domingo, abril 22, 2018

Igreja

      ""Igreja" é uma palavra de origem grega escolhida pelos autores da Septuaginta (a tradução grega da Bíblia Hebraica) para traduzir o termo hebraico q(e)hal Yahveh, usado entre os judeus para designar a assembleia geral do "povo do deserto", reunida ao apelo de Moisés. Etimologicamente, a palavra grega ekklesia é composta de dois radicais gregos: ek, que significa para fora, e klesia, que significa chamados." (Wikipedia, significado etimológico). Nessa definição etimológica já existe uma contradição em relaçao à cultura de muitas igrejas evangélicas atuais, cultura que parece querer prender o máximo de cristãos dentro de templos, levando-os a viver uma "espiritualidade" dentro da comunidade cristã, e não no mundo fazendo evangelismo. Uma triste realidade da maioria das igrejas atuais, principalmente as pentecostais, é que elas fazem pouco evangelismo, tais igrejas crescem administrando a realocação de crentes entre igrejas, não batizando novos convertidos do mundo.
      Eis aí outra triste característica de muitas igrejas atuais, poucos ficam muito tempo dentro das mesmas igrejas, o alimento espiritual de baixa qualidade oferecido não alimenta o que leva muitos a procurarem alimento melhor em outras igrejas. Infelizmente, a maioria só muda de endereço geográfico, quanto ao estilo de igreja, à cultura do povo, ao grau de espiritualidade do pastor, isso permanece o mesmo. O sentido "chamados para fora", lembrando o momento histórico que os hebreus viviam quando Moisés os liderou para fora do Egito em direção à Canaã, a terra prometida, também pode significar que o povo de Deus, a Igreja espiritual, é chamado para fora do mundo e para dentro do céu. Mesmo que uma igreja local possa ser um pedaço do céu para muitos, ela não deve ser usada como escapismo do mundo, do pecado, do diabo, mas como momento de crescer com quem teve a mesma experiência de salvação, para depois continuar no mundo fazendo a boa diferença.
      Para muitos, quando ouvem o termo "a igreja" na TV, ou leem na internet, em jornais e revistas, entendem como se referindo à Igreja Católica, por isso aqui no blog, sinto necessidade de definir o termo igreja, quando o uso, quem acompanha o "Como o ar que respiro" já deve ter lido sobre a diferenciação, que não alia a palavra igreja exclusivamente à Igreja Católica. Usando "igreja", iniciando com letra minúscula, significa igreja local física, que são muitas, células das denominações cristãs, e "Igreja", com letra maiúscula, significa a Igreja espiritual, o corpo de Cristo, formada por cristãos de todos os lugares e tempos, que habitarão a eternidade com Deus. Os termos congregação e comunidade também podem ser usados para igreja, e não se referem a uma denominação específica (ambos iniciando com letras minúsculas). 
      O mais importante, contudo, que se deve entender, é que igreja é um grupo de pessoas, não é o templo, a construção física, que abriga o grupo social, que nas igrejas protestantes e evangélicas, como nas sinagogas judáicas, é apenas um local com assentos para os leigos e um outro lugar à frente, com alguma qualidade acústica, para discursarem lideranças, pastores e mestres, é um teatro consagrado, só isso. A Igreja Católica já dá um significado mais ritualista ao templo, usa muitas vezes um padrão na construção de suas igrejas paroquiais, o formato de cruz, com o lugar dos sacerdotes no centro (confira neste link da Wikipedia material  bem completo sobre formatos e arquitetura dos templos católicos). Sob o ponto de vista da igreja original primitiva, qualquer espécie de ritualismo na igreja cristã, é idolatria, substituição do Deus vivo e da obra redentora de Jesus por coisas ou ações.
      É muito importante que entendamos que os valores da nova aliança são diferentes dos valores da velha aliança, parece óbvio e desnecessária a explicação? Mas não é, se todos os cristãos atuais soubessem disso, não seriam enganados por hereges como os da Igreja Universal do Reino de "Deus", que construíram aquele templo salomônico em São Paulo/Capital, dando continuidade ao costume que eles já têm há tempos, de criar ídolos e empodeirar objetos, lugares e ritos, tentando substituir demoniacamente a eficácia do poder exclusivo do nome de Jesus para salvar, libertar, curar e receber adoração. Mas a igreja católica faz a mesma coisa e a muito mais tempo, como em templos como o erigido a "senhora aparecida deles" na cidade de Aperecida do Norte/SP, dentre outros lugares de idolatria no mundo, uma blasfêmia sem igual contra Deus. O templo da velha aliança tinha em si um poder de estabelecer comunhão entre o homem e Deus, sua planta foi meticulosamente orientada por Deus e cada espaço tinha um significado espiritual. 
