títulos, evangelista, pregador, ministro, presbítero, diácono, e alguns, depois de receberem algum título, se os tratamos com alguma formalidade, ainda que tenham idade para serem nossos filhos, se sentem desrespeitados, quanta vaidade, quanta falsa espiritualidade. O segredo é existir como Jesus existiu quando homem, certos que o nosso fim pode ser perder a vida para obedecer ao pai, se algo diferente ocorrer agradeceremos a Deus, mas como graça a mais, não como uma honra que merecemos receber, quem acha que merece nunca receberá, não de Deus. 
      Por misericórdia o Senhor não permite que atualmente a grande maioria de nós tenha que dar a própria vida pelo que crê, mas muitos de nós podem ter que abrir mão de coisas bem caras, como orgulho próprio e honra dos homens, se quisermos ser espirituais, quem não estiver pronto para perder nunca alcançará espiritualidade. A história de muita gente que tenta caminhar com Cristo é justamente essa, Deus pede algo, e a pessoa não dá, e continua, caminhando como se nada tivesse acontecido, como se fosse cristã em perfeita harmonia com a vontade do pai. Essas pessoas não perderão a salvação, mas serão sempre crianças espirituais, ainda que conheçam a Bíblia de trás para a frente, que tenham cargos em igrejas e mesmo que sejam pastores. Jesus mostrou a espiritualidade mais alta andando no mundo, com os pés no chão, ciente de sua trágica realidade final, não era pobre nem sem cultura, mas nunca ansiou pelos valores desse plano, são ilusões. Tenham certeza, Jesus revelou aos homens muitos menos que sabia, e entendeu a razão mais importante de passarmos por esse mundo, obedecer a voz de Deus para de fato alcançar espiritualidade. 

      “Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me; Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, acha-la-á. Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em recompensa da sua alma? Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.Mateus 16.24-27

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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