sábado, abril 29, 2023

Lembrarmos do que sempre somos

      “Melhor é um punhado de descanso do que ambas as mãos cheias de trabalho e correr atrás do vento.” Eclesiastes 4.6

      Envelhecer bem é nos lembrarmos do que sempre soubemos e que tínhamos nos esquecido. Para entendermos isso temos que avaliar o ser humano sob alguns aspectos, um deles diz que somos definidos por informações físicas. Será que somos só a mistura de características físicas, químicas e emocionais de nossos pais, avós e árvore genealógica? É certo que herdamos aparência e extensões físicas de pai e mãe, e de seus progenitores, assim como temos aptidões e temperamentos emocionais semelhantes aos deles. 
      Isso não depende de escolhas nossas, viemos de fábrica com essas especificações e ponto, mas essas características podem ser configuradas de formas diferentes, enfatizando algumas, deixando outras em segundo plano. Assim chegamos ao segundo aspecto, somos construídos pela criação familiar e pela formação intelectual, acadêmica e profissional. É claro que se houver conciliação entre especificações e configurações, seremos seres humanos mais eficientes, tanto nas relações afetivas, quanto nas profissionais.
      Três são as principais relações do ser humano neste mundo, as afetivas, de amizades, com família e com cônjuge, as profissionais, das quais dependem nossa independência econômica e física neste planeta, e a espiritual, com o divino, com religiões, com Deus. Ainda que materialistas e céticos teimem em desprezar a necessidade dessa última relação, nosso homem interior clama por Deus e sem ele nunca seremos totalmente satisfeitos, não acharemos nossa principal missão no universo, tolos os que negam isso. 
      Há opiniões extremadas sobre esse tema, uns dizem que somos só frutos da mistura física de familiares antepassados, assim podemos estar “destinados” a ser quem somos de acordo com o que outros foram. Outros dizem que somos frutos de escolhas no ambiente, construções sociais, os místicos falam que nossos corpos e personalidades são controlados por espíritos eternos, assim somos o que Deus nos criou. A melhor resposta é sempre a equilibrada, eu creio que somos tudo isso junto e misturado, matéria, mente e espírito. 
      Se eu não enxergasse relevância na existência espiritual, não teria um espaço que compartilha textos sobre vida com Deus, para mim nosso espírito tem prioridade sobre o corpo, é ele quem vive eternamente e pode se relacionar com os valores perenes do universo. Nossos corpos, por mais capacitados que tenham sido, com genes intelectualmente dotados e fisicamente fortes e belos, são destruídos com o tempo. O espírito não, transcende esse mundo, existe para sempre, conhece o que a ciência é incapaz de comprovar. 
      Deus é perfeito, econômico e objetivo, dessa forma em suas providências permite corpos, criações familiares e formações intelectuais e profissionais, conciliados com uma essência espiritual. Deus não dá asas à cobra, nem lança ao mar peixe que não sabe nadar, assim chegamos ao título deste texto, quando envelhecemos nos lembramos de nós. Queria poder dizer mais a respeito do que a grande maioria de cristãos está preparada para ouvir, mas como o alvo aqui são cristãos, tentarei ser obediente à voz de Deus. 
      Cada um nasce com provas específicas para passar, as provas de um não são iguais às do outro, um precisa de provas diferentes para escolher aquilo que de melhor Deus tem para ele. É Deus quem distribui as provas porque só ele sabe o que cada espírito existe encarnado para ser. Se um precisa ganhar, nascerá num lar com menos recursos, mas com muita energia para trabalhar, se outro precisa perder poderá nascer num lar rico, mas em corpo limitado, por algum problema físico ou emocional, para aprender a abrir mão. 
      Que fique claro, todos devem se esforçar para trabalhar, para não serem ociosos, nem dependentes, e todos precisam abrir mãos de certas coisas, para não se tornarem obsessivos, nem arrogantes. Não façamos interpretações erradas sobre a reflexão. Contudo, alguns crescerão mais moralmente adquirindo mais no mundo material, já outros crescerão mais aprendendo a abrir mãos do que até poderiam ter, mas que prejudicam-lhes moralmente quando têm. A prioridade do espírito são valores espirituais, não materiais. 
      Se Deus colocou propósitos em nossos espíritos, já nascemos sabendo o principal. Mas conseguimos viver o principal desde o início? Não. Assim podemos passar anos neste mundo batendo a cabeça, para só no final entendermos o que de fato o Senhor sempre quis de nós. Existir neste mundo é ter um tempo para nos lembrarmos do que sempre fomos, por isso uma verdadeira iluminação espiritual ao ser percebida, nos leva a exclamar, estupefactos: “poxa, era só isso? se eu soubesse teria feito antes, seria tão mais fácil”. 
      Isso não significa que não evoluímos nos esforçando e melhorando, mas significa que melhorar não é adicionar coisas, mas subtrair. Não foi exatamente isso que Jesus ensinou em Lucas 17.33, “qualquer que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á, e qualquer que a perder, salva-la-á”? Temos que perder um monte de coisas, que o mundo e os homens, que nossos pais e mesmo nossos líderes religiosos, disseram que eram relevantes, para acharmos nossa essência espiritual, a que Deus colocou em nós em nossos nascimentos. 

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