sábado, agosto 03, 2019

Não esteja dividido, integre-se em Deus

      “Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.” 
Lucas 16.13

Mamon é um termo, derivado da Bíblia, usado para descrever riqueza material ou cobiça, na maioria das vezes, mas nem sempre, personificado como uma divindade. A própria palavra é uma transliteração da palavra hebraica "Mamom" (מָמוֹן), que significa literalmente "dinheiro".

      O texto inicial se refere a estar dividido entre servir a Deus e às riquezas, ele fica no capítulo 16 do evangelho de Lucas entre as parábolas do administrador infiel e a do rico e o mendigo. As parábolas (e alguns dizem que a parábola do rico e o mendigo não é uma parábola, uma simbologia, uma fantasia, mas a descrição de um fato real), apesar de se referirem a um assunto em comum, riquezas materiais, mostram pontos de vista distintos. 
      Na primeira somos ensinados a sermos esforçados no trabalho material mas ainda assim sermos misericordiosos com as pessoas. O mordomo que antes tinha sido criticado pelo seu senhor por estar sendo descuidado na administração dos bens do senhor, foi elogiado no final. Mas vejam que a atitude do mordomo foi sábia, obteve a aprovação de seu senhor sem ter que ser duro demais com os devedores, assim fez amigos nos dois lados, “louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz” (Lucas 16.8). 
      Já na passagem sobre o mendigo Lázaro e o rico, a lição é outra, quem foca só nas riquezas poderá ter honras no mundo, mas sofrimento na eternidade, por outro lado, o que sofre injustiças neste mundo poderá ter na eternidade o consolo de Deus, disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado” (Lucas 16.25). Sem usar esse texto como legalização ao pé da letra, condenando ao inferno alguém só por ser rico, ou elegendo ao céu outro só por ser pobre, a passagem ensina sobre prioridades e exorta os poderosos deste mundo que o poder que eles têm aqui pouca diferença fará no plano físico espiritual eterno. 

      Mas o ponto desta reflexão é estar dividido, e não necessariamente entre Deus e as riquezas. Podemos experimentar esse dilema em relação a muitas coisas, é importante que entendamos que não podemos fazer duas escolhas. Sobre alguns assuntos, escolher um e relevar o outro, é aceitar tanto as recompensas de uma escolha quanto os prejuízos de não se ter feito a outra escolha. Assim, confrontos são inevitáveis, só não os terá quem ficar em cima do muro e for morno, não optando nem pelo frio, nem pelo quente (Apocalipse 3.15-16).
      Alguns talvez tenham mais facilidade para decidirem-se sobre algo e dizerem “danem-se” (me desculpe o termo) o resto, eu não consigo, assim está reflexão vai especialmente para aqueles, que como eu, têm dificuldades para conviver com os que se colocam como opositores (inimigos). Confesso que é muita presunção minha achar que posso agradar a todos, isso me coloca como melhor que Jesus, que definitivamente não agradou a todos mesmo fazendo tudo muitíssimo mais certo do que eu. 

