20/10/20

20. Espiritualidade conforme tua fé

Espiritualidade Cristã (parte 20/64)

      “Porque pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um.“ “De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.“ “Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova.Romanos 12.3 e 14.12, 22 

      Fé é um evento produzido pela alma, através de um elemento emocional e outro mental. O emocional sente com convicção algo que se quer que aconteça, ele gera o conteúdo, o mental dá forma ao conteúdo, pode imaginar, visualizar aquilo que se deseja que ocorra. Isso, contudo, é só a parte humana, mas ainda que não encontre a parte divina pode trazer benefícios positivos ao ser humano. Essa convicção emocional que consegue ver uma solução pode influenciar o corpo, de alguma maneira que a ciência ainda não explicou, sua estrutura material e psíquica, realizando mesmo cura de enfermidades físicas e psicológicas, seria um efeito oposto ao do evento psicossomático, com a mente tendo influência positiva sobre o corpo.
      Essa “energia humana”, que mesmo cristãos podem achar equivocadamente que é ação direta de Deus, só se torna fé espiritual de verdade quando encontra uma vontade de Deus em realizar aquilo que se creu. Assim, não é qualquer coisa que se crê que Deus “responde”, é preciso que seja algo da vontade do Senhor, que de alguma maneira abençoará o homem e glorificará o nome de Deus, no tempo e no lugar melhor de acordo com o plano de Deus. Se isso ocorre nosso espírito saberá, visto que o Espírito Santo o informará que a bênção é de fato dom de Deus, e não mera casualidade do universo, é preciso que fique claro que “milagres” podem acontecer por motivos diversos, não tendo diretamente a mão de Deus envolvida.
      Mas quanto aos benefícios no corpo colhidos por um coração crédulo e positivo, também não foram permitidos por Deus? Sim, mas sob esse ponto de vista nada ocorre no universo sem que Deus permita, contudo, essa experiência pode vivenciar mesmo ateus ou adoradores de Satã. O ponto é que a princípio o limite da fé é a imaginação humana e o quanto podemos focar nela uma convicção emocional, assim, uma pergunta precisa ser feita: há limites para a fé? Sim, o limite é dado pela nossa imaginação, pelo menos para o evento inicial, não para a fé que é respondida por Deus no final. Espiritualidade é uma experiência que se inicia com fé, assim em sua origem também depende da fé pessoal que cada um de nós pode exercer.
      Se desejamos que Deus nos responda, há limites no que podemos crer, simplesmente acreditar, com sinceridade, não basta, é preciso sensatez, coerência e equilíbrio, e o Espírito Santo sempre nos orienta a crer da maneira correta. Contudo, mesmo entre os “filhos de Abraão” que habitarão o “ceio de Abraão” na eternidade, a fé pode diferenciar, é assim que tem que ser e Deus respeita isso. Ainda que achemos que alguns vivenciam uma fé menor que a nossa, devemos respeitar isso, muitos não conseguiriam entrar no reino de Deus com os dois olhos (usando o ensino de Mateus 18.9), olhar as verdades espirituais de maneira mais profunda poderia escandalizar alguns, e Deus na verdade não julga as pessoas dessa maneira. 
      Assim, que cada um caminhe segundo a fé que consegue carregar e seja fiel a ela, fazendo as coisas em paz indiferentemente daquilo que outros pensam ou creem. Agora, se fazemos com dúvidas, tentando convencer os outros porque nós não estamos convictos e na verdade queremos é convencer a nós mesmos, aí estamos em pecado, essa fé que dizemos ter, e não temos, não agrada a Deus. É melhor retroceder, fechar um olho, mas estar em paz, que pensar de si mesmo mais do que se é, por vaidade ou ganância, e não com humildade de espírito. Deus não nos julgará pelo número de olhos abertos, nem de pés que andam, nem pelas mãos que são usadas, mas pela paz real dos que creem nele, tenham esses os limites que tiverem. 
      Quando o objetivo da fé é Deus, o efeito dela é uma paz diferenciada, quem de fato crê tem a tranquilidade dos justificados, não o delírio dos loucos, que acreditam em sandices, imaginam alucinações e colhem amargura. Fé que para existir precisa que outros também creiam igual não é a fé dom de Deus, que salva e consola, é obsessão, ideia de homem para exaltar o homem, não é espiritual, não conduz nem adora a Deus. A fé genuína começa e termina no Altíssimo e à medida que o tempo passa fica mais firme, mais discreta, mesmo mais silenciosa, ainda que muito, muito mais eficiente, pois encontra a Deus sem subterfúgios, sem segundas intenções, se torna mais simples e estreita, mas mais reta e forte.
      “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito“ (João 15.7), eis um dos versículos mais simples e profundos da Bíblia, um mistério espiritual importante é revelado nele, dois princípios extremos são citados mas um limita o outro. Temos que estar em Deus, isso é estar em obediência a Deus, com uma vida que agrada-lhe totalmente. Temos que pedir conforme a palavra de Deus, dentro daquilo que o Espírito Santo ensina como sendo Deus e sua vontade para o homem. Mas não basta uma das coisas, quem tem vida certa e pede uma tolice, ou pede algo sábio mas tem vida errada, não acessará a fé dom de Deus que conduz à espiritualidade cristã. 
      Como em tudo na vida com Deus, espiritualidade se processa com fé, e se foi assim nas primeiras coisas, no perdão que dia a dia nos apossamos na presença de Deus, também é assim no “conhecimento espiritual mais profundo”. Usei e ainda usarei muitas vezes no estudo “Espiritualidade Cristã”, do qual essa reflexão faz parte, o termo “conhecimento espiritual mais profundo”, muitos talvez não entendam o que seja isso. É um conhecimento bíblico e teológico maior? Sim. É um conhecimento doutrinário maior da nossa religião cristã? Também. Mas o que está escrito, apesar de conter fundamentos essenciais que nos dão “limites”, é só o início, o que saber mais depende da fé de cada um no Espírito Santo. 
      Vimos que fé envolve convicção e imaginação, o sentimento foca e a mente visualiza, algo que se quer sem que ainda exista, de quem a fé espera resposta? De qualquer coisa, espírito ou homem, incluindo de si mesmo, o homem é livre para crer no que quiser para receber o que quer que seja. Há resposta para toda fé? Sim. É sempre resposta de Deus? Sim, nada ocorre nos universos sem autorização de Deus. Mas toda resposta abençoa o homem espiritualmente? Não, ainda que em curto prazo pareça abençoar. Fé só beneficia de fato o homem, em todas as áreas, e de uma maneira que o benefício permaneça e faça o homem crescer espiritualmente, quando é exercida no Espírito Santo, isso é muito mais que prosperidade material e cura física. 
      Fé é movimento, mas o Espírito Santo é o único caminho que conduz a Deus. Você pode ter um carro e usá-lo em estradas diferentes para chegar a lugares distintos, mas somente o carro em movimento na estrada certa vai levá-lo à casa do pai, onde há um amor especial. O selo do Espírito Santo só tem quem entendeu, aceitou e viveu a salvação de Jesus, nessa redenção ganhamos o Espírito de Deus que nos permite entender as verdades espirituais mais elevadas e construir em nós a vida eterna, que será plenamente manifestada no plano espiritual quando deixarmos nossos corpos físicos, seja pela morte ou pelo arrebatamento. 
      Quem tem o Espírito Santo tem acesso a Deus porque está em Deus, assim têm acesso livre à melhor estrada que leva ao mais excelente lugar. Contudo, não basta estar na estrada certa e ficar contemplando, de longe, o destino, é preciso fé para se mover nessa estrada, e uma fé aprovada por Deus. A fé que Deus aprova é a descrita em João 15.7, ela movimentará nosso espírito através do Esprito Santo até o Deus altíssimo. Para a maioria das pessoas acreditar não é um problema, no divino muitos creem, outros só em si mesmos, passando por uma infinidade de entidades, homens, objetos e ritos mágicos, contudo, muitos, incluindo cristãos, têm dificuldade para se apossarem do caminho reto do Espírito Santo. 
      Esse caminho é vivenciado através de um processo de colocação espiritual, que inicia-se com perdão e adoração, para estão alcançar um estado de tranquilidade onde nos posicionamos na mais pura estrada espiritual. A grande maioria dos cristãos pede perdão, louva, deixa seus pedidos, e para aí, não medita, não contempla e não ouve a voz do Espírito Santo ensinando e revelando. Muitos evangélicos, ainda que livres emocionalmente para sentirem o prazer que advém da liberdade do Espírito Santo, não abrem suas mentes para discernirem a voz do Espírito Santo, assim param no início da estrada e não se movem por ela até o Deus Altíssimo, e infelizmente, achando que isso é o máximo na espiritualidade cristã.
      Tudo é possível ao que crê no Espírito, tudo o que Deus quer dar a alguém para que seja feliz. Isso não faz de alguém um super-herói, muito menos um religioso famoso que realiza sinais e prodígios, não, o plano de Deus nunca foi esse apesar de muitos acharem que o evangelho prega essas referências. Mas se fizermos tudo certo poderemos nos aproximar mais do homem que Jesus foi quando encarnado, só não se esqueça, que o que alguém espiritual como ele provou no final da vida, foi perseguição e descrença. Andemos conforme a nossa fé e nos movamos com ela no Espírito Santo, mas cientes que ser um cristão espiritual neste mundo é buscar a vida de Jesus homem, não de “deuses”. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

