terça-feira, janeiro 21, 2020

Bem em si mesmo

      “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão. Mas, quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita; Para que a tua esmola seja dada em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente.” Mateus 6.2-4

      O bem é um bem em si mesmo, significa que só fazê-lo já é colher uma recompensa, ele não necessita de qualquer outro retorno ou reconhecimento. Isso parece simples? Mas como nós temos dificuldade para aceitar isso, e desse entendimento depende qualquer experiência real com virtude e espiritualidade. A dificuldade existe porque não nos conhecemos de fato, e muito menos a Deus, pensamos de nós mais do que somos e de Deus muito menos do que é, ainda que digamos que cremos num Deus todo-poderoso.
      Toda a espiritualidade se resume a um princípio, fazer o bem sem precisar de motivação, só fazer e ficar em absoluta paz depois, experimentando a ausência de qualquer espécie de expectativa de ganhar algo por isso. Adquirir essa paz é provarmos a mais alta e pura das virtudes, é tocarmos o centro da vontade de Deus para as nossas vidas, é sermos libertos de vaidades e orgulhos, é entendermos a essência do evangelho, é colocarmos os pés nas pisadas de Cristo, é experimentarmos na carne o melhor da eternidade.
      Mas o segredo para entender isso é conhecer e aceitar de todo o coração que nós homens não podemos fazer qualquer bem, se fazemos é porque Deus permite e realiza o bem em nós. Assim, porque não somos nós quem fazemos, não temos direito de exigir nada por isso, e ainda devemos estar muito gratos a Deus, louva-lo muito, pelo bem que foi feito, como se não tivesse sido feito por nós. Para isso é preciso vigilância e exercício, nossa alma essencialmente egoísta não pratica o bem verdadeiro com facilidade.
      O homem é confrontado o tempo todo com um pecado, talvez o maior deles, a vaidade, assim o que pouco sabe é tentado a ser vaidoso, mas o que muito sabe é muito tentado para ser vaidoso. Na prática do bem também há essa tentação, e a maior das vaidades é se achar melhor que os outros por ser espiritual, por ser virtuoso. Fazer o bem mais alto requer a mais alta das vigilâncias para não cair no pecado da maior das vaidades depois, anjos do mais alto nível caíram justamente nesse pecado. 
      Dessa forma, talvez o maior dos trabalhos espirituais não seja fazer o bem, mas não se achar melhor que os outros e consequentemente se ver no direito de fazer exigências depois de fazer esse bem. Alguns podem até serem tentados pelo diabo não fazendo o mal, mas tendo a oportunidade de fazer o bem. A saída, o escape, a solução é louvar a Deus, sempre e por tudo, assim entregamos toda glória ao Senhor, anulando toda energia que possa existir em nós para nos gloriarmos. 

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