      Escolher algo pode nos indispor com algumas pessoas, assim façamo-nos algumas perguntas, as primeiras delas são: no que de fato acredito, quero ser isso e lutarei para isso, e serei fiel até o fim pagando o preço que for necessário para isso? Quem não acredita em nada, quer nada, pensa que tudo tanto faz, ou que esta sempre mudando de ideia, esse não fará inimigos, mas também não terá amigos com os quais compartilhe objetivos claros e definidos. Sim, mudar de ideia é preciso, mas isso ao final de processos de testes, que mostrarão a realidade da prática e nos farão escolher caminhos mais eficientes para cumprir nossos objetivos. 
      Mas em primeiro lugar precisamos estabelecer objetivos e focar neles, quando nos convertemos a Cristo o Senhor nos dá objetivos e nós começamos a conhecê-los e pô-los em prática tendo vidas pessoais de comunhão com Deus e tendo comunhão com outros cristãos dentro de igrejas. Esse é o início de um processo que nos confrontará com Deus e com o que outras pessoas entendem ser Deus e o cristianismo. Quem busca equilíbrio, que não deseja ser hipócrita e tem coragem, admite que nessas duas relações, com Deus e com cristãos, aparecem discrepâncias e somos confrontados a fazer escolhas.
      Muitos escolhem o jeito mais fácil, fazer o que todo mundo faz para não arrumar encrenca, para terem apoio de um grupo, para não terem que pensar muito. Assim, ao invés de buscarem grupos de cristãos que mais batem com o que eles são (algo que não é fácil), se conformam, não com o mundo mas com o cristianismo tradicional da maioria das igrejas. Outros, contudo, entendem que igrejas e denominações cristãs não são embaixadas oficiais de Deus na Terra, são apenas pontos de vista humanos do que é Deus e o evangelho, os quais Deus usa por não existir algo melhor para ele usar. 

      Não tem jeito, escolher Deus, o nosso Deus, o Deus de nossa intimidade, aquele que se colocou como nosso amigo por tantos anos, que nunca nos enganou, que sempre se mostrou santo e pediu de nós também santidade, o Deus que nos deu respostas de paz e esperança nas situações mais difíceis que enfrentamos muitas vezes sozinhos, sem que igrejas ou pastores se quer soubessem ou quisessem saber, o Deus que nos ensinou a andar com ele num caminho onde os milagres acontecem naturalmente, escolher ser fiel a esse Deus nos colocará contra homens, mesmo homens dentro de igrejas. 
      A segunda pergunta que você deve se fazer é, a quem quero continuar servindo? Se tua escolha for de fato servir a Deus, não tema os homens, nenhum deles, sejam os ocultos em cerimônias secretas buscando os maiorais entre os seres espirituais do mal, sejam os que se colocam à luz do dia nos púlpitos usando a Bíblia de maneira legalista, clichesada e superficial, achando-se sinceramente mais espirituais que você, não os temas, mas também não os confronte, cale-se, controle-se, ore mais, adore mais a Deus e deixe que Deus aja, como quer e quando quiser. 

      O que não podemos é estar divididos dentro de nós, isso nos colocará em fraqueza e nos fará cair mesmo diante do inimigo mais pequeno (Mateus 12.24-28). Se temos um foco, Deus, e queremos continuar com Deus, temos que aprender a conviver com indisposições humanos, contudo, e é aí que está a grandiosa bênção, se for a Deus de fato que estivermos seguindo, a quem queremos agradar, não aos  homens e muito menos a nós mesmos, o próprio Deus nos dará forças para suportar em plena paz interior as indisposições, os confrontos, os que se colocam, mesmo sem admitir ou ainda de maneira sútil, como nossos inimigos. 
      O sábio põe em prova não os outros, mas a si mesmo, clama ao Senhor, abre o coração diante de Deus, apresenta seu ponto de vista e pede que o Senhor mostre com paz se sua escolha é a melhor diante dele. Contudo, ele também entende a responsabilidade de fazer certas escolhas, que terá preços e que ele está preparado para pagá-los. O coração em paz é intocável pelas setas dos falsos e dos demônios, um coração íntegro se vê forte diante dos que se vendem e se acomodam, o coração que escolhe Deus acima de tudo será confrontado, mas será luz, forte e eterna.
      Se você está certo sobre o que quer e a quem quer servir, e se Deus confirmou tudo isso em teu coração com paz, não tema, não vacile, não dê lugar à insegurança nem à vaidade, não se coloque como arrogante, como superior, abrigue-se de joelhos espirituais no abraço do Senhor e siga em frente. Obedeça a Deus, fale pouco, não julgue nunca, tema sempre ao Senhor, ame pois o amor nos liberta do medo e nos faz mais fortes, seja um com Deus, integre-se em Deus, e veja a obra que o Senhor fará diante de teus olhos. 

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