19/10/20

19. Tempos: de salvação, de galardão

Espiritualidade Cristã (parte 19/64)

      “E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” Lucas 23.39-43

      Julgamos a nós mesmos e aos outros pelo tempo, pensamos: “esse é tão novo e já tão bem sucedido”, ou, “aquele já passou do tempo de tomar jeito”, ou ainda, “se eu tivesse a cabeça que tenho hoje há vinte anos atrás”. Assim achamos que um ser humano melhor é aquele que aproveitou o tempo mais eficientemente, que levou menos tempo para acertar, que conquistou mais em um tempo menor. Mas será que é assim que Deus pensa? Será que Deus nos julga pelas referências de tempo deste mundo? Qual de fato a importância do tempo em nosso crescimento, em nossa espiritualidade?
      Em nosso crescimento espiritual pessoal o tempo não têm qualquer importância. Se levamos um ano, cinco, dez ou trinta anos, para entendermos e praticarmos certas coisas, não importa, levaremos para a eternidade a melhor posição espiritual que tivemos no mundo e na qual permanecemos pelo maior tempo que nos foi possível, não importa quanto levamos para isso. Também não importa o quanto beneficiamos outros com nossos crescimentos, não para a salvação e direito ao céu, por isso não devemos julgar ninguém, quem sabe o que alguém decidiu diante de Deus em seu último instante de vida aqui?
      O exemplo do segundo crucificado com Cristo na passagem inicial ensina-nos isso de forma clara, Jesus prometeu ao condenado o paraíso imediato, por que isso? Porque Jesus sabia que naquele homem havia um coração arrependido e crente, pronto para a melhor eternidade com Deus, ainda que tivesse passado uma vida no erro, mesmo que estivesse sendo crucificado para pagar o preço de seus erros para o mundo. Isso revela o poder da fé no nome de Jesus e a força que existe num posicionamento pessoal de mudança de vida, posicionamento muitas vezes desconhecido dos homens, mas sabido por Deus. 
      Tempo importa aqui, no mundo, no plano físico, e nas referências materiais, mas essas só construirão valores também materiais, que poderão ser usufruídos aqui, não na eternidade espiritual. Assim, esses valores poderão beneficiar não só a nós como aos outros e é claro, serão vistos e conhecidos por muitos, que poderão nos colocar em alta consideração por causa disso. Mas até que ponto esses valores abençoam os outros espiritualmente? Muitos recebem conforto e bens, mas não recebem o verdadeiro amor, porque quem os criou teve tempo para muitas coisas, menos para amar, deu coisas, não afeto. 
      Obviamente de imediato alguns só precisam de um prato de comida, e quem lhes dá isso pratica uma obra que abençoará não só ao corpo, mas também ao espírito, só com o mínimo de saúde física podemos ter saúde mental para buscar saúde espiritual. Se pessoalmente um instante pode bastar para mudar nossas vidas, o tempo nos dá a oportunidade de abençoarmos outras vidas neste mundo. Isso será importante na eternidade? Não para salvar, ninguém é salvo por obras, mas para nos graduar espiritualmente, o que a teologia protestante chama de galardão, conceito que os evangélicos pouco se atém.
      Mas, talvez, nossa existência aqui neste plano, que às vezes parece interminável e outras vezes rápida demais, seja só um instante na eternidade, um grão de areia na ampulheta divina, para que somente uma coisa nós façamos, nos dobrarmos a Deus. Cada um é dobrado de um jeito, cada um tem algo a ser quebrado para que depois busque conserto através de Jesus, cada um de nós tem algo único e diferente que precisa ser revelado pela luz do Espírito Santo. Se entendermos esse instante, não morreremos, apenas passaremos daqui para o plano espiritual em Deus, e quem parte nele continua nele, para sempre. 

