sexta-feira, abril 28, 2023

Morrer para viver!

      “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna.João 12.24-25

      Tenho escrito muito sobre morte nos últimos anos, mas não pense que exista alguma coisa não resolvida nisso. Com certeza reflete meu tempo atual e todas as avaliações que tenho feito sobre minha existência, mas acredito ter uma ótica correta sobre a morte, sadia, aprovada pelo melhor de Deus. Nem sempre foi assim, num primeiro momento de minha jornada neste mundo vivi de maneira irresponsável, não queria morrer, não conscientemente, mas caminhava próximo à morte. Num segundo momento, quando culpa cai sobre nós como uma bigorna, eu não soube enfrentar do jeito certo o mal que me causaram e o mal que eu causei aos outros, assim flertei com a morte, numa pressa de fugir de problemas que não sabia resolver. 
      Finalmente experimentei a cura de Deus, perdoei os outros, me perdoei e entendi a responsabilidade individual que a luz do Senhor nos chama a viver, aceitando que boa eternidade se constrói no mundo com boas obras. Imprescindível para essa construção é entendermos nossa chamada como seres humanos, fazermos o que Deus pede que façamos, não o que os homens pedem e muito menos o que valorizam, nisso pode-se viver com humildade e se achar a paz. Hoje, estou no início do quarto e último momento, quando não posso mais fazer grandes empreendimentos, não materiais, mas quando a prática de virtudes morais, mais do que nunca, se torna objetivo maior. Nesse ponto começo a entender a morte que agrada a Deus. 
      A jornada neste mundo não é a mesma para todos, assim não podemos julgar ninguém, acharmos que alguém fez menos porque fizemos mais que ele, ou acharmos que fizemos menos porque alguém fez mais que nós. Acredite no que vou dizer, muitos vieram para trabalhar muito neste mundo e terem aprovação de homens, outros vieram para fazer o suficiente para uma vida material digna, mas para se aprofundarem mais e solitariamente no mundo espiritual. Para uns o muito ainda será pouco, para outros o pouco será suficiente, contudo, ninguém fica ocioso se conhece e faz a real vontade de Deus para sua vida. A melhor morte é a que chega quando fizemos tudo o que tínhamos que fazer dentro do centro do plano de Deus. 
      Você se sente em paz com tua jornada aqui, principalmente você que já passa dos cinquenta anos? Sempre temos oportunidades para recomeços, principalmente no mundo atual onde não existe lugar para antigos, para velhos, sim, mas ainda que corpo envelheça, a cabeça tem que se manter atualizada nesta roda viva e em constante mudança que a existência neste planeta se tornou. Contudo, sejamos realistas, chega um momento quando nosso fôlego diminui, ainda que nos mantenhamos fisicamente saudáveis, com boa alimentação, com exercícios físicos, com uso inteligente da ciência. É bom que seja assim, acontece para que foquemos no espírito, é esse que é eterno, não o corpo, é esse que será avaliado no outro plano. 
      Achamos a paz no final quando entendemos que não fomos profissionais mais bem remunerados e competentes, porque escolhemos passar mais tempo com nossas famílias e servindo a Deus. Achamos a paz no final quando entendemos que não temos que ser como nosso irmão, nosso cunhado, nosso primo ou nosso amigo de escola, nós somos nós, com chamadas pessoais para sermos melhores, e isso no caráter e na moral, não necessariamente no acúmulo de bens materiais. Achamos a paz no final quando entendemos que aparecermos menos, fazermos menos, termos menos, pode nos dar espíritos mais elevados, entendendo que vida eterna é morrer para este mundo, ainda que estejamos vivificados espiritualmente nele. 
      Deus tem pedido a muitos suas vidas, que sejam entregues a ele de forma irrestrita, para que ele possa mostrar-lhes sua vontade. Contudo, muitos insistem em fazer as coisas às suas maneiras, e para convencerem a si mesmos que estão fazendo certo, que estão agradando a Deus, se esforçam ainda mais. Pensam estar morrendo para viver quando de fato tentam manterem-se bem vivos. A morte mais importante que temos que provar é a das nossas vaidades, do desejo de sermos aprovados e honrados pelos homens, e isso ainda que nesse desejo trabalhemos honestamente e até dentro de igrejas. Deus não pede sacrifícios, só obediência, ele sabe de nós muito mais que nós sabemos, assim sabe o que é melhor para nós.
      O texto bíblico inicial diz “quem ama a sua vida perdê-la-á, e quem neste mundo odeia a sua vida, guarda-la-á para a vida eterna”. Acho o termo odeia meio inadequado, ainda que seja o usado em muitas versões bíblicas, prefiro o termo entrega, assim, podemos entender que o que retém seu tempo e suas forças neste mundo para usar à sua maneira, não achará a vida eterna. Já o que entrega seu tempo e suas forças a Deus, receberá o dom do Espírito e começará a experimentar vida eterna ainda aqui. Morrer para viver, eis o principal fundamento do ensino do Cristo, que coloca este mundo em seu verdadeiro lugar, só uma passagem rápida para algumas escolhas morais, que só conheceremos a relevância no outro mundo. 

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