      No altar físico os sacerdotes ofereciam sacrifícios de animais e outras ofertas que perdoavam o pecado do povo e adoravam a Deus, bem, isso tudo foi totalmente inutilizado na nova aliança. Não há mais necessidade de sacrifícios de animais, de outras ofertas, de um templo físico ou de um altar especial e específico como o do templo de Jerusalém. Jesus ofereceu um sacrifício definitivo na cruz, para sempre, o altar de comunhão, perdão e adoração a Deus, agora, é o coração do homem, não mais construções de pedra, madeira, tijolos e outros materiais. Assim, os templos religiosos cristãos atuais, são meros teatros consagrados, repetindo, eles não têm em si qualquer poder ou merecem qualquer respeito diferenciado de qualquer outra construção, além da consagração que se faz desses lugares para serem usados exclusivamente para a reunião do povo de Deus com objetivos religiosos.
            As igrejas, locais de reunião da noiva de Cristo, todavia, têm sido usados para outras finalidades que não para que os cristãos aprendam sobre Deus e intercedam e adorem a Deus, "negócios" de homens têm aumentando sobremaneira nos templos, e a voz do Espírito Santo tem sido calada. Igrejas têm se transformado em escolas, em casas de show, em mercados, e entenda que tudo isso não constitui em si um pecado, há espaço na vida social do povo de Deus para ensino mais aprimorado, para apresentações artísticas e mesmo para comércio, principalmente de materiais didáticos relacionados com o ensino da palavra. Contudo, quando tudo isso se torna mais importante que o ensino da palavra pura do evangelho, quando shows substituem a santidade da adoração, quando o comércio existe como prioridade para enriquecer ministérios, não para investir na obra, a igreja perde seu sentido original. Mas a heresia tem só uma porta, o pecado de líderes querendo fazer as coisas do seu jeito, não querendo deixar o pecado e perdendo a autoridade do Espírito Santo, tendo então que utilizar outros meios para atrair as pessoas, manter os templos cheios e explorar o ser humano para fins egoístas e materiais. 
      A música, que teve desde os anos 1990 um papel importante e diferente do que tinha tido até então, levando o crente a experimentar uma interação emocional mais plena com Deus, libertando e curando muita gente, acabou se tornando um ídolo, ferramenta nas mãos de pastores vazios e carnais. Músicos sinceros, ainda hoje, acabam fazendo o trabalho de pastores ociosos. Eles fazem um culto dentro do culto, como gostam de dizer alguns pastores a músicos? Sim, mas muitos músicos têm que fazer, já que se a palavra não é entregue pelos pastores, eles têm que entreguar. Isso, contudo, não é o mais correto, cada um deve desempenhar seu ministério, com temor e santidade. O pior é que perdeu-se a noção do que é unção do Espírito Santo, afogados pelo êxtase profundamente prazeroso que a música entrega, num clímax emocional intenso, muitos se acham ungidos. A verdadeira unção, todavia, dá frutos de santidade e temor a Deus que permanecem, muito mais que algumas horas de um culto noturno de domingo com música demais e palavra de menos.
      Serei pessoal agora, falarei não somente como cristão com quarenta e dois anos de convertido, com chamada para o ensino e a profecia, e Deus que cobre de mim as qualificações que citei e que tenho certeza que me foram conferidas por ele, falarei também como músico e "levita", termo que se popularizou para denominar quem trabalha com música nas igrejas evangélicas, mesmo que não seja tecnicamente o termo mais apropriado. Serei pessoal e confidenciarei, mesmo como músico que ama uma boa e completa banda tocando em bom som: eu queria uma igreja com menos microfones, menos caixas de som, menos instrumentos, menos profissionalismo musical. Eu queria uma igreja com o povo sentado e se movendo menos, mais orando que cantando, mais adorando que dançando, mais chorando que rindo, mais sério que informal, mesmo que usando de um formato absolutamente simples, sem roupas de festa, mas com vestes brancas espirituais, para adorar e se consagrar a Deus, não como a finalidade maior do culto, mas como preparação para receber a pregação da palavra. Eu queria uma igreja onde a palavra fosse o centro do culto, e essa levando cristãos a serem seres humanos melhores no mundo, e não só bons atores dentro de um teatro onde todos encenam um culto perfeito, mas que fora do templo são imaturos e infantis. 