      “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.” I Coríntios 3.11-15

      A passagem acima nos ensina sobre o galardão que os salvos ganharão não eternidade. Que metáforas representam edifício, os materiais e o fogo? O edifício é nossa existência no plano físico, o sábio se colocará sobre Jesus, pisará na rocha, não sobre religião nem sobre o materialismo, mas naquele que pode levar diretamente ao Altíssimo e selar com o Espírito Santo. Jesus é a rocha inabalável em qualquer tempo ou situação desse mundo tão frágil e sujeito às injustiças dos homens. Contudo, ainda que se seja salvo, que se esteja sobre o fundamento melhor, é preciso construir com os materiais corretos.
      O que define o galardão não é a base onde se constrói nem a construção em si, mas o material usado para construir. Pode-se usar materiais diferentes, ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, o fogo provará esses materiais e só o material que permanecer ganhará galardão. Galardão não é salvação, pois mesmo que nada sobreviva ao fogo a pessoa será salva, mas será salva porque ainda que tenha construído com materiais inadequados estava sobre o fundamento melhor. Cristo nos salva do fogo, mesmo que tenhamos passado a vida construindo existências equivocadas, se cremos em Jesus somos salvos. 
      Os materiais não são as obras, mas a qualidade delas, diversos materiais podem ser usados e mesmo sendo diferentes podem resistir ao fogo, assim o galardão também pode ser diferente. Materiais diferentes podem ter qualidades diferentes, pureza, beleza, transparência, brilho, resistência, representando virtudes diferentes, dessa forma algumas virtudes são diferentes de outras, ainda que não sejam melhores. Então, podemos entender que o galardão poderá ser não só uma posição espiritual distinta, mais baixa ou mais alta, mas também uma identidade espiritual única, ainda que na mesma posição. 
      O fogo é o juízo, para o salvo não para decidir se ele irá para o céu ou para o inferno, mas se ganhará galardão e qual a qualidade desse galardão. Não é um fogo físico, mas espiritual, o fogo do Santo Espírito, a luz do altíssimo passada através de tudo que alguém fez, disse, pensou e sentiu no mundo, todas as suas obras. É a palavra viva de Deus descrita em Hebreus 4.12, que funciona como uma sonda que vasculha “células” e “átomos” espirituais, revelando o âmago de cada ser, suas mais profundas intenções, trazendo à tona mesmo as vaidades mais secretas, a verdade de cada um que muitas vezes é escondida de todos. 
      Cada ser tem uma identidade espiritual, com uma missão específica para expressar essa identidade, por isso cada um passa por provas diferentes para que sua essência espiritual seja trazida à tona. Isso ocorre à medida que deixamos que o Espírito Santo trabalhe em nós, o que nos permite usar materiais mais nobres em nossas construções. Alguns podem construir enormes castelos, honrados pelos homens, mas se forem de palha serão queimados pelo fogo. Outros, contudo, podem construir pequenas casas, sem reconhecimento humano, mas se lá no interior das paredes for usado ouro, resistirão ao fogo.
      Refletindo sobre a importância do tempo na qualidade de nossa vida espiritual, concluímos que ele pouco pode valer numa decisão para nossa salvação pessoal, podemos ser elevados a um nível alto de espiritualidade num instante. Um instante pode parecer pouco, mas pode ser a conclusão de toda uma vida, e se um instante for o suficiente para Deus, quem somos nós para discordarmos? Contudo, os que têm a oportunidade de tomar a decisão certa com mais tempo de vida no mundo, poderão abençoar os outros, assim as obras que serão feitas nesse tempo poderão dar direito ao galardão espiritual. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020

18/10/20

18. Espiritualidade e o tempo

Espiritualidade Cristã (parte 18/64)

      “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste.” João 17.3

      “Porém, muitos primeiros serão os derradeiros, e muitos derradeiros serão os primeiros.Mateus 19.30

