quinta-feira, agosto 14, 2014

Unção (parte 3 de 8)

Um termo muito usado na Bíblia para se referir à unção, é óleo santo, vamos estudar um pouco sobre ele.

Então pegarás o óleo da unção e o ungirás, derramando-o sobre a cabeça.” (Êxodo 29.7).

A palavra “unção” em hebraico (“mishah” ou “moshah”) é usada para indicar um dom consagratório, uma porção sacerdotal. Quando utilizada com referência à unção, a palavra sempre é usada para modificar o termo azeite de oliva. Por vezes a expressão é ainda qualificada pela adição de outras palavras modificadoras como santo ou o próprio nome de Deus. O azeite da unção, o óleo santo ou o óleo de Deus, era feito a partir de uma combinação de azeite de oliva (azeitona) e especiarias (ervas aromáticas e condimentais), conforme Êxodo 30.22-33:

O SENHOR disse a Moisés: Reúne as principais especiarias: quinhentos siclos da mais pura mirra, e a metade disso, duzentos e cinquenta siclos, de canela aromática e de cálamo aromático, quinhentos siclos de cássia, segundo o siclo do santuário, e um him de azeite de oliva. Farás com eles um óleo sagrado para as unções, perfume composto segundo a arte de perfumista. Este será o óleo sagrado para as unções.
Ungirás com ele a tenda da revelação, a arca do testemunho, a mesa com todos os seus utensílios, o candelabro com os seus utensílios, o altar de incenso, o altar do holocausto com todos os seus utensílios e a pia com a sua base. Assim santificarás essas coisas para que sejam santíssimas; tudo o que tocar nelas será santo.
Também ungirás Arão e seus filhos, e os santificarás para me servirem como sacerdotes. E falarás aos israelitas: Este será para mim o óleo sagrado para as unções, através de todas as vossas gerações.
Não será usado para ungir o corpo de outro homem; nem fareis outro, de composição semelhante. Ele é sagrado, e será sagrado para vós. Quem vier a compor um óleo como este, ou com ele ungir um homem comum, será eliminado do seu povo.

Vejamos cada um dos cinco elementos com os quais se fabricava o óleo santo:

1 mirra: goma, resina aromática;
2 canela: cinamomo odoroso, um tipo de canela;  
3 cálamo: raiz aromática de uma espécie de caniço dos pântanos;  
4 cássia: árvore com flores amarelas que dá vagens cujas sementes são medicinais e perfumadas;
5 azeite: óleo extraído da azeitona.

O vocábulo também identificava a porção dos sacrifícios apresentados a Deus pelo povo a ser dada aos sacerdotes. Leia desde o versículo 28 para melhor entendimento, seguem o 35 e o 36 de Levítico 7:

Esta é a porção sagrada das ofertas queimadas do SENHOR reservada a Arão e seus filhos, desde o dia em que foram apresentados para servirem ao SENHOR como sacerdotes; no dia em que os ungiu, o SENHOR ordenou que os israelitas lhes entregassem essa porção, que é deles para sempre, através de suas gerações.”.

Eu penso que toda a criação, a natureza, a flora, a fauna, assim como o corpo do homem, depois de purificado pelo sangue de Cristo, são simbologias do mundo espiritual, do céu onde Deus habita e onde habitarão os salvos. Se Deus usou milhares de anos, ou somente uma semana de sete dias de vinte e quatro horas para criar o universo material, de um jeito ou de outro, ele o fez à sua imagem, a partir de sua natureza espiritual, não somente o homem, mas tudo. Não, não somos mais alguns no universo, somos obras muito especiais do Altíssimo, ninguém é igual a nós. Portanto, podemos aprender muito sobre a unção espiritual que seria derramada sobre os servos de Deus através do Espírito Santo, entendendo os elementos que eram usados para produzir o óleo santo que ungia o templo, seus objetos e os sacerdotes da antiga aliança.

A unção espiritual era legitimada, nos tempos do Antigo Testamento, pelo derramar de um óleo especial, feito de maneira específica e exclusivo para esse fim, sobre a cabeça do sacerdote. Por que era óleo de oliva perfumado, e não outro elemento? Com certeza o uso desse tipo de essência perfumada já deveria ser utilizado por outros povos e para outras finalidades, certamente para marcar algo diferenciado. Não acontece a mesma coisa conosco, atualmente, quando nos preparando para uma ocasião especial, depois de nos assearmos devidamente e pormos uma roupa melhor, usarmos um bom perfume que nos diferencie no meio aos outros? Mas com os sacerdotes isso era mais que especial, era único, raro, exclusivo, já que desempenhavam a função de levar diante de Deus a penitência e a adoração de toda uma nação.

