sexta-feira, outubro 16, 2020

16. A espiritualidade dos primeiros cristãos

Espiritualidade Cristã (parte 16/64)

      “E, pondo-os no meio, perguntaram: Com que poder ou em nome de quem fizestes isto? ...Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós... E, chamando-os, disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem, no nome de Jesus... Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus, porque não podemos deixar de falar do que temos visto e ouvido.Atos 4.7, 10 e 18-20

      Se a verdadeira espiritualidade é a pessoa do Espírito Santo com liberdade em nós pelo nome de Cristo, o registro bíblico que mostra os frutos que esse Espírito deu aos primeiros cristãos no livro de Atos dos Apóstolos, é o testemunho direto e puro dessa espiritualidade. Ela tinha várias características, como manifestação de feitos milagrosos físicos, assim como conversão de grupos grandes de pessoas ao evangelho, conforme esse saía de Jerusalém e ia sendo pregado em boa parte do mundo do primeiro século, com Pedro e João, com Paulo, Timóteo e outros. A reflexão a seguir é sobre um dos primeiros frutos da espiritualidade do Espírito Santo.
      Após terem curado um coxo e pregado o evangelho (cerca de cinco mil pessoas creram), Pedro e João foram interrogados pelos líderes da religião de Israel que estavam num dilema, não podiam soltar os dois porque iam contra aquilo que eles entendiam ser suas crenças, mas também não podiam prender porque o povo tinha presenciado o milagre e sabia que era genuíno. Dessa forma soltaram os dois, mas os exortaram que não pregassem mais o evangelho, foi então que eles responderam com as palavras do verso 20. Mas o que incomodava tanto os sacerdotes, os saduceus, os escribas e outros da linhagem do sumo sacerdote, em relação ao evangelho? 
      Os versos 7, 10 e 18 resumem o incômodo, representantes de uma velha religião não aceitavam que outros tivessem mais autoridade que eles e que dissessem que essa autoridade vinha de Deus. Isso mostra claramente a obsessão que o homem tem para se achar dono exclusivo de certas coisas, principalmente de “verdades” espirituais. Isso, todavia, não foi exclusivo de líderes da velha religião judaica do primeiro século, o próprio cristianismo, à medida que conquistou o mundo, seja pelo catolicismo ou pelo protestantismo, também adquiriu essa arrogância. Mas alguém pode perguntar, “mas o cristianismo não prega Jesus, de fato a única autoridade de Deus para salvar”?
      Ainda assim como cristãos não podemos ter essa arrogância, mais ainda, é justamente por sermos aqueles que pregam o evangelho que não devemos ter essa arrogância, ainda que creiamos num Jesus como único caminho, verdade e vida. Mas se é difícil para um homem comum não ser arrogante, muito mais para o que provou o evangelho, não deveria ser, se o cristão continuasse crescendo, mas é para aquele que passa anos como uma criança espiritual, que recebeu as bases da doutrina e não se aprofundou mais nela pelo Espírito Santo. Assim, ainda que de um jeito mais discreto, os cristãos de maneira geral, sempre recriminaram os que pregam autoridade divina que não venha deles.
      Temos que entender e aceitar uma coisa sobre Deus se manifestando ao homem em pecado, o Senhor age através de um processo gradual, que se aperfeiçoa com o tempo. Aquela comunhão que o homem podia ter com Deus, nos ensinada no livro de Gênesis, foi perdida com a escolha do pecado, e de forma radical. Como sempre, quando o pecado entra, o ser humano se rebaixa muito, perde direitos e honras, suja-se. Logo em seguida à expulsão do homem do Éden já vemos uma cena de assassinato, e de um irmão matando o outro, assim o primeiro fruto de qualidade do qual deveria descender toda a humanidade, Abel, não viveu muito, Caim o matou e foi expulso. 
      Depois Set nasceu para dar continuidade ao plano de salvação de Deus, Abraão foi o descendente de Set para o qual Deus fez a promessa de um povo grandioso e especial que teria uma aliança com ele e a oportunidade de testemunhar sobre Deus no mundo. Nesse tempo todo o homem já tinha o costume de oferecer sacrifícios de animais e de outras coisas a Deus para obter perdão de pecados e outras graças. Mas foi só com Moises que uma família se tornou uma nação e recebeu a Lei e os protocolos para sacrifícios num templo que deveria ser meticulosamente construído, manifestando-se assim no mundo uma religião formal para religar o homem a Deus.
      Contudo, foi só em Jesus que Deus deu ao homem a “religare” definitiva, completa e eterna, nesse ponto da reflexão, podemos fazer uma pergunta: por que demorou tanto tempo, desde o primeiro homem mítico Adão até o primeiro século de nossa era, para que isso acontece? Porque o homem não estava pronto, mas ele está pronto hoje? Não, para conhecer toda a verdade sobre espiritualidade não está, ainda que em Cristo ele já tenho o meio de ter acesso direto ao pai celestial. Assim, a espiritualidade dos primeiros cristãos, por mais poderosa que nos pareça, também era algo a ser aperfeiçoado, numa revelação progressiva do Altíssimo à sua criatura à medida que ela crescesse no espaço e no tempo. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020.

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