      “Porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos.Mateus 22.14

      Amo João 17.3, é o texto lema do “Como o ar que respiro”, foi por ele que comecei o blog em 2010. Ele revela um dos mistérios mais importantes da Bíblia, senão o mais, ele responde à pergunta, “o que é a vida?”, e mais, nos diz muito sobre a verdadeira espiritualidade. Vida eterna e verdadeira espiritualidade, que são a mesma coisa, é conhecer a Deus como único Deus e Jesus como o enviado desse Deus para nos salvar. Novamente enfatizando, o sentido de conhecer a Deus no texto não é um conhecimento intelectual, mas espiritual, não é adquirir doutrinas, mas se posicionar espiritualmente.
      João 17.3 diz muito sobre a relação entre tempo e espiritualidade, porque conhecimento espiritual não está atrelado a tempo no plano físico, mas só a virtudes que nos colocam numa posição espiritual instantaneamente. Conhecer a Deus não é nos enchermos de informações, mas nos esvaziarmos delas e permitirmos que o Espírito Santo nos encha, quando estamos nessa comunhão não há tempo, e mesmo o pouco tempo nos dá todo o tempo do mundo. Conhecer a Deus não nos faz superiores aos homens, mas próximos ao Altíssimo, à medida que nos liberta da morte que é o pecado no tempo e nos dá vida eterna. 
      Para o evangélico comum ou é céu ou é inferno, para o católico ainda existe a possibilidade do purgatório, onde alguém passa um sofrimento no plano espiritual, mas passageiro, posição que pode ser mudada mesmo por influência da oração dos vivos, isso, repentinos, conforme a teologia católica. Os espíritas kardecistas e outros religiosos orientais vão além com o conceito da reencarnação, mortos podem tornar a viver no mundo com o mesmo espírito, mas em corpos diferentes, assim não existe céu nem inferno eterno, mas apenas tempos para que a pessoa reflita, mude de atitude e cresça espiritualmente. 
      Os protestantes são os que menos valorizam tempo para proporcionar evolução ao ser, para eles fé em Cristo é tudo. Cristo como único e suficiente salvador eterno é a bênção maior da verdadeira espiritualidade, mas que interpretado pelos homens pode ter um lado bom e um lado ruim. O lado bom é a segurança que independe de homens e de créditos pessoais, mas só de Deus, dando a ele toda a glória por isso. Esse lado bom é tão bom que compensa todos os outros lados, que são mais equívocos, que lados ruins, mas o lado menos bom é que muitos cristãos podem ser tornar mimados.
      Isso tem acontecido principalmente nos tempos atuais, quando o pentecostalismo se populariza, junto de suas ramificações hereges como a teoria da prosperidade, vemos nos últimos tempos crentes ociosos e pouco afeitos à caridades. Com ocioso não quero dizer vagabundo, não é isso, todos trabalham, contudo, deixam de fazer algumas coisas que são partes dos homens achando que é parte de Deus fazer. Por quê? Porque creem e acham que isso basta. Contudo, viver neste mundo é uma oportunidade especial de se viver no tempo e Deus tem um importante propósito com isso, para à salvação e para o galardão. 
      Talvez o texto mais relevante no novo testamento sobre tempo seja o do final de Mateus 19 (também presente nos evangelhos de Marcos e de Lucas), Jesus usa um antagonismo para exortar aqueles que por alguma vaidade possam se achar melhores que outros, ou com mais direitos, à eternidade e à espiritualidade. Chegar antes não basta, muitos vêm depressa para igrejas, mas nunca de fato mudam de vida, é preciso chegar com as vestes certas. A declaração no final da passagem de Mateus 22.1-14 ressalta isso, todos são convidados, e alguns no último momento, mas só os vestidos adequadamente podem ficar.
      Podemos precisar de um longo tempo neste mundo para purificar nossas intenções e nossas ações, enquanto outros já estão em igrejas, muitas vezes posando de cristãos, mas com vidas duplas, em hipocrisia e mentiras. Não nos apressemos, principalmente diante dos homens, quem salva é Deus, quem nos conhece é Deus, quem nos veste com vestidos brancos lavados com o sangue de Cristo é Deus, e tempo, para Deus, nada significa. Não se ganha espiritualidade por tempo de serviço em religiões, mas com corações humildes que querem agradar ao Altíssimo indiferentemente se os homens sabem ou concordam. 

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José Osório de Souza, 30/09/2020

17/10/20

17. Uma espiritualidade gradativa

Espiritualidade Cristã (parte 17/64)

      Parece que por mais excelente que pareça a novidade de Deus nesse mundo, ela sempre perde o encanto, Jesus nunca deixará de ser o salvador, isso é para sempre, mas a mesma arrogância que tinham os líderes da religião de Israel no primeiro século, que os levou a matarem o Cristo e a perseguirem os primeiros cristãos, também existe hoje em evangélicos. O princípio nunca mudou desde a queda de Adão, Moisés legalizou o sacrifico de animais dando à humanidade uma metáfora do verdadeiro sacrifício que ocorreria com Jesus, o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Mas é só isso? Não, isso é só o início, é só o meio que nos dá direito a entrar na presença de Deus para começar a aprender com o Espírito Santo. 
      Contudo, uma velha mentalidade precisa morrer para dar lugar à nova, e em seu final, a velha se torna mais arrogante e resiste à nova com violência. Isso ocorre hoje no mundo e vemos claramente no Brasil, o que já existia de forma velada e que não foi corrigido ganhou espaço, saiu dos templos e invadiu a política à medida que achou representantes que encarnassem o equívoco, que mais que uma arrogância é uma heresia. O resultado é uma guerra ideológica, que do campo verbal facilmente pode cair no físico. Sim, os antigos líderes religiosos de Israel eram intolerantes religiosos, mas um cristianismo desviado, que já provou isso na inquisição católica, também prova isso no meio protestante atual. 
      Um evangelho que foi oferecido à humanidade como o melhor e mais eficiente caminho para a espiritualidade, torna-se só uma ideologia para satisfazer a vaidade de homens que se acham donos da verdade e que querem que todos pensem como eles pensem, algo que nem Deus exige de ninguém. Apesar disso tudo não tem como a gente não se emocionar com a declaração de Pedro e João em Atos 4.10, “seja conhecido de vós todos... que em nome de Jesus Cristo... é que este está são diante de vós”, que autoridade sincera e poderosa, pura e nova, não como as palavras de muitos imitadores atuais, envelhecidas, manipuladas, com segundas intenções e principalmente no tempo errado.
      Os tempos são outros, Deus não mudou, mas o homem, sim, e esse precisa de uma palavra renovada de Deus fornecida não por interpretação tradicional da Bíblia, mas pelo Espírito Santo. Muitos ainda pensam que a melhor expressão do evangelho é experimentada com uma fé enorme que realiza milagres, como o que Pedro e João realizaram em Atos 4. Mas vou dizer algo que talvez espante alguns, um grande erro nas igreja evangélicas atuais é que existe fé demais, e fé demais, perdoem-me o trocadilho, fede. Interessante que existe muita fé e ainda assim poucos milagres genuínos são realizados. Por que isso acontece? Porque Deus não age mais assim, e isso porque a lição sobre fé já foi aprendida.  
      Hoje o homem sabe lidar com valores subjetivos e não só olho por olho e dente por dente ou trocar valores morais por materiais. Ele entende que adultério não é só o ato em si, mas que mesmo o desejo não realizado que existe na mente já é adultério, ele sabe que não precisa matar um animal para ter perdão, basta crer no sacrifício de Cristo. O homem entendeu que existe um mundo mental e espiritual, o homem entendeu espiritualidade e espírito, o homem entendeu a fé, assim ele já está pronto para aprender coisas novas. Ênfase na fé era de suma importância no início do cristianismo porque era necessário desconstruir uma velha religião baseada em obras, por isso tantos milagres e tantos textos defendendo a fé. 
      Todavia, a ênfase exagerada na fé que se dá hoje só tem fortalecido o humanismo, feito o homem crer em sua fé, não em Deus, levando-o a pensar que basta crer para ter. “Não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido” (Atos 4.20), isso nunca muda, mas o que de fato temos visto e ouvido de Jesus? O que de fato tem sido feito por Deus e não só por convicções humanas e mesmo por “intercessões diabólicas”? O que de fato Deus tem feito e que não é só fantasias ou invenções de homens em nome de Deus? O que de fato Deus quer fazer para o ser humano do século XXI? Se é que entendemos o que é o homem atual e não queremos que ele seja alguém infantil ou ultrapassado. 
      Eu posso só responder por mim, eu sei o que tenho ouvido de Deus em oração, sincera, profunda e constante, quando o Espírito Santo me compunge à santidade e à humildade, eu sei o que tenho visto de Deus em minha vida, em sessenta anos de existência e com mais de quarenta de conversão ao evangelho, em minha vida e nas vidas de minha mãe, esposa e filhas. Eu sei e isso não posso negar, por isso o “Como o ar que respiro” existe, para testemunhar a minha verdade na verdade maior do Altíssimo, esse espaço não tem razão de ser na busca de fama ou para convencer alguém a pensar como eu penso, mas só em dar testemunho, quem quiser que tire, ou não, suas própria conclusões. 

