segunda-feira, outubro 19, 2020

19. Tempos: de salvação, de galardão

Espiritualidade Cristã (parte 19/64)

      “E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo, e a nós. Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez. E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino. E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.” Lucas 23.39-43

      Julgamos a nós mesmos e aos outros pelo tempo, pensamos: “esse é tão novo e já tão bem sucedido”, ou, “aquele já passou do tempo de tomar jeito”, ou ainda, “se eu tivesse a cabeça que tenho hoje há vinte anos atrás”. Assim achamos que um ser humano melhor é aquele que aproveitou o tempo mais eficientemente, que levou menos tempo para acertar, que conquistou mais em um tempo menor. Mas será que é assim que Deus pensa? Será que Deus nos julga pelas referências de tempo deste mundo? Qual de fato a importância do tempo em nosso crescimento, em nossa espiritualidade?
      Em nosso crescimento espiritual pessoal o tempo não têm qualquer importância. Se levamos um ano, cinco, dez ou trinta anos, para entendermos e praticarmos certas coisas, não importa, levaremos para a eternidade a melhor posição espiritual que tivemos no mundo e na qual permanecemos pelo maior tempo que nos foi possível, não importa quanto levamos para isso. Também não importa o quanto beneficiamos outros com nossos crescimentos, não para a salvação e direito ao céu, por isso não devemos julgar ninguém, quem sabe o que alguém decidiu diante de Deus em seu último instante de vida aqui?
      O exemplo do segundo crucificado com Cristo na passagem inicial ensina-nos isso de forma clara, Jesus prometeu ao condenado o paraíso imediato, por que isso? Porque Jesus sabia que naquele homem havia um coração arrependido e crente, pronto para a melhor eternidade com Deus, ainda que tivesse passado uma vida no erro, mesmo que estivesse sendo crucificado para pagar o preço de seus erros para o mundo. Isso revela o poder da fé no nome de Jesus e a força que existe num posicionamento pessoal de mudança de vida, posicionamento muitas vezes desconhecido dos homens, mas sabido por Deus. 
      Tempo importa aqui, no mundo, no plano físico, e nas referências materiais, mas essas só construirão valores também materiais, que poderão ser usufruídos aqui, não na eternidade espiritual. Assim, esses valores poderão beneficiar não só a nós como aos outros e é claro, serão vistos e conhecidos por muitos, que poderão nos colocar em alta consideração por causa disso. Mas até que ponto esses valores abençoam os outros espiritualmente? Muitos recebem conforto e bens, mas não recebem o verdadeiro amor, porque quem os criou teve tempo para muitas coisas, menos para amar, deu coisas, não afeto. 
      Obviamente de imediato alguns só precisam de um prato de comida, e quem lhes dá isso pratica uma obra que abençoará não só ao corpo, mas também ao espírito, só com o mínimo de saúde física podemos ter saúde mental para buscar saúde espiritual. Se pessoalmente um instante pode bastar para mudar nossas vidas, o tempo nos dá a oportunidade de abençoarmos outras vidas neste mundo. Isso será importante na eternidade? Não para salvar, ninguém é salvo por obras, mas para nos graduar espiritualmente, o que a teologia protestante chama de galardão, conceito que os evangélicos pouco se atém.
      Mas, talvez, nossa existência aqui neste plano, que às vezes parece interminável e outras vezes rápida demais, seja só um instante na eternidade, um grão de areia na ampulheta divina, para que somente uma coisa nós façamos, nos dobrarmos a Deus. Cada um é dobrado de um jeito, cada um tem algo a ser quebrado para que depois busque conserto através de Jesus, cada um de nós tem algo único e diferente que precisa ser revelado pela luz do Espírito Santo. Se entendermos esse instante, não morreremos, apenas passaremos daqui para o plano espiritual em Deus, e quem parte nele continua nele, para sempre. 

      “Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo.” I Coríntios 3.11-15

      A passagem acima nos ensina sobre o galardão que os salvos ganharão não eternidade. Que metáforas representam edifício, os materiais e o fogo? O edifício é nossa existência no plano físico, o sábio se colocará sobre Jesus, pisará na rocha, não sobre religião nem sobre o materialismo, mas naquele que pode levar diretamente ao Altíssimo e selar com o Espírito Santo. Jesus é a rocha inabalável em qualquer tempo ou situação desse mundo tão frágil e sujeito às injustiças dos homens. Contudo, ainda que se seja salvo, que se esteja sobre o fundamento melhor, é preciso construir com os materiais corretos.
      O que define o galardão não é a base onde se constrói nem a construção em si, mas o material usado para construir. Pode-se usar materiais diferentes, ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, o fogo provará esses materiais e só o material que permanecer ganhará galardão. Galardão não é salvação, pois mesmo que nada sobreviva ao fogo a pessoa será salva, mas será salva porque ainda que tenha construído com materiais inadequados estava sobre o fundamento melhor. Cristo nos salva do fogo, mesmo que tenhamos passado a vida construindo existências equivocadas, se cremos em Jesus somos salvos. 
      Os materiais não são as obras, mas a qualidade delas, diversos materiais podem ser usados e mesmo sendo diferentes podem resistir ao fogo, assim o galardão também pode ser diferente. Materiais diferentes podem ter qualidades diferentes, pureza, beleza, transparência, brilho, resistência, representando virtudes diferentes, dessa forma algumas virtudes são diferentes de outras, ainda que não sejam melhores. Então, podemos entender que o galardão poderá ser não só uma posição espiritual distinta, mais baixa ou mais alta, mas também uma identidade espiritual única, ainda que na mesma posição. 
      O fogo é o juízo, para o salvo não para decidir se ele irá para o céu ou para o inferno, mas se ganhará galardão e qual a qualidade desse galardão. Não é um fogo físico, mas espiritual, o fogo do Santo Espírito, a luz do altíssimo passada através de tudo que alguém fez, disse, pensou e sentiu no mundo, todas as suas obras. É a palavra viva de Deus descrita em Hebreus 4.12, que funciona como uma sonda que vasculha “células” e “átomos” espirituais, revelando o âmago de cada ser, suas mais profundas intenções, trazendo à tona mesmo as vaidades mais secretas, a verdade de cada um que muitas vezes é escondida de todos. 
      Cada ser tem uma identidade espiritual, com uma missão específica para expressar essa identidade, por isso cada um passa por provas diferentes para que sua essência espiritual seja trazida à tona. Isso ocorre à medida que deixamos que o Espírito Santo trabalhe em nós, o que nos permite usar materiais mais nobres em nossas construções. Alguns podem construir enormes castelos, honrados pelos homens, mas se forem de palha serão queimados pelo fogo. Outros, contudo, podem construir pequenas casas, sem reconhecimento humano, mas se lá no interior das paredes for usado ouro, resistirão ao fogo.
      Refletindo sobre a importância do tempo na qualidade de nossa vida espiritual, concluímos que ele pouco pode valer numa decisão para nossa salvação pessoal, podemos ser elevados a um nível alto de espiritualidade num instante. Um instante pode parecer pouco, mas pode ser a conclusão de toda uma vida, e se um instante for o suficiente para Deus, quem somos nós para discordarmos? Contudo, os que têm a oportunidade de tomar a decisão certa com mais tempo de vida no mundo, poderão abençoar os outros, assim as obras que serão feitas nesse tempo poderão dar direito ao galardão espiritual. 

“Espiritualidade Cristã”
é um estudo dividido em 64 partes,
por favor, se possível, leia todas as reflexões 
para melhor entendimento do assunto abordado.
José Osório de Souza, 30/09/2020

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