O livro Cântico dos Cânticos, que narra o romance de uma mulher para com seu amado, nos dá a mais poética das comparações entre a Igreja e Cristo. Jesus, o sacerdote eterno tem o melhor cheiro, sua voz, seu olhar, sua presença deixa uma fragrância maravilhosa na alma daqueles que o buscam com santidade:

Capítulo 1, verso 3: “Suave é a fragrância dos teus perfumes; teu nome é como o perfume que se derrama. Por isso, as jovens te amam.”. Capitulo 3, verso 6: “O que vem subindo do deserto, como colunas de fumaça, perfumado de mirra, de incenso e de todo tipo de aromas das especiarias dos mercadores?”.

Afável, acessível e agradável, no cheiro e no toque, assim era o óleo perfumado, o óleo da unção, assim deveria ser o sacerdote ungido, assim é Jesus, o sumo sacerdote, “Rei Ungido”, tradução da palavra messias, vocábulo aramaico (“mashíach”), um dos títulos dados a Cristo (vocábulo com a mesma tradução do grego (“khristós”):

André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João falar e seguiram Jesus. O primeiro que ele encontrou foi Simão, seu irmão; e disse-lhe: Achamos o Messias (que significa Cristo). E o levou a Jesus. Este fixou nele o olhar e disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que significa Pedro).” (João 1.40-42).

O sacerdote recebia uma unção especial de óleo santo, lembro-me agora de nossos pastores, nossos sacerdotes atuais. Quantas vezes eles são desrespeitados, menosprezados, quando isso é feito, a unção de Deus que eles possuem também é tratada de modo leviano. Pecar contra pastores ungidos e legítimos é pecar contra o Espírito Santo, é pecar contra Deus.
Contudo, o Novo Testamento vai além, todos os convertidos são chamados de sacerdotes reais em I Pedro 2.9:

Mas vós sois geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para sua maravilhosa luz.”.

Não são todos que recebem a unção de Deus, no Velho Testamento eram somente os sacerdotes. Contudo, o nova e eterna aliança em Cristo nos ensina que todos os salvos são sacerdotes, indiferentemente das chamadas ministeriais, dos dons, das aptidões e funções que possuem dentro de uma igreja local. Usamos o termo levita para identificar aqueles que têm cargos especiais dentro da igreja, contudo, no rigor doutrinário bíblico, atualmente, no reino de Deus estabelecido por Jesus, todos os salvos são levitas, portanto todos somos sacerdotes e todos  temos direito à unção.
Muitas vezes é mais fácil compreender uma coisa não pela sua composição, mas pelas consequências que tal coisa provoca. O óleo deixava aquilo que era ungido com um cheiro bom e diferente, assim como com uma aparência brilhante. Tudo isso nos remete à santidade, cheiro bom e aparência repleta de brilho só tem aquele que se lava, que está limpo. Eis aí a primeira, e talvez principal, consequência daquele que tem unção: ele está santo.
Todavia o óleo nos exorta sobre uma outra característica da unção: exclusividade. Já que somente os salvos podem ser ungidos, essa é a característica é fundamental para o salvo que deseja ser usado por Deus de maneira eficaz. Criaturas de Deus, religiosos, pessoas comuns ou celebridades, podem ter outra coisa, mas não é unção, não a unção de Deus. Mesmo convertidos, se não buscarem e quiserem também não serão ungidos, mesmo possuindo os talentos humanos mais maravilhosos do mundo.
Nós devemos ter cuidado para não sermos enganados pelos ungidos falsos. Como saber se alguém está ungido por Deus? Já respondemos essa pergunta: em primeiro lugar porque nele há santidade, há a limpeza, o bom perfume, o brilho daquele que recebe a unção genuína de Altíssimo. Em segundo lugar por nele há poder de Deus atuando e dando frutos, falaremos sobre a seguir.

Fica aqui, contudo, um alerta: a unção não poderia ser feita com outro óleo e muito menos o óleo santo poderia ser usado para outro fim. Precisamos sentir no fundo de nossas almas o temor de Deus para respeitar essa unção: servir no templo sem ela, falsificá-la ou usá-la para fins diferentes, representava risco de vida.

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