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.

16/10/20

16. A espiritualidade dos primeiros cristãos

Espiritualidade Cristã (parte 16/64)

      “E, pondo-os no meio, perguntaram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto? ...Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós... E, chamando-os, disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem, no nome de Jesus... Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus, porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido.Atos 4.7, 10 e 18-20

      Se a verdadeira espiritualidade é a pessoa do Espírito Santo com liberdade em nós pelo nome de Cristo, o registro bíblico que mostra os frutos que esse Espírito deu aos primeiros cristãos no livro de Atos dos Apóstolos, é o testemunho direto e puro dessa espiritualidade. Ela tinha várias características, como manifestação de feitos milagrosos físicos, assim como conversão de grupos grandes de pessoas ao evangelho, conforme esse saía de Jerusalém e ia sendo pregado em boa parte do mundo do primeiro século, com Pedro e João, com Paulo, Timóteo e outros. A reflexão a seguir é sobre um dos primeiros frutos da espiritualidade do Espírito Santo.
      Após terem curado um coxo e pregado o evangelho (cerca de cinco mil pessoas creram), Pedro e João foram interrogados pelos líderes da religião de Israel que estavam num dilema, não podiam soltar os dois porque iam contra aquilo que eles entendiam ser suas crenças, mas também não podiam prender porque o povo tinha presenciado o milagre e sabia que era genuíno. Dessa forma soltaram os dois, mas os exortaram que não pregassem mais o evangelho, foi então que eles responderam com as palavras do verso 20. Mas o que incomodava tanto os sacerdotes, os saduceus, os escribas e outros da linhagem do sumo sacerdote, em relação ao evangelho? 
      Os versos 7, 10 e 18 resumem o incômodo, representantes de uma velha religião não aceitavam que outros tivessem mais autoridade que eles e que dissessem que essa autoridade vinha de Deus. Isso mostra claramente a obsessão que o homem tem para se achar dono exclusivo de certas coisas, principalmente de “verdades” espirituais. Isso, todavia, não foi exclusivo de líderes da velha religião judaica do primeiro século, o próprio cristianismo, à medida que conquistou o mundo, seja pelo catolicismo ou pelo protestantismo, também adquiriu essa arrogância. Mas alguém pode perguntar, “mas o cristianismo não prega Jesus, de fato a única autoridade de Deus para salvar”?
      Ainda assim como cristãos não podemos ter essa arrogância, mais ainda, é justamente por sermos aqueles que pregam o evangelho que não devemos ter essa arrogância, ainda que creiamos num Jesus como único caminho, verdade e vida. Mas se é difícil para um homem comum não ser arrogante, muito mais para o que provou o evangelho, não deveria ser, se o cristão continuasse crescendo, mas é para aquele que passa anos como uma criança espiritual, que recebeu as bases da doutrina e não se aprofundou mais nela pelo Espírito Santo. Assim, ainda que de um jeito mais discreto, os cristãos de maneira geral, sempre recriminaram os que pregam autoridade divina que não venha deles.
      Temos que entender e aceitar uma coisa sobre Deus se manifestando ao homem em pecado, o Senhor age através de um processo gradual, que se aperfeiçoa com o tempo. Aquela comunhão que o homem podia ter com Deus, nos ensinada no livro de Gênesis, foi perdida com a escolha do pecado, e de forma radical. Como sempre, quando o pecado entra, o ser humano se rebaixa muito, perde direitos e honras, suja-se. Logo em seguida à expulsão do homem do Éden já vemos uma cena de assassinato, e de um irmão matando o outro, assim o primeiro fruto de qualidade do qual deveria descender toda a humanidade, Abel, não viveu muito, Caim o matou e foi expulso. 
      Depois Set nasceu para dar continuidade ao plano de salvação de Deus, Abraão foi o descendente de Set para o qual Deus fez a promessa de um povo grandioso e especial que teria uma aliança com ele e a oportunidade de testemunhar sobre Deus no mundo. Nesse tempo todo o homem já tinha o costume de oferecer sacrifícios de animais e de outras coisas a Deus para obter perdão de pecados e outras graças. Mas foi só com Moises que uma família se tornou uma nação e recebeu a Lei e os protocolos para sacrifícios num templo que deveria ser meticulosamente construído, manifestando-se assim no mundo uma religião formal para religar o homem a Deus.
      Contudo, foi só em Jesus que Deus deu ao homem a “religare” definitiva, completa e eterna, nesse ponto da reflexão, podemos fazer uma pergunta: por que demorou tanto tempo, desde o primeiro homem mítico Adão até o primeiro século de nossa era, para que isso acontece? Porque o homem não estava pronto, mas ele está pronto hoje? Não, para conhecer toda a verdade sobre espiritualidade não está, ainda que em Cristo ele já tenho o meio de ter acesso direto ao pai celestial. Assim, a espiritualidade dos primeiros cristãos, por mais poderosa que nos pareça, também era algo a ser aperfeiçoado, numa revelação progressiva do Altíssimo à sua criatura à medida que ela crescesse no espaço e no tempo. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