      Eu queria uma igreja de verdade com cristãos de verdade prontos para ouvir a palavra verdadeira do evangelho, que prega a vida simples, íntegra, santa e humilde de Jesus Cristo encarnado como o exemplo máximo de vida que devemos ter. Meu sonho são igrejas pequenas, onde todos se chamam pelo nome, se conhecem e se amam com amor sem fingimento, células que nem precisam de templos luxuosos e tecnológicos, não se forem só para ostentanção, igrejas que podem perfeitamente se reunir nos lares. Então não existiriam mais igrejas grandes? Sim, mas para reuniões ocasionais, uma vez por mês, que seja, mas no resto do tempo, no máximo vinte pessoas nas casas, com cultos equilibrados sem um som altíssimo e mal educado que escandaliza a vizinhança. Igrejas assim não precisariam sustentar pastores em tempo integral, em igrejas assim os pastores trabalhariam secularmente dando testemunho de vida real na sociedade, como qualquer outro cristão. Em igrejas assim as arrecadações são para sustento básico de espaços para reuniões maiores, e depois, para auxiliar os menos favorecidos, e em primeiro lugar os convertidos, sem "culto ao dízimo" e chantagens para que as pessoas deem dinheiro. Sonho com igrejas de Santos onde o Espírito Santo lidere e tenha liberdade, que não sejam empresas com donos e com fins lucrativos, mas talvez esse seja só o sonho de um homem, tão importante quanto qualquer outro...
      Sonho impossível? Na verdade parece que sempre foi, se estudarmos a história da igreja, começando com a igreja primitiva, passando pela católica, depois a protestante, a pentecostal e finalmente essa pulverização que fez do cristianismo um negócio e que criou uma igreja em cada esquina, com gente sem chamada legítima ostentando título de pastor, aumentando a quantidade de crentes, todavia, sem qualidade, se nos dermos ao trabalho de ler e obter informação de qualidade, constataremos que nunca houve no mundo, depois do século um, uma igreja representante oficial de Cristo, com seu selo de qualidade de Deus. Mas será que em algum momento isso foi plano de Deus? Eu penso que não. O que sempre existiu são arredondamentos, meios termos, que Deus usa porque não tem coisa melhor, denominações de homens, com finalidades não puras, com extremismos para algum lado, pois sem o Espírito Santo sempre existe extremismo e nunca há equilíbrio de fato. As tradicionais dizem possuir a ótica mais lúcida da Bíblia, mas se perdem na experiência puramente intelectual do evangelho, matando o Espírito Santo. As pentecostais dizem possuir a liberdade do Espírito Santo, mas nessa liberdade se perdem em heresias, substituindo paixão emocional pela genuína unção de Deus. As neopentecostais, em quantidade bem significativa, são empresas com donos, nelas valem tudo para encher templos e terem poder no mundo, igrejas sem identidade, líquidas tanto quanto os valores do homem contemporâneo, longe da rocha que é o evangelho original primitivo.
      Sim, existe sinceridade em muitos, e o Senhor respeita isso, mas a Igreja espiritual será arrebatada, e muitos se surpreenderão nesse evento, escandalizados com os que foram e que achavam que iam ficar, e com os que ficaram e que achavam que iriam. Cresce o número de cristãos verdadeiros desigrejados, e aqui não me refiro aos que saem das igrejas e não voltam, porque na verdade nunca foram cristãos de fato, me refiro a genuínos novos nascidos, desprezados por amarem a verdade, chamados pelos religiosos de desviados ou parados na fé, caluniados por pastores hereges como rebeldes, difamados por crentes superficiais como carnais, Deus vê a todos e a todos conhece. Sigamos sendo a Igreja de fato, se é que a somos, lutando pela santidade, adorando a Deus em todo o tempo, dando testemunho de justiça e misericórdia, buscando mais e mais a Deus e colocando Jesus, sua vida encarnada e seu poder depois de ressuscitado, como foco de vida. Jesus é o centro! Os que são Igreja de Cristo, o sabem, não precisam de aprovação de homens, esses reinarão com Jesus e participarão das bodas do cordeiro com a alegria dos simples e a honestidade dos que deixaram tudo para de fato andarem com Deus. A verdadeira Igreja caminha e não fica escravizada dentro de templos, a verdadeira Igreja de Cristo é viva! 

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