domingo, agosto 04, 2019

Só Deus sabe de mim

      “Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai, com os seus anjos; e então dará a cada um segundo as suas obras.” Mateus 16.27

      Me espanta, e com muita tristeza, como muitos púlpitos, representados por pastores, pregadores e outros que se colocam como lideranças de igrejas, ainda medem espiritualidade por estereótipos, avaliam consagração por clichês, entendem como cristãos de qualidade aqueles que se encaixam nos velhos moldes das tradições, tradições que até tiveram origem em verdades, mas que com o tempo foram consideradas só superficialmente enquanto que a essência foi esquecida. 
      Os de linha pentecostal se equivocam mais em aquilatar ungidos preparados para não negar o evangelho mesmo numa perseguição ao cristianismo, aqueles que louvam ou cantam mais alto, que batem mais palma, que olha para o irmão do lado e diz “seja abençoado”,  ou que demonstram com palavras de ordem e manifestação pública de dons seu suposto grau de intimidade com o céu. Faltam a esses juízes profundidade de vida, respeito ao próximo, e mesmo na ausência disso por limitações intelectual e emocional, amor, que vê o outro com os olhos generosos de Jesus. 
      Quem sabe da intimidade das pessoas? Quem vê o que se passa nas madrugadas de vidas solitárias e angustiadas chorando aos pés do Senhor? Quem sabe da extensão de dor e de tristeza, construídas em uma vida de violência sofrida, que instalou nas almas dificuldade terrível mesmo para se ter o mínimo convívio social? Não julguemos a cara feia, o semblante fechado, o olhar inseguro e distante, nem usemos de desculpas como a que diz que o convertido deve ser transformado e que se a pessoa é fechada é porque ainda não se converteu. Não julguemos coração por cara. 
      Muitos não entendem, muitos pastores não sabem, e muitos nem se dão de fato ao trabalho de saber, lhes é mais conveniente gritarem protegidos pelos púlpitos seus equívocos, mas muitos não têm ideia do quanto é custoso dar um passo em direção a Deus. Sim, Deus é maravilhoso, contempla esse único passo e retribui com cem na direção do que sofre solitário, o Senhor seja louvado por isso. Mas os que julgam o fazem por não conhecerem de fato o coração de Deus, ainda que se achem espirituais e capazes de julgarem quem o é.
      Quando muitos desses pastores conhecerem de fato o amor de Deus pararão de generalizar, de achar que o fogo do Espírito deve ser provado de maneira igual por todos, ou conforme seus clichês, deixarão de achar que expressão emocional por si só é espiritualidade. Nesse dia pastores respeitarão quem muitas vezes reuniu todas as forças que tinha para ir até um templo, se sentar e prestar atenção à palavra, e que sofreu muito quando o púlpito deu ordem para que todos fizessem isso ou aquilo sem notar que alguém só queria ficar quieto e ter comunhão com Deus. 
      Muitos se surpreenderão no final, quando a pior e derradeira perseguição vier sobre os cristãos, ficarão surpresos ao verem que muitos que cantavam e falavam em línguas estranhas em público não estão mais se reunindo publicamente por temerem por suas vidas, não estão assumindo a fé que tanto diziam que tinham. Muitos dos primeiros serão os últimos (Mateus 19.27-30).
      Por outro lado, muitos sobre os quais se pensava serem frios, se mostrarão fortes e corajosos, sem medo de seja lá o que for que lhes possa impedir de assumirem diante do mundo que amam a Deus, isso porque sempre o amaram e andaram com ele. Muitos que não fizeram questão de mostrar para religiosos que seguiam a Cristo serão parte dos poucos que não terão receio de revelar a um mundo perseguidor que sempre seguiram a Jesus. Muitos dos últimos serão os primeiros, glória a Deus por isso. 

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