15/10/20

15. O Espírito Santo é espiritualidade

Espiritualidade Cristã (parte 15/64)

      “E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias. Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra. E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos.” 
Atos 1.4-9

      “E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. E em Jerusalém estavam habitando judeus, homens religiosos, de todas as nações que estão debaixo do céu. E, quando aquele som ocorreu, ajuntou-se uma multidão, e estava confusa, porque cada um os ouvia falar na sua própria língua.“ “E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo” “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas.” 
Atos 2.2-6, 38 e 41

      “Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei. E, quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, e da justiça e do juízo. Do pecado, porque não crêem em mim; Da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais; E do juízo, porque já o príncipe deste mundo está julgado. Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” 
João 16.7-14

      Não podemos estudar o assunto espiritualidade sem falarmos sobre o Espírito Santo, no cristianismo genuíno espiritualidade é a pessoa do Espírito Santo. O texto inicial de Atos 1 é o registro das últimas palavras de Jesus neste mundo, já ressuscitado e com um corpo transformado, dando as derradeiras orientações a seus discípulos, elas foram especificamente sobre o Espírito Santo. A orientação de Cristo deixa claro que os homens devem passar por uma experiência clara e marcante, que os habilite para testemunharem do evangelho, que não seja só um comprometimento público com uma religião pelo rito do batismo, nem só um entendimento racional do que é o evangelho e de que ele foi adotado como estilo de vida. A descida do Espírito Santo em Atos 2 foi bem mais que isso e teve efeitos poderosos, físicos, no local onde os discípulos estavam, nas vidas dos discípulos, assim como nas vidas daqueles que ouviram os discípulos testemunharem na plenitude do Espírito Santo. 
      É claro que como evento inaugural, a descida do Espírito Santo na festa de Pentecostes em Jerusalém, deveria ser diferenciada, isso não acontece hoje com todos os que recebem o selo do Espírito Santo, contudo, é importante que entendamos que o grande debate teológico presente nos evangelhos e principalmente nas epístolas paulinas se trata de ensinar o quanto a nova aliança pela fé em Cristo é superior à velha aliança pelas obras, ritos e sacrifícios de Moisés. Muitos dos textos que usamos como argumentação para provar muitas teologias relacionadas a temas atuais, na verdade, originalmente, não estão no mesmo contexto no novo testamento, e muitos podem não ter nada a ver com as relevâncias atuais. Mas por causa desse debate é que foram necessários tantos sinais e milagres, e em minha opinião, não para provar o poder de Deus, Deus não precisa disso, mas a legitimidade de Jesus como seu filho e, mais ainda, para convencer homens incrédulos e presos a tradições.
      Mas a promessa de Jesus em João 16, feita antes de sua crucificação, deixa claro que a religião que fundaria proporcionaria ao homem bem mais que a escolha de uma ótica metafísica, de uma estética de Deus para se adorar, de ritos a se fazer a fim de se ter onde colocar a fé e entender o divino e a existência, assim como de um jeito de se livrar de culpa e obter uma paz interior que vá além das satisfações do corpo, a grande diferença do que Jesus deixou após salvar o homem é o Espírito Santo. Muitos até professam isso com a boca, mas na prática não vivem à medida que confiam mais nos textos tradicionais da Bíblia que numa relação viva com o Espírito Santo, e não, não estou diminuindo o valor do cânone bíblico, mas estou dando ao Espírito Santo o valor que Jesus deu. Jesus diz algumas coisas muito importantes sobre o Espírito Santo, que chama de Consolador, talvez a principal característica do Espírito de Deus.
      Nos consolar no caminho tão curto e muitas vezes dolorido que é nossa passagem por este mundo, só isso bastaria, só isso é o que precisamos tantas e tantas vezes, quando buscamos a Deus com um problema que parece impossível de ser resolvido, sozinhos e sem que ninguém de fato possa entender nossa situação e muitas vezes nem estar interessado em saber ou nos ajudar. Um Deus que nos consola, isso diferencia o cristianismo de qualquer outra ótica religiosa, um Deus pessoal e que sente o que sentimos, que nos faz companhia, não só uma energia impessoal que nos leva a crermos em nós mesmos, talvez isso baste para os “fortes”, mas os fracos precisamos de mais, de um pai, de alguém de quem possam depender. Mas será que isso é fraqueza ou é de fato a verdade sobre nós, verdade que os espíritos das trevas escondem atrás do álibi que o forte não precisa depender de ninguém só dele mesmo? Respeito quem pensa assim, que se acha “forte”, mas eu já entendi que não sou e sou totalmente dependente de Deus e de seu Espírito.
      Na parte seguinte de João 16 Jesus diz que o Espírito Santo convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Do pecado porque o mundo não crê em Jesus, da justiça porque Jesus voltou para Deus, e do juízo porque o príncipe do mundo está julgado, vamos entender isso um pouco mais. Ninguém pode convencer o homem que ele é pecador e precisa de salvação, só o Espírito de Deus que está sobre a Terra, mas ele só faz isso se o homem permitir. Só Jesus através de seu Espírito pode confrontar o homem e convencê-lo da necessidade de justiça, porque não existe nenhum justo no mundo para fazer isso. Isso ensina que não devemos nos usar como referência para julgar e condenar alguém, ainda que devamos persistir em viver o evangelho. Contudo, existe um juízo, porque pela justiça de Deus existe alguém que nos dá a oportunidade de escapar dele, o Espírito Santo, e ninguém ficará impune pelo que tiver praticado aqui, o mal maior, o diabo, a quem foi dada a autoridade sobre este mundo, já está julgado e condenado. 
      A última parte de João 16, contudo, é reveladora, “ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora, mas quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade“, eu afirmo que o maior erro que os cristãos, não o mundo, mas os da Igreja cometem, é desprezar de alguma maneira o Espírito Santo. O que muitos chamam de aprender com Deus é só conhecer intelectualmente o princípio da doutrina através da Bíblia, e o que outros chamam de plenitude do Espírito Santo é só experimentar emocionalmente o começo de uma experiência espiritual genuína que poderia ir muito mais além se as pessoas tivessem fé e dessem menos importância à tradição de homens. Por que ser espiritual? Para darmos liberdade ao Espírito Santo, o único que pode nos levar ao conhecimento de toda a verdade, verdade que nem Jesus revelou os seus mais próximos simplesmente porque eles ainda não estavam preparados. Nós, contudo, já estamos preparados, e há algum tempo. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
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para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

