domingo, abril 30, 2023

Fim

      “Não há ninguém que tenha domínio sobre o espírito para o reter; nem tampouco quem tenha poder sobre o dia da morte.Eclesiastes 8.8a 

      Pernas já não se firmam com facilidade, pés estão fracos, dedos distorcidos, mãos, sem forças, a visão embaçada vê pouco e o que vê não discerne bem, tudo é sombra, a cabeça já não guarda informação, e aquelas, armazenadas por décadas, são de difícil acesso, assim perdem também acuidade audição e fala. O desligamento da matéria acontece aos poucos, num processo inverso ao do amadurecimento do bebê para se tornar ser humano completo, onde se fortalece para se adquirir autonomia. O velho torna-se fisicamente dependente, emocionalmente débil, eis o universo lançando em nossos rostos a verdade, somos estagiários no mundo. 
      Triste seria ver nossa existência só como isso, só como o que a ciência consegue, ainda que por tempo limitado, administrar e manter vivo. Tristes os que se entendem só como organismos físicos com sistemas nervosos e medula dirigindo-lhes e conferindo-lhes senciência. Triste não aceitarmos a realidade espiritual eterna, que vai além da ilusão física. A verdade implacável da morte deveria servir para que todos tivessem a humildade para exercerem fé, não só conhecimento empírico, saberem de Deus, não só dos homens, verem a eternidade, não só o universo material, mas acima de tudo para que conhecessem a si mesmos.
      Contudo, o que infelizmente muitos não aceitam, é que ciência por mais ferramentas que nos entregue para administrarmos o planeta e nossas saúdes com lucidez, não traz paz, não consola, não nos ensina a amar, não dá paciência com os outros, não nos leva à santidade, não permite-nos enxergarmos a luz mais alta de Deus. No fim, quando o corpo estiver inviável para existir, isso tudo ainda permanecerá no espírito do humilde, paz, consolo, amor, paciência, santidade, a luz do Altíssimo, isso o humilde poderá levar para o plano espiritual e ser feliz numa vida eterna, que vence toda a ilusão da matéria, toda a dor, toda a morte. 
      Ah, ser humano contemporâneo, que por trás de causas sociais, de bandeiras de liberdade, de lutas por direitos, de valorização de diferenças, e tudo isso tem legitimidade, mas que tem por trás só um valor obsessivo que você dá a este mundo, à matéria, aos corpos físicos e seus prazeres. Você se nega aceitar o espírito eterno que te habita. Sim, é importante respeitarmos a sexualidade, seja ela qual for, a cor de pele, seja ela qual for, as competências profissionais e artísticas, sejam elas quais forem, mas espírito não tem sexo, pele, profissão ou talento, só tem virtudes morais. Que o fim nos traga vida eterna, não só a morte. 

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