14/10/20

14. Espiritualidade e unção

Espiritualidade Cristã (parte 14/64)

      “Tu, pois, toma para ti das principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, e de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him. E disto farás o azeite da santa unção, o perfume composto segundo a obra do perfumista: este será o azeite da santa unção.
      E com ele ungirás a tenda da congregação, e a arca do testemunho, e a mesa com todos os seus utensílios, e o candelabro com os seus utensílios, e o altar do incenso. E o altar do holocausto com todos os seus utensílios, e a pia com a sua base. Assim santificarás estas coisas, para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo. Também ungirás a Arão e seus filhos, e os santificarás para me administrarem o sacerdócio.” 
Êxodo 30.23-30

      Unção, como esse termo tem sido usado atualmente em muitas igrejas evangélicas, mas o que é unção? Quando alguém de fato está ungido por Deus, e sendo assim, usado por Deus e vivendo, na prática e não só nas palavras, como um ungido de Deus? Para muitos, no meio cristão, algo que está diretamente relacionado com a mais alta espiritualidade é a unção, se acham que alguém está ungido então concluem que com certeza esse alguém é uma pessoa muito espiritual. A definição do dicionário diz que unção é “ato ou efeito de ungir, de aplicar óleo consagrado numa pessoa”, ou o “ato ou efeito de untar, de esfregar com unto, gordura, untadura, untura”, assim o termo unção está ligado ao uso religioso do óleo. 
      A passagem bíblica mais reveladora sobre unção é a de Êxodo 30, onde Deus dá a Moisés a receita para produzir o óleo que seria usado na unção dos objetos e locais do templo assim como dos sacerdotes, “principais especiarias, da mais pura mirra quinhentos siclos, e de canela aromática a metade, a saber, duzentos e cinqüenta siclos, e de cálamo aromático duzentos e cinqüenta siclos, e de cássia quinhentos siclos, segundo o siclo do santuário, e de azeite de oliveiras um him”, isso para criar “o perfume composto segundo a obra do perfumista”, o óleo. Nas medidas atuais seriam mais ou menos assim as proporções: 5,75 kg tanto de mirra quanto de cassia, 2,88 kg tanto de canela quanto de cálamo, e 4 litros de azeite. 
      Vejamos as características dos elementos que compõem esse óleo. A Mirra é uma planta espinhosa, medicinal e usada como cicatrizante, anestesia e no tratamento rejuvenescedor. A canela aromática (cinamomo) além de medicinal, pode ser usada no alimento e tem um cheiro marcante. O cálamo aromático (ou cana cheirosa ou jasmim azul) é uma planta pequena, aquática e rara, é usada para purificação da água que é consumida, mas também tem indicação como cicatrizante, seu cheiro é agradável, assemelha-se a tangerina, mas seu sabor é amargo e picante. A cássia (ou chuva-de-ouro) ao mesmo tempo limpa, ornamenta e perfuma o ambiente. O azeite é o óleo da oliveira, ele reduz o risco de infarto.
      Assim, o óleo têm características diferenciadas, é feito de elementos especiais, não são encontrados com tanta facilidade, são especiarias, são elementos que exalam cheiros agradáveis e únicos, é perfumado e feito com plantas aromáticas. O que dá o corpo ao óleo é o azeite de oliva, que confere ao produto uma consistência gordurosa, líquida mas insolúvel na água, que faz com não seja derramado com facilidade, permanece por mais tempo sobre a superfície. Por isso o termo untado a óleo, e não molhado, a água, por mais pura que seja, não tem cheiro e facilmente escorre e seca. Todas essas características do óleo israelita para unção são metáforas para a unção espiritual do Espírito Santo.
      O óleo nos passa ideia de limpeza, e em se tratando de coisas espirituais, de santidade, mas é mais que isso, se a metáfora fosse só essa bastaria lavar as coisas religiosas com água limpa. Ele tem um cheiro forte e agradável, isso nos passa a ideia de uma limpeza que é compartilhada, todos no mesmo espaço ou próximos sabem quando alguém usa perfume, pelo cheiro. Em termos espirituais nos fala de uma santidade feliz, alegre, exultante, que transborda o “perfumado” (o ungido) e que compartilha sua experiência com os outros. Repetindo a metáfora da água, também usada para identificar o Espírito Santo (“água viva” em João 4.10-14), ela alimenta o que a prova, mas numa experiência mais discreta e pessoal. 
      Mas além da limpeza e do cheiro, o óleo tem uma cor, brilhante e dourada, como o ouro, o que confere realeza a quem o usa, em termos espirituais isso no remete a Deus, o ungido foi tocado por Deus, quem tem essa experiência não a esquece facilmente, fica marcado com ela. Novamente comparando, a água vai e seca com mais facilidade, o óleo não, fica na superfície, não some tão depressa, e além disso, o óleo da unção tinha efeitos fisicamente curativos. Dessa forma entendemos que a unção do Espírito Santo santifica, diferencia socialmente, abençoa os outros e também cura as feridas emocionais. Para entendermos tudo isso temos que nos lembrar das três áreas que compõem o ser humano.
      Com certeza a unção de Deus mexe com nossos sentimentos, mas ela é muito mais que emocionalismo, sentimentos vêm e vão, e facilmente cedem lugar a seus opostos, o efeito emocional da unção de Deus é diferente. Como em tudo na experiência com Deus através de Cristo, fé é a chave, assim a verdadeira unção nem sempre nasce de um momento em que estamos felizes, ao contrário, pela fé podemos experimentar uma unção de Deus num momento de extrema tristeza e solidão, onde tudo contribui para que não nos sintamos bem. Mas ainda assim, o Espírito Santo vem e nos encontra, nos enche, nos alimenta, não, meus queridos, é muito mais que sentimento da alma, é unção, o santo óleo espiritual do Altíssimo.

      “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união. É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes. Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o Senhor ordena a bênção e a vida para sempre.” Salmos 133

      “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” João 13.34-35

      Existe uma unção no mundo, a “unção do mundo”, e ela é bem forte, artistas a têm, com ela eles hipnotizam multidões em estádios e na internet, com ela eles cantam, dançam, tocam, com um carisma diferenciado. Essa unção baseia-se na alma, uma emoção humana usada com muita inteligência e manifestando-se através de talentos naturais do corpo, como oratória, canto, técnica musical, poética etc. Essa unção tira do ser humano o máximo que ele pode ser e fazer sem o Espírito Santo, o diabo pode ou não ter alguma ingerência direta nela, e na verdade isso nem importa, se não é de Deus, sempre dá glórias ao diabo. Essa unção é tão forte que seduz mesmo homens em púlpitos de igrejas cristãs. 
      A verdadeira unção nasce num espírito tocado diretamente pelo Espírito Santo de Deus, não nasce na alma, seja por emoção, por mais alegria e euforia que se sinta, ou de conhecimento, por mais profundos que sejam, também não nasce no corpo, por cantar, bater palmas, dançar ou correr. O espírito ungido, e ungido pelo Espírito Santo não por outros “espíritos”, entrega à alma pensamentos e sentimentos ungidos, assim entendimentos e emoções são efeitos da unção genuína de Deus, não causas. A alma por sua vez manifestará no corpo, por sons, imagens, outros sentidos e movimentos, os efeitos de fato ungidos pelo Santo Espírito de Deus, com equilíbrio e bom senso. 
      Será que todas essas evidências podem ser notadas em muitos que chamamos de ungidos atualmente? Alguns cheiram forte, mas um perfume barato que ainda que agrade no início depois enjoa, nos repugna e até nos dá dores de cabeça, esses até controlam seus corpos, mas não suas línguas, falam e falam, mas nada de fato profundo. Outros até demonstram uma “consistência oleosa duradoura” em suas “unções”, mas depois que expõem fisicamente seus êxtases não seguram mais nada de espiritual, a lembrança que teremos deles é apenas de gente escandalosa, sem domínio próprio, mais com vontade de exibir uma espiritualidade (falsa) como vaidade, que testemunhar de Deus. 
      Meus queridos, todos nós temos direito a infantilidades espirituais, crianças devem ser respeitadas e cuidadas, muitos de nós quando experimentamos dons pela primeira vez nos encantamos e podemos até perder um pouco o controle. Por isso experiências de busca do batismos do Espírito são mais adequadas de serem feitas em cultos mais íntimos, de preferência só com os cristãos já estabelecidos, não em cultos evangelísticos. Sim, na Bíblia as pessoas provavam dons na conversão e em cultos abertos, mas hoje em dia não é sabido agir assim, deixemos as crianças, mesmo espirituais, serem crianças, mas isso no tempo das pessoas serem crianças, e sempre orientado-as a amadurecerem. 
      A resposta é não! Muitos que se apresentam como “ungidões”, que muitos aplaudem como ungidos, não o são, ainda que preguem e cantem com uma emoção, com uma convicção, que nos impressione emocionalmente muito fortemente. Muitos não imaginam a qualidade moral das vidas íntimas que muitos “gospel famosos” têm de fato, o que fazem depois de participarem de cultos como estrelas máximas, e nem queiram saber, é nojento. Para discernir o critério é sempre um, pelos frutos vos conhecereis (Mateus 7.20-23), o falso não ficará de pé na congregação, não para sempre, o tempo o revelará, mas os justos não devem esperar pelo tempo, devem buscar em Deus discernimento e confrontar esses falsos ungidos já! 
      A mais forte e pura unção nos leva à mais elevada espiritualidade, e como vimos neste estudo, “Por que ser espiritual?”, a mais elevada espiritualidade deixa santidade, paz e amor, depois que nos posicionamos nela, então nos leva a temer a Deus de uma maneira única. Esse temor exige de nós discrição, não exposição, nessa disposição queremos nos calar, não falar, desaparecer, não aparecer, para que Deus seja adorado, mais ninguém. A mais elevada espiritualidade nos permite conhecimentos espirituais sérios, e isso não se revela assim facilmente, a qualquer um, na verdade a espiritualidade mais alta se guarda na mente e no coração, como a pedra mais preciosa, o primeiro passo para ela é a verdadeira unção. 
      O Salmo 133, contudo, entrega um ensino singular, interessante como o óleo da unção é comparado à comunhão que se pode ter com irmãos, sejam esses irmãos de sangue, em Cristo ou amigos queridos, ainda que não cristãos oficiais. Isso nos remete diretamente às palavras de Jesus nos evangelhos, quando ele ensina que o amor seria a marca de seus seguidores, bem, se unção não nos conduzir a uma espiritualidade que nos leve a amar, para nada serve. Quando pensamos em unção como amor, pensamos em algo que não serve só para nos beneficiar, nos mostrar, mas abençoar os outros, honrar os outros e servir aos outros, Jesus como homem encarnado vivia essa unção, uma unção que não escandaliza, mas ama.

      “Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem.” II Coríntios 2.15

“Espiritualidade Cristã”
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José Osório de Souza, 30/09/2020.